Cemitério campestre, em tabuleiro da região de Corredores, em Campo Maior - PI. Fotos da autoria de Elmar Carvalho |
DIA DE FINADOS: UMA SIMPLES HOMENAGEM
Cunha e Silva Filho
Neste Dia de Finados não almejo ser
nada, mas apenas ser um amigo, um simples amigo com uma palavra amiga, uma
palavra amiga, algo tristonha e elegíaca contra a minha vontade. Por que
tristonha? Porque a data no Calendário do Ano leva à relembrança, não de
mortos, mas de vivos, de vivos dentro do nosso maravilhoso mundo interior, no
qual guardamos, livre da hipocrisia e das refregas terrenas, o nosso lado mais
afetuosamente rememorativo.
Salve 2 de Novembro! Salve! Não
porque desejássemos este Dia, mas porque nele estamos em geral imbuídos dos
nossos mais caros e entranhados sentimentos de Homenagem a todos aqueles que
nos deixaram um dia a fim de se eternizarem.
Manuel Bandeira (1886-1968), esse
vate lírico da humildade dos sentimentos e das emoções líricas, chamava ao Dia
dessa Passagem de "a indesejada das gentes." Sim, porque para nós
ocidentais, a ausência, o passamento de um ente querido torna-se doloroso,
insuportável, porém, com o fluir dos dias e anos, vai-se transformando num
consolo suportável malgrado carregado das marcas das lágrimas que, de quando em
quando, despontam no recôndito de nosso universo interior.
Assim, tudo se vai ajustando: a
dor aguda da perda e o tempo que a vai amenizando até chegar a uma lembrança
inteiramente situada num recanto de nossa memória mais enternecida e mais
acalentadora, um silêncio amoroso, acalentado e eloquente a um só tempo porque
a finitude se cruza com a eternidade numa linha do horizonte de um Grande
Encontro algum dia do futuro.
Para concluir essas reflexões de
tributo aos nossos entes queridos que já se libertaram da matéria da vida,
quero invocar esse linha de verso do maior poeta do Piauí:
EU VIM AO MUNDO PARA TER
SAUDADE."
DA COSTA E SILVA (1885-1950).
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