Fonte: Superinteressante/Google |
AS PROFECIAS E A FÍSICA QUÂNTICA
Antônio Francisco Sousa –
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Andei
lendo, nesses dias, o ensaio contido no livro O Efeito Isaías, denso em razão
de suas perplexidades e paroxismos. Dada a exaustiva insistência do autor em
tentar introduzir noções, experimentos, observações, deduções absurdas que, em
um círculo vicioso contínuo, preenche toda a obra, tem-se a impressão de que,
na verdade, tanto esforço visa despertar no leitor interesse pelas confusas
ilações que faz, misturando e entrelaçando profecias, tecnologia da
oração/prece, milagres, ciência, com física quântica. Diante de tamanha aridez,
vacuidade ou presunção, ele mesmo se confunde; às vezes, em prejuízo da
seriedade do discurso. Pareceu-me, senão uma confusão, impropriedade, ou informação
despicienda, o quase anacoluto contextual, em que discorrendo sobre os
essênios, povo dotado de muita religiosidade e incomparável sabedoria, que
deixou registrada em papiros, rolos de metal e couro animal, tergiversa para
afirmar que eram eles estrita e, essencialmente, vegetarianos; não matavam a
comida que levavam à boca para não se matarem; nada de carne, laticínio animal,
proteínas essenciais, como alimento. Tudo indica, porém, que só nesse aspecto
mantinham o bom trato para com os animais, porque, caso não os matassem a fim
de produzir material para seus registros impressos, adquiriam o couro de
animais mortos por outrem; ou será que retiravam a pele do rato, cão,
lagartixa, cobra; ou seriam carneiros, porcos, coelhos, caças, boi ou vaca,
ainda vivos? Segue o autor dizendo que, graças a essa educada dieta alimentar,
viviam até cento e vinte anos. Se sem comerem carne perduravam por tanto tempo,
imaginem se a comessem. Não tive como não lembrar de Ariano Suassuna, que
chegou a provar e comprovar que ser carnívoro permite maior longevidade do que
o vegetarianismo. Segundo ele, no começo da História, possivelmente, antes dos
essênios, homem e cavalo tinham quase o mesmo tempo de vida, comendo, o
primeiro, carne que caçava ou pescava, e o segundo, ervas. Com o passar do
tempo, desenvolvimento da agricultura e da pecuária, melhoria nos padrões e
oferta de alimentos, o homem, comendo carne, sendo carnívoro, vive muito mais
que o cavalo (ou, por minha conta: o boi, a vaca, o carneiro), que continuam
vegetarianos ou herbívoros.
Em
outra passagem do livro, claro, depois de mais discursos sobre eventos somente
explicáveis após o advento da física quântica, como a ciência da profecia, da
oração e do milagre, mote e tema principal da obra, ao falar dos maias, outra
confusão – a menos que tenha havido problema na tradução da parte do texto
relativa à informação -: textualmente, afirma que, “tão subitamente quanto
apareceram, nas áreas remotas da península do Iucatã, há quase mil e quinhentos
anos, desapareceram por volta do ano oitocentos e trinta d.C.”. Tiveram um dos
mais eficientes sistemas de medição e aferição do tempo, que somente foi
superado com a chegada do relógio atômico. Tanto assim que, para especialistas,
descendentes dos maias ainda usam o sistema que registra o tempo e que “não
falhou nenhum dia em mais de vinte e cinco séculos”. Talvez quisesse afirmar o
autor que o surgimento deles ocorrera em mil e quinhentos a.C.; ainda assim, de
lá, até oitocentos e trinta d.C., perfariam, no máximo, vinte e três séculos.
Queria
crer que, até o final do livro, dúvidas, dicotomias ou incoerências pudessem
ser solucionadas. Senão, caso julgasse interessante, teria que ir a outras
fontes apurar o que elas disseram ou dizem, por exemplo, a respeito de essênios
e maias. Quanto a estes, o autor de O Efeito Isaías, de fato, equivocou-se,
cronologicamente: entre os anos duzentos e cinquenta e novecentos, ambos da era
cristã, eles viveram o auge de sua civilização, que começou pelos anos mil e
oitocentos a.C. Aí, sim, somente nesse interregno já cabem vinte e cinco
séculos. Ou seja, sem milagre nem auxílio da física quântica, parte do problema
foi resolvido. Talvez erratas em reedições futuras do livro eliminem ou
corrijam, se achar que elas o são, as falhas de caráter dos essênios; quem sabe
venhamos a saber que, depois de passarem a utilizar o couro animal para seus
registros impressos, teriam começado a aproveitar a carne, laticínio, enfim, as
proteínas dos mesmos como alimento.
Para encerrar: entende o autor que a ciência da profecia, cuja intelecção, hoje, está facilitada pela física quântica, já previa ser possível alterar as consequências do futuro mediante escolhas que fizermos no presente (?). Particularmente, não vejo grande mérito científico nessa conclusão, mas, segundo o livro, esse é o Efeito Isaías.
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