quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A ERA DOS LAMPIÕES: 1850 a 1930

O acendedor de lampiões.
Fonte: Museu Afro Paranaense.

 

A ERA DOS LAMPIÕES: 1850 a 1930


Celson Chaves

Professor, escritor e historiador

 

DOS LAMPIÕES ÀS LÂMPADAS DE LED: PRIMEIRO ARTIGO.

 

HÁ 170 ANOS, CAMPO MAIOR teve sua primeira experiência de iluminação pública.

 

Até 1850 a iluminação das ruas em Campo Maior era exclusivamente natural. Nas noites sem lua, a escuridão reinava. Ao cair do dia, as pessoas se recolhiam em suas residências, poucos se arriscavam aventurar-se pelas ruas desertas e escuras. Quando saiam eram de candeeiro na mão. Os candeeiros eram mais presentes nas casas abastadas. As residências eram também iluminadas por velas caseiras, principalmente as feitas da cera de carnaúba.  No final do século XIX, a Câmara Municipal taxava os fabricantes de velas de carnaúba (milheiro) entre 2$000 réis a 3$000 réis.

 

A partir de 1850, iniciam-se as primeiras discussões na Câmara Municipal para instalação da iluminação urbana. A Câmara sob a presidência do vereador Florêncio Alves da Fonseca Mendes, do partido Conservador, encarrega-se de comprar entre 10 a 20 lampiões, a serem instalados em três locais estratégicos: Largo da Matriz, Cadeia e a própria Câmara. Usaram os lampiões à base de azeite. As principais cidades e vilas do Brasil Colonial, a exemplo de São Paulo, usavam lampiões à base de azeite de mamona, de peixe ou baleia. Eram os mais eficientes.

 

Além da iluminação das ruas e praças, a Câmara Municipal mantinha as dependências da Cadeia Velha, das Igrejas de Santo Antônio e Nossa Senhora do Rosário e da sede da própria Câmara com lampiões. De 1838 a 1840 destinava-se 15: 00 réis para compra de “15 frascos de azeite” para os lampiões da Cadeia Velha. Nos anos de 1848 a 1849 a despesa triplicou. Na década de 1850, a compra de “frascos de azeite” dobrou, mas o preço se estabilizou. Até reduziu em alguns anos.’

 

Os lampiões eram instalados em postes de madeira. Pequenos espaços eram iluminados. Os aparelhos consumiam muito azeite. Não havia acendedores de lampiões. O serviço ficava por conta dos próprios moradores. Os lampiões eram fixados nas paredes dos principais prédios (Câmara e Cadeia) da vila e/ou em postes estrategicamente situados no Largo da Matriz, onde ficava o pelourinho.

 

O governo municipal esperava contar com a ajuda financeira do governo provincial para manter o fornecimento de luz. Infelizmente, não aconteceu. Com isso, o projeto de iluminação pública em Campo Maior ficou limitado e prejudicado. O transporte de azeite para Campo Maior era difícil e dispendioso. Por conta do alto custo, a iluminação pública ficava limitada “as noites escuras”. Em dias de lua cheia, os lampiões não eram acesos para economizar azeite. As pouquíssimas ruas e o Largo da Matriz eram naturalmente clareados pela luz da lua.

 

O Piauí vivia na completa escuridão. Os primeiros projetos de iluminação pública surgiram com a promulgação da Lei nº 20 de 04 de julho de 1835, que mandava instalar 50 lampiões em Oeiras e 30 na Parnaíba.  As despesas iniciais ficariam por conta do governo provincial até que as respectivas Câmaras estabelecessem recursos necessários para o referido serviço. Em 1845, depois de reiteradas tentativas de execução da lei, o projeto não passou de um simples ensaio e nada foi resolvido. Oeiras perdeu o status de capital para Teresina e não conseguiu realizar o almejado melhoramento público.

