terça-feira, 30 de janeiro de 2018

As Minhas Copas do Mundo de Futebol(2)

Fonte: Google


As Minhas Copas do Mundo de Futebol (2)

José Pedro Araújo
Romancista, contista e historiador

Na Copa de 1978 eu já estava de volta ao Maranhão depois de concluir o curso de Engenharia Agronômica. Pela primeira vez desconfiou-se que a FIFA era influenciável, manipulável. Até hoje se acredita que aquela foi a copa dos generais argentinos.

Trabalhando na EMATER, na pequena cidade de Lago Verde-MA, estava mais uma vez obrigado a ouvir as transmissões pelo rádio, pois a cidade, entre outras coisas, não nos oferecia a possibilidade de sentar de frente a uma tevê e apreciar alguma imagem nela refletida. Teimei contra isso e viajei para Bacabal na véspera do primeiro jogo contra a Suécia. Teimei e me dei mal. Tentei assistir a partida na televisão do hotel em que costumava me hospedar quando ia àquela cidade, mas a imagem era tão ruim que somente de tempos em tempos víamos a bola rolar no gramado. E mesmo assim, ainda precisávamos contar com a ajuda de um rádio, uma vez que o som também se restringia a um chiado horroroso.

Começamos aquela Copa com um empate melancólico em zero a zero. Contra a Espanha, na partida seguinte, outro empate sem gols. Era desestimulante. Fiquei em Lago Verde no dia da segunda partida por dever de ofício.  Meu Motorádio foi a minha escapatória.  Já para a terceira partida, havia ouvido dizer que no entroncamento rodoviário para Lago da Pedra havia um restaurante cujo proprietário tinha instalado uma antena muito alta em uma sucessão de varas de madeira. Afirmavam que lá no alto a antena conseguia captar uma imagem quase perfeita. Fui conferir. Não era tão perto assim, mas se valia a pena não poderia perder a oportunidade.

Chegamos ao local animados, mas qual não foi a nossa decepção: o padrão era o mesmo que vi na TV em Bacabal. Retornei chateado e, como se diz por aqui, por cima do rastro, e só fui saber que o Brasil havia ganhado pelo magro placar de 1x0 da Áustria ao chegar de volta a Lago Verde. Estávamos classificados para a segunda fase, contudo. E isso era o que contava.

Véspera do jogo contra o Peru, na segunda fase, fui convocado pelo Coordenador da empresa, em Bacabal, para uma reunião. Aproveitei o ensejo para solicitar uma folga durante o restante da semana. Ansiava ir a São Luís. Acompanhando o meu amigo João Carlos, conhecido desde os tempos da UFRPE, viajei em seu Fusca cor de abacate, com direito ainda a hospedagem na casa de seus pais que residiam no bairro São Francisco. Vi o jogo em uma TV colorida de 20 polegadas. O máximo. E o Brasil jogou esplendidamente bem, ganhando do Peru por 3x0. E ainda ficamos na cidade até domingo para vermos a partida do esquadrão nacional contra a Argentina.

A seleção jogou muito bem e esteve perto de marcar, dominando os nossos adversários apesar de jogarem em casa. O empate em 0x0 não fez justiça ao melhor time em campo. Mas, enfim, restava torcer para vencermos bem a Polônia e fazermos um bom saldo de gols. Ganhamos bem, pelo placar de 3x1, e somamos um saldo de 5 gols. Mas a Argentina não poderia ganhar do Peru por um placar maior que três gols de diferença para passarmos para a fase seguinte. E achávamos que seria muito difícil que eles batessem o time peruano por um placar tão elástico que nos tirasse da decisão da copa.

Mas, o que vimos em campo foi uma seleção peruana entregue, batida em campo desde o primeiro tempo, o que nos levou a ponderar que eles haviam facilitado o jogo para os argentinos. Perderam por 6x0 e até hoje dizem que eles, de fato, entregaram o jogo, pressionados que foram pelos generais de plantão, e pela própria FIFA.  Fomos disputar o terceiro lugar e os argentinos seguiram para decidir com os holandeses.

Vencemos a Itália pelo placar de 2x1, enquanto o carrossel holandês foi batido pela Argentina pelo placar de 3x1, em um jogo em que os holandeses estiveram perto de ganhar o jogo. Mas surgiu o herói de plantão, o cabeludo Mário Kempes, da Argentina, que estava em dia inspiradíssimo e mudou o resultado do jogo. Assisti aos dois jogos da final  que definiria os classificados do primeiro ao quarto lugar em Bacabal, para onde retornei após a eliminação do Brasil da disputa do primeiro lugar. Assisti é o modo de dizer, pois voltei para a TV quase sem imagem assessorada por um rádio de pilhas. Mas, não fazia mal: já havia perdido o interesse pela copa do mundo na Argentina com a eliminação do Brasil de forma tão dolorida. Saímos da copa sem perder uma partida sequer, e com o sentimento de que merecíamos, pelo menos, disputar com a Holanda a final do certame.

