FILÓSOFO OU DEMAGOGO?
Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Ao que parece, não só o guru do atual presidente da
república, de seus familiares, amigos, simpatizantes e maria vai com as outras
é um cidadão havido por filósofo, ainda que, segundo se soube, nunca haja concluído curso de graduação,
pós-graduação, especialização ou doutorado em Filosofia, nem precisava, porque,
segundo professor de português dos idos de nossa adolescência, “Filosofia é a
ciência (?) – assim mesmo, interrogativamente - das causas e dos porquês”;
logo, não há como se concluir algo que
sempre está em fase de criação, renovação, atualização, enfim, vivo, evoluindo; também nosso ministro da Educação, ex-professor,
colombiano, ilustre desconhecido até ontem, diz-se filósofo, nos moldes
concebidos pelo velho mestre, uma vez que, a despeito da investidura em função
pública de tamanha importância, faz o ministro questão de valer-se dos porquês,
sem se preocupar, mensurar ou ponderar os possíveis efeitos de sua fala a
respeito do que considera educação, matéria que, no mínimo, mereceria zelo e
valorização de sua parte, por motivos óbvios: é seu mister cuidar dela.
Pois bem, alardeou o ministro filósofo – não ouvimos
nada que contrariasse a informação publicada, ou que viesse a transformá-la em
notícia falsa, inverdade, pós-verdade – que as universidades públicas deveriam
ser reduto ou espaço destinado às elites intelectuais. Se isso não é uma
digressão filosófica, provavelmente, não seria também uma metáfora, mas uma
falácia, asnice, uma demonstração de demagogia. Fechem-se, então, as
universidades estatais – como aconselhou aqueloutro professor fosse feita às
portas de delegacias voltadas ao atendimento da população feminina, em razão de
situações absurdas por ele descritas -, porque, certamente, as
intelectualidades elitizadas melhor se revelam quando passam a conviver em um
mesmo – público e/ou privado - espaço cultural ou instrucional, com os não
excepcionais gênios da inteligência e do saber. Cercear, de cara, o direito de
ocupar tais recintos ao suposto proletariado intelectual é uma aberração somente
digna de ser pensada por alguém despreparado para assumir um ministério
governamental do quilate do da educação; ou, quem sabe, talvez, por um
indivíduo que nutra pretensões – se sua intenção não é outra senão apenas agradar
àquele que o indicou ao cargo – de desconstruir todo o arcabouço pedagógico,
filosófico e educacional construído por um brasileiro havido como um dos
maiores pensadores da Educação – mero arrivista, na visão míope do governante
federal. Aliás, tivesse inepto ministro dedicado um pouco de seu tempo em examinar
quem são os componentes, aqueles que, de fato, conseguem chegar até elas,
perceberia ou concluiria que eles não são parte de uma elite intelectual, mas a
própria, porque não se chega aos campus e campi universitários públicos --
mesmo se levando em consideração específicos grupos de indivíduos que recebem incentivo
legal extra, na forma de cotas, como justa paga de uma dívida histórica para com
seus ancestrais -, sem razoável bagagem
intelectual, cultural, instrucional e educacional; claro que, nem sempre,
fornecida ou dispensada por entidades públicas de ensino fundamental e médio;
portanto, já são as instituições públicas de ensino superior, habitat
temporário de nossa elite intelectualizada. Se essas organizações não conseguem
ter ou manter parte dela em seus recintos ou sob sua orientação, que se
reinventem, para não permitirem fugas ou perdas dos melhores cérebros para
instituições mais sérias e competentes.
Se o conceito-tese que quis dar o ministro da
educação em relação ao que considera elites intelectuais foi de que elas não são
o conjunto formado por aqueles indivíduos mais bem preparados para absorverem e
disseminarem conhecimentos e informações, mas aquela clientela composta de
cidadãos com melhor e maior poder aquisitivo, mais bem aquinhoada
economicamente, dir-se-ia, então, que ele agiu não como o filósofo que se soube
seria, mas como um demagogo, talvez hipócrita. Menos mal, que a figura é um
tanto desconhecida, ainda.
Parece insofismável que quanto mais bagagem
intelectual e cultural acumula o indivíduo, mais isso o torna capaz de adaptar-se
às diversas e adversas situações existenciais; entretanto, naturalmente, tais
virtudes, por si sós, não transformam quem as possui em competentes governantes,
conselheiros, nem em irretocáveis servidores públicos; para que isso ocorra,
não raro, faz-se necessário aliar a essa fortuna pessoal boa dose de humildade,
de modéstia, seriedade e de comprometimento.
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