Padre Deusdete. Arquivo de Francisco Costa |
Padre Deusdete, Elmar e Fátima, em 26/06/1985 |
Padre Deusdete. Arquivo de Fernando de Almendra Freitas. |
Padre Deusdete e o time Santos de Livramento
Elmar Carvalho
Minha homenagem ao saudoso Pe. Deusdete Craveiro de Melo, que celebrou meu casamento (em 26/06/1985), mecenas e incentivador do esporte e da educação em José de Freitas e no Piauí.
Logo ao iniciar
a caminhada, deparei-me com o colega Carlos Barbosa Dias, que vinha em sentido
contrário. Fiz meia-volta e o acompanhei. Envergava ele, que é natural do
interior de São Paulo, uma camisa do Santos, que voltou à moda com os seus
meninos alegres, moleques e bons de bola. Perguntou-me se eu torcia pelo
Santos.
Em resposta,
contei-lhe o seguinte: quando eu tinha de treze para catorze anos de idade,
morei na bela e bucólica cidade de José de Freitas, durante um ano. Foi um
período muito feliz de minha vida. Quase todo dia, pela manhã, saía a passear,
com o Carlos de dona Irá e o Itamar, e mais algum de meus irmãos ou outro
garoto da vizinhança.
Às vezes,
alguns de meus colegas iam pegar vim-vim, com o uso de visgo colocado em uma
haste posta na gaiola do “chama”; outras vezes, íamos escalar o morro do Fidié,
que na época não era conhecido por esse nome, mas simplesmente como morro, que
hoje preferiria chamar de Morro do Livramento, em homenagem ao nome antigo da
localidade e a sua padroeira; muitas vezes nosso destino era o açude
Pitombeira, de onde pulávamos do velho trampolim.
Também
banhávamos no olho d' água, perto do cabaré Jumento Velho, lá para as bandas do
mercado público. Invariavelmente, à tarde, ia jogar futebol num campinho que
havia na frente da casa do grande marceneiro Zezé Barros, que também era um
peladeiro. Esse campo ficava dentro de uma quinta, tinha terreno arenoso, e era
rodeado por belas e frondosas árvores, entre as quais uma imensa mangueira.
Gostava muito
desse campo, pois, sendo eu goleiro, a areia macia me possibilitava enfeitar as
defesas, projetando-me no espaço, quase a levitar, na construção de belas
pontes, que hoje classificaria de estaiadas. Certa vez, jogando na periferia da
cidade, e sendo então pequeno e franzino, alcei um verdadeiro voo, para cair
com a bola encaixada em meu peito. Essa
estripulia acrobática arrancou delirantes aplausos de um torcedor, que
gritava que eu parecia um “passarinzim”.
Tempos depois
esse terreno onde jogávamos foi comprado pela família do Pedro e do João Rocha,
e as peladas foram proibidas. Por isso, certa tarde, em que estávamos batendo
bola, perto da casa da família Santana, fomos avistados pelo padre Deusdete
Craveiro de Melo, que era meu professor de Português, no segundo ano ginasial,
e diretor do Colégio Antônio Freitas. O padre, de dentro do seu famoso fusca,
me perguntou a razão de estarmos jogando na rua. Expliquei-lhe que o nosso
campo fora fechado.
Ele, então,
sugeriu que fizéssemos outro, na frente do cemitério velho, conhecido por
cemitério dos ricos, como se a morte fizesse algum tipo de distinção social, e
acrescentou que nos daria uma bola de couro, as traves, apito, e os tornos para
marcação do campo. Liderei os garotos da vizinhança e fizemos o campo. O padre
cumpriu a promessa, inclusive mandando fincar as traves e os tornos.
Diante disso,
fiz uma carta ao Armazém Paraíba, narrando esses fatos, e pedi uma equipe de um
time de futebol. Um ou dois meses depois, quando eu já perdia a esperança, a
empresa mandou deixar a farda do Santos em minha casa. Depois, encetei uma
campanha para a aquisição dos calções, o que também deu certo. Pouco depois,
minha família retornou a Campo Maior, mas tenho notícia segura, através de meu
amigo Francisco Costa, freitense, fiscal do Estado e radialista, de que
esse campo ficou em atividade durante muitos anos.
De modo que,
respondendo à pergunta do magistrado Carlos Dias, paulista e torcedor do
Santos, posso dizer que sou santista desde menino, desde que joguei num time chamado
Santos, que ajudei a criar, na aprazível
e querida cidade de José de Freitas, outrora Livramento.
9 de abril de 2010
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