Elmar e Gervásio vistos por Gervásio Castro |
DIÁRIO
[PoeMitos da Parnaíba no You Tube]
Elmar Carvalho
05/07/2020
Quando ingressei na extinta Sunab, lotado na Delegacia do
Piauí, era meu chefe imediato Walter e Silva Mendes, titular da Seção de
Fiscalização. Nas primeiras conversas lhe disse que meu pai havia sido seu
amigo, no início da adolescência. Ele me confirmou a veracidade da informação.
Natural de Luzilândia, havia cursado até o quarto ou quinto ano do curso de
Medicina, mas lhe faltando vocação abandonara a ciência de Hipócrates.
No decorrer de nossa amizade particular e coleguismo profissional,
e sabendo que eu era poeta, me prestou dois bons serviços. Disse que estudara
em Parnaíba, no Colégio São Luiz Gonzaga, e me falou de algumas pessoas
ilustres que conhecera, algumas das quais ainda vivas. E, sobretudo, se
reportou a figuras populares e ditas folclóricas da cidade. Me relatou alguns
fatos anedóticos e pitorescos de que eram protagonistas algumas dessas
personagens.
Instigou-me, então, a escrever poemas sobre essas pessoas.
Depois de pensar muito a respeito dessa provocação, encontrei, por assim dizer,
a fôrma e a forma para cometer esses textos, a que dei o título geral de
PoeMitos da Parnaíba. Fui, aos poucos, publicando-os no jornal Inovação, de que
fazia parte. Em cada número, mais ou menos mensal, saíam dois ou três poemas,
com ilustrações do notável mago Flamarion Mesquita.
Escrevi-os até que me senti esgotado. O último da série foi o
“temporão” Cego Bento. Mas o último mesmo que passei a considerar foi o que
escrevi no começo do ano passado (2019), a pretexto de ilustrar uma crônica memorialística
e historiográfica sobre o célebre e mitômano professor Amstein, nebulosa,
lendária e quase misteriosa figura que surgiu na velha e bela urbe, quase por
encantamento. De sua vida anterior a Parnaíba, onde morreu em 30/07/1948, pouco
se conhecia. Através da professora e historiadora Juliana Lacet fiquei sabendo
que ele era filho de um cônsul suíço no Recife, fora casado com Catarina Moura
e tivera duas filhas e um filho.
Publiquei os PoeMitos da Parnaíba em versão completa, exceto
Amstein, claro, nas três edições de meu livro Rosa dos Ventos Gerais. Todos
estão na internet. Em 2009, a minhas expensas, os reuni em livro, em linda
edição ilustrada pelo genial chargista parnaibano Gervásio Castro, que tem
ainda um desvanecedor prefácio do escritor e pós-doutor Cunha e Silva Filho, do
qual julgo oportuno transcrever o seguinte trecho:
“No entanto, não contente ainda com a
sua inquietação intelectual, o poeta Elmar Carvalho, juntando-se a outro
artista piauiense, o chargista Gervásio Castro, natural de Parnaíba, mas
radicado no Rio de Janeiro, resolveu, de comum acordo, dar uma dimensão
pictográfica aos ‘PoeMitos da Parnaíba’. Seus personagens, outrora figuras de
carne e osso, conhecidos tipos ou figuras populares de Parnaíba, se
transformaram em excelentes charges pelas mãos criativas e reveladoras dos
melhores atributos dos grandes chargistas.
As 25 figuras ou tipos populares,
recriadas poeticamente por Elmar - e se diga a bem da verdade -, com o mesmo
cuidado que o poeta destinou aos chamados poemas sérios, com os seus processos
de composição centrados no trabalho da linguagem lírica e com os recursos de
criatividade já conhecidos dos seus principais exegetas, saltaram do espaço
poético para o desenho ilustrado, adquirindo ainda mais vida e complementando
as descrições físicas, morais e psicológicas pelas quais ficaram conhecidos na
crônica social da cidade de Parnaíba.”
Só eu sei quanto me custou escrever os PoeMitos. Muitas
pessoas me “cobravam” escrever outros poemas, numa série quase infindável. Davam-me
sugestões, contavam histórias e estórias e indicavam nomes. Uma dessas pessoas
chegou a me dizer que eu fora “cruel” com uma dessas personalidades.
Respondi-lhe: “O meu ‘mito’ não é o mesmo seu; o meu é pobre,
quase anônimo, sem parentes e sem
biografia”. Na verdade é muito difícil se reduzir a vida de um homem a umas
poucas linhas, e fazer isso com certa arte, alguma graça, espírito, jocosidade
ou pungência, com pitadas de poesia e caricatura, é muito mais difícil ainda.
Por isso, com certo alívio bati o martelo, e dou por definitivamente encerrado
o meu ciclo de mitos parnaibanos.
Foram publicados na internet, como disse, e podem ser
encontrados em diferentes sítios. O Gervásio Castro lhe preparou um PPS, que
divulguei através de e-mail. Depois, minha filha tentou postá-lo no You Tube,
mas não teve êxito, por causa de sua formatação. Contudo, recentemente, seu
namorado Filipe Macedo conseguiu convertê-lo para um formato atualizado, que
essa plataforma aceitou. Assim, os PoeMitos podem, agora, ser assistidos em
quaisquer dispositivos eletrônicos, que possam acessar o You Tube.
Mas Walter Mendes me prestou um outro grande e bom serviço.
Instigou-me a escrever A Zona Planetária, o mítico e poético conjunto de lupanares,
em que cada cabaré ostentava em seu frontispício o nome e a pintura de cada um
dos planetas do sistema solar.
E foi assim que nasceu esse meu longo épico moderno, em que
mesclei a sociologia dos prostíbulos, a astronomia planetária e os caprichos
humanos e desumanos dos deuses greco-romanos. Mas aí já é uma outra história,
que não cabe nesta nota.
Caro amigo Elmar Carvalho, Poemitos da Parnaíba foi um dos seus primeiros livros que li. Achei que o livro foi uma justa homenagem que você prestou a essas figuras folclóricas que habitaram ao orbe parnaibano, inclusive fui vizinho de um delas (Maria das Cabras). Quando abrirmos esse livro, em alguma época ou em algum lugar, lembraremos alegremente que eles viveram e passaram por alguma rua de nossa querida Parnaíba, anônimos ou invisíveis, sem títulos e sem posses, e deixaram uma história de luta pela subsistência humana. Que eles descansem em paz...
ResponderExcluirAbraço,
Everardo de Oliveira
Parnaíba-PI
Dr. Elmar, bom dia.
ResponderExcluirLi sua crônica postada hoje seu prestigiado blog. PoeMitos da Parnaíba o li tempos atrás. Divertir-me muito com aquela leitura. Inclusive guardo na minha estante com muito carinho esse valioso livro. Um abraço.
Caros amigos Everardo e Acoram,
ResponderExcluirObrigado por tão belas e amáveis palavras de incentivo.
Abraço,
Elmar Carvalho