BANDIDO, AGORA É QUEM NÃO USA MÁSCARA
Antônio Francisco Sousa
Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Pensei tê-lo
avistado antes de ele a mim, e até me preparei para lembrar-lhe de conversa que
tivéramos bem antes do início da pandemia, e que versava sobre peladas de
futebol: as minhas, que ainda as pratico – ou praticava até quatro meses atrás
– e as dele, no que tangia às resenhas, pois havia tempo não sabia o que era
chutar uma bola.
Sandoval, amigo,
como vai? Antes que respondesse, adiantei o assunto: quando o vi lá longe,
pensei naquele dia em que você me confirmara estar abandonando, de vez, sua
vida de boleiro, e que eu lhe dissera que o máximo de tempo que ficara sem
correr atrás de uma pelota fora três meses, e nem bem lembrava por quê; e
acrescentara ter certeza de que menos tempo do que aquele parado seria um
convite para pendurar as chuteiras. Aí, meu velho camarada entrou em campo.
Você já está com
quase cinco meses sem bola e eu duvido que pense em cumprir aquela promessa.
Com o dedo indicador confirmei sua sentença, negando a mim mesmo. E o amigo
está certo, admitiu. Nesta quarentena, duas situações me têm aporrinhado
deveras: a falta das minhas resenhas de ex-peladeiro, das terças, quintas e
sábados, com meus velhos colegas de chuteira, e o excesso de informações e
contrainformações a que sou instado consumir o dia todo, a respeito do tal
coronavírus. Ah! A propósito, e antes que me esqueça, deixe-me contar-lhe um
fato que ocorreu comigo há pouco tempo.
Guardadas as
devidas precauções sanitárias, já que estávamos em um supermercado, paramos
nossos afazeres para conversarmos mais calmos. Para começo de assunto,
adianto-lhe, companheiro: bandido, hoje, é quem não usa máscara. Ah é? Divertido,
questionei-lhe: por que diz isso? Veja só: dia desses, telefonei para uma loja
de material eletroeletrônico - apostando que ela não estaria funcionando, por
conta das limitações impostas pelas normas de isolamento para sua atividade
comercial – procurando um produto; como eles o tinham, e a loja estava aberta,
decidi ir lá comprá-lo. Peguei o veículo, pus a máscara, coloquei as luvas e o
álcool gel no console, e fui. Ao me aproximar da porta de entrada, tirei a
máscara para melhor ajustá-la às orelhas e, com o cotovelo, tentei empurrá-la:
ela não cedeu. De dentro, alguém acenava para eu repor o equipamento de
proteção individual, no caso, a danada da máscara. Fi-lo e a liberaram,
deixando-me entrar.
O funcionário me
explicou que era aquela uma exigência a todo cliente que estivesse sem máscara
no local adequado. Entendi, mas não perdi a oportunidade de fazer um comentário:
quer dizer, bandido, agora, é que não usa máscara, não é mesmo? Tentou se
consertar o vendedor, mas lhe disse que estava inteiramente correto. E tudo
ficou em paz, por enquanto. Finda a negociação, ao sair, perguntei-lhe por que
a porta rolante estava aberta somente pela metade. Respondeu-me que era porque
estariam fechando dali a pouco, às quatorze horas. Não falei, mas pensei: ou a
qualquer momento, basta que apareça algum fiscal sanitário ou da guarda
municipal e mande fechar, já que nem funcionando a loja comercial poderia estar.
Mas, ainda bem que estava, senão teria ficado no prejuízo por falta de um
nobreak, sabe-se lá por quantos dias.
Rimo-nos; disse a Sandoval que ele tinha certa razão, quanto a seu novo conceito de bandido; mas, sorte, só mais ou menos: se a loja estivesse cumprindo as normas de isolamento por conta do coronavírus, ele ficaria sem o isolador ou transformador para seus equipamentos eletrônicos; todavia, em compensação, não sofreria com a quantidade de informação que lhe andava incomodando, já que muitos dos seus veículos de comunicação não funcionariam. Antes de partir, perguntou-me se iria ou não abandonar as peladas, eis que, tudo indicava, ainda demoraria meses para tudo voltar à normalidade e elas serem liberadas. Preferi me calar e deixar a resposta para um próximo encontro. Voltamos às compras.
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