quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Três poemas de Daniel Blume

 

Fonte: Google

TRÊS POEMAS DE DANIEL BLUME


Refluxo

  

Paciência cansada

do refluxo engolido,

da resposta omitida (ou contida).


Mediocridade calada

por um coletivo

acomodado e sedento.


Livros mofados,

ventiladores de ácaros,

no calor com goteiras.


No centro do poder,

pó, ferrugem,

fios, rachaduras e buracos.


Clamor esquecido,

desaforo erguido,

humilhação erigida.


Estratégia que venha,

paciência que vai,

no refluxo da vida.

 

Náuseas

 

Enjôo.


Inimigos e amigos reunidos,

amigos e inimigos ligados;

amigos-inimigos,

inimigos-amigos.


Verso reverso

de quem é quem,

ou de quem versus quem?


Entre favores esquecidos

ou cobrados,

a cinza impera

e se impetra o cinza.


Assim (dizem)

é o efeito

do sim.


Vômito.

 

Sem asas


Cresceu, cessou, cedeu e secou,

como árvore seca sem folhas.


É abacate sem poupa;

ameixa sem doce;

anta sem mato;

abajur sem lâmpada;

arco sem íris;

Aurélio sem letras;

abolição sem escravos;

abraço sem colo;

aperto sem força.


Adulto é a criança que nasce, cresce, seca e morre.

Anjo sem asas, como nós

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