quinta-feira, 29 de julho de 2021

As moças velhas


 

As moças velhas


Pádua Marques

Contista, cronista e romancista


Dos Tucuns até o Cantagalo subindo pra o Macacal no rumo do Catanduvas, podia era procurar de luz acesa. Toda a Parnaíba sabia e não guardava segredo e não via com bons olhos aquela vida da filha mais nova do finado seu Doca Mariano Batista, a Nicinha, já moça velha e amigada com um rapaz mais novo. Este, vindo do João Peres no Maranhão pra ajudar no que fazer dentro de casa e agora tirando dela e da outra irmã, Branca, o pouco deixado pelo velho comerciante antes de bater as capelas dos olhos.

Se bem que Benício Potassa, o agora rapaz feito chegou em casa de seu Raimundo Mariano Batista, o Doca Mariano, ainda nem mudando a voz naqueles dias de 1928. Mas era afilhado da dona da casa, dona Dadinha, tendo vindo do João Peres, no Maranhão, sua terra. Veio ser criado, pra fazer serviços que as duas meninas mulheres não tinham como fazer por serem serviços de homem. Puxar água no poço, ir correndo num pé e voltar noutro no centro fazer alguma compra ou dar recados. Essas coisas.

Benício Potassa ainda menino e em casa de seu Doca Mariano e de dona Dadinha, quando não estava fazendo alguma coisa pra casa largava a sair caçando calangos pelos quintais alheios e nas cercas das casas nos Tucuns. Depois vinha mostrar pra Nicinha e a outra, Branca, essa mais recatada, de pouco meter a cara na porta, sempre agarrada com a mãe pra cima e pra baixo. Os calangos mortos e enfileirados metiam medo nela. Depois os pobres bichos eram rebolados no mato. Branca dizia que Benício era menino perverso, que quando morresse iria ser engolido por tudo quanto era calango.

Quando a situação de Doca Mariano Batista com a fortuna de dinheiro trocando de mãos e tudo foi ficando difícil com os alugueis de casas e de pontos de quitandas nos Tucuns, com as filhas já moças e sem vontade e pretendentes de casamento, o agora rapazinho vendia mangas nas proximidades do Hotel Carneiro e do Mercado Central. Mas era dito pra ele Benício Potassa que o apurado era pra comprar alguma muda de roupa, um calçado e de vez em quando dar um passeio na Guarita ou na Coroa.

Doca Mariano, que era rico, morreu pobre. Diziam que o motivo de sua miséria no fim da vida foi o pagamento dos pecados por ter abusado de muita gente que lhe devia aluguel dos pontos de comércio na Guarita, nos Tucuns e até no Alto do Cemitério. Donas de cabarés na Parnaíba sofriam mais que sovaco de aleijado. Estas sofriam muito com seus modos de cobrança. Outros diziam que ele mesmo, isso era coisa sabida por todo mundo, foi muitas e muitas vezes ao Maranhão à procura de mocinhas novas pra jogar no meretrício.

Morto ele e a mulher dona Dadinha, perto um do outro, as duas moças já beirando os trinta anos viviam se sustentando dentro de casa com o pouco que deu pra ficar. Aluguéis de uns cinco pontos de comércio no Mercado Central e de duas casas na Guarita. E Benício Potassa, o criado, tinha a vida dele, vivendo num quarto nos fundos do quintal e vendendo no mercado suas mangas, suas goiabas, pitombas, cajás. Com o apurado comprava uma roupinha aqui, um calçado mais na frente e mandava de vez em quando algum trocado pra uma irmã no João Peres.

De uns tempos pra cá a vida de Benício Potassa estava melhorando. Já podia entrar dentro de casa, beber e comer até na mesa com as patroas, dar palpite em conversas, ia cobrar os aluguéis dos pontos de venda e das casas da Guarita. Já não era mais o tratador, o botador de água nos potes, o rachador de lenha pra cozinha e o menino que antes cuidava dos canários de seu Doca Mariano. Quem o conhecia agora se admirava da mudança. E a conversa de dentro das igrejas e de porta de rua na Parnaíba era de que Nicinha Batista estava amigada com o criado de seu falecido pai. E era verdade.

Branca era uma santa. Só ofendia o que comia. Vivia dentro de casa, pouco ia à igreja de Nossa Senhora da Graça, alguma festa de família, um batizado ou aniversário de um filho de conhecido, a compra de um pano no seu Antonio Tomaz em frente ao Mercado. Era de andar sempre com um chapéu de sol, mesmo que fosse dia nublado pra chover. A outra, Nicinha, essa sempre foi mais saída pra lado de homem. Mas as duas nunca casaram. Talvez porque Doca Batista era muito ruim pra elas filhas e dona Dadinha. Dentro de casa e tendo a vida e o tipo de negócios que tinha, ficava com medo delas levarem pra genro dele um camarada esperto demais.

Mas a conversa de ponta de rua e de encontros de escada de igreja e saída de quermesses, das fuxiqueiras da rua Conde D’Eu, era da vida de Nicinha, a filha mais nova de Doca Batista, já chegada na idade e vivendo amancebada com um caboclinho sem origem vindo do Maranhão. Caboclinho que não escondia os costumes. A ponto de viver vendendo mangas numa esquina do Mercado Central na praça Coronel Jonas e jogando apostado. Era um rapaz até de boa feição. De boa altura, de pele clara, meio fogoió.

Numa dessas idas de dona Nicinha Batista pra igreja de Nossa Senhora da Graça, o criado e agora marido achou de ir junto. Branca ficou em casa tratando de fazer uns doces. Vinham e a igreja já estava cheia de gente. Mas de longe, ainda quando atravessavam o largo foram vistos chegando. Ela caminhando na frente e ele Benício mais atrás, dando distância e mostrando humildade de condição de criado da casa. Foi o bastante pra que na saída toda a Parnaíba ficasse fuxicando.

Nicinha não deu importância ao que ficaram olhando e dizendo as mulheres de gente importante de Parnaíba quando padre Roberto acabou a missa. Mas Benício tomou vergonha. Vergonha talvez não fosse. Mas a patroa pegou na sua mão e os dois saíram no rumo de casa. Umas conhecidas vieram se fingindo perguntar como estava a vida, perguntaram por Branca, a irmã, enquanto ficavam de olho grelado, de cima a baixo no homem de boa aparência ao seu lado.

Dias passados e Benício foi ficando esquisito, de pouca conversa com dona Nicinha e com Branca. Era de chegar em casa e pouco procurar as patroas. Cumpria o mandado e pouco dava na vista. Largou a beber. Na semana seguinte chegou de noite do mercado cheirando a aguardente e a fumo. Foi pra o quarto e arrumou as roupas e os poucos pertences. Pela manhã, na hora de costume de encher os potes, ele não apareceu. No meio do dia vieram avisar que um corpo de homem foi encontrado no Igaraçu e que podia ser o dele. E era.

Demorou a ser retirado da água. Alguns homens dali dos Tucuns e até da Ilha Grande se atreveram a mergulhar no rodeio das canoas e das lanchas. Agulha, Zé Filinto, Domingo Cabeção, seu Onofre, Peido de Ovo, seu Bagre. O porto ficou coalhado de gente de tudo quanto foi lugar naquele de manhã. Mas Benício Potassa foi achado. Estava com os pés amarrados, vestido como se fosse viajar ou ir pra missa. No bolso da calça foi encontrado dinheiro. Muito dinheiro. Um terço e um escapulário de São Bento. Tudo aquilo muito esquisito.

