sexta-feira, 6 de agosto de 2021

A cadeia velha



A cadeia velha 


Carlos Rubem


Em criança, mil vezes espiei uma fotografia esmaecida guardada numa pequena gaveta da velha cômoda existente no quarto do vovô Joel. Estampa o colonial prédio da Cadeia Pública construída pelo Visconde da Parnaíba, em 1839, quando Oeiras sediava a Província do Piauí. Projeto arquitetônico do engenheiro alemão Pedro Cronemberg, patriarca dessa família espalhada em diversas cidades do Piauí.


A imagem deste equipamento público figura na capa da 3ª edição da Revista do Instituto Histórico de Oeiras, publicada em 1980. Iniciativa do escritor Dagoberto Carvalho Jr.


Na juventude, tomei conhecimento de um outro instantâneo apanhado no dia 07.09.1937 quando das festividades da inauguração da luz elétrica pelo prefeito Rocha Neto, no qual vê-se apenas o oitão direito da cadeia velha e a Igreja de N. Sra. da Vitória, levantada em 1733, primeiro templo regular em terras mafrensinas.


Há pouco tempo, o primo Inamorato Reis localizou nos trens de sua tia Otília Ribeiro Gonçalves uma terceira fotografia panorâmica colhida nos anos vinte do século XX, certamente, em que registra aludida edificação já em ruinaria, o teto havia desmoronado.


Com a mudança da capital para Teresina, Oeiras entrou em declínio. Dos nefastos efeitos que a cidade sofreu foi a transferência do Liceu Piauiense e o abandono de diversos prédios, a exemplo o da Cadeia Velha, aludida na obra literária do grande conterrâneo O. G. Rêgo de Carvalho.


No seu lugar foi erigido, nos anos quarenta, pelo prefeito Coronel Orlando Carvalho, charmoso espaço cultural compreendido pela Praça da Bandeira, o Passeio Leônidas Melo e os edifícios do Cine Teatro, Associação Comercial e o Café Oeiras, todos de estilo “art déco”. 


A partir deste último retrato em apreço, pedi ao meu amigo Sóter Carreiro, arquiteto radicado em João Pessoa, que pintasse uma aquarela. 


Este artista plástico é amigo de Oeiras. Em 2017, ao ensejo das comemorações do tricentenário da cidade, por cá esteve. Produziu várias telas com cenários oeirenses que serviram de ilustração para o livro “Crônica dos Enigmas de Oeiras”, com texto do Rogério Newton, sob a chancela editorial da Fundação Nogueira Tapety - FNT. Um vistoso roteiro sentimental da cidade.


A encomenda saiu melhor do que o esperado. Sóter plasmou até a carnaubeira centenária nascida no claustro daquela penitenciária e que ainda hoje embeleza, de forma solitária, a nossa urbe.


Ao recompor, através de sua arte, a paisagem da Primeira Capital, Sóter dá um contributo inestimável à memória urbana da antiga Vila do Mocha. 


Representa uma denúncia à incúria administrativa a que Oeiras foi submetida no passado e um forte chamamento à atual e futura geração para o acautelamento da nossa identidade sertaneja.

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