Histórias de Évora de Elmar Carvalho (Parte II)
Magno Pires *
Ao dissertar em linguagem enxuta, exata e realista, e tão
bem, os encontros amorosos do protagonista Marcos Azevedo, que tem a sua fase
de timidez, com a famosa madame Doralice, que era uma prostituta, parece tê-los
vivenciados e participado de alguns.
Pois, para descrevê-los e/ou caracterizá-los, com enormes
detalhes, muita segurança, senão participou, com certeza, vivenciou-os
infinitamente, o que também não há o que estranhar nesse comportamento, ainda
que ilegítimo do período.
Os jovens de sua época viviam (ou vivem) numa sociedade
extremamente restrita à moral, a ética e aos costumes. Portanto, conservadora,
religiosa, e com receio e/ou medo do pai e da mãe. Dos avós, dos tios, dos
parentes, dos amigos, de parentes e aderentes, e também da repressão dos
vizinhos E receio dos castigos e das reprimendas dos genitores.
A religiosidade, ou caráter religioso, também impunha à
sociedade vultosas restrições e extemporâneos limites.
Eram criados numa perspectiva ilimitada de “respeito” e/ou
temor à religião e às coisas religiosas. Onde, por isso, quase toda conduta
amorosa era pecaminosa.
Como antecipei antes, Histórias de Évora descrevem aspectos
sociais, econômicos, políticos, religiosos e culturais do período da vivência
do autor, ´percorrendo várias décadas de nossa história, com muita
percuciência.
É um livro de sociologia e antropologia, portanto, realista,
humanista, que todos devem ler para aumentar conhecimentos e aprimorar o saber.
Pois, expõe fortemente as ocorrências socioculturais da sociedade piauiense e
brasileira. Esta, projetada a partir do Piauí, como campo e cenário de ação.
Numa dimensão literal correta e com fixação honesta da realidade, embora um
romance. Onde, em cujo gênero literário, prevalece o ficcionismo. Por isso, o
livro é menos ficção e mais objetividade e/ou materialidade, com o aspecto
ficcional extremamente bem elaborado ou descrito, dissertado, pelo amor.
As aventuras romanceadas erótico-amorosas do protagonista
Marcos Azevedo, com a famosa madame Doralice, com Lívia, no cabaré da Gracinha
que permeiam grande parte dos cenários do livro-romance, são sensivelmente
relatadas e correlatadas e sem o receio de recriminação da sociedade, dos pais,
dos familiares. Ele agia livremente. Doralice mantinha o Solar da Rosa dos
Ventos
Portanto, embora Évora, cujo vocabulário nos lembra Portugal,
Lisboa, seja uma cidade fictícia, imaginaria, mas repleta de realidades,
compreendida nos limites de Piracuruca e Piripiri, com o panorama de
ação-abrangência, epicentro, em Sete Cidades, paraíso ecológico, as histórias
fantásticas e realistas, descritas, focadas pelo seu inteligente, sensível e
emérito autor-acadêmico impõem um forte caráter litero-histórico,
sócio-político-cultural, econômico, sociológico e antropológico à obra que é
recomendável à leitura e à formação de brasileiros, conforme já antecipado.
Como são os livros de José Lins do Rego, Jorge Amado, Humberto de Campos,
Gilberto Freyre, Raquel de Queiroz, Euclides da Cunha, Josué de Castro...
dentre outros brasileiros responsáveis pela nossa formação cultural. Esses
ilustres romancistas e literatos brasileiros tiveram a mesma percepção,
sentimento, sensibilidade, compreensão e preocupação de Elmar Carvalho ao
relatar e denunciar, pela literatura, os problemas nacionais da atualidade (ou
do seu tempo) à posteridade, para conhecimento da sociedade, embora os
escritores mais contemplem que realizem.
Mas, suas realizações, são as denúncias e críticas que fazem
pelos livros ao mundo. Elmar faz, a seu tempo, a sua crítica-denúncia dos ainda
angustiantes problemas nacionais que persistem insolúveis. E com uma literatura
de excepcional valor e conteúdo, elogiável sobre todos os aspectos enfocados,
analisados e criticados.
* Magno Pires é membro da Academia Piauiense de Letras,
ex-Secretário da Administração do Piauí, ex-consultor jurídico da Companhia Antarctica
Paulista (Hoje AMBEV) 32 anos. Portal www.magnopires.com.br com 94.450.112
acessos em 8 anos e 2 meses, e-mail: magnopires_mp@yahoo.com.br.
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