quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Raimundo, O Grande


Fonte: Google

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Raimundo, O Grande.

O poeta cuja simplicidade levou a assinar R. Petit.

 

Filadelfo Chagas Barreto

Advogado e escritor

  

 

I

 

Em março de 1891 não acontecia nada em Belém do Pará.

Havia sete meses da última comemoração do dia em que a província do Grão-Pará aderira à causa da Independência do Brasil, em 15 de agosto de 1822. E faltavam sete meses para a próxima celebração do Círio de Nazaré, ou outubro.

Sete meses pra trás ou sete meses pra frente, andava tudo calmo em Belém, assim como se mantinham calmas as águas da Baia de Guajará, na exata medida em que se pode dizer calmo o braço oriental da foz do Amazonas.

Nesse equilíbrio entre as duas grandes datas, dia 14 de março de 1891 nasceu Raimundo Araújo Chagas.

Dizem as fontes que era filho de Raimundo Araújo Chagas, o que torna pai e filho homônimos. Difícil, mas não impossível, como pensaria Raimundo, o filho, lá por volta de 1915 em incidente que resultou na sua amizade com Pachola.

Do pai sabe-se quase nada. De onde vinha, o que fazia, o que comia no café da manhã, nada.

É provável que fosse vinculado a alguma forma de comércio, e que tivesse alguma ligação com a cidade de Parnaíba, no Piauí.

O Pará produzia muita pimenta-do-reino, cujo cultivo havia sido introduzido ali pelos portugueses já no século XVII. É bem verdade que só a partir de 1930, com a imigração japonesa, a produção iria tomar corpo até conduzir o Brasil à autossuficiência na especiaria em 1950. Mas no final do século XIX a produção já era relevante e era a fonte básica do suprimento nacional.

Madeira era também item importante na economia paraense e junto com a borracha, ainda em produção incipiente, formava o segundo pilar das exportações do Estado, que se dava via navegação de cabotagem até Parnaíba, na época o único porto marítimo relevante a oeste da Ponta do Mucuripe em Fortaleza, com linhas regulares para os Estados Unidos e Europa.

Assim, concentrando-se a exportação do Pará no porto de Parnaíba, é bem possível que Raimundo Araújo Chagas, o pai, tivesse alguma ligação com este comércio, porque, muito provavelmente, visitava com alguma regularidade o Piauí.

E essa presença em Parnaíba pode ser presumida com algum grau de acerto, porque Raimundo, o pai, havia casado com uma moça nascida em Amarração, na época Distrito de Parnaíba, hoje cidade de Luiz Correia.

Maria Araújo Chagas, a mãe do nosso Raimundo, era “dos Araújo”, família muito numerosa e conhecida na Amarração. Casada com Raimundo, o pai, foi morar em Belém e teria permanecido ali sem mais novidades, não fosse a morte do marido em 1896.

Viúva, com um filho de cinco anos, a vida de Maria Araújo Chagas parece que não se apresentava muito promissora em Belém. A solução seria voltar pra Amarração, pra junto “dos Araújo” que, na linha econômica do lugar, eram bem posicionados: tão pobres quanto ali eram todos pobres. Mas estavam em família.

Maria Araújo Chagas e Raimundo Araújo Chagas, o filho, chegaram em Amarração em 1896.

Amarração, na época, era apenas uma colônia de pescadores, adicionada de algumas poucas casas de trabalhadores rurais.

O lugar era agradável. A colônia não se fixara na borda do mar, mas há cerca de um ou dois quilômetros da praia, que era destituída de qualquer vegetação. A exceção ocorria na Praia do Coqueiro, a Leste da Praia de Atalaia. Ali era o único ponto em que havia coqueiros à beira-mar, além da foz de um pequeníssimo riacho que, mal e mal, fornecia alguma umidade não salgada ao chão, permitindo o cultivo de pequenas hortas e a criação de um rebanho mínimo de caprinos que sustentavam duas, talvez três famílias.

Na Amarração mesmo, o litoral era nu.

Em compensação, a partir de um quilometro pra dentro do sertão, inúmeras lagoas (talvez o último resquício dos Lençóis Maranhenses) ostentavam, cada uma, um colar de vegetação que criava círculos aprazíveis, sombreados e com água boa. Coqueiros e paus d’água formavam a folhagem superior e intermediária, à sobra da qual ingazeiras faziam a festa da meninada no tempo da safra. Em lagoas menores a taboa era soberana, tomando o próprio corpo d’água, transformado em um capinzal denso e não muito seguro, com as cobras que se acomodavam ali.

Até a década de 1970 ainda havia muito da Amarração do início do século. As lagoas maiores haviam sido assenhoradas pelos parnaibanos que mantinham, em cada uma, seu balneário particular. O Professor José Rodrigues, vizinho do nosso Raimundo em 1930 na Rua Capitão Claro, mantinha um desses oásis. A taboa recuou, mas ainda hoje está na lagoa do Sobradinho, cerca de dez quilômetros a sudeste da sede de Luiz Correia, de onde ainda saem pufs, tapetes e outros artefatos produzidos com seus caules e folhas.

Foi nesse lugar que Raimundo, o filho, trocou os dentes de leite. O trem ainda não apitava por lá.

Os registros são uniformes de que Raimundo sempre foi um bom aluno nos grupos escolares que frequentou. Vivo e inteligente era, sobretudo, letrado. Lia, entendia, e escrevia alguma bobagem.

Nas folgas da escola a brincadeira era o mar, a pescaria também no mar e muito esporadicamente em alguma lagoa, a canoa e empinar papagaios. Esta última seria depois mote e referência para soneto de que se vai tratar no tempo certo.

Raimundo deveria ter uns 12 anos quando a mãe, Maria Araújo Chagas, casou com Francisco Justiniano Vaz, viúvo que trazia do primeiro casamento seis filhos. Dentre eles, Oscar Vaz, que depois seria membro da Associação Parnaibana de Expansão Cultural. Dos outros cinco filhos não se encontrou memória.

Francisco Vaz era conhecido com o nome assim menor em toda parte, e na Loja Fraternidade Humana. Venerável da Loja maçônica, também era Cavaleiro Rosa Cruz.

Do casamento vieram três filhos, meio irmãos de Raimundo: Handarat e Hugo Vaz, que foram, ambos, funcionários públicos estaduais; e Haydée Vaz, cronista respeitada em Parnaíba que talvez ainda nos apareça depois.

Por hora registra-se apenas que um sobrinho neto do Raimundo, encontrou-se com um neto e dois bisnetos deste, também advogados, em Teresina. Formou-se alguma amizade e os quatro resolveram aproximar os ramos familiares que não se tocavam havia mais de cinquenta anos.

O ramo de netos e bisnetos de Raimundo, pala parte da filha Aglaé, organizaram um almoço de re-conhecimento. O Sobrinho neto – não vamos expor as pessoas – apareceu trazendo uma tia cujo nome não ficou guardado. Uma velhota muito animada, bem-humorada, brincalhona e, imaginou-se, simpática. Mas a velhinha vivia de gracejos e risadinhas, incapaz de qualquer conversa de mais de dois parágrafos. A cada ponto ou vírgula mais demorada, desenvolvia trejeitos, requebros, esgares e arregalares de olhos, puxando toda a conversa para aspectos gaiatos ou de igual teor de brincadeira que só ela encontrava até em comentários sobre o clima, tornando impossível uma conversação que pusesse em dia os assuntos dos parentes havia muito afastados.

O Sobrinho neto, era legal. Cerca de trinta ou quarenta anos, alto, forte, com uma cabeleira volteada, sempre muito vigilante com a roupa, até poderia ser uma boa companhia. Mas, com a tia, ficava muito difícil, principalmente porque o ponto de contato era a Aglaé, que já contava mais de noventa anos e não estava muito disposta a dar risadas a partir de coisas cuja graça ela sequer percebia. – Incompreensível, dizia, com uma cara própria que armava exclusivamente para uso extra residencial.

O ramo familiar tocou-se no almoço, mas já no lanche da tarde havia murchado.

Voltando ao nosso Raimundo: a família mudou-se para Parnaíba quando ele era “rapazinho”, segundo uma fonte da Academia Parnaibana de Letras.

Foi mantido nos colégios públicos onde preservou o desempenho histórico.

É razoável admitir que tenha concluído o ensino secundário, naquela época correspondente ao ginásio ou a alguma formação profissional.

Parnaíba naquele tempo já contava com uma escola secundária pública – o Ginásio Parnaibano; e duas particulares – Colégio Nossa Senhora das Graças e Instituto São Luiz de Gonzaga, assim mesmo com esse “de” meio intrometido. No tocante aos rapazes o estudo profissional era ministrado no Curso Comercial do Colégio Nossa Senhora das Graças e na Escola de Comércio da União Caixeral.

É quase certo que Raimundo tenha cumprido estudos secundários profissionalizantes porque logo ingressou no comércio como empregado da Casa Marc Jacob, de propriedade do francês Marc Desiré Jacob, especializada em exportação de produtos regionais.

Mas entre o estudo primário e o ingresso na Casa Marc Jacob houve alguma poesia e prosa. Em 1910 – com dezenove anos – já publicava sonetos em A Semana. No curso de 1911 publicou crônicas em Auras do Norte, de que era coproprietário. Aparentemente estas três crônicas e mais o livro Noites Sertanejas, incursão de R. Petit no teatro, resumem a atividade do nosso amigo fora da poesia.

