DIÁRIO
[Leituras Compartilhadas de Rosa dos Ventos Gerais 1]
Elmar Carvalho
10/09/2020
Cerca
de vinte dias atrás o professor Dílson Lages Monteiro, titular do importante
site cultural Entretextos, me convidou para participar da live Leituras
Compartilhadas, em que seriam feitas leituras com os respectivos comentários de
poemas do meu livro Rosa dos Ventos Gerais.
Foram
leitores de poemas e comentaristas os professores e escritores Dílson Lages
Monteiro, Claucio Ciarlini, Ernâni Getirana, Osalda Pessoa e Washington Ramos,
que leram ou fizeram referência a alguns poemas, e fizeram a interpretação
desses textos, tanto sobre seu conteúdo como sobre aspectos formais,
estruturais e visuais.
Mestre
Dílson, além de ter feito a abertura do evento virtual, como lhe competia na
qualidade de anfitrião, traçou uma visão geral de minha produção literária, em
prosa e em versos, além de ter pontuado alguns aspectos biográficos. E leu os
poemas que escolheu e os comentou como previsto na programação.
Em
data posterior à exibição da live, que se encontra disponibilizada no You Tube,
o Dílson me disse o seguinte por WhatsApp: “Procurei resumir o que havia
anotado... Entretanto, além da exaltação do sentimento, há também a contenção
da subjetividade sobre influência concretista também, conforme bem acentuou
Ernani e Osalda. A preocupação em evidenciar o contexto social, ressaltado por
Claucio. Creio que geramos um bom arquivo. Fiquei feliz com o resultado final”.
Fiquei feliz digo eu com as suas palavras, com as quais concordo, embora o
autor seja sempre suspeito ao falar de si mesmo.
Em 06/09/2020, numa espécie de autocrítica, Dílson Lages, através do mesmo meio de comunicação acrescentou: “Apenas um lapso grave: não destacamos sua obra romancística. Mas ela ainda será alvo de entrevista futuramente. Só me dei conta agora, ouvindo aqui o arquivo postado. Como o foco é a leitura da obra em si e não a biografia, não destacamos o conjunto das obras, mas é algo a pensar em edições futuras. Em não destacando biografia, citar os livros publicados e não somente o dos textos analisados”.
Na
realidade, Dílson foi excessivamente rigoroso consigo mesmo. Até me lembrei
deste trecho da Bíblia: “Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente
sábio; por que te destruirias a ti mesmo?”
(Eclesiastes 7:16). Não houve lapso e nem erro. O foco da live era o meu
livro Rosa dos Ventos Gerais e a leitura e análise de alguns poemas nele
inseridos, e isso foi feito na forma prevista e anunciada. E eu sou grato a
todos os participantes por isso.
Quando
me foi passada a palavra, após as leituras e comentários, eu disse que todos
haviam comentado os textos lidos de forma apropriada, de modo que eu não tinha
nenhuma ressalva a fazer. Que todos fizeram a análise do conteúdo e da forma ou
linguagem com argúcia e percuciência. É evidente que alguns textos comportam
uma interpretação mais literal, mais ao pé da letra, enquanto outros, por terem
mais desvios de linguagem, uma linguagem mais metaforizada e com mais figuras
de estilo, permitem um “olhar” mais criativo, mais livre, conforme as leituras,
experiências e criatividade do analista.
Algumas
pessoas me têm cobrado novos poemas, e na live o professor Washington Ramos,
após se referir a alguns de meus poemas, entre os quais Noturno de Oeiras, Elegia
a Campo Maior e Galo Magro, disse que havia conhecido um homem cuja alcunha era
Galo Magro, e me perguntou se o meu Galo Magro seria o mesmo seu, ou seja, o que
ele conhecera. Não lhe pude responder porque o tempo de Leituras Compartilhadas
já estava quase no fim, e, embora o Dílson Lages tenha me dito que poderia
abrir mais um outro bloco, eu preferi não lhe causar esse trabalho a mais.
Adiante responderei à pergunta do comentarista.
Na
minha fala, expliquei que infelizmente não poderia atender aos que me pedem
para escrever novos poemas porque eu era um poeta cuja cacimba se encontrava
esgotada, que minha pequena cacimba já “batera” na laje, e já não jorrava como
outrora; dessa forma eu não poderia aprofundá-la em busca de novos lençóis freáticos.
Foi mais ou menos isso que pude dizer, em face do esgotamento do tempo. Agora
passarei a dizer as coisas que gostaria de ter falado, ao tempo em que
responderei à pergunta do professor Washington.
Não
posso afirmar que o Galo Magro, menino em meu poema, seja o mesmo Galo Magro já
adulto que ele conheceu. O de meu poema, se não estou enganado, por falhas em
minha memória, era um garoto obviamente pobre, um tanto alvarinto e, claro,
magro. Não tinha amizade com ele; apenas o conhecia da prática futebolística.
Soube depois que ele, por ser pobre, fora embora para uma cidade maior, onde se
tornara motorista de táxi, e que, depois, ainda na juventude, fora assassinado,
não sei por que motivo. Fora isso, nada mais sei sobre ele, exceto o que disse
ou sugeri em meu poema.
Com
relação ao fato de que a cacimba de minha “inspiração” já batera na laje, o
poeta Chico Acoram, que cognominei de cacique da Tribo dos Marataoãs, por ser
ele barrense, me disse que hoje existem modernas perfuratrizes, com brocas
rotativas e diamantadas na extremidade, no ponto em que faz contato com a rocha,
que poderia aprofundá-la. Mas, retruco-lhe, agora, que meu caso é sem jeito,
que o próprio lençol das águas profundas já se encontra exaurido. E, invocando
o excelso poeta Da Costa e Silva, diria que o sabiá que outrora em mim cantava,
já hoje não canta mais.
No
próximo registro deste Diário, acrescentarei outras coisas que gostaria de ter
dito em Leituras Compartilhadas de Rosa dos Ventos Gerais, mas que, por culpa
minha, não disse, uma vez que o poeta e escritor Dílson Lages Monteiro me
facultou fazê-lo. Contudo, repito, declinei para não cansar os participantes e
futuros assistentes.
Futuros
assistentes disse, porquanto Leituras Compartilhadas se encontra disponibilizada
no You Tube, graças ao dinamismo e boa-vontade de Dílson, que a mandou gravar,
editar e postar nessa importante plataforma
de audiovisual.
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