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A leitura constrói inteligências
mágicas
José Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Paulo Vítor Prudêncio, 7 aninhos,
reside frente à minha residência. Vítor ganhou uma bicicleta da mãe, mérito das
boas notas no primeiro semestre. Em férias, Vítor diverte-se pedalando: “Mãe, a
corrente está desconectada e a bicicleta não me permite circular!”
Hum! Bonito português: DESCONECTADA,
NÃO ME PERMITE CIRCULAR, vocabulário de adulto. “Vítor gosta de ler”, diz
mamãe, de olho nos carros que passam raspando o garoto. Zelosa, também, com a
evolução da inteligência emocional de Vítor, estimulando-o à leitura: “Ele
adora ler”, envaidece-se.
Eis a fórmula de se adquirirem bonitas
e raras palavras, desde cedo. Com o passar do tempo, dedicando-se à leitura de
selecionados textos de jornais, revistas e livros, ninguém segurará Vítor, no
universo das conquiatas. Por enquanto, importa a leitura compartilhada com os
pais e com professores e colegas de escola. Leituras construtivas, exemplos de
virtudes cristãs, sem ranços de ideologia política, espasmos genéricos e
descontrução da família. O hábito de ler que liberta as frases surradas,
mesmices, sem criatividade . Arte não é só fazer, mas criar.
O idioma português possui mais de
duzentos mil verbetes. Milhões de brasileiros sem leitura dominam somente cinco
a dez mil palavras, uma fortuna para entender certos programas televisivos de
entretenimento, comentários esportivos, colunas sociais e policiais,
forrozeiras safadinhas e refrões fuleros. Com tamanho repertório vocabular, em
inglês, qualquer brasileiro não passaria fome no exterior. Também aqui, se
vira, se come, se embebeda com as mesmices do cotidiano. Voar, nunca.
Infelizmente, expressiva camada social anda tão miserável e rasteira, no falar,
ler e escrever quanto políticos que elegem. Estudantes de nível superior incapazes
de entender e interpretar uma música da MPB. Permanecem iludidos com
balacubacos de pura mediocridade. A Rádio Senado apresenta repertório de
primeira. Só filé mignon da MPB, nomes consagrados e populares. Ligue 104.5 e
me diga depois.
Machado de Assis, neto de escravoss,
feio, epiléptico, negro, paupérrimo, gago, oriundo de favela. Frequentou pouco
a escola, barrado pela cor. Quase não saía de casa, temendo crise de epilepsia
na rua. Qual o segredo da genialidade de Machado? O hábito de ler textos nas
gráficas (tipografias), onde trabalhava desde a adolescência, visitas a
bibliotecas. Autodidata, aprofundou-se em francês e literatura, conquistou
emprego público e elevação social como escritor. Machado lembra outro herói,
Joaquim Barbosa, também negro,
pobre, filho de pedreiro e empregada
doméstica, na periferia de Brasília, engraxate, estudante de escola pública.
Cursou Direito, doutorou-se na França. Jurista, ex-magistrado, ministro do
Supremo Tribunal Federal, por indicação do presidente Lula. Não se dobrou aos
caprichos do presidente no rumoroso caso do Mensalão, ao enfrentar desafetos do
PT.
O exercício da leitura produz e
consagra talentos. Nicolau Maquiavel, político perseguido, torturado, preso em
calabouço, em 1513. Na prisão,
aprofundou-se nos estudos, escreveu a famosa obra O Príncipe. Também, por
perseguição política, Graciliano Ramos sofreu em presídios, onde escreveu
romances imortais. Porque leitura é um dos prazeres que ganhamos, embora nas
agruras. Vítor percebeu cedo quanto é bom estudar, mesmo com a bicicleta
desconectada
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