As irmãs Nicinha e Branca foram chamadas em casa pra verem o corpo de Benício Potassa e providenciarem o enterro. Os mergulhadores continuaram as buscas por mais alguma coisa, talvez uma mala. E foi o que encontraram. Uma mala ruim feita de madeira, que quando aberta, dentro estavam umas mudas de roupas, duas pedras grandes, um par de sapatos caros e um cinturão. Tudo como fosse vestuário de um homem importante da Parnaíba.

Quando o corpo de Benício Potassa foi retirado da água e colocado na areia fofa da beira do rio nos Tucuns, uma multidão se formou em volta. Uns lembrando o sujeito bom, prestativo, trabalhador na casa de seu Doca Mariano e de dona Dadinha. Outros lembrando o vendedor de mangas, cajus e pitombas e todo tipo de frutas no Mercado Central. E mais outros, homens e mulheres, meio afastados, falavam da vida do rapaz sonso e vindo de João Peres, agora afogado e que vivia amigado com a filha do padrinho.    

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Surpresas (boas) da literatura

Obras coletivas de que faço parte

Nesta quarta-feira, fui deixar minha bicicleta numa oficina, pois ela estava com o pedal escacholado. Em seguida, fui à Banca do Louro, para deixar uns livros de minha autoria para o Paulo Couto, que se encontra passando uns dias em Coqueiro, e só volta na segunda-feira, quando eu talvez já tenha retornado a Teresina. Em seguida, por WhatsApp, tive a grata surpresa de receber a seguinte postagem do amigo Claucio Ciarlini:

"Foi com muita alegria que ganhei do meu amigo e Poeta Elmar Carvalho mais quatro obras de sua autoria. Trata- se das raras: 1° e 2° edições do livro A Rosa dos Ventos Gerais, O Pé e a Bola e A Poesia Parnaibana, que estão na primeira imagem. Na sequência, as quatro obras ao lado das que eu já tinha dele na coleção. Muito obrigado, meu amigo, por me premiar com suas ricas e inspiradas criações, mas obrigado principalmente por sua amizade e carinho."


Só me resta agradecer ao poeta Claucio pela generosidade de suas palavras.    

O silêncio de Neto Sambaíba (*)



O silêncio de Neto Sambaíba


Jônathas Nunes


O silêncio de Neto Sambaíba comove a todos. De modo especial os que travaram conhecimento com ele mais de perto ou mais a distância. Entusiasta da expansão uespiana, aprovado no Curso Sequencial em Direito prematutino, estufava o peito e, semblante inebriado de alegria, bradava o nome da UESPI onde quer que estivesse. Vi-o em algumas oportunidades, inclusive em mesa de bar, declamando poemas de sua autoria. Rima rica e versos metrificados. 

Sambaíba era pessoa agradável, dessas que a gente conversa horas a fio sem enfado algum. Episódio pitoresco por ele vivido a mim relatado por ele mesmo, ilustra um pouco essa pessoa querida que hoje se despede de nós. Mão Santa eleito Senador, Sambaíba entendeu que a luta por um lugar ao sol estava a exigir dele certa dose de ousadia. Vai a Brasília se encontrar com o Senador Mão Santa. Em Brasília ouve falar que uma boa opção de trabalho estava sendo ir para Angola. Consegue a passagem de avião e resolve aventurar a vida em Luanda. 

Logo na primeira semana de passeio pelas ruas do Centro de Luanda, a vista, a mente e as atenções de Sambaíba se concentram numa imagem assustadora: o número de pessoas mutiladas de guerra caminhando no sentido contrário ao dele. Cenário desconcertante! Neto Sambaíba, um pouco angustiado, desabafa consigo mesmo: rapaz, isso aqui não é lugar pra mim não. Retorna ao Brasil. Meio cabisbaixo, ao se aproximar da Costa brasileira, o poeta lembra da sua amada: ...”num raio de mil léguas!....Só e longe!....Senti saudade de Solange!” Era assim o Comandante Sambaíba.  

(*) Tomei a liberdade de por o título nesse texto do professor Jônathas Nunes e de dividi-lo em três parágrafos.

“ALBERTÃO – Um Sonho Realizado” livro de Celso Carvalho será lançado em Parnaíba

 


“ALBERTÃO – Um Sonho Realizado” livro de Celso Carvalho será lançado em Parnaíba

 

No próximo dia 31, o escritor Celso Carvalho vai lançar no Núcleo de Cinema e Experimentação   Cênica Edmeia Ferraz do Centro Cultural SESC Caixeiral em Parnaíba o seu livro intitulado “ALBERTÃO – Um Sonho Realizado”, editado pelo projeto Coleção de Ouro Século XXI da Academia Piauiense de Letras – APL.  A programação do evento vem sendo apoiada pela diretoria da Academia Parnaibana de Letras – APAL.  A obra aborda toda a trajetória da construção e funcionamento do maior estádio de futebol do Piauí e que construído pelo parnaibano, Governador Alberto Silva.

 

O autor é   maranhense de Parnarama (MA), hoje radicado em Belo Horizonte (MG), porém residiu em Teresina onde desenvolveu durante várias décadas as atividades de desportista, professor e radialista. Ele também trabalhou no Sesc, Cepisa e no Governo do Estado do Piaui.  Escreveu a biografia do Comendador Pedro Alelaf e o livro “40 Anos do Ginásio Verdão, em 2019.  Neste ano, na capital mineira, publicou o livro “Arena Independente – História e Fatos do América Mineiro”.

 

Fonte: Portal Correio do Norte

segunda-feira, 26 de julho de 2021

A tragédia da Cruz do Cassaco (*)

Fonte: Google
Fonte: Google



A tragédia da Cruz do Cassaco (*)


Délio Rocha


Tragédia que matou Demerval Lobão e Marcos Parente vai completar 63 anos. Eles iam de Teresina para um  comício em Água Branca e São Pedro do Piauí.


Se hoje os candidatos dispõem de muitos meios para chegar aos eleitores, isso não acontecia em boa parte do Século XX, quando a campanha era feita no corpo a corpo e os comícios representavam as principais vitrines eleitorais. Viajar era preciso, embora a falta de rodovias pavimentadas significasse um imenso desafio aos candidatos. E, durante a campanha eleitoral de 1958, mais do que um risco no horizonte, uma destas viagens se transformou em uma das piores tragédias já registradas no Piauí. Após uma colisão envolvendo um carro e um caminhão-caçamba, restou um saldo de 11 mortos e 10 feridos. Entre as vítimas fatais, dois dos mais importantes políticos piauienses: os deputados federais Demerval Lobão (PTB), candidato a governador; e Marcos Parente (UDN), postulante a uma vaga ao Senado. Os parlamentares personificavam a aliança Udeno-petebista, batizada de Oposições Coligadas. Eles vinham de uma intensa rotina de viagens e comícios, quando sofreram o acidente que mudaria não só o destino dos dois, mas de todo um cenário eleitoral.

Era Início de uma manhã ensolarada, como quase todas as que permeiam o período do “B-R-O Bró”. E o quilômetro 14 da BR-316, entre Teresina e Morrinhos (atual Demerval Lobão), delimitava o local da tragédia. Os candidatos estavam a menos de um mês das eleições, marcadas para 3 de outubro. Naquela manhã, eles tinham como destino as cidades de Água Branca e São Pedro do Piauí, onde pretendiam participar de comícios. Lobão e Parente viajavam num Mercury 1951, conduzido pelo experiente motorista José Raimundo Martins Gomes. O automóvel, que também levava o médico carioca Rubens Perlingeiro e o advogado piauiense José Ribamar Pacheco, liderava um comboio com mais dois veículos, um Jeep Willys 1957 e um Ford F1 1951, ocupados pelo restante da comitiva. Em direção oposta, o caminhão-caçamba seguia para Teresina levando 16 cassacos – operários que trabalhavam nas obras da BR-316.

