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A LINEARIDADE DO TEMPO E AS
CURVAS DA VIDA
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Não há nenhum fundo de verdade na
expressão “alguém vive à frente de seu tempo”; também não se pode viver de
passado. Vive-se, e é muito bom que isso aconteça, tão somente o momento
presente. Pode-se relembrar, saudosa, alegre ou tristemente, instantes vividos
ontem; pode-se, claro, até ficar feliz diante de certas lembranças; porém, não
se revive o passado – segundo Machado de Assis, exumar o passado é devassar o
futuro -. Quanto a este, sequer se pode recordá-lo, haja vista ser ele,
meramente, uma probabilidade, uma possibilidade; diferentemente, daquele, que
já ocorreu e do presente, que ocorre.
As pessoas que buscam,
verdadeiramente, a felicidade, vivem em tempo real, agora; porque, como afirmam
tanto os teóricos ou iluminados, quanto aqueles que viveram esse estado de
beatitude, a felicidade é um sentimento intermitente e, por vezes, imiscível,
do ponto de vista quantitativo; conquanto ninguém se engane quando está diante
de um momento feliz. Contudo, não é incomum, tempos depois de nos ter
acontecido algo que, à época, não soubemos precisar se fora tão bom ou melhor
do que várias sensações ou experiências com que, simultaneamente, convivemos,
tardiamente, reavaliarmos e externarmos, então sim, com certeza, ter sido
aquilo um evento bem mais interessante do que as outras experiências.
O
tempo não nos engana, nem nos martiriza, apesar de, não raro, deixar em nós
marcas que se assemelham a estigmas, às quais, depois cura, restando, no
máximo, cicatrizes pouco importantes. Não são as rugas castigo que o tempo nos
impinge por tentarmos vencê-lo; não nos vence o tempo porque não somos
adversários num campo de batalha; nada é mais pacífico e resoluto que ele. Não
é ato dos mais honestos afirmar que determinado malefício ou benefício veio com
o tempo, ou que foi este que facilitou sua chegada. Ele não é o criador do mal
ou do bem, não participa de sua logística, tampouco, é responsável por seu
transporte.
Meu tempo é diferente do seu, ainda
que vivamos ao mesmo tempo, e não porque eu seja jovem e você não, ou
vice-versa, mas por sermos, todos e cada um, universos com arcabouços físicos e
existenciais diferenciados e específicos.
Ninguém viveria por mim,
envelheceria por mim, seria feliz por mim, como eu, mesmo que se lhe fosse dado
passar pelo que passei, viver o que vivo e da forma como vivo.
O
tempo é uma dimensão muito previsível, que escorre na lentidão ou com a pressa
percebida por cada um. Sua imutabilidade reside no fato de que ele não repousa,
não cansa nem descansa, segue seu curso, ininterruptamente, a despeito de nossa
vontade.
A
juventude, a maturidade e a velhice não são pontos de encontro que marcamos com
o tempo - que desenvolve uma trajetória linear - nas curvas de nossa vida, que,
por sua vez, corre em círculo, com imutáveis paradas ou fases – nascer, viver,
crescer e morrer –, ainda que muitos não consigam percorrê-las todas. Por conta
desse viés geométrico, é que em qualquer estação de nossa existência, podemos
nos afastar do tempo ou o perder, para sempre, de vista.
Só
uma força, que se confunde com a própria natureza, tem poder capaz de fazer
curvas no tempo: o Criador.
É fato que não temos direito de exigir que o Todo-Poderoso faça isso, mas, certamente, não é pretensão descabida solicitar-Lhe que encurve o tempo de modo que este conflua, longa e demoradamente, com as curvas da vida daqueles a quem amamos ou queremos bem. Fique à vontade, Senhor, afinal, pedir não é crime!
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