Historiador Nonato Vaz, Elmar Carvalho, Diácono Felipe e Monsenhor Maurício |
Francisco Ribeiro, Natim Freitas, Elmar e Fátima no adro da Matriz de S. Bernardo |
Palestra de lançamento do livro
“Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”
Proferida pelo Diácono Felipe Costa Silva
No dia 9 tive
a grata satisfação de me deslocar, com amigos e familiares, de Parnaíba a São
Bernardo (MA), onde participei de bela festa literária, em que foi lançado o
livro “Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”, do diácono Felipe Costa Silva,
que tive a honra de prefaciar, graças à generosidade de seu autor. A obra conta
a história da Paróquia e da cidade, a exemplo de Campo Maior, minha terra
natal, fundada por Bernardo de Carvalho e Aguiar. Compareceu expressivo e
seleto público. Usaram da palavra o monsenhor Maurício Laurent, o historiador
Nonato Vaz e Elmar Carvalho. Entreguei ao diácono Felipe exemplares das obras
Parnárias – poemas sobre Parnaíba, Histórias de Évora (romance) e Confissões de
um juiz, para a sua biblioteca pessoal e para a Biblioteca Pública de São
Bernardo. O autor que, apesar de jovem, é detentor de invejável erudição e de
notável capacidade redacional, fez o belo pronunciamento que transcrevo abaixo.
Elmar Carvalho
Senhoras e senhores, boa noite!
Agradeço a presença de todos. De
maneira especial às autoridades religiosas e civis que, estando aqui, muito me
honram. Obrigado!
Com muita satisfação, neste momento
inicio a apresentação oficial do meu primeiro livro “Matriz de São Bernardo: de
capela a santuário”. Como preâmbulo das considerações que pretendo fazer nesta
noite memorável, trago à lembrança o soneto “Minha terra”, do saudoso
conterrâneo e ilustre poeta, Bernardo Coelho de Almeida:
“Se estou longe de ti, pesa-me o
fardo
Imenso da saudade sobre mim:
(No mapa nem puseram São
Bernardo....
E eu mais te quero, obscuramente
assim!)
Vejo-te sob um céu de luz
galhardo,
O verde vale, o solo carmesim,
A rua - paralela ao rio pardo -
Onde o sol nasce em baixo e morre
ao fim...
O mundo que me fez abandonar-te,
Me faz te procurar por toda
parte,
Nos sonhos, um a um, que ele
desfaz!
E agora é tarde para revivê-los,
No pranto de mamãe, nos seus
cabelos,
Na mesa onde nem todos sentam
mais!”
É muito significativo que nesta noite
estejamos reunidos aqui, nesta praça, neste lugar. Talvez, não se tenha plena
consciência, mas ao nos reunirmos aqui, nos reunimos não somente com o
presente, mas também com o passado, que reclama o direito de se fazer presente
conosco porque vive em cada um de nós, filhos deste chão abençoado pelo monge
de Clairvaux!
Bernardo Almeida, em seu soneto,
expressa o genuíno espírito de um bernardense, que mesmo longe sabe guardar no
coração a grata lembrança de sua terra, desejando-a só pra si, como em um conto
de fadas.
Nos encontros e desencontros da
vida, é aqui, neste chão, que nós bernardenses, verdadeiramente nos
encontramos, ou pelo menos, é aqui que encontramos a bússola que orienta nosso
caminho, a bússola do começo e recomeço.
E para não nos perdermos ao longo da
jornada da existência, é preciso que nos apropriemos das nossas raízes. Não
pode se apropriar do mundo quem ainda não se apropriou de suas raízes, de seu
chão, de sua história, da memória de sua gente. Esta é uma serena convicção que
trago no mais íntimo de mim.
Nesta palestra de lançamento, darei
enfoque em três pontos que julgo pertinentes:
1- O nascimento da ideia do livro
2- A redação e o projeto da trilogia
3- O conteúdo
1 - O nascimento da ideia do livro
Escrever o livro “Matriz de São
Bernardo: de capela a santuário”, o primeiro do ousado projeto de uma trilogia,
é uma forma de colaborar com a preservação da memória da nossa cidade, nossa
paróquia, além de recordar os elementos basilares que sustentam nossa cultura,
nossa fé cristã, nossos costumes e festas.
Toda pesquisa nasce de uma sadia
curiosidade. O que seria da humanidade se não existissem os espíritos curiosos.
A curiosidade sadia é capaz de produzir o extraordinário, ficam como exemplo as
grandes descobertas da ciência e da tecnologia, e os constantes progressos da
pesquisa histórica.
Pela curiosidade de entender as razões
pelas quais o Cônego Nestor foi assassinado em agosto de 1970, iniciei um longo
caminho de leitura, coleta de dados, partilha de experiências e vivências, que
culmina, agora, com o lançamento desse livro.
