segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Palestra de lançamento do livro “Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”

Historiador Nonato Vaz, Elmar Carvalho, Diácono Felipe e Monsenhor Maurício

Francisco Ribeiro, Natim Freitas, Elmar e Fátima no adro da Matriz de S. Bernardo

Palestra de lançamento do livro “Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”

Proferida pelo Diácono Felipe Costa Silva

No dia 9 tive a grata satisfação de me deslocar, com amigos e familiares, de Parnaíba a São Bernardo (MA), onde participei de bela festa literária, em que foi lançado o livro “Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”, do diácono Felipe Costa Silva, que tive a honra de prefaciar, graças à generosidade de seu autor. A obra conta a história da Paróquia e da cidade, a exemplo de Campo Maior, minha terra natal, fundada por Bernardo de Carvalho e Aguiar. Compareceu expressivo e seleto público. Usaram da palavra o monsenhor Maurício Laurent, o historiador Nonato Vaz e Elmar Carvalho. Entreguei ao diácono Felipe exemplares das obras Parnárias – poemas sobre Parnaíba, Histórias de Évora (romance) e Confissões de um juiz, para a sua biblioteca pessoal e para a Biblioteca Pública de São Bernardo. O autor que, apesar de jovem, é detentor de invejável erudição e de notável capacidade redacional, fez o belo pronunciamento que transcrevo abaixo.

Elmar Carvalho

Senhoras e senhores, boa noite!

         Agradeço a presença de todos. De maneira especial às autoridades religiosas e civis que, estando aqui, muito me honram. Obrigado!
         Com muita satisfação, neste momento inicio a apresentação oficial do meu primeiro livro “Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”. Como preâmbulo das considerações que pretendo fazer nesta noite memorável, trago à lembrança o soneto “Minha terra”, do saudoso conterrâneo e ilustre poeta, Bernardo Coelho de Almeida:

“Se estou longe de ti, pesa-me o fardo
Imenso da saudade sobre mim:
(No mapa nem puseram São Bernardo....
E eu mais te quero, obscuramente assim!)

Vejo-te sob um céu de luz galhardo,
O verde vale, o solo carmesim,
A rua - paralela ao rio pardo -
Onde o sol nasce em baixo e morre ao fim...

O mundo que me fez abandonar-te,
Me faz te procurar por toda parte,
Nos sonhos, um a um, que ele desfaz!

E agora é tarde para revivê-los,
No pranto de mamãe, nos seus cabelos,
Na mesa onde nem todos sentam mais!”

         É muito significativo que nesta noite estejamos reunidos aqui, nesta praça, neste lugar. Talvez, não se tenha plena consciência, mas ao nos reunirmos aqui, nos reunimos não somente com o presente, mas também com o passado, que reclama o direito de se fazer presente conosco porque vive em cada um de nós, filhos deste chão abençoado pelo monge de Clairvaux!
         Bernardo Almeida, em seu soneto, expressa o genuíno espírito de um bernardense, que mesmo longe sabe guardar no coração a grata lembrança de sua terra, desejando-a só pra si, como em um conto de fadas.
Nos encontros e desencontros da vida, é aqui, neste chão, que nós bernardenses, verdadeiramente nos encontramos, ou pelo menos, é aqui que encontramos a bússola que orienta nosso caminho, a bússola do começo e recomeço.
         E para não nos perdermos ao longo da jornada da existência, é preciso que nos apropriemos das nossas raízes. Não pode se apropriar do mundo quem ainda não se apropriou de suas raízes, de seu chão, de sua história, da memória de sua gente. Esta é uma serena convicção que trago no mais íntimo de mim.

         Nesta palestra de lançamento, darei enfoque em três pontos que julgo pertinentes:
1-     O nascimento da ideia do livro
2-     A redação e o projeto da trilogia
3-     O conteúdo