A rodovia federal era uma via de piçarra, sem pavimentação, e passava por obras, conduzidas pelo Departamento de Estradas de Rodagem – DER/PI. Embora o dia estivesse claro, uma nuvem de poeira erguia-se no rastro dos veículos e diminuía a visibilidade no caminho. Estava criado o cenário para o acidente que, mais tarde, entraria para a História do Piauí como o “Desastre da Cruz do Cassaco”. Pouco antes da batida, o motorista da caçamba imprimiu uma maior velocidade para ultrapassar um caminhão, sem perceber que outro veículo vinha em direção a Morrinhos. O choque foi inevitável. E fatal. Os cinco ocupantes do Mercury morreram na hora. Assim como seis operários que viajavam no caminhão do DER. Os outros 10 passageiros ficaram feridos, boa parte deles em estado grave.

Os demais integrantes da comitiva de campanha chegaram ao local minutos após o acidente. O barulho da batida também levou muitos curiosos à cena da tragédia. A notícia da morte dos principais líderes das Oposições Coligadas logo se propagou pelas ondas do rádio. Em pouco tempo, o Piauí comentava sobre o acidente que matou Demerval Lobão, Marcos Parente e outras nove pessoas. O noticiário também repercutia a comoção da multidão que se reunia em frente ao Hospital Getúlio Vargas, em Teresina, para onde os mortos e feridos foram levados. O corpo de Demerval Lobão seria, mais tarde, velado na Assembleia Legislativa do Estado, enquanto o de Marcos Parente seria enviado para o Rio de Janeiro, então capital federal, onde residia a família do parlamentar.

Em 1958, assim como agora, o Brasil estava em plena campanha eleitoral. No Piauí, 232.368 eleitores (18,19% da população) podiam votar naquele pleito. Os candidatos disputavam o Palácio do Karnak, uma vaga ao Senado, sete à Câmara Federal, 32 à Assembleia Legislativa, além dos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador em 71 municípios do estado. De um lado, a chapa governista reunia o maior grupo oligarca do Piauí, sob o comando de Pedro Freitas, do PSD, que governou o estado de 1950 a 1954 e afiançou a eleição do cunhado, o então governador General Gaioso e Almendra. E, em 1958, Freitas indicara o filho, José Gayoso, para disputar o Karnak e continuar a gestão do tio. A chapa governista ainda contava com Mendonça Clark, candidato ao Senado, completando a Coligação Democrática Piauiense, que unia PSD-PSP.

Do outro lado da disputa, estavam as Oposições Coligadas, tendo como principais representantes Demerval Lobão e Marcos Parente. Ainda na oposição, o deputado estadual Petrônio Portella apresentava-se como candidato a prefeito de Teresina. A campanha no Piauí indicava uma disputa acirrada, mas ninguém esperava que uma tragédia mudasse o cenário eleitoral no estado, atingindo, de um jeito ou de outro, as coligações que se opunham naquele pleito. As mortes de Lobão e Parente deixaram governistas e oposicionistas atônitos. E, a partir do acidente, o discurso adotado na campanha eleitoral ganhou um novo rumo, que iria refletir no resultado das urnas.

 

Oposição faz uso político da tragédia:

O ex-governador Pedro Freitas estava a caminho de Picos, seguindo pela mesma BR-316, quando, pouco tempo após o acidente, tomou conhecimento da morte dos seus principais adversários na campanha daquele ano. Algumas pessoas, incluindo o candidato Mendonça Clark, acompanhavam o ex-governador na viagem, que acabou interrompida em Valença. A comitiva governista foi recebida na cidade, ainda pela manhã, pelo deputado valenciano Alcides Nunes (PSD). Em seguida, o parlamentar conduziu o grupo até a casa do professor e dentista Antônio Rocha, que dispunha de um moderno aparelho de rádio, além de “pilhas de mil horas de duração”, uma novidade bem-vinda para uma Valença que ainda não contava com o abastecimento regular de energia elétrica. Em torno deste rádio, na casa do professor, a comitiva governista reuniu-se para acompanhar as notícias que chegavam da capital.


Antônio Rocha:

Antônio Rocha, hoje com 95 anos de lucidez, recorda do clima de comoção em sua casa. Segundo ele, o ex-governador Pedro Freitas pouco falava, tentando processar as informações do noticiário. Ao mesmo tempo, conforme o professor, Mendonça Clark defendia a suspensão do comício de Picos, marcado para a noite daquele dia, uma sugestão acatada pela maioria. Apesar de ter recebido a comitiva governista na própria residência, Antônio Rocha engajava-se na campanha oposicionista de Demerval Lobão e Marcos Parente, tendo participado de algumas viagens acompanhando os candidatos. Dois ou três dias antes, durante um comício em Pimenteiras, ele discursou ao lado de Lobão e Parente. Hoje, morando em União, o professor ainda tem muito presente a imagem dos principais nomes da aliança Udeno-petebista nas eleições de 1958: “Na campanha daquele ano, o Marcos Parente vinha sofrendo com uma crise de gastrite e sempre carregava no carro uma garrafa de leite para amenizar os efeitos da doença. Já o Demerval andava bem-humorado e tinha aquele jeito de galanteador”, recorda.

A simpatia de Demerval Lobão, no entanto, não garantia favoritismo no pleito daquele ano. Em geral, as eleições eram mais favoráveis aos candidatos da situação, embora, na campanha de 1958, a disputa estivesse muito equilibrada. Só que esta equivalência de forças seria alterada pelo “Desastre da Cruz do Cassaco”. E pela exploração política do evento, que beneficiou os novos candidatos majoritários da oposição. O deputado federal Chagas Rodrigues assumiu a cabeça de chapa, em substituição a Lobão, enquanto a vaga de Marcos Parente foi ocupada pelo irmão dele, o comerciante Joaquim Parente, que residia no Rio de Janeiro e não passava de um ilustre desconhecido no Piauí. Até as eleições, os novos candidatos tinham menos de um mês para conquistar o eleitorado piauiense. Logo após o acidente, em que o luto era mais intenso e respeitado, os candidatos da oposição foram poupados de críticas mais severas, como era de praxe antes da morte de Lobão e Parente.

Os jornais da época funcionavam como extensões partidárias e, habitualmente, defendiam seus grupos políticos, ao mesmo tempo que desferiam duras críticas aos oponentes, enfatizando questões pessoais e não as posições políticas. Mas, diante do luto coletivo, os jornais governistas substituíram as acusações pelas mensagens de pesar e consternação. E, com a aproximação das eleições, algumas publicações retomaram as críticas, mas sem a agressividade rotineira. A preocupação com o tom das críticas representava um cenário bem diferente do registrado antes da tragédia, quando o Jornal do Piauí, por exemplo, ligado ao PSD de Pedro Freitas, definia Demerval Lobão como um homem “Sem lar, rancoroso e vingativo, já em avançada idade sem produzir nada de útil à sociedade”.