O semanário político, noticioso e literário A Semana teve a publicação interrompida, voltando em 1916, ainda sob responsabilidade de Nestor Veras.

Em levantamento dos escritores compreendidos no circuito literário do Norte piauiense entre 1900 e 1930, R. Petit consta entre os primeiros nomeados, identificado como comerciante e poeta, posição dupla de que trataremos logo abaixo.

É também nesse intervalo entre a mudança para Parnaíba e o primeiro emprego que Raimundo desaparece, dando lugar ao nosso querido R. Petit.

 

II

Dos intelectuais parnaibanos em geral, e especificamente de R. Petit, o escritor piauiense Berilo Neves, desde muito tempo instalado no Rio de Janeiro, disse, em 1942: “Parnaíba jamais cometeu o erro de fazer do ouro a razão de seu destino e o fim de sua existência. R. Petit versejava entre dois embarques de cera de carnaúba e, por entre pilhas de fardos de algodão, explorava seu próprio talento.” Berilo seria citado por Petit no poema Parnaíba, que será visto lá pro fim dessa conversa.

E era assim mesmo: trabalho e arte como uma coisa só. Ou porque trabalhasse com arte, esmerando-se apaixonadamente no que tinha a fazer; ou porque se esforçasse na produção literária como quem executa trabalho pesado, R. Petit sempre foi uma mistura que envolvia de sensibilidade tudo o que fazia.

A dedicação ao trabalho comum resta provada quando, em 1931, o pianista e parceiro Ademar Neves, eleito Prefeito de Parnaíba, foi buscar R. Petit no Quiosque Japonês para assumir a Secretaria da Prefeitura, que Petit ocupou durante todo o mandato do amigo e onde foi mantido pelo sucessor deste em 1936.

A propósito da secretaria da Prefeitura é interessante notar que em 1931 as prefeituras não tinham um conjunto de secretários como hoje. Havia apenas um secretário, que era R. Petit, responsável pela administração, educação, saúde, transportes e o que mais houvesse, o que fazia do cargo uma imitação do próprio cargo de Prefeito, com a diferença de que o Prefeito mesmo exercia apenas as atividades de articulação e acomodação política, deixando ao secretário a execução efetiva da administração. Daí que se pode dizer que, não fosse R. Petit um trabalhador braçal, não seria chamado para um cargo que era uma carroça de trabalho para levar nas costas.

O sangue suor e lágrimas que regava sua poesia está flagrante na palavra de estudioso da literatura na República Velha quando, comentando a criação do quinzenário Auras do Norte, refere ao “poeta paraense Raimundo de Araújo Chagas, o R. Petit, um dos mais prolíficos poetas do norte.”

Esse esforço de trabalhador braçal que R. Petit empreendia rendeu a ele em pouco tempo a condição de ser “o poeta mais cantado na Paranaíba”, afirmação do escritor Benjamim Santos que se referiu a R. Petit como “o poeta que nasceu no Pará, mas que se fez o mais parnaibano de todos os poetas de Parnaíba.”

A atividade de R. Petit no trabalho e na arte não pode ser vista como sonho poético ou inspiração individual que, por circunstâncias, tenha sido desenvolvida em paralelo ao trabalho, digamos, econômico.

 

III

Petit, na verdade, estava envolvido por seu tempo e não estava sozinho. Ao contrário. Ao mesmo tempo em que a disponibilidade de um porto marítimo com linha regular para o exterior fazia de Parnaíba um centro gravitacional da produção econômica de boa parte do Norte do país, a presença inicial de gráficas, jornais e revistas atraiu para lá, ou manteve lá, um grande número de intelectuais. Dentre eles R. Petit que não pode ser considerado um satélite ou um periférico na cadeia literária. Era figura central.

R. Petit estava envolvido no seu tempo e seu tempo era o início do século XX, quando Parnaíba era o centro literário do Norte do Piauí e, também por influência de suas atividades produtivas e de exportação, atraia intelectuais de outras cidades em outros Estados, como Viçosa, no Ceará e São Bernardo, no Maranhão. Isso explica a integração de intelectuais dessas localidades em periódicos parnaibanos, como o semanário noticioso e literário O Nortista, fundado em 1901 por Francisco Mores Correia. Ali, poetas como R. Petit e Joao Vieira Pinto desenvolveriam lutas cívicas e comerciais ao longo do tempo, em relação próxima com Herculano Santos, que fazia o mesmo em periódicos maranhenses. Herculano, de 1923 a 1924, no Diário de São Luís, assinou um conjunto de textos sob o título “Palestras Operárias”.

No grupo de Petit estava também Armando Madeira, que depois seria membro da Academia Piauiense de Letras.  Caixeiro na firma do tio, Benedito Madeira Brandão, era casado com a poetisa (chamava-se assim a mulher que fazia versos) Luiza Amélia de Queiros, primeira escritora piauiense.

Este caixeiro poeta confirmava o fato de os parnaibanos fazerem literatura “entre um despacho de cera de carnaúba e outro”, como disse Berilo Neves. Era também o caso do poeta R. Petit, a quem diversas fontes se referem como um dos mais prolíficos poetas do período com atuação na imprensa parnaibana. Fundou em 1911 o jornal Auras do Norte, crítico, noticioso e literário. Estavam, aí os poetas Jesus Martins, Nestor Gomes e José Dutra, além do agente comercial e poeta Antônio Otávio de Melo, o farmacêutico e poeta Benú da Cunha, e o mecânico e poeta Francisco Aires.

Não bastassem os literatos trabalhadores já citados, as fontes nos brindam com a seguinte lista:

Antônio Otávio de Melo, agente da Singer, Raimundo Petit, comerciante, Lívio Pacheco, funcionário público, Francisco Aires, mecânico, João Vieira Pinto, lavrador, Armando Madeira, caixeiro e, a posteriori, bacharel em direito, Roberto Lopes, padre, Jesus Martins, jornalista amador e comerciante, Benú da Cunha, farmacêutico, Edison Cunha, bacharel e professor, José Euclides de Miranda, delegado, Alarico da Cunha, caixeiro e, logo após, vice-cônsul português, Francisca Montenegro, normalista, Onesí Couto, normalista, e Oliveira e Ferres, funcionário público.

Nesse período – 1911 – R. Petit ensaiou parte de sua prosa através de crônicas, incomum à sua produção concentrada na arte do verso.

Estavam também no Auras do Norte, F. Oliveira Nunes, fundador do jornal literário O Aspirante em 1909 em Teresina, assim como Tote Narciso e, desde a primeira edição, Jonas da Silva.

Era tipografo responsável pela impressão do Auras do Norte, o repórter Américo Ribeiro, que também imprimia A Semana, em 1910, o periódico 19 de Outubro, de 1922; e O Popular, aberto em 1912, com estrutura comercial gerenciada pelo poeta Oscar Lopes Franco.

Do grupo de literatos com quem R. Petit compartilhava seus versos e sua dificuldades financeiras quanto à manutenção dos veículos que fundava ou dos quais participava como colaborador, Redator Chefe e em outros postos, alguns compuseram depois à Academia Piauiense de Letras, como Armando Madeira (cadeira 27, patrono: Honório Portela Parentes), Luiz de Moraes Correia (cadeira 22, patrono: Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco) e Alarico da Cunha (cadeira 6, 2° ocupante).

A todos estes intelectuais, no início do século XX, abriam-se poucas vias: vincular-se a interesses empresariais; propalar ideias políticas; lecionar em instituições públicas; ou servir em funções públicas, por exemplo, Inspetor de Ensino, cargo que Petit ocupou como se vai referir depois.

Ocupando estes espaços possíveis, explorando temas ligados às necessidades da praça empresarial, os poetas Armando Madeira, R. Petit, João Vieira Pinto, José Pires de Lima Rebelo, José Euclides de Miranda e inúmeros outros se empenharam em levar à imprensa reivindicações de melhoramento da infraestrutura de suporte da atividade econômica de Parnaíba. Armando Madeira, aliás, reuniu muitos de seus textos em volume que chamou Interesses piauienses (1920).

Na produção literária estes assuntos, aqui e acolá apontavam, inclusive porque eram também de interesse dos próprios intelectuais, imersos na vida da Parnaíba. Temas e reivindicações como melhoramento no rio Parnaíba para incremento da navegação, a interligação de Parnaíba e Amarração por ferrovia e a construção do porto de Amarração manifestam-se com alguma frequência.

 

O PIAUÍ

                                               R. Petit

Caboclo piauiense, meu irmão,

Pelo infortúnio e pelo coração;

 

Pescador do rio das Garças,

Praiano de Amarração,

Vazenteiro do Gurguéia

Boiadeiro do sertão:

Ouve o meu canto assim como se fosse

O ciciar sutil de uma oração.

 

De quem és filho?...

– Do Brasil gigante,

Poderoso senhor de quatro zonas,

Seus músculos de atleta são tecidos

Com a soberba borracha do Amazonas.

 

A pele que o reveste

É armadura de bronze, caldeada

Nas forjas causticantes do Nordeste.

 

Onde habita teu pai?

– Lá muito longe

Do meu ninho adorado.

– Então, tem paciência, meu caboclo,

Sempre hás de ser um filho abandonado!...

