Fonte: Prefeitura de Oeiras/Google |
Meu padim...
Carlos Rubem
“Os teus sinos repicam festivos / Ora dobram finados e calam / Mas não há neste mundo dos vivos / Som mais doce... tens sinos que falam” é um inserto do Hino à Matriz de N. Sra. da Vitória, composto, em 1983, ao ensejo das comemorações do 250º aniversário da ereção desse templo – marco miliário da colonização do Piauí –, letra de José Expedito Rego, musicado por Possidônio Queiroz.
É vezo se dizer que se extrai dos sinos da aludida igreja 21 ritmos sonoros que só a alma oeirense compreende: chamada da missa, dobre quaresmal, anúncio de desobrigas, solenidades pontificais, hora do ângelus, casamento, batizado, crisma e tantos outros. Tem, também, o sinal de defunto.
Antigamente, havia o toque informando a morte de pessoa rica e pobre, isto é, quem desejasse uma execução mais elaborada, com a participação, no mínimo, de dois sineiros, o pagamento deste serviço era majorado. Ainda hei de registrar em documentário esta manifestação cultural, contando com a ajuda do Chico Rego, que tudo sabe acerca do patrimônio imaterial desta velha cidade.
Estive, hoje de manhã (28.07.2020), na casa das minhas nonagenárias tias Amália, Mirista e Alice Nogueira Campos, para espelhar na TV a transmissão, pelo aplicativo Zoom, da formatura no Curso de Direito – UNINOVAFAPI – da prima Vitória Liana. Durando o início da solenidade, as ditas senhoras até entoaram o Hino Nacional. Em dado momento, a conexão digital caiu. Sentiram-se frustradas de ver a querida sobrinha fazer o juramento de praxe e recebendo o ansiado diploma obtido com muito esforço e dedicação. Tentei, em vão, restabelecer o sinal.
Ao tempo em que se lamentava tal impedimento, ouvimos ecoar da torre da amada catedral a característica mensagem auditiva indicando a morte de alguém. Foi aí que a tia Mirista passou a cantarolar uma modinha do domínio público propagada entre gerações: “Teu padim cagou / teu padim cagou... / Teu padim cagou nas calças / tua mãe foi alimpar / teu padim cagou / teu padim cagou / e teus pais e teu irmão também foram ajudar...”
Em criança, via demais a minha mãe Aldenora Nogueira Campos e Reis, após quebrar o jejum, ficar balançando uma colherinha dentro de uma grande xícara, imitando o conhecido repique do sino em comento, cantarolando aquela musiquinha popular.
Mas no meu íntimo, na minha pura inocência, achava uma ofensa, gozação, aos meus padrinhos Alcides Freitas (batismo) e José Expedito Rego (crisma), a quem muito e ainda admiro.
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