Outras publicações situacionistas, como o jornal O Dia, também carregavam nas tintas para apresentar o candidato a governador da oposição como uma pessoa degenerada, sem compromissos com os valores morais. Mas este tipo de julgamento perdeu fôlego após aquela manhã de 4 de setembro. Era difícil denegrir a imagem dos candidatos da oposição vitimados por tamanha tragédia. E as lideranças da coligação UDN-PTB souberam tirar proveito da situação. Jornais como a Folha da Manhã, de propriedade do deputado Marcos Parente, usaram suas páginas para destacar as figuras dos políticos mortos, que foram elevados à condição de mártires. Os elogios, claro, beiravam o exagero e tinham como principal objetivo fortalecer as candidaturas oposicionistas nas eleições daquele ano.

Urnas fortalecem novas lideranças:

Com o resultado do pleito, ficou patente o sucesso da estratégia: as Oposições Coligadas venceram a disputa para todos os cargos majoritários em 1958. Chagas Rodrigues conseguiu 101.525 votos (55,13%) e foi eleito governador do estado. O vice dele, o udenista Tibério Nunes, também venceu o pleito com 96.440 votos (51,43%), superando o vice governista, Agenor Almeida (PSP) – na época, o eleitor votava separadamente para governador e vice. E Joaquim Parente teve a votação mais expressiva naquela eleição, com 103.597 votos, garantindo a vaga ao Senado. A partir do “Desastre da Cruz do Cassaco”, o cenário político piauiense passou por grandes mudanças, permitindo que novas lideranças ganhassem musculatura na disputa eleitoral, a exemplo de Petrônio Portella (UDN), que, naquela mesma eleição - e abrigado na chapa oposicionista -, venceria a disputa para prefeito de Teresina com 15.551 votos (65,1%). Mas o grupo político vitorioso em 1958 não ficaria unido por muito tempo. Durante sua gestão, Petrônio Portella romperia com o governador Chagas Rodrigues e, nas eleições seguintes, em 1962, chegaria ao Palácio do Karnak, numa coligação entre o seu partido e o PSD.

E foi no governo de Petrônio Portella, em 1963, que o povoado de Morrinhos seria elevado à categoria de cidade, passando a se chamar Demerval Lobão, em homenagem ao político que perdera a vida no local cinco anos antes. Marcos Parente também virou nome de município, só que ainda no governo de Chagas Rodrigues, em 1962, quando o povoado de Tinguis desmembrou-se de Guadalupe para alcançar o status de cidade. E uma homenagem coletiva aos 11 mortos naquele 4 de setembro de 1958 ganhou a forma de um monumento de concreto, no mesmo lugar onde, antes, existia apenas uma pequena cruz lembrando a tragédia. O monumento, erguido pela Prefeitura de Teresina, na gestão do prefeito Heráclito Fortes (1989-1992), acabou sendo derrubado em 2014, durante as obras de duplicação da BR-316. Junto com o monumento, foi abaixo parte da memória do Estado.


(**) Título de autoria do titular do blog.

(1958 / Acervo da ALEPI/Acervo desastre automobilístico na BR-316 em Teresina. Publicação da Academia de Letras do Vale do Longá - ALVAL.)

domingo, 25 de julho de 2021

ELEGIAS INOMINADAS

 



ELEGIAS INOMINADAS


Elmar Carvalho

 

            I

 

Seus olhos

tinham a melancolia

profunda dos crepúsculos.

 

Por vezes se escondiam

detrás das venezianas

dos cílios impenetráveis.

 

Em seus olhos verdes

boiavam a tristeza

dos naufrágios

 

e a saudade

das naus que se foram

e não mais voltaram.

 

Seus olhos

tinham o sortilégio

e o mistério dos eclipses.

 

Nos seus olhos

meus olhos orbitavam

prisioneiros da gravidade

 

desses quasares binários

em que imergiam

e se perdiam.

 

            II

 

Sinto, às vezes,

rebentar de súbito

uma tristeza imensa e fugaz.

 

Uma tristeza tão funda,

tão inesperada, que surge

aparentemente sem razão.

 

De repente, como veio se vai.

 

Essa tristeza talvez seja a nostalgia

de não mais estar com Deus

ou de ainda não estar...

 

            III

 

Recordo os amigos mortos.

À proporção que entardeço

o número vai aumentando.

 

Já não tenho epitáfios

para tantas lápides

em meu peito.

 

Um dia a minha campa

estará entre essas lousas

e o cemitério já não existirá.

 

Quando eu não mais existir,

existirei em outra qualquer dimensão.

“Existem muitas moradas na casa de meu Pai.”

 

            IV

 

Meus olhos

são dois olhos d’água

de que já não escorrem

as gotas salobras das lágrimas.

 

São olhos d’água esgotados

de onde mina apenas o fio

viscoso da saudade.

 

 

 

A nostalgia do rapaz que fui,

tão emotivo, tão sentimental,

exauriu as vertentes lacrimais.

 

Meus olhos são cacimbas secas

de sertões comburidos,

de agrestes terras adustas,

de chapadas esturricadas.

 

Foram escavados até o osso

e nunca mais hão de chorar,

embora chorem um choro

seco, engasgado e sem soluços.

sábado, 24 de julho de 2021

Paróquia Nossa Senhora do Livramento e os 147 anos de sua criação

 




Paróquia Nossa Senhora do Livramento e os 147 anos de sua criação

 

Paulo Craveiro / 23 de julho de 2021

 

A Paróquia do Livramento, no último dia 20 de julho de 2021 fez  aniversário , completando 147 anos de evangelização e história religiosa, de anúncio do Evangelho, da celebração da Eucaristia e da prática da caridade.Alguns historiadores relatam sobre a aparição da Santa Nossa Senhora do Livramento ou como a Imagem chegou até a igreja.Então a Paróquia do Livramento tem uma história ainda mais especial.

 


Neste último dia 20 de julho de 2021 uma missa foi celebrada em Ação de Graças pelos 147 anos de criação da Paróquia de Nossa Senhora do Livramento na cidade de José de Freitas-PI.

 

O Escritor membro da Academia Freitense de Letras, Ciências e Artes, Secretário de Meio Ambiente e Turismo e Historiador Fernando de Almendra Freitas apresenta um histórico sobre a criação da Paróquia de Nossa Senhora do Livramento.

 

PARÓQUIA DO LIVRAMENTO 147 ANOS

 

A PARÓQUIA DO LIVRAMENTO ERA REQUISITO PARA A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DA VILA DO LIVRAMENTO

 

A política partidária em Livramento (origem de José de Freitas) tornou-se mais representativa a partir da década de 1870, fortemente representada pelos liberais, que assumiram o poder da então Província do Piauí. Havia disputa local entre liberais e conservadores, os liberais liderados por Mariano Gil Castello Branco, primeiro e único Barão de Castello Branco (1848 -1935), e os conservadores por Augusto da Cunha Castelo Branco, o 1° Barão de Campo Maior (1839-1898). Ambos estavam empenhados na emancipação política da então povoação de Livramento, que se acirrou após a elevação política do Estanhado (origem de União) à categoria de vila de União, em 1853. Contudo, os liberais tiveram a valiosa contribuição do então presidente (governador) da Província piauiense, o liberal Adolpho Lamenha Lins (1845-1881), que fora nomeado Presidente por Carta Imperial de 27 de abril de 1874. A pedido dos liberais piauienses, sob a batuta de Mariano Gil Castello Branco, o presidente Adolpho Lamenha Lins sensibilizou-se e influenciou na criação da Paróquia de N. S. do Livramento, então criada pela Lei Provincial n° 873, em 20 de julho de 1874, que representou uma conquista e o fortalecimento dos liberais de Livramento, especialmente do Capitão Pacífico Fortes Castelo Branco (1844-1907). Naquela época, um dos principais requisitos para a emancipação política de uma povoação era a instalação da Paróquia, que celebrava os sacramentos e atraia mais pessoas da região.