Tudo começou em janeiro de 2011, no
escritório de Monsenhor Maurício Laurent, quando ele pôs em minhas mãos a
volumosa obra “História Eclesiástica do Maranhão”, de Dom Filipe Condurú
Pacheco, onde encontrei a trilha por onde eu deveria dar os primeiros passos
para depois devassar, por conta própria, um novo caminho.
À medida que ia lendo Condurú Pacheco
fui sendo possuído por um enorme desejo de imitá-lo, escrevendo também eu uma
suposta “história eclesiástica bernardense”. Essa foi, aliás, minha ideia
original, imatura por sinal, que posteriormente foi purificada e redirecionada.
Apropriei-me de outras fontes muito
importantes (César Marques, Cláudio Melo, Mário Meireles, Aderson Lago etc.) e
gradativamente fui cotejando inúmeras informações sobre a paróquia de São
Bernardo, e inclusive sobre a própria origem da cidade.
Desse cotejamento, fui
construindo um vasto leque de dados históricos, que me permitiu ampliar o
horizonte da pesquisa para além da figura do Cônego Nestor, que era o objeto
inicial das investigações.
Quando me dei conta, eu já estava
em alto mar, cônscio, porém, que um pouco desprotegido, por não ter, com
propriedade, domínio do método da pesquisa histórica, o que faz com que eu me
entenda um amador, ou como disse um colega padre e historiador, um ensaísta.
Mas um ensaísta comprometido com a verdade e que preza muito pela honestidade
intelectual.
2 - A redação e o projeto da
trilogia
De posse de inúmeras fontes, comecei,
em 2012, a esboçar o esqueleto daquilo que seria um livro. Além de definir o
que deveria escrever, redigi o núcleo central de alguns capítulos. Ali ficou
claro, dada a vastidão da pesquisa, que eu deveria dividir a publicação em pelo
menos três. Foi assim que surgiu a ideia da trilogia, nada, porém estava muito
claro.
Foram seis anos de pesquisa
temperados com as obrigações próprias de um seminarista, seja no âmbito
acadêmico seja no pastoral. Em alguns momentos tive que deixar este trabalho em
segundo plano, sem nunca perder, no entanto, o elã da pesquisa.
Uma das primeiras contribuições
dessa pesquisa consistiu na recordação e divulgação da data do bicentenário da
Matriz, cujas celebrações oficias ocorreram no ano passado, no contexto do Ano
Jubilar da Misericórdia.
Na ocasião, escrevi um pequeno
artigo explicando o contexto histórico dos 200 anos da Matriz, apesar da
Paróquia São Bernardo possuir, historicamente, 276 anos de existência
institucional. Esse dado está seguramente fundamentado no livro.
Considerando o fato de eu estar
impossibilitado de fazer a publicação do livro no ano passado, em razão da
minha transferência para o Ceará, criei o blog Freguesia de São Bernardo do
Parnaíba, ou simplesmente Freguesia SB, a fim de homenagear a Matriz
Bicentenária de São Bernardo, e ao mesmo tempo chamar atenção para a
necessidade de mais pesquisas e produção sobre a história de São Bernardo.
Paralelo ao trabalho do blog,
retomei a redação do livro, levando a cabo a conclusão dos capítulos e
definindo com clareza o conteúdo dos três volumes:
O 1º, que ora apresento,
possibilita uma visão histórica geral sobre a origem de São Bernardo e da Paróquia
São Bernardo, anteriormente chamada Freguesia de São Bernardo do Parnaíba.
O 2º, cuja redação já está em
andamento, e está previsto para ser publicado em agosto do ano vindouro, será
sobre o Cônego Nestor, com especial ênfase sobre o contexto obscuro de seu
assassinato, dúvida de raiz que motivou todas as minhas pesquisas.
O 3º, cuja previsão de lançamento
é para agosto de 2019, abordará a devoção a São Bernardo de Claraval e seus
desdobramentos na construção do tecido social bernardense, considerando,
sobretudo o festejo e as manifestações populares de piedade e devoção.
A redação deste primeiro volume
eu a concluí em fevereiro deste ano, tendo encaminhado o escrito,
posteriormente, para a apreciação de alguns amigos.
Fiz convite especial ao ilustre
Elmar Carvalho para que ele fizesse o prefácio. Muito cordialmente, aceitou tal
empresa, e o fez com esmero e objetividade.
Minha relação com Elmar começou
via internet, quando lhe solicitei uma cópia da obra “Bernardo de Carvalho”, do
grande historiador Pe. Cláudio Melo. Hoje, nos encontramos pela primeira vez,
na ocasião desse lançamento, razão pela qual me sinto mui honrado.
