Avenidas de Campo Maior
Celson Chaves
Professor, historiador e escritor
Fonte das fotos e do texto: Portal de Olho
Campo Maior nasce acanhada na
segunda metade do século XVIII e permanece adormecida todo o século XIX.
Introduz um sistema econômico lucrativo, mas não desenvolve a vila. Até os
vinte primeiros anos do século XX, a urbanização do município é bastante
reduzida. Apenas três praças, próximas umas das outras. O número de ruas não
chegava a vinte.
O surgimento de avenidas na
cidade é um fenômeno recente. A cidade começa a despertar, a partir de 1930,
com a atividade econômica da cera da carnaúba, mais lucrativa que a pecuária.
Os negócios prosperaram e o município cresceu. As famílias enriquecidas com a
venda da cera da carnaúba procuravam novas áreas para implantação de armazéns,
principalmente para estocagem e instalação de fábricas para beneficiamento do
produto.
O primeiro grande benefício para
o desenvolvimento das avenidas Demerval Lobão e José Paulino foi a construção e
inauguração do Mercado Público, em 1923, na gestão do intendente municipal Luiz
Rodrigues de Miranda. A medida foi um marco urbanizatório para toda região do
atual centro comercial de Campo Maior. A partir da instalação do Mercado Velho,
os barões da cera, começam a construir casarões e sobrados em torno da praça do
Centenário, primeira denominação da praça Luiz Miranda.
Região da atual praça Luiz Miranda-1934. Na parte central da área aberta, o edifício imponente do Mercado Público, construído e inaugurado em 1923, na gestão do intendente municipal Luiz Rodrigues de Miranda. Do lado direito, a Av. Demerval Lobão, ao lado esquerdo, Av. José Paulino. Ênfase para os postes de madeira instalados no meio do Largo.
Na década de 1930, grande parte
do longo trecho das avenidas Demerval Lobão e José Paulino eram formadas por
áreas descampadas, intercaladas por pequenas chácaras, que posteriormente deram
origens aos primeiros quarteirões. Em 05 de julho de 1934, foi inaugurado o
primeiro edifício moderno da avenida José Paulino, o colégio Valdivino Tito,
obra realizada pelo interventor federal no Piauí Landri Sales.
Trecho da Avenida José Paulino com a praça Luiz Miranda (destaque para o edifício do Mercado Velho no centro da praça). Avenida pavimentada, arborizada, jardim bem cuidado e árvores podadas. O progresso materializava-se numa cidade que não parava de crescer. Vendo-se a pontinha da Torre do Relógio (ao fundo do Mercado) existente na praça Luiz Miranda.
Fonte:https://m.facebook.co/story.php?story_fbid=2793135280792309&id=10000287594087. O surgimento da avenida Demerval Lobão (foto década 1970) como novo centro comercial de Campo Maior, em substituição, a antiga região mercantil das praças Bona Primo e Rui Barbosa, está ligado ao efêmero processo da expansão da malha urbana no município entre o final da primeira para o início da segunda metade do século XX. A chegada da agência da CEPISA a Campo Maior e a troca dos postes de madeira por de concreto tornava a avenida Demerval Lobão mais revigorante.
Entre as décadas de 1940 e
1950, surgem as construções suntuosas
dos solares e palacetes residenciais das famílias Bona, Pacheco, Cavalcante…, o
edifício moderno dos Correios, o palacete do Posto de Saúde Leônidas Melo (sede
atual do SAAE) e os sobrados do Palace Hotel e Hotel Paranoá. A urbanização se intensificava. Estava
formado assim o perímetro urbano compreendido entre o trecho do comercial
Carvalho à Br 343 (rua Alberto Bona).
Trecho da avenida José Paulino pavimentada e com postes de madeira. Década de 1960. Em destaque: Prédio dos Correios (na esquina), e logo em seguida, o palacete do SAAE. A avenida deu aspecto moderno a urbanização da cidade.
Avenida José Paulino. Trecho entre a rua Siqueira Campos e a praça da Igreja do Rosário. Do lado esquerdo, vê-se antiga agência do Banco do Brasil.
Antigo solar da família Bona -Avenida José Paulino. |
Colégio Valdivino Tito. O primeiro edifício moderno da Avenida José Paulino. |
À medida que as avenidas se
estruturam urbanisticamente, vai-se estimulando abertura e a formação das
principais ruas do centro: padre Manoel Félix, coronel Costa Araújo e Dr.