A partir do segundo reinado, em 1840, começa um novo período na história da Igreja no Brasil, conhecido como romanização do Catolicismo, voltado à colocação da Igreja sob as ordens diretas do Papa e não mais como uma instituição vinculada à Coroa luso-brasileira, porém, por estas bandas ainda funcionava o modelo de Catolicismo, conhecido como Cristandade. Nele, a Igreja era uma instituição subordinada ao Estado e a religião oficial funcionava como instrumento de dominação social, política e cultural. Assim nasceu e se desenvolveu a nossa Paróquia do Livramento, que hoje (20 de julho) está de aniversário , completando 147 anos de evangelização e história religiosa, de anúncio do Evangelho, da celebração da Eucaristia e da prática da caridade.

Atualmente, a Paróquia do Livramento é coordenada pelo jovem e competente Padre Gilcimar de Lima Machado (1978), natural da cidade de Porto.

Fonte: paulocraveironews.com

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Alocução providencial



Alocução providencial


Carlos Rubem


O Piauí antigo era atrelado à província eclesiástica do Pernambuco. Depois, ao Maranhão. Somente em 1902 houve a criação do seu bispado, sediado em Teresina. Em 1944, foram instituídas as Dioceses de Oeiras e Parnaíba. Temos, ainda, os Bispados de Bom Jesus do Piauí e São Raimundo Nonato.


A área territorial da Diocese de Oeiras era vastíssima. Na reunião do seu clero, em 1967, na cidade de Pio IX, lançou-se a ideia do seu desdobramento para dar lugar à Diocese de Picos.


Recém-criada a ansiada Diocese pela Bula Papal “Nominem Latet”, no dia 28.10.1974, para logo os picoenses colheram assinaturas, num abaixo-assinado, endereçado à Nunciatura Apostólica, em Brasília, pleiteando que o 3° Bispo de Oeiras, Dom Edilberto Dinkelborg, fosse nomeado o 1° Antístite daquela Diocese.


Designado pelo Presidente do Instituto Histórico de Oeiras - IHO, Dr. Raimundo da Costa Machado, o Padre David Ângelo Leal fez a saudação do Dom Edilberto quando este foi admitido na categoria de Sócio Honorário da aludida entidade sócio-cultural. 


Esta recepção ocorreu no dia 19.01.1975, à noite, na sede União Artística e Operária Oeirense. Estava presente nesta concorrida efeméride.


O discurso dedicado ao recipiendário foi primoroso. O orador, com sua proverbial fluência e franqueza, em nome do povo de Oeiras, pediu ao Dom Edilberto que permanecesse mais tempo conosco.


O certo é que o 1° Bispo de Picos foi o Dom Augusto Alves da Rocha, sacerdote egresso da nossa Diocese, o qual foi consagrado no dia 23.08.1975, em Floriano. Ato contínuo, tomou posse no dia 21.09.1975.


Tempo que passa. Na última quinta-feira (15.07.2021), através da Fernanda Costa, historiadora,  moça estudiosa, natural de Santa Cruz do Piauí, recebi cópia da admirável alocução em tela.


Agradecido, arguta pesquisadora!


                     X - X - X - X - X


Exmº. Revmº. Dom Edilberto Dinkelborg


A noite de hoje se nos apresenta como de significado incomum na vida do Instituto Histórico de Oeiras.


O nosso modesto sodalício abre, de par em par, as suas portas para recepcionar oficialmente um ilustre Bispo da Igreja de Cristo, como sócio honorário, reconhecendo assim o seu valor pessoal e o seu trabalho em prol da comunidade oeirense.


Coube-me a mim, por designação especial do Dr. Presidente, Dr. Raimundo de Costa Machado, saudar ao insigne recipiendário, que ilustrará sobremodo a nossa entidade de sócio-cultural.


Em circunstâncias várias, tenho recebido a incumbência de saudar a V. Exª. ora em solenidade de caráter religioso, ora em festividade de aspecto social.

A razão da escolha de meu nome para estes momentos, aliás para mim honrosos, prende-se naturalmente aos laços bem íntimos que nos vinculamos, mercê de uma longe vivência e de um diuturno trabalho em comum, pelo espaço já de 15 anos.


Venho acompanhando “pari passu” o desenrolar de suas atividades todas: religiosas, pastorais, culturais, sociais e promocionais, nesta Diocese de Nossa Senhora da Vitória de Oeiras. E tenho testemunhado de maneira inequívoca, que o centro de interesse de todas as motivações do comportamento de V. Exª. vem sendo o HOMEM – o Homem, criatura humana que deve ser engajada numa vivência humana digna deste nome; o Homem, criatura de Deus, que deve ser inserida no reino de Deus, que se inicia neste mundo pela graça e tem continuidade perene na Pátria Celeste; - o Homem, cidadão da terra e cidadão do céu.


Disse eu, na noite do dia 11 de outubro de 1974, em sessão magna realizada, no prédio da Escola Normal “Presidente Castelo Branco”, em homenagem a V. Exª. Revma., na ocorrência do 15º aniversário de sua ordenação episcopal, que só teríamos uma avaliação justa e precisa dos benefícios todos trazidos por V. Exª. para esta Diocese, de modo particular para esta cidade de Oeiras, se nos fosse permitido compulsar o livro da vida, que é o livro da conta corrente de Deus, diante de quem não há atos indiferentes, já que toda ação ou mérito ou demérito, tendo Deus em vista as intenções mais intimas dos seus agentes e as profundas emoções que agravam ou atenuam qualquer comportamento humano. Não se faz necessário repita eu aqui o que salientei naquela oportunidade, uma vez que se trata de fatos já do domínio público.


Quinze anos de vivência de um homem público numa comunidade, são mais do que suficientes para se que se formule um juízo adequado sobre a personalidade deste homem público, máxime se ele tem a exercer uma missão tão nobre quanto espinhosa, qual seja a de governar uma diocese, levando um povo para Deus, através da palavra evangelizadora que comove, estimula, desperta, e do exemplo evangélico que persuade, convence e arrasta.


O Instituto Histórico de Oeiras, se sente no dever indeclinável e impreterível de proclamar, alto e bom tom, a gratidão do povo de Oeiras para a pessoa ímpar do nosso bispo diocesano, e faz questão de concretizar estes sentimentos abstratos na cerimônia solene desta noite festiva, inscrevendo o nome de nosso antístite entre os seus sócios, como honra ao mérito deste grande benfeitor de Oeiras. E esta filiação hoje se materializa neste ato oficial de recepção.


O nosso Instituto, Exmº. Sr Bispo, se sente sobremaneira honrado por contá-lo, a partir de hoje, com um dos seus membros mais eméritos.


Cidadão oeirense que já é V. Exª. por força de lei municipal, e por último naturalizado brasileiro, para glória nossa, pelo Governo da República Federativa do Brasil, queremos vincular mais ainda a pessoa de V. Exª. ao nosso meio, recebendo-o de braços e corações amplamente descerrados no Instituto Histórico de Oeiras, como sócio honorário.


Boatos céleres correm por toda Oeiras de que outra diocese – uma recém-criada diocese vizinha – quer nos arrebatar o nosso bispo. As solicitações são as mais retumbantes e as mais sedutoras, como cantos de sereias. 