Também devo recordar gratamente,
meu amigo historiador, Pe. Edilberto Cavalcante, doutor e professor de história
na UECE, e membro do clero de Quixadá, pelas preciosas dicas para a redação
final do texto.
Devo recordar ainda, Pe. João
Rezende, do clero da Arquidiocese de São Luís, que me iluminou na escolha do
título do vertente livro.
Depois de seguidos todos os
tramites de publicação, junto à Editora Imprece de Fortaleza, tenho a grata
satisfação de colocar em vossas mãos o primeiro fruto de uma ousada semeadura.
“Matriz de São Bernardo: de capela a santuário”, é o meu presente, ainda que
tardio, à Paróquia Santuário São Bernardo pelos seus 200 anos de Matriz.
3 - O conteúdo
Durante a redação dos sete capítulos
desse primeiro volume, resolvi iniciar resgatando a narrativa legendária sobre
a origem de São Bernardo, nas suas mais diversas variantes. De fato, apesar de
ter um caráter legendário, essas narrativas portam consigo algo de verdadeiro e
expressam momentos fundamentais da história da Matriz.
Na antiguidade clássica, quando os gregos
resolveram romper com a explicação mítica do mundo, deram origem à Filosofia.
No entanto, sabe-se que o mito é portador de uma verdade. Não se trata de uma
mentira, mas de uma forma de explicar e dizer a multifacetada realidade da
existência.
De igual maneira, ao iniciar a obra pelas
narrativas legendárias, quis valorizá-las e mostrar que a partir delas podemos
trilhar o caminho da história, dos fatos e acontecimentos. Quis trazer em cena
muitos personagens que estão nas origens da nossa cidade: os padres jesuítas,
os índios Anapurús, Bernardo de Carvalho Aguiar, Dom Manuel da Cruz e Padre
Antônio Vidal de Almeida, o primeiro vigário encomendado de São Bernardo.
A história de São Bernardo foi
construída ao redor da Matriz, da necessidade de sua construção. De fato, nosso
chão, nos séculos XVIII e XIX, é profundamente marcado pela necessidade da
construção e/ou manutenção de uma matriz. Os nomes que se sobressaem nesse
período são os do padre João Francisco Martins e do coronel Antônio Pires
Ferreira, generoso benfeitor da Matriz de São Bernardo.
Mas, é somente a partir do século
XX, com a ousadia do Cônego Nestor em construir uma nova Matriz, um santuário,
é que o eixo se desloca da igreja de pedra para a igreja viva, que sãos os
fieis batizados, os paroquianos, ou numa linguagem colonial, os fregueses.
O século XX é o século de ouro da Matriz.
Período em que aconteceu uma verdadeira renovação pastoral a partir de alguns
movimentos leigos, tais como o Apostolado da Oração e a Pia União das Filhas de
Maria.
Por uma questão de justiça, é preciso
que se diga que essa renovação não é mérito unicamente do Cônego Nestor. Na
verdade, ao chegar aqui ele encontrou um terreno já trabalhado pelo ilustre
Monsenhor Gentil de Moura Viana, que tanto bem fez a esta paróquia nos poucos
anos em que dela esteve à frente.
Não há dúvida de que o período do
pastoreio do Cônego Nestor se configura como o esplendor da Matriz. No entanto,
isso não se deve somente a ele. É preciso que olhemos para outros personagens
que foram também muito importantes, sobretudo mulheres, tais como, Otamires
Pereira, Elizia Guimarães, Rosa Leal, Semírames Coelho Lima, Nilza Coelho Lima,
Débora Correia Lima, Antonieta Andrade, Elisabete Almeida, e o senhor Edmundo
Dantés, irmão do Padre Alexandre Pereira, filho de São Bernardo, que foi o
vigário antecessor do Cônego Nestor.
Após o fim trágico e lamentável do então
cônego, a Matriz de São Bernardo foi confiada aos cuidados do Padre Maurício,
que com muita maestria soube encaminhar a paróquia na linha de renovação
proposta pelo Concílio Vaticano II, a partir de uma visão eclesial que
considera a CEB’s como um caminho de verdadeira renovação pastoral e
espiritual, culminando na ereção canônica do nosso templo como Santuário
Diocesano.
Nesse itinerário de três séculos, resumidamente
ilustrados, ensejei destacar os elementos históricos que fomentam o ethos
bernardense, isto é, nosso jeito de ser, nossa expressão sociocultural.
Espero que este livro ajude a fomentar
no coração de cada um de nós o terno amor pela nossa Matriz, nossa terrinha, a
fim de que nunca seja silenciada a voz da alma que canta sem cessar, nos
recônditos de nosso ser: “Glória a ti terra querida, cantamos com emoção,
juramos por toda a vida, trazer-te no coração”.
Obrigado!
São Bernardo, 09 de setembro de 2017
Praça Vale de Luz
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