quinta-feira, 24 de setembro de 2020

OS MÚSICOS DA VILA DE CAMPO MAIOR

 

Fernando Antônio de Aguiar Almendra. Foto acervo Edison Gayoso Castello Branco Barbosa. (Imagem: parentesco)

Foto meramente ilustrativa    Fonte: Labhoi


OS MÚSICOS DA VILA DE CAMPO MAIOR

 

Celson Chaves

Professor, escritor e historiador

 

Eram pouquíssimas as cidades e vilas do Piauí que possuíam um conjunto musical no século XIX. Simplício Dias da Silva, um dos homens mais ricos da província, criou no início do século XIX, a primeira banda de música do Piauí na vila da Parnaíba, composta somente por escravos, instruídos em Lisboa e Rio de Janeiro. Simplício era um homem viajado, de visão cosmopolita, adquiriu o gosto pela boa música em suas andanças pela Europa e Ásia.

 

Oeiras, a capital da província, também não tardou em encontrar a sua melodia nos bandolins da alma feminina. Enquanto Teresina, em 1863, segundo o historiador Monsenhor Chaves, já possuía “duas bandas de músicas, a dos educandos e a do corpo de guarnição”.


Guerra, política e músicos.

É difícil precisar quando surgiu a primeira banda de música de Campo Maior. Contudo, as primeiras pistas apresentam-se para o final da Guerra do Paraguai, quando o recrutamento militar forçado ainda causava pânico nos jovens campo-maiorenses. Entre 1864 e 1870, por conta da Guerra do Paraguai, houve alistamento militar em todo território piauiense para formação de “corpos de voluntários patrióticos”. Recrutadores, a serviço do governo provincial, saiam de vila em vila, arregimentando jovens para serem enviados aos campos de guerra.

 

O coronel Lívio Lopes Castelo Branco e Silva foi o militar responsável pelo recrutamento de voluntários em boa parte das vilas do norte do Piauí. Muitos campo-maiorenses compuseram as fileiras dos “corpos de voluntários patrióticos” montados pelo governo imperial no Piauí e enviados as frentes de batalhas. Historiadores calculam em 94 soldados. O capitão Canuto José da Paz foi um dos soldados campo-maiorenses morto na Guerra do Paraguai. O coronel Lívio teve um sobrinho também abatido no conflito.

   

Por época do final da Guerra do Paraguai, músicos campo-maiorenses foram ameaçados de recrutamento militar forçado caso tocassem em uma reunião política do partido Conservador, regrada a muita bebida e comida.  Mesmo com término da Guerra, o medo do alistamento militar forçado estava forte no imaginário da população, principalmente nos jovens pobres, os mais requisitados.

 

Naquele período, o partido Conservador de Campo Maior estava sofrendo um racha político por conta da troca de comando. O partido estava há décadas nas mãos de membros da família Almendra, parte deles residindo em Teresina e outra em José de Freitas. O coronel Antônio da Costa Araújo, de família tradicional de Campo Maior, deu início a um golpe interno pelo comando do partido na vila. Nesse clima tenso, partiu-se inúmeras acusações contra o coronel Costa Araújo, uma delas de ter ameaçado com recrutamento militar os jovens músicos caso fossem tocar no evento partidário organizado pelo seu rival político, o tenente-coronel Fernando Antônio Aguiar Almendra, em 1871. Ao perder espaço no partido conservador, Fernando Almendra, em 27 de maio de 1871, transfere-se junto com seu grupo de apoiadores de Campo Maior para o partido liberal.

 

O coronel Costa Araújo defendeu-se ao “Dizer-se que os moços que fazem parte da banda de música desta vila foram por mim ameaçados com recrutamento para não tocaram na reunião do sr. Fernando Almendra, e esquece que todo homem deve convencer algum brio e não facilitar ao gênio as concepções de mau  gosto! […]”. É possível que os músicos fossem vinculados ao partido conservador ou ao próprio Costa Araújo para que o mesmo ousasse intervir de modo autoritário, impedindo-os de tocarem no evento político da ala oposicionista do partido?   

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