Talvez atenda V. Exª. a estes apelos de outras comunidades, que V. Exª. só conhece meio à distância.


E toda visão de longe anila os horizontes, dando-lhe uma tonalidade azul, poética e atraente.


As montanhas mais escarpadas, com anfrutuosidades que são verdadeiras abismos, de longe são também azuis, encantadoras, poéticas.


Quanto a nós, com nossas qualidades positivas e negativas já somos mais do que conhecidos e compreendidos por nosso querido pastor espiritual. Nós nos conhecemos e compreendemos mutuamente. E esta reciprocidade de conhecimento e compreensão conduz à mutua confiança, penhor de uma amizade verdadeira.

Entretanto, mesmo que V. Exª. esteja disposto a nos deixar, a trocar o conhecido pelo desconhecido, mesmo que se sinta, a esta altura, farto de Oeiras, nós, embora esquecidos, enjeitados, jamais esqueceremos a pessoa amiga de V. Exª. Dom Edilberto, e os bens inestimáveis que semeou em nossos corações na sua já longa missão episcopal em nosso meio.


Pela graça de Deus, temos um bispo integrado na Igreja de Cristo, timoneiro esclarecido e de mão segura, cônscio de suas verdadeiras responsabilidades, atento à problemática do seu povo, sensível à situação do seus padres e dos seus colaboradores, despertado para as frequentes mudanças de uma Igreja em renovação, inserida num mundo pluralista, que marcha em disparada para as conquistas mais inconcebíveis em todos os setores do engenho humano.


E aqueles que pretendem levar de nós um bispo deste quilate têm toda razão. Mas também nós temos mais razão ainda, porque, como diz a moral: “melior est conditio possidentes” – tem mais direito aquele que já está de posse.


Se queremos retê-lo entre nós, Dom Edilberto, não é só por estas características que vêm marcando o seu pastoreio à frente da grei oeirense, mas também pelas finalidades genuinamente humana que eexornam a sua personalidade de autêntico filho do Santo de Assis, de um amigo sincero e legal, que já se tornou um de nós, já se integrou em nossa comunidade.


Um bispo, podemos perdê-lo e receber outro, como já aconteceu conosco duas vezes. Um amigo, porém, o nosso amigo Dom Edilberto, o fato de perdê-lo constituirá para nós um pesado castigo, do qual não nos julgamos merecedores. Afirmou Publíbio Syro, escritor latino de antes de Cristo, que “Amicum perdereest damnoum maximum” – perder um amigo é o maior dos males”. Reza também aforismo jurídico latino que “Amicitia vera similis est consanguinitati proximiori” – A amizade verdadeira assemelha-se ao mais próximo parentesco de consanguinidade.

E este amigo genuíno, este irmão de todas as horas, é que tememos desmerecer. Aos outros, interessa-lhes mais o bispo. A nós, interessa-nos também o amigo, que já conquistou lugar privilegiado na sala de visita dos nossos corações.


Platão aconselha que não devemos deixar crescer a erva no caminho da amizade.

Creio que a comunidade oeirense não tem deixado medrar esta erva, nem semeado espinhos no relacionamento com a pessoa de V. Exª., Dom Edilberto. Sei que V.Exª. veio até nós com o espírito precavido, diante de certa fama negativa que então obnubilava a nossa reputação, mesmo fora das fronteiras do Estado do Piauí.


Os arquivos da Diocese, no entanto, estão ai a testemunhar pela voz silenciosa da história, o que realmente aqui aconteceu nos anos de 1957.


Não foi a comunidade oeirense que ocasionou a saída do nosso segundo bispo, o piedoso Raimundo de Castro e Silva, de nossa cidade.

Foi uma parcela apenas desta comunidade. O Ginásio Municipal Oeirense, palco daquela triste ocorrência, constava apenas com 107 alunos, que estavam apreciando o movimento, uma vez que não frequentavam mais as aulas e viviam em ruidosas passeatas. E eu pergunto: por que, em 1969, quando um fato muito mais sério, digno de passeatas mais ruidosas, de amontinamentos e quebra-quebras mais justificáveis, ocorreu com o fechamento puro e simples do mesmo ginásio, nunca aconteceu? Os que os 201 alunos de então aceitaram resignadamente o fato? Eu mesmo respondo: questão de lideranças. V.Exª pôde, àquela época, presenciar e constatar que não somos assim tão ruins como se apregoa por aí.


Com a acuidade psicológica de que é V.Exª. portador, Dom Edilberto, mediante o constante lidar com os homens, quer como seminaristas em rigorosos internatos, quer como religioso em comunidades franciscanas, quer como Vigário de Paróquia em Aracajú, quer como assistente eclesiástico de Círculos Operários em Salvador, Bahia, quer como Bispo de Oeiras desde o ano de 1959, sabe muito bem compreender o espírito de rivalidade, de egoísmo, de má-querência, que anima, infelizmente, muitas atitudes humanas. O que, às vezes, se quer fazer transparecer como sentimentos nobres, outra coisa não são, numa análise juradiciosa e imparcial, de que camuflagem de egoísmos mal disfarçados, frutos de certo personalismos pouco cristãos, ou excrescências de arraigados bairrimos.

Ao que de quer dar a conotação de visão de Igreja, não passa de grupismos, de exclusivismos, que repugnam ao espírito da Igreja de Cristo, que é Universal.


Não sei se V.Exª, estimado Dom Edilberto, está ciente do quanto esta possibilidade de sua transferência para outra diocese vem inquietando e angustiando os oeirenses de todas as camadas sociais, como uma goteira importuna e martirizante. Algumas pessoas já me solicitaram no sentido de dirigirmos também um abaixo-assinado, com igual ou superior número de assinaturas ao dos competidores, afim de sensibilizarmos o coração do Sr. Núncio Apostólico no Brasil, que não nos conhece nem está ao corrente do que de fato está se passando. Em tese, sou contra abaixo-assinados, porque só tem valor as primeiras assinaturas. Os signatários da seguinte folha em diante, não sabem qual será a relação definitiva da primeira folha. E quero crer que um prudente administrador nunca se deixará levar por experientes desta natureza. A petição que devemos encaminhar é a Deus, de quem somos também filhos; é a Cristo, a cuja igreja também pertencemos. Eles, os fortes, que façam seus abaixo-assinados aos homens. Nós, os fracos,  fa-los-emos a Deus. Quem vencerá?


Peço que me escusem se for indiscreto e se fui franco demais, neste meu pronunciamento, talvez não apropriado para esta solenidade. É que considero as perspectivas que nos ameaam como de vital importância para a Igreja de Oeiras, da qual faço parte por obediência aos meus superiores hierárquicos; de capital importância para a comunidade oeirense, na qual me sinto integrado por longo convivência, como sacerdote, como educador, como cidadão. E aqui se encontram pessoas sobre cujos ombros pesam graves responsabilidade relativamente aos destinos desta boa terra. Não podemos cochilar.


O braço-cruzadismo cômodo, a apatia, o silêncio, numa conjuntura como esta, significariam uma criminosa indiferença para com a sorte dos cristãos desta comunidade eclesial, além de uma demonstração gritante da falta de amor, de acatamento, de respeito e gratidão para com a pessoa do nosso preclaro Bispo Diocesano, a quem hoje homenageamos, outorgando-lhe o diploma de sócio honorário do Instituto Histórico de Oeiras, sodalício que idealizamos com amor e mantemos com sacrifício, com o fim de salvaguardar as tradições desta terra, zelar pelo futuro, como também sintonizar com os problemas e reivindicações de sua gente, mormente quando fundamentados nos ditames da justiça.