 

Longe do lar paterno, como vives,

Caboclo piauiense, como vês,

Milhões de vezes pedirás amparo,

Para seres servido uma só vez...

 

Pede, pois, até que um dia,

Teu papai já aborrecido

De tantas súplicas feitas,

Atenderá teu pedido.

 

Implora, pede teu porto,

Teu pai Brasil mora longe

E bem sabes o rifão:

Quem vive longe da vista,

Longe está do coração!...

Apesar de organizados em empresas e nelas defendendo interesses de infraestrutura comercial para o Norte do Piauí, estes literatos não tinha apoio comercial forte, o que implicava o fechamento e reabertura frequentes dos veículos e, ao mesmo tempo, impulsionavam a criatividade como se via em O Popular, primeiro a criar três preços diferentes para suas publicações: para pagamento mensal, trimestral ou em números avulsos. Aí já se via a concepção do sistema de “assinatura” de jornais, hoje amplamente instaurado.

O agrupamento destes intelectuais não estava restrito aos periódicos ou à publicação individual de peças e livros. Nos anos de 1900 até 1920 criavam-se inúmeros Grêmios Literários. Dentre eles, em maio de 1912, a Associação de Letras, tendo como presidente R. Petit e vice-presidente, F. Trajud. Entre outros membros, os poetas A. Freitas, Tote Narciso, bem como Oscar Franco e Rogaciano Brito.

Um pouco mais esquematicamente podemos apresentar ou ver R. Petit nos seguintes pontos específicos.

Em 1911, com o amigo J. Dutra, lançou o quinzenário Auras do Norte, qualificado como crítico, noticioso e literário cuja impressão era de responsabilidade da Tipografia Basto.

Em 1916 um fato que embora não se possa dizer comercial ou de natureza assemelhada é, sem dúvida, uma enorme demonstração de empreendedorismo.

Em fevereiro daquele ano, aos vinte e cinco anos de idade, R. Petit casou-se com Edelzuite Fiúza Chagas, de família parnaibana. Daí nasceram sete filhos: Hélios, Aglaé, Paulo Venicius, Maria Emília, Francisco Mucius, José Clóvis e Diana Dulce.

Morava em Parnaíba na Avenida Capitão Claro, esquina com Avenida Governador Chagas Rodrigues (antiga Rua João Pessoa). Nessa casa é que tinha o Professor José Rodrigues como vizinho. Aquele que em 1970 ainda mantinha um “balneário privado” em uma das lagoas de Amarração.

Depois, a casa, apesar de ter passado a ser dita “mal-assombrada”, foi adquirida por Olavo de Justo Pinho, cuja família ainda era proprietária em 2016.

1918 viu surgir a primeira fase de O Consolador, implantado por R. Petit em conjunto com Alarico da Cunha. A revista mensal deixou de circular cerca de três anos depois, voltando, no que se conhece em Parnaíba como a segunda fase, em 1923, quando foram agregados ao quadro de empreendedores os amigos J. B. Ramos e Antônio Otávio de Melo, passando a revista a ser órgão do Centro Espírita Perseverança do Bem e adotando, em decorrência da nova orientação, um lema de gosto discutível: “Fora da caridade não há salvação”.

O problema não era propriamente falta de caridade: era falta de dinheiro e, “fora” do dinheiro... nada de salvação.

As fases, nos periódicos parnaibanos, eram muito comuns. O mercado consumia avidamente, mas não tinha grandes patrimônios investindo em literatura, nem uma classe com renda que bastasse à preservação dos jornais e revistas que nasciam aos borbotões, de onde se justifica, por exemplo, o currículo da folha O Popular, semanário literário e noticioso de propriedade de Américo Ribeiro, com suas primeira, segunda, terceira e quarta fases, de 1912, 1914, 1915 e 1928, respectivamente.

R. Petit, com o amigo Sales Reis e alguns outros, instalou em 1919 O Nortista, mensário na linha de variedades: critico, noticioso e literário.

1926 foi o início de grandes projetos partilhados por R. Petit com o amigo Nestablo Ramos, iniciado com o Paláce Jornal (assim mesmo, com esse acento meio deslocado) lançado naquele ano, consolidado nos desenhos e pinturas de ambientação do Quiosque Japonês e renovado nas ilustrações do livro de poemas Nortadas de 1937. Nestablo Ramos foi desenhista, pintor e artista gráfico largamente acolhido e louvado em Parnaíba, sendo responsável por diversas montagens fotográficas que serviram de capa para o Almanaque da Parnaíba. O editor do Almanaque reconhecia tão fortemente o trabalho de Nestablo que, em 1942, não se conteve e incluiu na edição referência, elogio e agradecimento ao trabalho de produção da capa daquele ano.

Além de participar como fundador, sócio e Redator Geral destes jornais e revistas R. Petit tinha também uma confeitaria, instalada no mesmo prédio em que o amigo Nestablo mantinha o Cine Paláce, sendo a confeitaria formalmente chamada Quiosque Japonês, mas universalmente conhecida por Quiosque do Petit. Ainda voltaremos aqui, para as mesas e para o cafezinho de um tostão (para beber sentado e atendido por garçom).

Aí está o R. Petit trabalhador braçal, às voltas com jornais e revistas que fundava ou dirigia, nas quais ia aparecendo alguma produção poética.

 

IV

Encontrar o literato é um pouco mais complicado.

As empresas deixam marcas profundas em arquivos comerciais e fiscais do Estado, onde é fácil navegar.

O poeta tem que ser procurado entre as páginas soltas de revistas, jornais e livros que não constam de catálogos guardados em lugares específicos, mas estão dispersas no povo. Tão mais dispersas quanto mais popular tenha sido a marca deixada pelo escritor.

De novembro de 1910 a abril de 1911, em A Semana, foram doze sonetos de R. Petit:

Engano

Separação

Aniversário

O Amor

Vingança profana

A Orgulhosa

Saudade Paterna

Castelo do Amor

Amor de Mãe

Paixão infinda

Soberana

Sempre!...

Partida

Os nomes são encontrados em estudos superficiais que tratam a vida alheia como mera relação de datas e coisas. Os textos são menos reproduzidos e, às vezes, impossíveis de recuperar.

Também A Semana experimentou suas fases, voltando a circular em 1916 na mesma forma original de semanário político, noticioso e literário, de propriedade de Nestor Veras.

De abril a junho de 1911, no Auras do Norte, o que parece serem as únicas investidas de R. Petit em crônicas:

Auras do Norte

O Beijo

Linguagem da natureza

Seguindo a linha do tempo vamos encontrar em 1919 os versos do Hino do Parnayba Sport Club, com música do pianista, amigo e parceiro Ademar Neves. Aquele que em 1931 iria buscar o Petit no Quiosque Japonês para entregar a ele a Secretaria da Prefeitura.

O clube tomava o nome da cidade, fundada como Vila de São João da Parnaíba em 18 de agosto de 1762. A elevação à categoria de cidade se deu em 14 de agosto de 1844 e, no centenário desta elevação, em 1944, o hino do Clube seria adaptado transformando-se na Canção da Parnaíba, sob a mesma música de Ademar Neves. O poema foi publicado em “O Livro do Centenário de Parnahyba”, de 1944, página 349. A partitura tinha publicação contemporânea à composição e saíra no folheto Hymno do Parnahyba Sport Club, de 29/01/1919.

A Canção da Parnaíba foi oficializada como Hino da Parnaíba através da Lei Municipal nº 255, de 07/09/1963, sancionada pelo Prefeito Lauro Andrade Correia, publicada na “Folha do Litoral (do Piauí)” – assim mesmo com localizador entre parênteses –, em 14/09/1963, 3ª página.

 

HINO DA PARNAÍBA

                                               Ademar Neves e R. Petit

Ó Parnaíba!

Teu nome exprime

Em nosso peito

Ardor Sublime,

 

Que nos inspira a repetir a doce escala

Da voz do rio que te envolve e que te embala

 

Teus filhos bravos

No embate rudo

Fazem do peito

Um brônzeo escudo

 

E quem da luta

todo o ardor não liba

ao som do brado:

Salve ó Parnaíba

 

Possuis o brilho

da paz bendita

Que sobre nos

Fulge e palpita

 

Ao sopro forte do Nordeste a vida canta

Nessa oficina de labor que nos encanta

 

Do nosso esforço

Vem a surgir

A glória excelsa

Em teu porvir.

 

E quem da luta

todo o ardor não liba

ao som do brado:

Salve ó Parnaíba

 

A doce sombra

Da paz suprema

Progredir sempre

É o nosso lema.

 

Onde a bravura destemida, enfim assome,

Nos lembra o rio que te deu tão grande nome

 

Teus filhos bravos

No embate rudo

Fazem do peito

Um brônzeo escudo

 

E quem da luta

todo o ardor não liba

ao som do brado:

Salve ó Parnaíba

Sobre o hino registra-se flagrante exagero e bairrismo manifesto nas palavras de Alcenor Candeira Filho, da Academia Parnaibana de Letras. Tratando da produção de R. Petit diz que o Hino da Parnaíba “é uma das mais belas composições cívicas do Brasil”. Dos comentários do Acadêmico resulta flagrante que seu entusiasmo decorre, não da letra, mas da música. Esta, segundo ele, supera fortemente outros hinos que não contam com “recursos sonoros essenciais em obras dessa natureza”. Depois, Candeira celebra as “características marciais e solenes, traduzidas na retumbância de sons de clamor”, coisas que, infelizmente, a letra não é capaz de transmitir.

