quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O ESPERTALHÃO NÃO PASSA DE UM TOLEIRÃO

Fonte: Medium/Google


O ESPERTALHÃO NÃO PASSA DE UM TOLEIRÃO

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                Será que, de fato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teria razão quando, certa feita, disse, ou deixou que pensassem que o dissera, que deve ser muito bom ser presidente da República – que, com sua (dele) permissão, estendo para as demais funções/cargos governamentais e parlamentares -, já que tantos querem sê-lo? E mais um acréscimo nosso: mesmo aqueles que, sabidamente, jamais o conseguirão, porque lhes faltaria empatia, carisma, capacidade técnica, intelectual, operacional e, principalmente, votos suficientes para obter o cargo nas urnas?

                Talvez FHC haja levado em consideração – não duvido que, ironicamente - que somente boa vontade demais, desprendimento, altruísmo, humildade, respeito, submissão, modéstia, consideração, apreço, dedicação, abnegação, disposição para servir, trabalhar, acolher, compreender e aceitar; urgente necessidade de prestar serviços, justificariam motivação capaz de levar cidadãos que apanham tanto, são tão humilhados, incompreendidos, atacados, agredidos por aqueles que não os reconhecem, desconhecem ou, a priori, se negam a ver neles as qualidades que pregam ou o que seriam capazes de realizar, uma vez lhes fosse dado oportunidade de chegarem aos palácios governamentais e parlamentares, a lançarem seus nomes – não raro, apostando e colocando em risco a própria honra, quando ainda a têm em bom estado de conservação - enfim, a, gratuita e, voluntariamente, se oferecerem para nos representar no governo e parlamento.

                Após intensas lucubrações cerebrinas concluo que, jamais me disporia ou me colocaria na posição de esses abnegados: prontos para levarem pancadas, admoestações, acusações, agressões na maior parte do tempo, estejam cumprindo ou não a obrigação de servir – se não cumprem, talvez lhes caiba menos culpa do que àqueles que os teriam colocado lá, por não lhes fazerem as devidas cobranças nem requisitarem deles a exata e necessária prestação de contas –   proposta ao se colocarem, efetiva e, midiaticamente, à disposição de todos, geralmente, na fase de convencimento eleitoral.

                Saindo da letargia mental a que me havia submetido, caí na realidade, já discordando do ex-presidente:  essa turma, caro senhor – nem todos fazem isso, bom que se diga -, na verdade, admite e aceita ser espicaçada, espoliada, vilipendiada, açulada, instigada, atacada, espinafrada, desmoralizada, ridicularizada, simplesmente, porque sabe que tudo de que lhe acusam, os (e seus) eleitores, tem vida curta, nenhuma seriedade, não passa de palavras ao vento; eles têm certeza de que essa corriola, que, antes de votar neles, cobre-lhes de cobras e lagartos, é a mesma, ou quase o é, que, não apenas não lhes cobrou, efetivamente, os serviços que deveria prestar durante o mandato anterior, como a que estará à sua disposição nos próximos pleitos, pronta para, novamente, dar-lhes seu voto de confiança, levá-los aonde quiserem.

                Não há mágica, prestidigitação, ilusão, hipnose de que lancem mão esses franciscanos e iluminados seres, para se fazerem confundíveis com alguém sempre tão humilde, disponível e solícito, notadamente, antes dos pleitos eleitorais. O que há, infelizmente, é descaso, dissimulação, hipocrisia e desrespeito de ambos os lados: dos eleitos ao, quase sempre, não darem crédito nem atenção àqueles que os elegeram; dos eleitores, ao não acompanharem, não fiscalizarem nem exigirem o cumprimento do que ficou acordado entre eles.

                Talvez por isso haja dito outro experiente sujeito da espécie dos demagogos, que não fazem nenhum esforço para não parecerem hipócritas, cabotinos ou antiéticos, a respeito de eleição para o senado brasileiro: chegar lá é bem melhor do que no céu, porque, neste, é o que alguns dizem, só se chega morto; naquela casa, não, quanto mais vivo, mais fácil. E na câmara federal, nos palácios governamentais, será que conseguem adentrar figuras não espertíssimas? Claro que não!

                Não há vítima nem algoz nessa história de eleição: o eleitor, querendo bancar o espertalhão, faz o que o legítimo espertalhão quer: dá-lhe, reiteradamente, vez, voz, autoridade e poder; o eleito, por sua vez, faz o que eleitor espera dele: toma-o por toleirão. E o que mais lhe oferece são chutes no traseiro. No final de tudo, todos ficam satisfeitos. E vida que segue.   

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