Fernando Antônio de Aguiar Almendra. Foto acervo Edison Gayoso Castello Branco Barbosa. (Imagem: parentesco)
Foto meramente ilustrativa Fonte: Labhoi |
OS MÚSICOS DA VILA DE CAMPO MAIOR
Celson Chaves
Professor, escritor e historiador
Eram pouquíssimas as cidades e
vilas do Piauí que possuíam um conjunto musical no século XIX. Simplício Dias
da Silva, um dos homens mais ricos da província, criou no início do século XIX,
a primeira banda de música do Piauí na vila da Parnaíba, composta somente por
escravos, instruídos em Lisboa e Rio de Janeiro. Simplício era um homem
viajado, de visão cosmopolita, adquiriu o gosto pela boa música em suas
andanças pela Europa e Ásia.
Oeiras, a capital da província,
também não tardou em encontrar a sua melodia nos bandolins da alma feminina.
Enquanto Teresina, em 1863, segundo o historiador Monsenhor Chaves, já possuía
“duas bandas de músicas, a dos educandos e a do corpo de guarnição”.
Guerra, política e músicos.
É difícil precisar quando surgiu
a primeira banda de música de Campo Maior. Contudo, as primeiras pistas
apresentam-se para o final da Guerra do Paraguai, quando o recrutamento militar
forçado ainda causava pânico nos jovens campo-maiorenses. Entre 1864 e 1870,
por conta da Guerra do Paraguai, houve alistamento militar em todo território
piauiense para formação de “corpos de voluntários patrióticos”. Recrutadores, a
serviço do governo provincial, saiam de vila em vila, arregimentando jovens
para serem enviados aos campos de guerra.
O coronel Lívio Lopes Castelo
Branco e Silva foi o militar responsável pelo recrutamento de voluntários em
boa parte das vilas do norte do Piauí. Muitos campo-maiorenses compuseram as
fileiras dos “corpos de voluntários patrióticos” montados pelo governo imperial
no Piauí e enviados as frentes de batalhas. Historiadores calculam em 94
soldados. O capitão Canuto José da Paz foi um dos soldados campo-maiorenses morto
na Guerra do Paraguai. O coronel Lívio teve um sobrinho também abatido no
conflito.
Por época do final da Guerra do
Paraguai, músicos campo-maiorenses foram ameaçados de recrutamento militar
forçado caso tocassem em uma reunião política do partido Conservador, regrada a
muita bebida e comida. Mesmo com término
da Guerra, o medo do alistamento militar forçado estava forte no imaginário da
população, principalmente nos jovens pobres, os mais requisitados.
Naquele período, o partido
Conservador de Campo Maior estava sofrendo um racha político por conta da troca
de comando. O partido estava há décadas nas mãos de membros da família
Almendra, parte deles residindo em Teresina e outra em José de Freitas. O
coronel Antônio da Costa Araújo, de família tradicional de Campo Maior, deu
início a um golpe interno pelo comando do partido na vila. Nesse clima tenso,
partiu-se inúmeras acusações contra o coronel Costa Araújo, uma delas de ter
ameaçado com recrutamento militar os jovens músicos caso fossem tocar no evento
partidário organizado pelo seu rival político, o tenente-coronel Fernando
Antônio Aguiar Almendra, em 1871. Ao perder espaço no partido conservador,
Fernando Almendra, em 27 de maio de 1871, transfere-se junto com seu grupo de
apoiadores de Campo Maior para o partido liberal.
O coronel Costa Araújo defendeu-se ao “Dizer-se que os moços que fazem parte da banda de música desta vila foram por mim ameaçados com recrutamento para não tocaram na reunião do sr. Fernando Almendra, e esquece que todo homem deve convencer algum brio e não facilitar ao gênio as concepções de mau gosto! […]”. É possível que os músicos fossem vinculados ao partido conservador ou ao próprio Costa Araújo para que o mesmo ousasse intervir de modo autoritário, impedindo-os de tocarem no evento político da ala oposicionista do partido?
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