Vencido o comentário do Acadêmico e motivados pelo flagrante ufanismo deste, pode-se pretender que a simples composição de um hino mostre, já em 1919, o caráter romântico de R. Petit.

Talvez isto esteja certo. Mas o fato é que Petit era torcedor do Parnaíba Sport Club, como muita gente hoje torce pelo Flamengo, por Dória, pelo Luciano Huck ou por outra coisa. Compor o hino pode ser apenas o emprego da capacidade poética em benefício do time preferido, sem envolver a exacerbação patriótica romântica, razão porque não queremos partir, já de 1919, classificando nessa escola o nosso querido R. Petit. Isso vai aparecer pouco tempo depois, como será referido logo a seguir.

A coletânea poética Ante os Abismos da Vida, de obras de R. Petit preparada pelo próprio Autor, foi publicada em 1924, impressa em gráfica de Fortaleza, no Ceará. 

No mesmo ano de 1924, Benedito dos Santos Lima – Bembém – fundou o Almanaque da Parnahyba, anuário literário e comercial que hoje ainda circula, em cujo primeiro número R. Petit publicou Variedades, que havia sido escrito no ano anterior e representa uma das visitas que o poeta se permitiu a temas brincalhões.

 

VARIEDADES (1924)

                                               R. Petit

Em português, ninguém venceu o Dimas,

Foi ele o grande herói em tal matéria.

Em francês, conquistou grau dez o Zeca

– O pançudo mulato da Valéria.

 

Agora, o Carlos Vale, em geografia,

Quando o Job perguntou-lhe: – meu rapaz,

Qual o rio que banha a capital

Do futuroso Estado de Goiás?

O Vale embatucou de tal maneira

Que até quase desmaia na cadeira!...

 

Para amparar, porém, o companheiro,

O bom Dimas, a rir, lá da outra banca,

Mostrou-lhe os ramos do fio VERMELHO

Feito no cós da ceroulinha branca.

 

O Vale, então, a calma recobrando,

Disse logo com voz animadoura:

Dentre os rios de todo este Brasil

É banhado Goiás, pelo celoura.

No entanto publicou também Judas, soneto que se mantinha ainda ligado à brincadeira – malhação do judas –, mas está composto em tom bem diferente, mostrando já agora duas linhas que seriam uma constante na obra de R. Petit.

Primeiro: a forma de soneto, utilizada na grande maioria, quase totalidade, da poesia de Petit. A forma fixa em quatro estrofes, as duas primeiras em quadras (ou quartetos), e as duas últimas em tercetos, ou blocos de três versos cada.

Segundo: a linha nitidamente romântica e, dentro desta, a crítica de costumes em que o poeta sempre apontará a degradação moral que entende observar e vivenciar permanentemente na sociedade em que está imerso. R. Petit não irá encontrar em sua poesia a realização do final bom idealizado. Ao contrário, aquele final estará sempre frustrado pela perversidade dos que são objeto de seu foco poético – pessoa ou sociedade.

É uma postura de tristeza permanente, pessimismo e lamentação, forte na segunda fase do romantismo que chega a ser chamado de ultrarromantismo – o mal do século –, firmemente ligado a Byron.

Porém, Petit mais me parece estar, nessa época, em uma transição entre o romantismo e o realismo, igual se vê, por exemplo, no maranhense Aluísio Azevedo, cujo Uma Lágrima de Mulher de 1879, trazendo o personagem masculino com os devaneios do romantismo gravemente assentados na personalidade e ainda capaz de morrer de amor, como de fato morre; a ele contrapõe a degradação de costumes do personagem feminino; para depois, em O Mulato, de 1881, firmar-se em três personagens masculinos de corte nitidamente realista, contando apenas com resquícios do romântico no personagem feminino sem, contudo, dar a este o ranço da decadência e conferindo a ele uma capacidade de adaptação marcadamente realista; tudo que se consome na mais absoluta realidade em O Cortiço, de 1890.

Observe-se que a transição operada no final do século XIX é, na régua dos movimentos de arte e neles o da literatura, contemporâneo ao que o poeta teria a desenvolver nos primeiros dias do século XX. Demais, Aluísio estava em São Luís do Maranhão em O Mulato, e Petit em Parnaíba sempre. Tempo e espaço semelhantes.

É possível que se esteja cometendo uma terrível injustiça contra R. Petit, julgando o todo de sua obra a partir de uns cinquenta ou menos poemas, que foi tudo que conseguimos ler. Talvez os livros inéditos Taberna dos Sentimentos, Acendalha, Ronda do Tempo ou Búzio de Tritão; ou mesmo a poesia publicada a que não tivemos acesso, Ante os Abismos da Vida, Livro de Miss Piauí, ou o teatro Noites Sertanejas mostre coisa diversa.

Se R. Petit teve tempo, como Aluísio Azevedo, para completar a travessia... desculpa aí Raimundo. Seu neto não é má pessoa. Só não teve fontes suficientes.

Aí vai o soneto:

 

JUDAS (1924)

                                               R. Petit

Antes de vir o Sol, a vila já alarmada,

mostra em cada garoto um grande espadachim,

que anda de rua em rua, em louca disparada,

atrás de um Judas vil, de crânio de capim;

 

De um Judas moleirão de cara amarrotada,

de pança desconforme e cheia de estopim,

que liga um buscapé a uma bomba encerada,

pronta para estrugir, em honra do festim.

 

Num bulício infernal, a garotada infrene,

espera com prazer, do sino a voz solene

para então reduzir em cinzas o espantalho!...

 

E os vampiros reais, os judas elegantes,

vivem sempre a cantar, como viviam dantes,

desdenhando do Bem, da Vida e do Trabalho.

Como se disse, há características românticas de sobra, principalmente no segundo terceto. Esta mesma característica estará óbvia na composição mais vezes publicada e mais citada de R. Petit, Papagaios de Papel que teremos oportunidade de mostrar adiante.

O mesmo Benedito dos Santos Lima, criador do Almanaque da Parnaíba, serviu para nomear a publicação O Bembém em cuja edição de 21 de agosto de 2008 (ano 1, nº 8, p.5) o escritor Benjamim Santos publicou uma seleção que ele próprio fez, de poemas de R. Petit.

Estavam ali Judas, transcrito acima e O Homem que originalmente fora publicado em 1925 no Almanaque da Parnaíba. Nesse ano o Almanaque publicou apenas este quarteto escrito por R. Petit no ano anterior.

 

O HOMEM (1925)

                                               R. Petit

Garboso rei supremo das quimeras,

Que vieste, por momentos, como eu vim.

A este orbe, onde por grande que pareças,

Um dia hás de ter sempre o mesmo fim

 

que têm as borboletas, os vampiros,

as lesmas, as serpentes e os abutres.

No entanto, à luz de exemplos tão frisantes,

somente de vaidades, enfim, te nutres.

 

Se comercias, ninguém mais honesto

no serviço do peso ou da medida.

Tens filho? — Hás de supor que os teus parecem

as almas mais perfeitas desta vida.

 

Contudo és grande: regulaste o tempo,

mediste a terra, devastaste o espaço.

Tudo tens feito aos rasgos do teu gênio

seguido pela força do teu braço.

 

E assim te elevas, orgulhosamente.

Do mundo gozas todos os conceitos.

Tudo sabes fazer, mas, por desgraça,

não sabes conhecer os teus defeitos!

 

Baixa, pois, desce até chegar aos vermes.

Busca o teu nível, sofre e te consola.

Não julgues nunca que és alguma cousa

diante do pobre que te pede esmola.

 

Humilha-te, portanto, ante os humildes.

Sonda tua alma, purga os teus pecados.

“Os que se humilham neste mundo, no outro

serão pelos feitos exaltados”.

A continuidade da contribuição de R. Petit no Almanaque da Parnaíba traz, em 1926 e 1927, uma dificuldade de classificação das obras publicadas às quais, infelizmente, não tivemos acesso.

Teria sido fácil ver as publicações. Conseguimos contato que nos abriria acesso aos exemplares dos dois anos do Almanaque. Mas o Corona vírus, sempre ele, nos trancou em casa e não pudemos ir a Parnaíba, onde não só os dois anos do Almanaque, mas esperam por nós todos os volumes, do primeiro ao mais recente.

Mas, voltando ao que dizíamos, a dificuldade é de classificação do que foi publicado.

Croquis no anuário de 1926, e as doze produções estampadas no Almanaque de 1927, cada uma delas com o nome de um dos meses do ano, Janeiro, Fevereiro, Março e assim até Dezembro, estão classificadas por diversas fontes na categoria de “cromos”.

Em artes gráficas chama-se “cromo” a arte-final, ou “past-up”, que é a montagem da composição gráfica que se quer imprimir, pronta para ser fotografada sobre a chapa de impressão, hoje em offset ou processo similar. Para R. Petit e seus contemporâneos, na clicheria, linotipo ou componedor, conforme fosse. O cromo pode ter apenas texto, apenas imagem, ou a combinação dos dois.

Sendo aquilo o cromo, por metonímia passou a ser chamado de “cromo” o próprio material gráfico impresso a partir do modelo ou arte-final, desde que formado por texto e imagem. Com este nome foram popularizadas as estampas coloridas massificadas nos álbuns de “figurinhas”, inicialmente chamadas “cromos”, e ainda hoje por quem seja mais tradicionalista.