 1 - O nascimento da ideia do livro

         Escrever o livro “Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”, o primeiro do ousado projeto de uma trilogia, é uma forma de colaborar com a preservação da memória da nossa cidade, nossa paróquia, além de recordar os elementos basilares que sustentam nossa cultura, nossa fé cristã, nossos costumes e festas.
         Toda pesquisa nasce de uma sadia curiosidade. O que seria da humanidade se não existissem os espíritos curiosos. A curiosidade sadia é capaz de produzir o extraordinário, ficam como exemplo as grandes descobertas da ciência e da tecnologia, e os constantes progressos da pesquisa histórica.
         Pela curiosidade de entender as razões pelas quais o Cônego Nestor foi assassinado em agosto de 1970, iniciei um longo caminho de leitura, coleta de dados, partilha de experiências e vivências, que culmina, agora, com o lançamento desse livro.
         Tudo começou em janeiro de 2011, no escritório de Monsenhor Maurício Laurent, quando ele pôs em minhas mãos a volumosa obra “História Eclesiástica do Maranhão”, de Dom Filipe Condurú Pacheco, onde encontrei a trilha por onde eu deveria dar os primeiros passos para depois devassar, por conta própria, um novo caminho.
         À medida que ia lendo Condurú Pacheco fui sendo possuído por um enorme desejo de imitá-lo, escrevendo também eu uma suposta “história eclesiástica bernardense”. Essa foi, aliás, minha ideia original, imatura por sinal, que posteriormente foi purificada e redirecionada.
         Apropriei-me de outras fontes muito importantes (César Marques, Cláudio Melo, Mário Meireles, Aderson Lago etc.) e gradativamente fui cotejando inúmeras informações sobre a paróquia de São Bernardo, e inclusive sobre a própria origem da cidade.
Desse cotejamento, fui construindo um vasto leque de dados históricos, que me permitiu ampliar o horizonte da pesquisa para além da figura do Cônego Nestor, que era o objeto inicial das investigações.
Quando me dei conta, eu já estava em alto mar, cônscio, porém, que um pouco desprotegido, por não ter, com propriedade, domínio do método da pesquisa histórica, o que faz com que eu me entenda um amador, ou como disse um colega padre e historiador, um ensaísta. Mas um ensaísta comprometido com a verdade e que preza muito pela honestidade intelectual.

2 - A redação e o projeto da trilogia

         De posse de inúmeras fontes, comecei, em 2012, a esboçar o esqueleto daquilo que seria um livro. Além de definir o que deveria escrever, redigi o núcleo central de alguns capítulos. Ali ficou claro, dada a vastidão da pesquisa, que eu deveria dividir a publicação em pelo menos três. Foi assim que surgiu a ideia da trilogia, nada, porém estava muito claro.
Foram seis anos de pesquisa temperados com as obrigações próprias de um seminarista, seja no âmbito acadêmico seja no pastoral. Em alguns momentos tive que deixar este trabalho em segundo plano, sem nunca perder, no entanto, o elã da pesquisa.
Uma das primeiras contribuições dessa pesquisa consistiu na recordação e divulgação da data do bicentenário da Matriz, cujas celebrações oficias ocorreram no ano passado, no contexto do Ano Jubilar da Misericórdia.
Na ocasião, escrevi um pequeno artigo explicando o contexto histórico dos 200 anos da Matriz, apesar da Paróquia São Bernardo possuir, historicamente, 276 anos de existência institucional. Esse dado está seguramente fundamentado no livro.
Considerando o fato de eu estar impossibilitado de fazer a publicação do livro no ano passado, em razão da minha transferência para o Ceará, criei o blog Freguesia de São Bernardo do Parnaíba, ou simplesmente Freguesia SB, a fim de homenagear a Matriz Bicentenária de São Bernardo, e ao mesmo tempo chamar atenção para a necessidade de mais pesquisas e produção sobre a história de São Bernardo.
Paralelo ao trabalho do blog, retomei a redação do livro, levando a cabo a conclusão dos capítulos e definindo com clareza o conteúdo dos três volumes:
O 1º, que ora apresento, possibilita uma visão histórica geral sobre a origem de São Bernardo e da Paróquia São Bernardo, anteriormente chamada Freguesia de São Bernardo do Parnaíba.
O 2º, cuja redação já está em andamento, e está previsto para ser publicado em agosto do ano vindouro, será sobre o Cônego Nestor, com especial ênfase sobre o contexto obscuro de seu assassinato, dúvida de raiz que motivou todas as minhas pesquisas.
O 3º, cuja previsão de lançamento é para agosto de 2019, abordará a devoção a São Bernardo de Claraval e seus desdobramentos na construção do tecido social bernardense, considerando, sobretudo o festejo e as manifestações populares de piedade e devoção.
A redação deste primeiro volume eu a concluí em fevereiro deste ano, tendo encaminhado o escrito, posteriormente, para a apreciação de alguns amigos.
Fiz convite especial ao ilustre Elmar Carvalho para que ele fizesse o prefácio. Muito cordialmente, aceitou tal empresa, e o fez com esmero e objetividade.
Minha relação com Elmar começou via internet, quando lhe solicitei uma cópia da obra “Bernardo de Carvalho”, do grande historiador Pe. Cláudio Melo. Hoje, nos encontramos pela primeira vez, na ocasião desse lançamento, razão pela qual me sinto mui honrado.
Também devo recordar gratamente, meu amigo historiador, Pe. Edilberto Cavalcante, doutor e professor de história na UECE, e membro do clero de Quixadá, pelas preciosas dicas para a redação final do texto.
Devo recordar ainda, Pe. João Rezende, do clero da Arquidiocese de São Luís, que me iluminou na escolha do título do vertente livro.
Depois de seguidos todos os tramites de publicação, junto à Editora Imprece de Fortaleza, tenho a grata satisfação de colocar em vossas mãos o primeiro fruto de uma ousada semeadura. “Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”, é o meu presente, ainda que tardio, à Paróquia Santuário São Bernardo pelos seus 200 anos de Matriz.

