terça-feira, 17 de julho de 2018

O que é plágio

Fonte: Google


O    Q U E    É    P L Á G I O

Alcenor Candeira Filho

     Plágio é cópia conforme está dito nos seguintes versos:

                              no rude
                              reino da hipocrisia
                              onde nada se cria
                              e tudo se copia
                              - não reina a poesia.
  
       Do grego “plágios”, pelo latim “plagium”, significando em princípio o que rouba os escravos alheios ou o que compra e vende como escravo uma pessoa livre  -  plágio é a imitação servil, consistindo em fazer um autor passar por sua, obra que, na realidade, é de outro. O plagiador esmiúça sempre um estilo alheio, desmonta-o, penetra em seus segredos e peculiaridades, esforçando-se para assimilar (para em seguida utilizar) todas  as sutilezas de técnica de estilo empregadas pelo escritor-modelo.
     O plagiato é crime, porque não passa de uma tradução nada judiciosa com que alguém procura impor-se na vida literária às custas do talento alheio. O plagiador constrói sempre obras banais, vulgares, imprestáveis.
     Todo autor tem o direito de ter a obra como sua, sem modificação ou deturpação. Trata-se de direito perpétuo e inalienável, vinculado à própria personalidade do autor e amparado pela lei civil e pela lei penal. E tal proteção legal não abrange apenas o estilo em si. A criação literária decorre de dois elementos: a ideia e a palavra, razão pela qual a lei não permite que alguém se aproveite das ideias ou do estilo do autor. Ensina Carvalho Santos, em CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO INTERPRETADO, vol. VIII, que  “para os efeitos legais,  o atentado representa a mesma gravidade, numa ou noutra hipótese, porque o todo em si, e cada parte desse corpo, merece por igual a proteção da lei. Assim como não permite a lei que se mate alguém e que também se faça ferimento em qualquer parte do corpo do homem,, assim também não permite a lei que se copie servilmente a obra alheia ou dela se aproprie alguém da ideia, da concepção, da sua alma, na qual muitas vezes está o seu encanto, o seu valor.”
     Abordando o assunto sob prisma jurídico-penal, Nélson Hungria, em COMENTÁRIOS AO CÓDIGO PENAL, vol. VII, diz “que só é criminoso o plágio quando alguém usurpa, pelo menos, trechos importantes da obra alheia ou essenciais de sua estrutura psicológica”, como ocorre nos versos do poema “Democracia no Brasil”, do poeta piauiense Chico Castro:

          “fraqueza geral
          falta de apetite
          vômitos
          diarreia.
          tosse, tosse, tosse.
          Infecção intestinal
          genital
          piócitos na urina
          nematoide
          cestoide:
          tosse, tosse, tosse.
          crânio explodido.
         
          fazer um exame de consciência e vergonha.”
    
     É fácil perceber que tudo não passa de decalque grosseiro do célebre poema “Pneumotórax”, de Manuel Bandeira:

          “Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
          A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
          Tosse, tosse, tosse.

          Mandou chamar o médico: 
                    (...)
          - O senhor tem uma escavação  no pulmão esquerdo
                                                    e o pulmão direito infiltrado.                     
          - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
          - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”

     O plágio  é evidente: os quatro primeiros versos de Chico Castro representam uma enumeração de quatro deficiências orgânicas, com pequenas alterações terminológicas do primeiro verso de Bandeira. Do verso deste  -  “tosse, tosse, tosse”  - apropriou-se na íntegra o poeta piauiense, que, no desenvolvimento de sua (?) composição, faz como que um diagnóstico médico (“infecção intestinal/genital/piócitos na uruna/nematoide/cestoide”), fundamentado nos elementos sintomáticos do início do poema, - lembrando o diagnóstco do médico no poema de Manuel Bandeira: “O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.” “Pneumotórax” termina com a sugestão de que “a única coisa a fazer é tocar um tango argentino”, enquanto em “Democracia no Brasil” ocorre, igualmente,  uma recomendação no sentido de “fazer um exame de consciência e vergonha”. 
     Na seleção de poesias  -  “Árias Sonorosas”  -  , Oliveira Neto, em nota alusiva ao soneto “O Parnaíba”, queixa-se de que o referido poema foi plagiado e publicado na revista “Mafrense”, de 25.09.1969, lembrando ainda que o jornal teresinense “O Dia”, de 28 do mesmo mês, fez amplo comentário sobre o plágio. Ter sido vítima de plágio marcou tanto o autor de “Ícaro”, que acabou escrevendo o seguinte  soneto:

          “O plágio é um crime degradante.
          Avilta e deprime o delinquente.
          Não é um simples furto de assaltante,
          De um ladrão de algibeira, ou de um doente.

          Alguém o vê por prisma fascinante
          (Embora isso não seja mui fluente).
          É ato de escritor, de gente amante
          Das letras, da poesia rica e candente.

          Fui vítima de um plágio, e não gostei.
          Tive n’alma um desgosto tão profundo,
          Que até cismando por aí andei...

         Não serei dos poetas consagrados.
         Mesmo assim, mesmo morto, no outro mundo,
         Não quero ter meus versos plagiados.”

     Não se deve confundir plágio com  as formas lícitas de re-criação poética, como a paródia, a paráfrase, a alusão, a tradução, o centão, a imitação.                        

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