Exmo.Sr. Dom Edilberto, saudando-o com efusão d’alma, recepcionando-o com alegria incontida, o Instituto Histórico de Oeiras, por meu intermédio, por meio assim de um dos membros de sua diretoria, também levanta, como primeiro, a sua voz, ígnea e fremente, clamando, bradando, gritando contra a saída de V.Exª. de nossa terra, que é também sua pelo coração. Sei que espinhos daninhos podem ter pungido coração paternal de V.Exª neste longo mourejar entre nós. E lá nas montanhas, azuis porque distantes, haverá somente perfumosas rosas?


O povo de Oeiras, por meio intermédio pede, rogar, suplicar, implorar a V. Exª. que não nos deixa, não nos enjeite: fique mais tempo conosco.


E o instituto Histórico de Oeiras, também por meu intermédio, o recepciona nesta noite memorável nos seus anais.


O Instituto Histórico de Oeiras é de V. Exª.

Sinta-se bem nele. E queira bem a Oeiras!


(Discurso pronunciado pelo Padre David Ângelo Leal, no dia 19.01.1975, em nome do Instituto Histórico de Oeiras, na sede União Artística Operária Oeirense, em homenagem ao Bispo Diocesano Dom Edilberto Dinkelborg)

quarta-feira, 21 de julho de 2021

DR. ALFREDO NUNES E MEU DISTINTIVO DA CBF

 

José Nunes Neto, Reinaldo Torres, Alfredo Nunes, Celso Carvalho e Herculano Moraes (falecido), membros da Academia Piauiense de Futebol, em foto de 2018. Fonte: Google


DR. ALFREDO NUNES E MEU DISTINTIVO DA CBF


Elmar Carvalho


Esteve no fórum, tratando de assunto processual, o Dr. Alfredo Nunes, ex-prefeito de Regeneração, ex-deputado estadual, em várias legislaturas, e procurador de Justiça em inatividade. É o atual venerável da Loja Maçônica Tabelião Manoel Isaac Teixeira. Seu pai, Gonçalo Nunes, empresário, também foi prefeito e deputado à Assembleia Estadual. É casado com a professora Teresinha Nunes, que foi reitora da Universidade Federal do Piauí, há 57 anos.

Segundo me foi revelado, em outra ocasião, recusou-se a ficar recebendo proventos, como parlamentar aposentado, o que é um fato raro em nosso meio. Também ouvi falar que, em sua época, teria sido o único prefeito a receber honraria do Tribunal de Contas do Estado, em virtude de haver tido todas as suas contas aprovadas. Não tive tempo de conferir essas informações. Deixo que o leitor diligente o faça.

Foi dirigente esportivo no Piauí durante vários anos. Quando era prefeito de sua terra natal, foi convidado pelo ministro da pasta do Esporte a ir a Brasília, com a finalidade de assumir, interinamente, a presidência da Confederação Brasileira de Futebol, no impedimento do titular, Ricardo Teixeira, que estava de licença médica. Disse não ter interesse, em virtude de seu cargo de chefe do Poder Executivo local.

O ministro insistiu, e disse tratar-se de um pedido pessoal do presidente da República, que estava preocupado com a classificação da Seleção Brasileira na etapa eliminatória da Copa do Mundo. Conversou com Fernando Henrique Cardoso e terminou aceitando a missão.

Por recomendação pessoal sua ao técnico, um jogador renomado, mas que não estava atuando bem, não foi escalado, e o certo é que em sua gestão o Brasil terminou obtendo a classificação. Quando ele me brindou com um distintivo da CBF, que muitas vezes tenho usado na lapela do terno, disse-me que me ofertava o mimo em virtude de eu haver sido um bom goleiro do futebol amador. Como não sou cabotino, não direi se concordo com o que ele disse.

Em 1957/1958, estando residindo no então povoado de Papagaio, hoje cidade de Francinópolis, em virtude de nomeação para cargo do antigo Departamento de Correios e Telégrafos, com raríssimo meio de transporte para Teresina na época, meu pai “pegou” uma carona no jipe do Dr. Alfredo, que era deputado estadual, até a localidade Estaca Zero, onde era mais fácil conseguir transporte rodoviário para a capital.

Meu pai, que na época era guarda-fio, sozinho, no lombo de um cavalo, percorreu, várias vezes, a solidão formidável da Chapada Grande, de Papagaio ao Alto Sério, já no município de Regeneração, a contemplar os soberbos pequizeiros, vergados de frutos, e as floradas luminosas dos paus-d'arco, a balouçarem à brisa, como lustres dourados de imponentes catedrais.

24 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Visita certa



Visita certa


Carlos Rubem


Conheci “en passant” o jornalista e escritor Edmilson Caminha, cearense, em 1981, quando participei do Seminário de Língua e Literatura Brasileiro, havido no Ideal Club, em Fortaleza. Evento promovido pelo dinâmico Paulo Peroba, de saudosa memória.


Naquele conclave interagi com alguns dos monstros sagrados da literatura nacional, a exemplo de Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Oton Lara Resende, Fernando Sabino, Viana Moog, Antônio Carlos Villaça e tantos outros.


Quando do 2º governo Alberto Silva (1987 - 1990), o Edmilson veio trabalhar como Diretor da Rádio e TV Educativa (Antares), em Teresina, oportunidade em que passou a conhecer mais de perto os autores nativos, em especial, o conterrâneo O. G. Rêgo de Carvalho (1930 - 2013), por quem muito admira.


Não sei em que ano, numa das edições do Salão de Livro do Piauí  -  SALIPI, ele proferiu substanciosa palestra sobre literatura, a qual a assisti no Centro de Convenções, em Teresina.


Por concurso público, é servidor da Câmara dos Deputados, aposentado. Era lotado na Consultoria Legislativa. Escreveu mais de 2.000 discursos parlamentares. Tem artigos, ensaios e entrevistas publicados em jornais e revistas Brasil afora.


Professor de Literatura e de Português. Autor de vários livros. Membro da Academia Brasiliense de Letras e de diversas instituições culturais. Homem viajado. Já foi entrevistado por Jô Soares, Pedro Bial, etc…


Sempre às quinta-feira, a partir das 17h, é transmitida a “live” Chá das 5, promovida pela Academia Piauiense de Letras. A última levada a efeito, aludido literato foi entrevistado pelo jornalista Zózimo Tavares, Presidente da APL, e pela moderadora Vanize Lemos, enfocando o tema “A paixão segundo O. G.”


Naquele mesmo dia envie ao Edmilson, via WhatsApp, três vídeos que registram a presença no ilustre oeirense, em nosso meio, nos anos de 1999 e 2003, além do documentário “A viagem incompleta”, do cineasta Douglas Machado, acerca da vida e obra do dito escritor.


Depois que teve acesso aos referidos vídeos, o Edmilson me mandou, hoje (17.07.2021), sábado, um áudio agradecendo tais arquivos e revelou a sua pretensão de conhecer Oeiras, o que o fará em breve.


Melhor que a sua honrosa visita aconteça quando da inauguração do futuro Memorial O. G. Rêgo de Carvalho, pleito da APL, que deve ser abraçado por todos.