Se este é o caso da produção de R. Petit em 1926 e 1927, é possível que se constitua em textos poéticos curtos combinados com desenho ou ilustração, que não se pode deixar de imaginar seriam do sempre presente Nestablo Ramos. Cada cromo estaria, então, posto na abertura de cada um dos meses do calendário que sempre abre o Almanaque. Invariavelmente as primeiras páginas do anuário, depois do expediente e identificações de costume, trazem um texto para cada mês do ano, sempre versando o tema escolhido para aquela edição.

No Almanaque de 1942, por exemplo, há o nome de cada mês seguido da identificação do santo católico de cada dia, completando o que seria o “cromo” específico daquele mês. Em seguida ao cromo, de janeiro a dezembro, “Fatos da História Piauiense” colhendo acontecimentos históricos verificados no respectivo mês.

Seria conveniente examinar os originais dos “cromos”. Se é o que estamos imaginando, teríamos, da lavra do nosso poeta, alguma coisa talvez parecida com o que chamamos de haicai.

Se estivermos certos quanto ao que sejam os “cromos” de R. Petit publicados em 1927, deveríamos trazer para esta mesma categoria as produções que Caio Passos, da Academia Parnaibana de Letras, classifica como “Postais”.

Desta nova categoria – postais – encontrou-se, sem data de publicação, uma série composta por apreciações sobre um tema fixo.

Mulher

É um poema mais lindo do que o mar,

Quem o lê vive cantando

Ou aprende logo a chorar.

 

Mulher

É uma taça finíssima de cristal

Não há quem sorva o líquido da taça

Sem sentir o trato de um veneno mortal!

 

Mulher

É um mágico instrumento sedutor

Que a mão do Homem fez vibrar, criando

Toda a escala cromática do Amor!

 

Mulher

É um verdadeiro céu da humanidade,

Mas quando o céu se turva e os raios descem

Ninguém vence o furor da tempestade!

 

Mulher

É um astro de força indefinida,

Atrai a si inúmeros satélites

No giro que descreve ao longo desta vida.

Mas é preciso ver que essa identificação do que sejam os “cromos” não pode ser concluída tão simplesmente, porque o mesmo Caio Passos que identifica os tercetos acima como “postais”, os quais segundo vimos entendendo seriam “cromos”, chama por este mesmo nome produções que são, sem nenhuma dúvida, sonetos, e faz essa nomeação ao trazer poemas que diz “salpicados de humor”:

 

A LÓGICA DA PRECAUÇÃO (1930)

                                               R. Petit

A Julica e o Nicanor

Amavam-se, loucamente,

Um dia, o moço, imprudente,

Pediu um beijo de amor.

 

E insistiu – Deixa, consente...

Um beijo não tem valor!

Logo, a moça, bruscamente,

Disse a tremer de pudor:

 

Não!... Minha boca humilhada,

Em sua boca não pousa...

Se um beijo não vale nada,

 

Como você mesmo atesta,

Não vou lhe dar uma cousa

Quando esta cousa não presta.

 

 

APARÊNCIA (1930)

                                               R. Petit

Palma... Oh de casa... oh de fora,

Quem bate? É o João da Luzia,

O que? Vem chegando agora?...

Pode entrar... vem cá, Maria...

 

E a cabocla cor de aurora,

Recebe-o, como queria,

Estão sós. Valeu a hora!

Beijam-se em mútua porfia.

 

Logo, a velhinha prudente,

Corre à sala de repente,

A temperar a garganta,

 

Entra e vê os namorados,

Serenos, distanciados...

É um justo olhando uma santa!...

Parece que vamos ter que ficar devendo a identificação do que sejam os tais “cromos”.

Assumindo este “débito” vemos que, enquanto 1927 trouxe cromos em todos os meses da agenda, em 1928 o Almanaque publicou quatro sonetos, nomeados pelas estações do ano: Inverno, Primavera, Verão, Outono. Além disto, também publicou Atualidades, outro soneto.

Encontramos o soneto Inverno reproduzido no Panorama Estudantil, órgão do Centro Estudantal Parnaibano (assim mesmo, estudantal, e não estudantil) de junho de 1939, acompanhando comentário do poeta cearense Paixão Filho sobre a obra de R. Petit.

 

INVERNO (1928)

                                               R. Petit

O inverno no sertão, que cousa boa!

Na casa da fazenda, que alegria!

Na melhor baixa eis a melhor lagoa,

Que a gente busca ao despertar do dia.

 

Na roça o milharal, disposto à toa

Encobre a verde e densa ramaria

Do alvo feijão e, enfim da melancia,

Que o afanoso aldeão presa e abençoa.

 

No curral sempre o leite (e que franqueza!)

Na mesa a feijoada; e a macaxeira

Acompanha o café da sobremesa...

 

E o canto da roceira, ao som da enxada,

Faz com que a gente de qualquer maneira

Despreze o leito às três da madrugada.

Ainda em 1928 no semanário comercial e literário A Praça fundado no ano anterior por Benedito dos Santos Lima, circulou em 1º de novembro mais um soneto: Moda Bárbara.

Livro de Miss Piauí, segundo livro de poesias de Petit, foi publicado em 1929, impresso em Teresina, na gráfica da Imprensa Oficial.

Dois sonetos saíram no Almanaque da Parnaíba de 1929: O Patriotismo e Nuvens e sombras, ambos escritos em 1928; acompanhados de Selas e Selos, este em quartetos.

Patriotismo foi escrito a propósito da abertura, em 1928, de todo o comércio de Parnaíba no dia 13 de maio – abolição da escravatura, tida por R. Petit como uma das maiores datas nacionais.

Seguem os dois sonetos publicados em 1929.

 

PATRIOTISMO (1929)

                                               R. Petit

Como se educa um povo que precisa

Saber honrar a pátria idolatrada?

Será vivendo em mangas de camisa,

Pesando babaçu, cera e mais nada?

 

Será vivendo em lubrica pesquisa,

Trilhando, do interesse, a negra estrada;

Esquecendo o passado, a história ousada

Dos vultos que esta pátria diviniza?

 

Se assim é, viva o povo interesseiro,

Em vez de escolas, abram-se bazares,

Em vez de Amor e Pátria, haja o dinheiro...

 

Depois disto em um gesto varonil,

Rompam-se, alegre, em todos os lugares,

Os compêndios de História do Brasil.

 

NUVENS E SOMBRAS (1928)

                                               R. Petit

Nuvens... Sombras dispersas pelo espaço,

Que o vento, às vezes, para o além desterra,

Sombras... Nuvens que passam sobre a terra,

Seguindo, fielmente, o nosso passo.

 

Sombras... Além do vale ou além da serra...

Nuvens róseas, azuis ou de ouro baço...

Nuvens de dor que este meu peito encerra

Sombras que dormem sobre o meu regaço.

 

E o sol do Amor, divino eleito,

Quando virá, radiante de beleza,

Vencer as sombras densas de meu peito?

 

Oh! Vento da Alegria, bem com calma,

Levar as nuvens negras da Tristeza

Que pesam sob o céu desta minh’alma.

1930 é o ano em que secou a fonte que – trancados em casa –, tínhamos no Almanaque da Parnaíba. Mas ainda encontramos referência de ali ter sido publicado o soneto Hibernal.

Entretanto, perdido o Almanaque, outras fontes referem a outras produções de R. Petit. No mais das vezes referem ao ano de publicação, mas não indicam o veículo, como se vê nesses sonetos.

 

O CANÁRIO DE BERTHA (1931)

                                               R. Petit

Júlia tinha um canário, tu bem viste,

mas Bertha tinha um outro extraordinário

que muitas vezes o seu canto ouviste

como se fosse um sonho imaginário.

 

Júlia tratava os dois de modo vário!

Tanto assim que o de Bertha fez-se triste

porque ela dava alpiste ao seu canário

dando arroz ao de Bertha em vez de alpiste.

 

Como o canário original de Bertha,

entristeci, vendo na vida incerta

esse grupo de cínicos que existe,

 

que estende a mão de amigo sendo algoz,

vão criando canários com arroz

e alimentando amigos com alpiste...

 

FASES DO ANO (1934)

                                               R. Petit

Janeiro! Eleva-se o rio.

Fevereiro — alaga os campos.

Março e Abril! Noites de frio,

bordadas de pirilampos.

 

Maio! Festa... sacramentos.

Junho — geme o órgão dos ventos,

buscando o luar de agosto.

 

Setembro e Outubro. É o verão.

Novembro, espalha alegrias

nas praias de Amarração.

 

Natal! Dezembro. O ano expira.

Trezentos e muitos dias

só de ilusões ... de mentira!

Em Nortadas, livro de poemas ilustrado com desenhos do sempre amigo Nestablo Ramos, publicado em 1937 no Rio de Janeiro pela Irmãos Pongetti, viu-se pela primeira vez o que se tornaria o poema mais vezes publicado e mais citado de R. Petit:

 

PAPAGAIOS DE PAPEL (1937)

                                    Aos vaidosos

                                               R. Petit

Quando eu era pequeno, venturoso,

Meus lindos papagaios empinando,

Dizia: – Não há nada mais pomposo

Que um papagaio de papel voando.

 

Cresci!...

