Fonte: Google |
AS BIBLIOTECAS E A
INTERNET
Valério Chaves
Desembargador e escritor
Para os amantes da literatura, as
bibliotecas representam verdadeiras fontes de cultivo da arte e do
conhecimento, apesar de que na era digital dos dias atuais, elas não despertem
mais tanto interesse dos estudiosos e pesquisadores para leitura de livros,
principalmente depois que a internet entrou em cena possibilitando o acesso e o
contato com obras de diversos gêneros literários e informações sobre o que
acontece no mundo, gratuitamente e em tempo real.
Os historiadores acreditam que o homem
moderno haverá de chegar um tempo em que não existirá mais leitura de livros
impressos, e que todo o conhecimento chegará através dos computadores, ou
outros mecanismos de armazenamento de dados eletrônicos.
Dessa espécie de hipertexto faz surgir
um questionamento que não quer calar: o acesso ao conhecimento com a leitura
dos acervos das bibliotecas vai deixar de existir? O livro escrito está
ameaçado? Calma. Porque a história das comunicações já provou que a televisão,
até hoje, não conseguiu substituir o rádio. Por isso, uma nova maneira de
escrever haverá de aparecer para ler livros e interagir com as bibliotecas.
Com efeito, como sempre aconteceu com
os livros e os homens ao longo da História da humanidade, as
bibliotecas têm sido alvo do contraditório e de perseguição, sendo poucas vezes
reconhecidas pelos seus contemporâneos.
Na Idade Média, por exemplo, as
bibliotecas quase foram extintas, vítimas da censura da Igreja Católica, com
seus Autos de Fé no tempo da Inquisição, com o objetivo de impedir a divulgação
das ideias contrárias aos seus cânones, paradoxalmente, salvas em abrigos dos
mosteiros, conforme registra o escritor Humberto Eco no seu aplaudido romance
“O nome da Rosa”.
Outro exemplo, foi a destruição da
Biblioteca de Alexandria, no Egito, – uma das mais famosas do mundo antigo -
que sobreviveu a muitos saques e incêndios ordenados pelo imperador e
intelectual Caio Júlio César. Na época, era uma espécie de nascedouro das
ciências ou comunidade de eruditos explorando a literatura, a história, a
filosofia, a geografia, a medicina, a engenharia e a astronomia, status que a
civilização greco-romana deu continuidade, apesar de haver esquecido o seu
espírito especulativo.
Só muito tempo depois, no século XVII,
quando a comunicação científica se dava apenas por meio da troca de
correspondência entre pesquisadores e de publicação de panfletos e livros,
surgiu a Academia Francesa de Letras por iniciativa do Cardeal Richelieu –
tornando-se assim uma referência e modelo das nossas atuais Academias de Letras
que, diga-se de passagem, são somatórios de cada um desses instantes da
História recolhidos pelos cultivadores da sensibilidade humana.
Ainda no final deste mesmo século,
influenciada pelos parâmetros franceses, foi criada a Academia Brasileira de
Letras, reunindo intelectuais com interesses comuns e ponto de referência da
inteligência nacional, apesar dos distúrbios e instabilidades provocados pela
liquidez do novo regime republicano, instalado antes de sua criação, em 1896.
Neste contexto, vale a pena destacar
que o Piauí não deixou de dar sua contribuição ao espaço de vanguarda e
liderança que marcou a vida da ABL “iniciada por moço e completada por moços”
como afirmou o seu primeiro presidente Machado de Assis, durante sua posse.
Nomes de piauienses como o poeta Félix Pacheco, tiveram influência dos mestres
daquele cenário renovador, notadamente pela coerência e convicção de suas
ideias cantadas em prosa e versos desde Da Costa e Silva, que eternizou o
Parnaíba no verso do “Velho Monge de Barbas Brancas Alongadas”.
Embora, não tenham nascido em solo
mafrense, outros três imortais vivenciaram o Piauí na ABL, como Humberto de
Campos, Odylo Costa, filho e Alberto da Costa e Silva, que não deixaram sair da
sagrada existência da imortalidade aquele sentimento expressado por Odylo
Costa, filho, que ao escrever “A Faca e o Rio” disse ser maranhense, mas ter um
lado do coração no Piauí.
Teresina/ julho/2017