 

Em 1896, houve a troca dos lampiões à base de azeite para os lampiões a querosene. O Conselho Municipal, hoje Câmara Municipal, sob a presidência de Raphael Archanjo de Oliveira remete cópia da sessão ordinária ao governador do Piauí na época, Doutor Raimundo Arthur de Vasconcelos, informando-lhe da decisão tomada pelos conselheiros campo-maiorenses e a inclusão das despesas com a iluminação a querosene no orçamento do município. No ano seguinte (1897), o presidente do Conselho Municipal, Lysandro Pereira da Silva, em sessão extraordinária determina abertura de um edital para o serviço de iluminação pública. Alguns historiadores acreditam que a efetivação dos lampiões a querosene ocorreu apenas em 1904.

 

Junto com o novo modelo de iluminação veio também um conjunto de normas acrescentadas pelas gestões seguintes no sentido de tornar o serviço mais eficiente. Na lei nº 46 de 24 de dezembro de 1909, que orçava a receita e fixava as despesas do município de Campo Maior para o ano de 1910, visou preservar os postes e lampiões de vândalos ao estabelecer no artigo 34 “É proibido amarrar-se animais nos postes da iluminação pública, danificar por qualquer forma os mesmos postes, quebrar vidros e mangas dos lampiões, sob pena de 5$000 réis a dez mil réis de multa a pagar o dano causado”. Na mesma lei, os legisladores locais não se esqueceram do profissional responsável por acender os lampiões, ao dispor no artigo 40 salário de “240$000 réis anuais” para o “encarregado da iluminação pública”. O emprego de acendedor de lampiões foi extinto na cidade no ano de 1949.

 

A Gazeta de Teresina, em edição de 20 de novembro de 1904, divulgou com satisfação o melhoramento da iluminação pública, com a instalação de 43 lampiões entre as quase 20 ruas e 03 praças da acanhada Campo Maior. A mesma Gazeta também noticiou, no dia 30 de janeiro de 1913, a intenção do antigo Conselho Municipal, hoje Câmara Municipal, de implantar a iluminação a base de acetileno (carbureto). O poder público chegou-se a fazer encomenda do produto no Ceará e Pernambuco. Contudo, o plano não prosperou.

 

Além da iluminação pública, o Conselho Municipal ficava responsável por abastecer de luz às dependências da cadeia e do próprio prédio do Conselho. A cadeia era o ano todo. O custo ficava em torno de 40$000 (quarenta mil réis), enquanto o Conselho, a luz domestica era apenas para as noites de festividades nacionais. A despesa saia por 10$000 (dez mil réis). Nas igrejas centrava-se nos períodos de festejos.

 

A vontade do Conselho Municipal de querer melhorar o serviço de iluminação pública era grande. Porém, esbarrava nas limitações orçamentárias. O sistema era oneroso e deficiente. Não havia regularidade no fornecimento de luz. A cidade, boa parte do ano, vivia às escuras. Em 1920, o intendente  municipal Luiz Rodrigues de Miranda, substituiu os lampiões à base de querosene por uma nova fonte de energia, mais dinâmica e promissora. Surgem os lampiões a gás.

 

O intendente municipal Pergentino Lobão Veras até ensaiou planos para instalação da luz elétrica em Campo Maior no final da República Velha. Contudo, a Revolução de 1930, interrompeu o projeto do coronel Pergentino, ao dissolver os Conselhos Municipais, destituindo os mandatos de intendentes e vice-intendentes no Brasil. A Era Vargas recriou o cargo de prefeito. Francisco Alves Cavalcante foi o político mais beneficiado pelo novo regime implantado pela Revolução de 1930. Ele foi nomeado primeiro prefeito campo-maiorense da Era Vargas. Como chefe do executivo municipal, o coronel Chico Alves, como era apelidado Francisco Alves Cavalcante, adota série de medidas de grande impacto político na execução de obras e serviços públicos, como a inauguração da primeira Usina Elétrica Municipal, sepultando assim a chamada Era dos Lampiões.      

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