 

Hoje, tristonho, pesaroso

Esses brinquedos de papel, olhando,

Logo descubro o vulto carunchoso

Dos que sobem a tudo se apegando.

 

Tipos que sobem de alma feita em trapos,

Mostrando ao mundo, despreocupados,

Uma cauda nojenta de farrapos.

 

Tipos de Nulidade tão cruel!

Que só sabem subir encabrestados

Como esses papagaios de papel.

Petit continuou produzindo muito, com sua característica de fazer poemas entre um despacho de cera de carnaúba e outro.

Agora, enquanto ocupava em duas administrações seguidas a Secretaria da Prefeitura de Parnaíba, publicou:

 

SAUDADE (1941)

                                               R. Petit

Eu vivo como o mar, bebendo os rios,

rios da Dor que crescem, com certeza,

em meu ser, quando o inverno da Tristeza

chega e vence ao cair dos tempos frios.

 

Eu vivo como os pássaros sombrios,

dos quais a tempestade em luta acesa

roubou dos ninhos frágeis e macios,

isolando-os da própria natureza.

 

Eu vivo como as águas das cascatas

que a força eterna de um tremendo fado

desfia em prantos no painel das matas.

 

Eu vivo sem viver, esta é a verdade,

pois não pode viver um torturado

que se alimenta apenas da saudade!...

 

DEIXEM!...

                                               R. Petit

Deixem que eu viva ao léu como um rochedo

Sobre a praia sem fim: ermo, esquecido,

Frio, imóvel, tristonho, adormecido,

Como se fosse a imagem de um segredo.

 

Deixem que viva assim como o arvoredo

Da margem de uma estrada, aos céus erguido,

Que o viandante ao passar, fere, sem medo,

Rouba um galho! e se afasta distraído.

 

Que eu seja a sombra humilde dos ascetas.

Deixem que eu sofra!... A dor em que me inundo,

Gema na voz da lira dos Poetas.

 

Se eu vivo entre emoções e fantasias,

Pois deixem que eu me acabe pelo mundo,

Em soluços, em preces e harmonias...

O coitado do Petit não podia imaginar que dali a pouco seria posto “ao léu como um rochedo”. Mas isso fica pra um pouquinho mais adiante.

 

V

Como se tem dito algumas vezes, R. Petit era empresário. Comerciante. Nesta condição mantinha, como também já vimos, uma confeitaria, instalada no mesmo prédio em que o amigo Nestablo Ramos mantinha o Cine Paláce, sendo a confeitaria formalmente chamada Quiosque Japonês, mas universalmente conhecida por Quiosque do Petit, ornado por desenhos de Nestablo Ramos.

Ficava na Rua 28 de Julho, hoje Calçadão da Marechal Deodoro, esquina da Rua Pires Ferreira, onde hoje está o Edifício Pedro Alelaf. Na época era onde funcionava o Cine-Paláce, de Nestablo Ramos. O cinema tinha como operador Manoel Linhares, depois substituído por Marinheiro. Sendo cinema mudo a fita era acompanhada por “orquestra”, formada por quatro músicos: Hermes Magalhães, Benedito Jacó e os irmãos José Palhaço e Pedro Palhaço.

O Quiosque do Petit era ponto de reunião da intelectualidade, principalmente à noite, quando estavam ali Edson Cunha, Bembém, Lily Pery, Francisco Ayres, Joel de Oliveira, Alarico da Cunha, Benu Cunha, Jesus Martins, Rodrigues Pinaré (que fazia sonetos e quintetos sem vogais), Godofredo Correia Lima, Eduardo Saldanha e, dentre outros mais, Cazuza Porto que advertia sempre: “Você precisa é ter uma faca. Homem sem faca é como galo sem esporões, até galinha dá nele”. A gargalhada era garantida sempre.

A propósito de Rodrigues Pindaré: fazia sonetos sem vogais!

Não é bem o que parece. Chamavam-se assim as composições poéticas que excluíam uma determinada vogal. Um soneto inteiro sem a letra “a”, ou sem a letra “e”, e por aí vai.

Dizem que por espírito de concorrência com Pindaré, Petit teria composto alguma coisa neste modelo. Na verdade, parece que a produção foi o resultado de um “desafio entre camaradas”, saindo da pena de Petit cinco sonetos sem vogais. Infelizmente não encontramos estes poemas. Mas encontramos o último terceto do quinto soneto, encerrado pela indicação dos cinco motes utilizados que teriam sido propostos por Pindaré.

E se este ser me prende e me consome

Deste ser mais venero e inda mais amo,

O corpo, o riso, o olhar, a fala, o nome.

No Quiosque, além de café a um tostão servido na mesa para beber sentado como já se disse, servia-se poesia, charada, piada sarcástica e todo tipo de bobagem que um bando de homens pode produzir quando se reúne sem a presença de mulheres. Naquele tempo, claro, muito mais comedidamente que hoje.

Petit chegava a apresentar ali poemas ainda inéditos, no curso das tertúlias, como foi o caso de Solidão.

 

SOLIDÃO

                                               R. Petit

Solidão! Voz do além, canto da esfera,

Prece dos astros, luz do sol poente,

Riso de flor no fim da primavera,

Hálito d’alma de um poeta crente!

 

Alma da noite, estática e sincera,

Coração da floresta seducente,

Ninho da paz onde a virtude impera,

Suspiro do luar opalescente!

 

Imagem da saudade adormecida,

Altar da poesia sedutora,

Flor da tristeza do jardim da vida;

 

Tu és, oh imensurável solidão,

A fonte onde minh’alma sofredora

Vive sempre a beber inspiração...

Caio Passos diz haver presenciado essa avant première de Solidão e informa que Petit teria afirmado que o soneto comporia o livro Búzio de Tritão. Caio Passos diz ainda que Petit teria se referido ao Búzio como o que seria seu segundo livro. Se isto é fato, ficaria estabeleceria que o Quiosque do Petit funcionou em algum tempo entre 1924, quando foi publicado Ante os Abismos da Vida, o primeiro livro, e 1929, quando saiu Livro de Miss Piauí que acabou sendo o segundo livro de Petit, considerando a hipótese de Tritão ter sido deixado pelo poeta para mais adiante.

Mas o Quiosque ainda funcionava em 1931, porque nesse ano é que Petit foi “pescado” lá para ir assumir a secretaria da prefeitura.

 

VI

Ainda precisamos dar conta do Petit Inspetor de Ensino, ocupação a que referimos muito acima, quando ainda estávamos tratando da diversidade de atividades do poeta.

O Inspetor de Ensino chegou ao Piauí junto com o Alvará de 3 de maio de 1757 que criou as duas primeiras escolas primárias do Piauí, na Vila da Mocha, depois elevada a cidade com o nome de Oeiras, depois primeira capital do Estado.

Interessantes estas duas escolas: uma, ensinar a Doutrina Cristã, ler, escrever e contar, aos meninos. A outra, Doutrina Cristã, coser, fiar, fazer rendas etc., às meninas.

A posição do Inspetor Escolar envolvia um sem número de capacidades e, principalmente, certo apego à educação e à formação dos alunos.

Em alguns casos, pessoas confundem o Inspetor Escolar com o Inspetor de Alunos. Eram duas coisas bem diferentes.

O Inspetor de Alunos, cargo tão antigo quanto o outro, foi muito utilizado pelo Estado Novo getulista, orientado no sentido de vigiar de perto cada aluno, bem ao gosto da ditadura fascista desejosa de controlar inteiramente o indivíduo, inclusive desde muito cedo. Depois, também a ditadura militar de 1964 fez uso intensivo desses inspetores, antipáticos como o Sandes e o Dagmar, que na segunda metade dos anos de 1960 azucrinavam os alunos no Colégio Estadual Zacarias de Gois, o Liceu, em Teresina.

Estes antipáticos não eram criação de Getúlio. Apenas foram muito utilizados por ele e por todo sistema abusivo posterior. Já haviam sido comparados, por exemplo, a um porco, como se vê n’O Ateneu de Raul Pompéia.

João Numa, inspetor ou bedel, baixote, barrigudo, de óculos escuros, movendo-se com vivacidade de bácoro alegre, veio achar-me indeciso, à escada do pátio. “Não desce, a brincar?” perguntou bondosamente. “Vamos, desça, vá com os outros.” O amável bácoro tomou-me pela mão e descemos juntos.

O pobre do João Numa até tentava ser legal, ocupando-se com o ânimo pessoal, e íntimo, dos alunos. Mas, na visão destes últimos, só via a situação de cada um porque estava olhando, vigiando.

Contrariamente a esse “amável bácoro”, o Inspetor de Ensino ocupava cargo de natureza técnico-científica (DASP, processo 3.816-25). Não vigiava ninguém, senão a qualidade do ensino ministrado.

Há quem pense que se tratava apenas de comparecer periodicamente a alguma escola, fazer umas perguntas cretinas aos alunos e ir embora. Não era assim. O Inspetor fazia mais perguntas aos professores que aos alunos. Devia relatar o nível de preparo e de dedicação de cada mestre, assistir aulas e corrigir falhas pedagógicas, observar e incrementar a ligação entre a escola e a comunidade onde estava, principalmente quanto aos pais dos alunos. Depois disto, ainda tinha que verificar a suficiência dos meios físicos postos à disposição da escola inspecionada.

Pois bem: Petit era Inspetor de Ensino.

