Vamos
dialogar com a nova geração?
Pádua Marques *
Faz um bom tempo que
venho falando nisso. E olhe que muito e muito antes de concorrer, ser eleito e
tomar posse na Academia Parnaibana de Letras: a necessidade imperiosa de nossa
geração, a geração de escritores com mais de sessenta anos, cabelos brancos e cobertos
pelo azinhavre da fama antiga, descerem do altar ou da prateleira pra conversar
com esta meninada que anda escrevendo e renovando a nossa literatura, os novos
cronistas, poetas, atores, artistas plásticos, contistas e romancistas.
Se lembro bem um dos
primeiros garotos que vi se interessando por literatura logo que cheguei em
Parnaíba foi o André da Silva Soares, entregador do jornal Diário do Povo e O Dia
ali na Almirante Gervásio Sampaio quando eu estava colaborando com uma coluna
de economia e negócios no jornal Correio do Povo, do Zé Luiz de Carvalho e do
F. Carvalho. O André chegou a escrever um livro de poesias, O Colibri.
Menino muito pobre vindo
lá dos lados do Igaraçu era quase arrimo de família. Depois de muita persistência e sacrifício fez
curso de letras na UESPI e hoje é professor da rede municipal. A partir dele lá
pelos idos de 1996, salvo engano, já pude observar que alguma coisa estava
mudando. Depois, eu sempre envolvido com
essa coisa de cultura e que não dá dinheiro fui observando e acompanhando
outros e mais outros. Até que lá pelo ano de 2007 conheci dois rapazes, primos,
Cláucio e Daniel Ciarlini.
Estavam eles vindo de uma
experiência de fazer literatura no sentido exato da palavra, como se conhece,
essa coisa de escrever livro e tudo mais. Mas estavam agora criando um
jornalzinho do tamanho de uma folha de papel ofício e com um nome pra lá de
esquisito, Opiagüi.
Confesso que naquela
noite de 2007 na biblioteca estadual da avenida São Sebastião eu achei que
aqueles garotos seriam mais uns garotos rebeldes brincando com o fogo de fazer
literatura numa terra onde ninguém ao que sabemos gosta de ler.
Eles foram audaciosos a
ponto de entregar logo, assim na lata, um exemplar ao governador Wellington
Dias que na ocasião estava fazendo uma visita, inauguração, sei lá o quê.
Estavam juntos do Arlindo Leão. E até tiraram foto e tudo o mais.
Agora passados dez anos e
mostrarem neste tempo todo que não estavam pra brincadeira o Opiagüi
Culturalista tem uma legião de colaboradores. Tem revelado outros tantos e até
eu andei fazendo passagem em suas páginas com minhas crônicas. Eu poderia ficar
aqui falando o tempo todo sobre este trabalho desses dois garotos e as amizades
e conquistas que tiveram. Mas vou voltar e insistir nessa possibilidade de nós
escritores sessentões puxarmos a cadeira e sentar pra uma conversa com essa
juventude.
Eu imagino que a uma
altura dessas propor que nós da Academia Parnaibana de Letras convidemos jovens
escritores pra uma roda de conversa será visto como ousadia demais ou sinal de
que estamos procurando nos aproveitar do momento deles. Os jovens escritores da
Parnaíba estão muito mais engajados, unidos e melhor informados do que nós. E
sabem utilizar toda essa enciclopédia da modernidade para desenvolverem seus
trabalhos, coisa difícil imaginar em nós quando tínhamos a idade deles.
Estou pensando, agora que
chegamos à diretoria da APAL, o presidente José Luiz de Carvalho promova talvez
ainda neste ano ou no seguinte uma grande mobilização e que nesta mobilização
esteja a de nos aproximar dessa gente nova que está fazendo literatura. Aquela
coisa de cada lado mostrar o que fez, o que está fazendo e o que pode ser
feito. Pra gente acabar de vez com essa acomodação que faz um mal danado pras
juntas.
*
Pádua Marques, cadeira 24 da APAL
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