É o mínimo que a nossa cidade possa fazer em  homenagem ao destacado filho que bem a destacou na sua densa e maravilhosa obra artística.   

domingo, 18 de julho de 2021

Seleta Piauiense - Jonas Fontenele da Silva

Fonte: Google


FAC ET SPERA


Jonas Fontenele da Silva (1880 – 1947)

 

Faze e espera, é a divisa de esperanças

De alguém que ainda na vida tudo espera

E ainda crê nalgum sonho e na quimera,

Dando ouvido às baladas e às romanças...

 

Fac et spera! e a fabricar faianças

Levei a minha louca primavera;

E às festas de Amatonte e de Citera

Jarras enviei de todas as nuanças...

 

Tarde depois, as forças combalidas,

Vejo-as no chão, desiludido quase,

Jarras, crateras e ânforas partidas

"Venho agora concluir a antiga frase:

Fac et spera... o Sofrimento e a Morte!"


Fonte: site Antonio Miranda 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Cemitério campestre




CEMITÉRIO CAMPESTRE


Elmar Carvalho


Nesta segunda-feira, de manhã cedo, quando eu vinha de Teresina para Regeneração, resolvi, mais uma vez, dar uma olhada no cemitério campestre, que fica na beira da rodovia, um pouco antes da cidade de Angical. Três ou mais galpões, cobertos de telha, protegem os mortos desse bucólico cemitério.

Dá a impressão de que parentes e amigos, zelosos, cuidadosos, desejavam proteger seus mortos da chuva e do sol. No adro de um desses telheiros, o cruzeiro estendia seus braços bem abertos, como se quisesse abraçá-los. Recordei-me de que, muitos anos atrás, quando eu estava na flor de minha adolescência emotiva e sentimental, fiz esse mesmo percurso, em ônibus da empresa Jurandi, que parava em quase todas as cidades do itinerário, em companhia de meu amigo Otaviano Furtado do Vale, que morara em Regeneração.

Íamos, ali, passar um final de semana.  Fomos antecedidos por uma carta dele, comunicando nossa viagem, e naturalmente solicitando hospedagem aos anfitriões. A missiva tinha uma propaganda enganosa a meu respeito, pois dizia, para a destinatária, filha dos donos da casa, que eu era parecido com famoso galã das telenovelas de então.

De qualquer modo, cumprimos a nossa missão, pois tomamos umas boas talagadas de calibrina, dançamos no clube da cidade, onde hoje está instalada a Câmara Municipal, e terminei conseguindo uma namorada, que a névoa do tempo já esfumaça em minha memória. Nessa viagem, chamou-me a atenção um outro campo santo campesino, com túmulos em ruínas, cruzes decepadas, anjos de asas partidas...

Ao retornar, fiz um poema que falava de um agre e agressivo agreste, de um cemitério abandonado, e da paisagem dos cerrados da Chapada Grande, de beleza ímpar, mas tão diferente dos planos tabuleiros de minha terra natal, respingados de corcovas de cupins e pontilhados de carnaubeiras, sobretudo no inverno, em que a terra se estende como um tapete de gramíneas e babugens.    

23 de fevereiro de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2021

Resgate histórico



Resgate histórico 


Carlos Rubem


Foi o Professor Possidônio Queiroz o idealizador da criação do Ginásio Municipal Oeirense. Em fevereiro de 1944, promoveu, na casa do Sr. Mário Freitas, uma reunião com elementos de destaque da cidade para tratar desse assunto. 


Em seguida, dirigiram-se ao prefeito Orlando Carvalho (Coronel), que anuiu com a aludida reivindicação após a exposição de motivos elencados.


Para logo, o alcaide “obteve do interventor federal no estado — Leônidas Melo — a aprovação de um crédito de trezentos mil cruzeiros (cr$ 300.000,00), e com ele deu começo a execução da obra projetada, tendo adquirido planta, grande compra de material e local apropriado em que  fez abrir um poço tubular.”


Tendo sIdo o Coronel Orlando apeado do poder com o fim da getulina ditadura, no final de 1945, Oeiras, a partir de então, foi governada por prefeitos nomeados, em curtos períodos, durante a redemocratização do país.


Coube ao prefeito Rocha Neto, eleito em 1948, a efetiva construção daquele educandário, o qual passou a funcionar, sob direção da Diocese de Oeiras, em 1952, na gestão do prefeito Laurentino Pereira Neto. 


O escritor nativo Bugyjja Brito, radicado no Rio de Janeiro, voluntariamente, muito colaborou para superar os entraves burocráticos visando à autorização  do funcionamento do educandário em comento junto ao Ministério da Educação. Tudo conseguido com muita dificuldade.


Em 1969, o GMO foi, miseravelmente, extinto em face de um contexto político em que figuravam, dentre outros, o bispo Dom Edilberto Dinkelborg, o prefeito João Nunes e o, então, padre Balduíno de Deus Barbosa, Secretário Estadual de Educação. 


Na ocasião, dois solitários, a saber: o Professor Possidônio Queiroz e o padre David Ângelo Leal se insurgiram contra este verdadeiro crime de lesa-pátria, mas o establishment era vigoroso.


O alunato passou a estudar no recém-criado Colégio Estadual de Oeiras, hoje, Unidade Escolar Farmacêutico João Carvalho.


A Câmara Municipal de Oeiras, numa demonstração de pleno servilismo, autorizou a doação do prédio em comento para o patrimônio imobiliário do Estado do Piauí. Imperdoável erro político-administrativo. Um simples contrato de comodato seria uma solução menos traumática.


Ademais, os senhores edis instituiram um crédito orçamentário especial para custear as despesas de escriturárias. Houve apenas um voto contrário, o do vereador Acelino Lopes. 


No ano seguinte (1970), naquele equipamento público passou a funcionar a Escola Normal Oficial de Oeiras, por bons 33 anos. Impossível não se referi ao Padre David, de saudosa memória, seu primeiro diretor, que também exerceu tal função à testa do GMO.


Com o furor da expansão do ensino promovido pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, no governo Mão Santa, foi criado o Campus Universitário Professor Possidônio Queiroz, através da Lei n° 5.382, de 13 de abril de 2004, de autoria do Deputado Estadual Mauro Tapety, cuja inauguração formal se deu no âmbito da primeira edição do Festival de Cultura de Oeiras, no dia 15 de agosto de 2004, contando com a honrosa presença do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, que pronunciou uma de suas afamadas aula espetáculo.


Com a evolução dos fatos, na expectativa da adoção de novos cursos a serem oferecidos à população do Território do Vale do Canindé, o prédio em que abriga a UESPI local não mais comporta a presente e futuro demanda.


Diante desta conjuntura, em muito boa hora o Deputado Federal Assis Carvalho (1961 - 2021), oeirense de boa cepa, muito se empenhou para que fosse construída uma nova e adequada sede da UESPI, na Primeira Capital.


Para este desiderato, aludido parlamentar moveu terras e mares. Com considerável atraso, esta obra está em fase de conclusão (70%). Se o governo do estado quiser — haja paciência! —, marcaremos este tento já no início do ano vindouro, no máximo.


Neste cenário projetado, o Estado do Piauí, por iniciativa do governador Wellington Dias, nosso ilustre conterrâneo, bem que poderia, ou melhor, deveria fazer um justo resgate histórico: reverter ao acervo patrimonial do município o antigo prédio do Ginásio Municipal Oeirense.


Para tanto, ante o manifesto interesse público, as forças vivas da velha cidade cansada de guerra devem se unir, manter diálogo republicano. Evitar proselitismos político, vaidades tolas.