3 - O conteúdo

      Durante a redação dos sete capítulos desse primeiro volume, resolvi iniciar resgatando a narrativa legendária sobre a origem de São Bernardo, nas suas mais diversas variantes. De fato, apesar de ter um caráter legendário, essas narrativas portam consigo algo de verdadeiro e expressam momentos fundamentais da história da Matriz.
      Na antiguidade clássica, quando os gregos resolveram romper com a explicação mítica do mundo, deram origem à Filosofia. No entanto, sabe-se que o mito é portador de uma verdade. Não se trata de uma mentira, mas de uma forma de explicar e dizer a multifacetada realidade da existência.
     De igual maneira, ao iniciar a obra pelas narrativas legendárias, quis valorizá-las e mostrar que a partir delas podemos trilhar o caminho da história, dos fatos e acontecimentos. Quis trazer em cena muitos personagens que estão nas origens da nossa cidade: os padres jesuítas, os índios Anapurús, Bernardo de Carvalho Aguiar, Dom Manuel da Cruz e Padre Antônio Vidal de Almeida, o primeiro vigário encomendado de São Bernardo.
         A história de São Bernardo foi construída ao redor da Matriz, da necessidade de sua construção. De fato, nosso chão, nos séculos XVIII e XIX, é profundamente marcado pela necessidade da construção e/ou manutenção de uma matriz. Os nomes que se sobressaem nesse período são os do padre João Francisco Martins e do coronel Antônio Pires Ferreira, generoso benfeitor da Matriz de São Bernardo.
Mas, é somente a partir do século XX, com a ousadia do Cônego Nestor em construir uma nova Matriz, um santuário, é que o eixo se desloca da igreja de pedra para a igreja viva, que sãos os fieis batizados, os paroquianos, ou numa linguagem colonial, os fregueses.
      O século XX é o século de ouro da Matriz. Período em que aconteceu uma verdadeira renovação pastoral a partir de alguns movimentos leigos, tais como o Apostolado da Oração e a Pia União das Filhas de Maria.
         Por uma questão de justiça, é preciso que se diga que essa renovação não é mérito unicamente do Cônego Nestor. Na verdade, ao chegar aqui ele encontrou um terreno já trabalhado pelo ilustre Monsenhor Gentil de Moura Viana, que tanto bem fez a esta paróquia nos poucos anos em que dela esteve à frente.
         Não há dúvida de que o período do pastoreio do Cônego Nestor se configura como o esplendor da Matriz. No entanto, isso não se deve somente a ele. É preciso que olhemos para outros personagens que foram também muito importantes, sobretudo mulheres, tais como, Otamires Pereira, Elizia Guimarães, Rosa Leal, Semírames Coelho Lima, Nilza Coelho Lima, Débora Correia Lima, Antonieta Andrade, Elisabete Almeida, e o senhor Edmundo Dantés, irmão do Padre Alexandre Pereira, filho de São Bernardo, que foi o vigário antecessor do Cônego Nestor.
       Após o fim trágico e lamentável do então cônego, a Matriz de São Bernardo foi confiada aos cuidados do Padre Maurício, que com muita maestria soube encaminhar a paróquia na linha de renovação proposta pelo Concílio Vaticano II, a partir de uma visão eclesial que considera a CEB’s como um caminho de verdadeira renovação pastoral e espiritual, culminando na ereção canônica do nosso templo como Santuário Diocesano.
     Nesse itinerário de três séculos, resumidamente ilustrados, ensejei destacar os elementos históricos que fomentam o ethos bernardense, isto é, nosso jeito de ser, nossa expressão sociocultural.
         Espero que este livro ajude a fomentar no coração de cada um de nós o terno amor pela nossa Matriz, nossa terrinha, a fim de que nunca seja silenciada a voz da alma que canta sem cessar, nos recônditos de nosso ser: “Glória a ti terra querida, cantamos com emoção, juramos por toda a vida, trazer-te no coração”.

Obrigado!

São Bernardo, 09 de setembro de 2017
Praça Vale de Luz

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