Fonte: Google/BBC |
DIÁRIO
[A orelha de Acoram]
Elmar Carvalho
11/01/2021
Conforme
expliquei no registro anterior, o Chico Acoram Araújo me pediu fizesse um poema
sobre Licurgo de Paiva, meu patrono na Academia Piauiense de Letras; lhe
apresentei fundamentadas escusas para não aceitar a missão, mas ante sua amável
insistência terminei cometendo o poema acima transcrito.
Mas
logo após, o Acoram disse que ficaria honrado se eu fizesse a orelha de seu
importante livro "O menino, o rio e a cidade". Sem relutância aceitei o honroso ofício. O texto segue
abaixo, mas antes tenho a satisfação de informar o leitor que o Chico é um
servidor público exemplar pela sua dedicação e pelo tempo de serviço prestado,
pois acaba de completar 45 anos de efetivo exercício, sendo 30 no INCRA e 15 na
Advocacia Geral da União, na condição de cedido, fora 3 na iniciativa privada.
Mas
não pude deixar de lhe advertir que o otium cum dignitate, nos dias de hoje, é
uma dádiva e um privilégio de poucos. A aposentadoria bem usufruída é
importante para uma vida mais digna e mais feliz e para o exercício da criatividade
em outros setores, sobretudo das artes. Eis a orelha, que espero não seja
troncha, nem de abano:
ORELHA DO LIVRO DE ACORAM
Ao me pedir Chico Acoram para que eu lhe fizesse a orelha de seu livro, fiquei um tanto apreensivo, porque esse espaço deve necessariamente ser diminuto, e eu temi não ter a devida capacidade de síntese. Por outro lado, receei fazer uma orelha troncha, como a de Van Gogh, que em ato impulsivo e tresloucado se automutilou.
Mas, depois, pensei comigo mesmo, que o texto não precisaria
ser uma “orelha de anjo”, muito certinha, muito perfeita, muito cheia de
detalhes e arremates minimalistas, pelo que decidi fazê-la humana, demasiado
humana, com imperfeições, chistes e emoções.
O próprio autor nos revela, em sua apresentação, que começou
a escrever textos literários já sexagenário, por estímulo inicial do escritor e
historiador José Pedro Araújo, e depois por instigação do poeta e advogado da
União Dr. Francisco de Almeida e deste rabiscador.
Embora temporão (mas nunca extemporâneo), ao produzir belas
crônicas e excelentes artigos e ensaios historiográficos, já começou por cima,
sobrevoando um planalto, como um condor andino, enquanto muitos, que começaram
precocemente, nunca saíram da planície e da várzea, onde mourejam em dura
labuta.
Na apresentação, o autor conta um fato pitoresco, em que eu
teria sido protagonista. Farei uma síntese desse episódio, e lhe darei a minha
justificativa.
No velório de meu pai, Miguel Arcângelo de Deus Carvalho,
acontecido em 06/11/2017, já que ele morrera ao pôr-do-sol do dia anterior, eu,
ao conversar com ele e com os escritores Fonseca Neto e José Pedro Araújo, o
estimulara a publicar um livro, posto que ele já teria material suficiente, em
termos de quantidade e qualidade.
Ele me respondeu que não o faria, uma vez que ainda não havia
sido picado pela mosca azul. Incontinenti, eu teria retrucado: – Mas você,
Acoram, jamais será picado pela mosca azul; sabe por quê? Porque o amigo é a
própria mosca azul.
Com isso não estava eu querendo dizer que ele fosse um
vaidoso. Muito pelo contrário. A mosca azul não é vaidosa, ela apenas inocula
nos outros o veneno da vaidade, que não mata, mas muitas vezes cega a
consciência, fazendo com que a vítima descambe para a ostentação e falta de
senso crítico e do ridículo.
Eis que agora, passados mais de três anos do fato anedótico relatado, o Acoram, barrense, último cacique da tribo dos Marataoãs, nos aparece com este excelente livro, em que coligiu suas belas e emocionantes crônicas evocativas, memorialísticas, e seus instigantes e elucidativos artigos e ensaios historiográficos, que muito contribuirão para o enriquecimento da História de Barras e do Piauí.
Dr. Elmar, muito obrigado por esse excelente texto (a orelha) em alusão ao nosso livro "O menino, o rio e a cidade".
ResponderExcluirComo disse no WhatsApp: "o cacique Acoram certamente enviará, via sinais de fumaça nos ares e para todos os cantos da terra, mensagens de gratidão ao estimado amigo e poeta Elmar Carvalho".
Na verdade o amigo nada me deve, uma vez que apenas registrei a verdade, e portanto reconheci um mérito legítimo. Seu livro tem muito conteúdo histórico somado a valor literário. Parabéns.
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