Moura.
Nas décadas de 1960 e 1970, intensificam o deslocamento dos principais comércios e instituições públicas das praças Bona Primo e Rui Barbosa para as avenidas Demerval Lobão e José Paulino. O número de lojas e armazéns crescem significativamente. Estava consolidado o novo centro comercial de Campo Maior. A rua Santo Antônio era o único trecho do velho centro comercial, que ainda rivalizar nos negócios com as avenidas Demerval Lobão e José Paulino, por conta da prostituição estabelecida na via, que conseguia manter outras atividades econômicas (bares, lojas, lanchonetes, restaurantes…) na zona e ruas adjacentes.
A atual avenida José Paulino [de Miranda] (1948), oficialmente nomeada na administração do prefeito Waldeck Bona, recebeu três nomeações anteriores: Rua Matias Olímpio (1919), Avenida 05 de Outubro (1932); e Avenida Presidente Getúlio Vargas (1938 – gestões do prefeito Francisco Alves Cavalcante). A José Paulino passa a pertencer ao novo centro comercial da cidade.
A terceira avenida, da primeira
metade do século XIX, foi a velha rua Vicente Pacheco. Esta se transformou em
avenida por conveniência política. Via de traçado irregular, larga nas
extremidade e curta no comprimento. Os becos e vielas que se interligam à avenida
são registros “vivos” do período
imperial, que pulsava na cidade moderna.
Atual avenida Vicente Pacheco recebeu três outros nomes: rua Grande, século XIX; e em 1902, rua 13 de maio; e por último, em 1931, avenida Vicente Pacheco, na administração do prefeito do prefeito Francisco Alves Cavalcante. Vejam ao fundo, o poço e catavento que impulsionava a retirada da água que abastecia as residências mais próximas.
Pela proximidade geográfica com
as praças Bona Primo e Rui Barbosa, a av. Vicente Pacheco, de certo modo, foi
prejudicada na atividade comercial, ao não conseguir atrair às grandes casas
comerciais, mesmo situada no velho centro comercial da cidade, estabeleceu
apenas pequenas pensões entre as residências dos oficiais da Guarda
Nacional. O traçado urbano desalinhado
da avenida Vicente Pacheco destoava dos aliados e modernos logradouros
nascentes entre as décadas de 1940 e 1970.
Com o processo de urbanização em
torno do Açude Grande, o asfaltamento da BR 343 e o surgimento e crescimento dos
bairros São Luís, Lourdes e São João, além dos conjuntos habitacionais como o
IPASE e José de Almeida, se tornava urgente por parte do poder público um maior
cuidado na manutenção e na pavimentação de trechos da avenida Santo Antônio, em
pleno final da década de 70. A Santo Antônio é uma das primeiras avenidas
surgidas na segunda metade do século XIX.
Trecho da Avenida Santo Antônio. Sentido Teresina. 2015 |
A partir da década de 1970, Av. Santo Antônio cumpriria um papel fundamental na nova geografia urbana da cidade. No entanto, a administração do prefeito Joaquim Mamede Lima não foi capaz de concluir avenida em sua gestão, o que serviu de munição para adversários políticos, como o vereador João Alves Filho, ao tecer críticas pesadas a fim de desestabilizar o governo de Mamede Lima.
Trecho da Avenida Santo Antônio. Sentido Centro-2015 |
As obras públicas, de grande ou médio porte, dificilmente eram concluídas na mesma gestão municipal. Isso se deu com a faraônica Av. Santo Antônio, iniciada no governo de Raimundo Nonato Andrade (01/02/1967 a 31/01/1971), e depois de três gestões (Jaime da Paz, Dácio Bona e José Olímpio da Paz) continuava inacabada. Por conta disso, o governo de Mamede Lima recebeu inúmeras críticas dos vereadores de oposição pela não conclusão da obra.
O cemitério do bairro São João era outra obra inacabada, que também precisou de três governos municipais para ser concluída. A construção do cemitério foi iniciada no governo de Raimundo Nonato Monteiro de Santana, passou pela gestão de Oscar Castelo Branco Filho, e foi concluída e inaugurada na administração de Jaime da Paz. Será que o presente se iguala ao passado?
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