Em 1982 já estava residindo novamente em Teresina, e também já estava casado. Assistia aos jogos na minha própria casa, junto com a minha mulher e com alguns amigos. A copa foi jogada novamente na Europa, na Espanha, mais precisamente. E enviamos uma seleção de altíssimo nível e, em contra partida, ficamos aqui com uma enorme esperança de trazer de lá o caneco que não ganhávamos desde a copa de 70. Zico, Falcão, Sócrates, Cerezo, e companhia, compunham uma seleção de respeito que, comandada por Telê Santana, encantou o mundo com um futebol de altíssimo nível.

O Brasil, como não se via desde a copa de 70, vestiu-se inteiro de verde-amarelo para torcer pelos nossos craques na Espanha. E eles já haviam nos mostrado que podíamos confiar, desde quando jogamos as eliminatórias e ganhamos os quatro jogos da nossa chave (naquele tempo as seleções sul-americanas eram dividias em quatro grupos, classificando-se as primeiras colocadas de cada um).

Comprei a minha primeira TV em cores (uma Toshiba de 10 polegadas) para assistir aos jogos. Era pequena, não posso negar, sobretudo para os padrões de hoje. Mas era uma satisfação para mim possuir a minha primeira tevê em cores. Juntava um grupo de amigos, como já disse, e entornávamos todas as geladas que aparecessem em incontida alegria.  Apesar do aparelho de TV ser diminuto, a qualidade da imagem era perfeita, isso era o que bastava depois de passar pelas copas anteriores em que ouvia pelo rádio ou assistia em TV’s de outras pessoas. E com imagem péssima, na maioria das vezes, como já afirmei. Fomos muitos bem na primeira fase, apesar do susto contra a Rússia na primeira partida, e passamos para a fase seguinte em primeiro do grupo. E tome festa! E tome cerveja!

Até o jogo contra a Argentina(que vencemos por 3x1), já na segunda fase, íamos esplendidamente bem. Era a copa dos meus sonhos. A primeira que assistia com todo o conforto e como anfitrião de um grupo de amigos. Preparamo-nos como nunca para o jogo com a Itália no funesto Estádio Sarriá, em Barcelona. E aconteceu o que todos sabem: uma derrota inexplicável e muito dolorida. O Brasil jogava contra a Itália, seleção que vinha mal das pernas e havia se classificado a duras penas na primeira fase, após empatar seus três jogos pelo placar de zero a zero. A Itália também era um adversário que vínhamos batendo sistematicamente nas copas anteriores. Mas naquele dia tinha alguém em campo, inspiradíssimos, e que trazia consigo toda a sorte do mundo: o franzino atacante Paolo Rossi. No jogo em que perdemos por 3x2, e que custou a nossa eliminação da final, o centroavante italiano fez o seu hat-trick, assinalou três gols. Os três primeiros gols da Itália naquela Copa.

A partida entrou para a história como “A Tragédia de Sarriá”. O Brasil voltou para casa com a sensação de que algo anormal havia acontecido em campo naquele dia. E eu tomei um porre homérico e fui dormir sem me despedir das visitas. A minha primeira Copa do Mundo em casa, junto à minha mulher e com um numeroso grupo de amigos, terminou com o Brasil em quinto lugar, e uma enorme sensação de que o futebol arte havia sido suplantado pelo jogo prático, dedicado, mas sem brilho. A Itália, a partir daí, ganharia todos os seus jogos e se sagraria campeã do mundo com uma vitória por 3x1 sobre a Alemanha.

Pobre de mim, não sabia o que me reserva o futuro! Um jogo miserável contra uma certa Alemanha!    

2 comentários:

  1. Quase direi como o Juca Kfury no seu livro de memórias: confesso que perdi. Até parece que aqueles fatídicos 6x1 que tomamos da Alemanha suplantou a tudo o que conquistamos até hoje! Mas, esse assunto vai ser tratado em outra parte das minhas copas.

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  2. Foi um verdadeiro "terrorismo" ou massacre, o que a Seleção Alemã fez contra a apática e apagada Brasileira de então. Aguardemos a revanche.

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