Responsável por parte da zona Norte do Estado, certa vez fazia inspeção em Esperantina, onde morava o poeta Antônio Sampaio. Este correligionário de R. Petit conta:

Concluída a inspeção na cidade, Petit requisitou à Prefeitura – Prefeito Antônio Diniz Chaves –, transporte e outros meios para a inspeção pelo interior do Município.

Recebeu um cavalo e os complementos necessários pra andar no bicho, além do guia responsável por orienta-lo pelos caminhos perdidos dos matos. O acompanhante veio e foi apresentado como sendo o “negro Pachola”.

Petit não brincava com escravidão. Havia gritado alto em Patriotismo porque abriram o comércio de Parnaíba num 13 de maio, uma das maiores datas nacionais, dizia.

O “negro” imediatamente virou “pajem” e com esse título frequentava todas as repetidas vezes em que Petit contava e recontava essa história, divertindo-se e, na maioria das ocasiões, provocando gargalhadas no final.

Pachola era um tipo leve, de físico e ânimo. Conversador, brincalhão e imitador de tudo quanto havia no mundo, ou pelo menos no mato: “chorava” como Juriti, gritava como papagaio, “botava cachorro em raposa” latindo alto, fazia mil.

Petit não era exatamente um sujeito expansivo. Não consta que fosse mal-humorado, mas era pacífico, mais pra pensador que pra falador. Mas não se aborrecia com os trinados, uivos e latidos do Pachola.

O pajem, além de assoviar e gritar, às vezes desaparecia entre as moitas ou nos capões de mato e ficava sumido por um tempo. A princípio Petit teve algum receio, mas logo entendeu a utilidade daquilo porque, além de não se afastar a ponto de submeter o Inspetor a qualquer risco, Pachola vinha do mato com algum preá, um inhambu ou bicho parecido que não só ele, Pachola, mas também o poeta podia comer, melhorando um pouco o passadio de quem se aventura nas brenhas, pra onde só se leva comida seca. Charque é um luxo, rapadura um tranquilizante e farinha a base.

Lá pelo segundo dia Petit já conversava um pouco e, muito espaçadamente, já ensaiava um leve sorriso frente aos procedimentos ou conversas fiadas do Pachola.

Indo já muito dentro do sertão, Pachola sumiu outra vez.

Petit continuou andando por um caminho que era um pouco mais largo que as trilhas habituais. O cavalo já podia andar sem um controle muito atento e sem que as mangas do paletó do cavaleiro encontrassem espinhos e garranchos nas beiras do caminho.

Caminho mais largo... chegando a uma leve curva Petit ouviu a buzina de um carro!

Difícil, mas não impossível, como a homonímia entre ele e o pai.

O cavalo foi prontamente contido no freio e puxado mais pra dentro do mato.

Espera, espera, e nada do carro passar. Vamos em frente.

Adiante, mais outra curva, nova buzina de carro. Para o cavalo, puxa pra dentro do mato, espera o carro que não vem, volta a andar.

E a coisa tanto se repetiu que Petit resolveu parar mesmo e esperar o reaparecimento do Pachola pra manda-lo ir um pouco à frente prevenindo uma trombada com o carro que buzinava mas não passava.

Estava ali quieto no cavalo e este quase dentro do mato, aparece finalmente o Pachola.

– Ôh Pahcola, onde anda esse carro que buzina e não aparece nunca? Vai na frente pra ver.

– Nhôr?

– O carro Pachola, que já buzinou diversas vezes e não aparece. Vai ver o que é.

– Nhôr? A buzina?

– Sim, a buzina:

– Nhôr não, dotô, era eu brincando de ser “automove”.

Um riso inocente invadia o rosto inteiro do Pachola. Lábios, olhos, trejeitos, tudo no Pachola ria numa inocência de querubim. Petit parou de cismar, parou de tanto pensar e entregou-se a uma gargalhada que o mato nunca tinha ouvido.

Tornaram-se camaradas. O pajem em Esperantina, o poeta em Parnaíba, aqui e acolá se encontrando nos matos de Esperantina onde cachorro acuava raposa ao meio dia e carro buzinava nas veredas.

 

VII

Mas temos que voltar ao poema Deixem.

Deixem que eu viva ao léu como um rochedo

Pouco tempo depois dele, Petit sairia de Parnaíba e não voltaria mais. A família ficou e se virou como Deus foi servido.

Essa saída de Petit de Parnaíba tem linhas muito pouco claras. Mas há uma certeza: são duas versões, ou duas maneiras distintas de ver a mesma coisa.

Na família há uma história nunca totalmente contada de que Petit teria sido expulso de Parnaíba depois de receber um diagnóstico de hanseníase, que dita assim, com esse nome, não assusta ninguém. Mas com o nome de Lepra assustava muita gente em Parnaíba onde estava instalada a Colônia do Carpina, hospital ou algo muito parecido com um centro de isolamento compulsório para os pacientes da hanseníase.

Em Parnaíba um diagnóstico de lepra correspondia a uma sentença de prisão perpétua porque ainda não se dispunha de nada que controlasse a doença – depois veio a Talidomida que controlava a doença mas geraria uma infinidade de crianças malformadas. Além de não haver remédio, havia a maldição Bíblica que contava mais de dois mil anos, era terrível, e apoiava a conduta médica, sob a concepção de que a doença seria insuportavelmente transmissível e impossível de controlar por atitudes não farmacológicas. Dois mil anos de má fama não são dois dias.

Genu Aguiar de Moraes Correia, parnaibana, autora do livro A Mulher e o Tempo, conta (fls. 283/287) casos escabrosos de uso do diagnóstico de lepra – real ou inventado – para expulsar pessoas de Parnaíba, tendo sido vítima mesmo o Desembargador Cristino Castelo Branco, cuja filha “acusaram” de leprosa. O cara aposentou-se aos 55 anos e foi-se com os diabos (e com a família), morar no Rio de Janeiro.

Então: a família diz que Petit recebeu o diagnóstico e logo em seguida a visita de Mirócles Veras que era Prefeito, médico e chefe de Petit – na época Secretário Municipal.

Com todo esse poder Mirócles teria expulsado Petit da cidade.

Mas parece que não teria sido uma expulsão claramente declarada. Mirocles acenou a Petit com alternativas e consequências: poderia ficar em Parnaíba e ser recolhido “preso” logo no dia seguinte pela manhã, uma vez que a doença era de notificação obrigatória às autoridades de saúde do Estado, e o procedimento era internar incondicionalmente o doente na Colônia do Carpina, de onde ele não sairia nem morto, pois o sepultamento dos pacientes mortos era feito no próprio hospital, instalado em terreno amplo onde havia muito espaço pra este fim.

Como consequência, a família seria socialmente isolada, os filhos perderiam os empregos que tivessem, as filhas perderiam os namorados, noivos e o que mais tivessem e jamais recuperariam ou teriam qualquer pretendente. A mulher passaria a presenciar o sofrimento dos filhos que, ademais, seriam impostos a ela própria.

Vamos combinar: esse Mirócles era um cara legal.

E era e se achava mesmo. Ele foi legal mesmo porque, se não fosse ter essa conversa amistosa com o Petit ele não teria tido tempo de correr.

Mas teve, e correu.

Há quem diga que um dos filhos teria acompanhado o poeta até a estação do trem, alta madrugada, apenas com uma pequena mala, escondendo-se nos vãos das portas e nas colunas da estação e mais uma infinidade de complementos horríveis. Talvez isso tenha acontecido, mas não há identificação de qual dos filhos teria cumprido essa função de coiteiro. O fato é que o “criminoso” fugiu. E sumiu.

Outra versão é a que está registrada em notas na Academia Parnaibana de Letras, em uma homenagem ali prestada a R. Petit.

A linguagem utilizada nas notas é um pouco antiga e na reprodução do texto que vimos havia alguma coisa de erro que, tudo indica, não estava no original. Mas vamos corrigir alguma coisa (alguma incongruência vai passar) e transcrever o texto porque as palavras empregadas servirão para compatibilizar as duas linhas de apreciação.

Diz o Acadêmico:

E foi nessa árdua missão de bem servir a dois ilustres Prefeitos, que o inolvidável Petit, sentiu-se doente.

Algo de apreensivo dançava em seu espírito, espírito que sempre viveu embalado de sonhos e poesia.

Mirócles Veras, homem de coração grande e generoso, como médico e como prefeito, mandou seu modelar auxiliar, o trovador exuberante, por conta da municipalidade, fazer um tratamento especializado em São Paulo, pois Parnaíba, na época, não dispunha de grandes recursos no campo da medicina. Com o decorrer do tempo e graças à ciência médica, Petit estava restabelecido, apto a voltar ao convívio da comunidade parnaibana, mas o poeta, ainda abalado pelo trauma que o assustou, não mais voltou à sua Parnaíba, terra que era sua, toda sua, desde criança, quando Dona Maria, o seu anjo tutelar, balançava a sua rede ao sussurrar da aragem do mar de sua Parnaíba querida e nunca esquecida.

Faz sentido:

Mirócles, como se viu, evitou que Petit fosse “preso” no dia seguinte. Homem de coração grande e generoso.

Petit não era médico e sempre vivera por perto de Parnaíba. Não tinha porque conhecer um leprosário em São Paulo, nem porque imaginar que seria preciso ir tão longe. Mirócles, médico, pode ter recomendado o destino e ter dado algum suporte para o Petit se arrumar nos primeiros tempos de desterrado – por conta da municipalidade.

O Acadêmico diz que “Petit estava restabelecido, apto a voltar ao convívio da comunidade parnaibana”, mas não diz nunca que ele estivesse curado, porque não havia como estar. E diz que o que manteve Petit em São Paulo foi “o trauma que o assustou”. Uma proposta de segregação perpétua dele e da família é um belíssimo trauma e assusta qualquer valente.

E haja eufemismo.

Aí aparece uma questão adicional: quando teria acontecido esse convite pra ir embora.

A indicação mais usual é que teria se dado em alguma madrugada de 1944.

Ademar Neves, que foi buscar Petit no Quiosque Japonês para fazê-lo Secretário, foi prefeito de 30/01/1931 a 11/03/1934.

Foi sucedido por Mirócles Veras. Este, como diversos jornais e revistas da terra teve duas fases: de 12/03/1934 a 31/12/1936, e depois, de 16/11/1397 a 09/11/1945. Portanto era Prefeito em 1944.

Entre uma fase e outra houve Joaquim Antônio Gomes de Almeida, de 01/01/1937 e 15/11/1937. É provável que R. Petit não tenha sido mantido na secretaria neste período, uma vez que na Academia Parnaibana de Letras há registro de que Petit desempenhou a “a árdua missão de bem servir a dois ilustres Prefeitos”. Mas é quase certo que Petit tenha acompanhado as duas fases do Prefeito, em consequência do que Mirócles seria muito próximo dele ainda em 1944 e poderia ter feito a visita do bota fora.

A mulher de Petit, Edelzuite, e a filha Aglaé, ainda nos anos 1960 e 1970, inúmeras vezes faziam referência ao Doutor Mirócles, como sendo “muito de casa” até a mudança da Aglaé para Teresina.

Se considerarmos que essa mudança tenha ocorrido por volta de 1944, teremos uma data compatível com a saída de R. Petit e com a segregação social da família, decorrente de o diagnóstico haver “vazado” depois da “fuga” do criminoso.

Mais uma coisa: o hino do Parnahyba Sport Club foi modificado para Canção da Parnaíba em 1944 e assim integrou o “O Livro do Centenário de Parnahyba”, que foi publicado quando do centenário da elevação da vila à categoria de cidade, em 14 de agosto, o que deixa a Petit todo o primeiro semestre do ano para ter trabalhado no livro antes de receber o convite pra ir embora.

Somando mais um pedacinho a essa confusão de suposições, há uma manifestação de João Câncio Rodrigues Neto em 2016. Segundo ele, quando o pai Olavo Pinho mostrou interesse em comprar a casa de R. Petit, na Rua Capitão Claro, ouviu muitos conselhos para não comprar, porque a casa era mal-assombrada. A “assombração” bem poderia ser o diagnóstico.

Claro que não é assim que vamos chegar a uma data certa. Mas a referência mais comum parece razoável: alguma madrugada de 1944.

Apesar da razoabilidade é preciso considerar outras coisas. Primeiro partimos de uma afirmação Caio Passos de que R. Petit, mesmo depois de sair de Parnaíba, teria continuado colaborando com o Almanaque da Parnaíba até a morte. Se isso é verdade, fica justificada a adaptação do Hino do Parnaíba Sport Club em 1944, mesmo com Petit já “expulso”.

Depois, deve-se considerar que a filha Aglaé casou-se em novembro 1941, e não há notícia de que Petit estivesse presente no casamento. A primeira filha nasceu em 1942, quando Aglaé e Nicanor ainda moravam em Parnaíba. Não há registro de Petit ter visto a neta. Quando a segunda filha nasceu, em 1943, o casal já morava em Teresina, e não há nada que diga que o Petit tenha feito qualquer manifestação acerca do nascimento da neta. Ao contrário, parece que ele nem teve conhecimento disto.

Então, fica muito mais razoável admitir que Petit tenha saído de Parnaíba antes de novembro de 1941, sendo interessante ver que de novembro de 1937 até novembro de 1945 o Mirócles era Prefeito de Parnaíba. Então, fosse em 1937 ou em 1944 ou em qualquer época entre essas duas ocasiões, o Mirócles poderia ter feito a visita do bota fora.

Só não parece razoável que ele tenha saído antes de 1937 porque o livro Nortadas foi publicado em 1937 e, aí sim, há diversas fontes que informam que Petit estava em Parnaíba quando publicou o livro.

 

VIII

Apesar de “expulso”, Petit continuava querido e admirado em Parnaíba.

A poesia rendeu a ele diversos reconhecimentos feitos por via da própria literatura, não só em republicações de seus poemas, referências em estudos literários acerca da arte na República Velha, como na produção de inúmeras peças poéticas expressamente compostas em homenagem a ele, tanto enquanto vivo como depois de seu falecimento.

Nas letras, reconhecimento importante veio da Academia Parnaibana de Letras, criada em 28 de julho de 1983, sendo no próprio ato de criação designado R. Petit como Patrono de sua Cadeira nº 9. O primeiro ocupante da Cadeira foi o ex-governador do Estado, engenheiro parnaibano Alberto Tavares e Silva.

Da Administração Pública, além da oficialização de um seu poema como Hino da Parnaíba, da conferência post mortem de Medalha do Mérito Municipal através do Decreto nº 2.642, de 08/08/2016 (Diário Oficial do Município de Parnaíba de 09 de agosto de 2016), veio a atribuição de seu nome a uma rua (Decreto nº 01, de 21/02/1983, alterado pelo Decreto nº 03, de 04/03/1983).

A Rua R. Petit fica em Parnaíba, no bairro Reis Veloso. Começa na Avenida São Sebastião, entre a Rua Lions Club e a Rua Dom Paulo Hipólito, terminando na BR 343 que liga Parnaíba a Luiz Correia.

Além das inúmeras referências feitas a R. Petit por contemporâneos de Parnaíba e por estudiosos de tempos recentes, é relevante apresentar manifestação de 14 de março de 1991 que a filha Diana Dulce de Araújo Chagas chamou “Pequeno tributo a um grande poeta”, onde são encontrados alguns trechos de poesias de R. Petit e são feitas referências a livros não citados em outras fontes.

 

NORTADAS (1937)

                                               R. Petit

E o poeta, em sua dor, é como o vento.

Ninguém sabe em seu vivo sofrimento

Quando ele chora ou quando está cantando!...

(em Nortadas)

 

SEIXOS ROLADOS

                                               R. Petit

Sou como os seixos rolados,

perdidos, desamparados

No rio infrene da vida.

(em Acendalha)

 

DUAS LÁGRIMAS

                                               R. Petit

Eu faço o papel da praia

Onde o mar da sorte, enchendo,

Avança, foge e desmaia.

(em Acendalha)

 

BONDADE DIVINA

                                               R. Petit

E enquanto o cosmonauta busca os astros,

O poeta, nas asas da ilusão,

Vaga e se altea entre os milhões de mundos

Do céu da inspiração

(em Ronda do Tempo)

 

SINOS

                                               R. Petit

Vivem os sinos como os Poetas

Que desta vida nada querem.

Cantam somente quando lhes batem,

Vivem somente quando lhes ferem!...

(em Búzios de Tritão)

 

PARNAÍBA

                                               R. Petit

Longe de Parnaíba, da cidade

Que me serviu como segundo berço,

Rezo a Nossa Senhora da Saudade

Os mistérios divinos do meu terço.

 

Vivo a rezar pela prosperidade

Dessa terra de luz e de alegrias,

Que ergueu ao reino da imortalidade,

Berilo Neves e Simplício Dias.

 

Rezo com calma, com profunda calma,

Por esse povo bom de alma esteta,

Pelo sol do Equador que encheu minh’alma

E pelo rio que me fez poeta.

 

Ó rio Parnaíba! Violeiro,

Cantador do Nordeste apaixonado,

Que eu vivia a escutar o dia inteiro,

Eu bendigo a grandeza do teu fado.

 

No teclado de espumas desse rio,

Ecoa a voz piedosa da saudade,

Soluçando num cântico sombrio,

Aos pés dessa poética cidade.

 

Parnaíba! Minh’alma te venera,

Áurea canção repleta de estribilhos,

Beijo o teu nome, como bem quisera,

Beijar teu chão que é o berço de meus filhos.

(em Búzio de Tritão)

Assim, por estas linhas que combinam o tempo com a variedade de trabalhos e ofícios, o convívio com o alto empresariado e a melhor intelectualidade de Parnaíba, andou R. Petit.

É possível formar uma lista, ainda que sob risco de ser incompleta, dos livros de R. Petit, embora permaneçam algumas dúvidas sobre a real existência de alguns deles como obras compostas na intenção de formar um livro.

Tal lista deveria indicar:

Livros publicados:

Ante os Abismos da Vida – poesia, coletânea, 1924, Fortaleza;

Livro de Miss Piauí – poesia, 1929, Teresina, Imprensa Oficial;

Nortadas – poesia, 1937, ilustração por Nestablo Ramos, Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti;

Noites Sertanejas – teatro.

Livros referidos em fontes, sem demonstração de publicação:

Acendalha

Ronda do Tempo

Búzio de Tritão

Taberna dos Sentimentos

 

IX

R. Petit, mesmo morando em São Paulo, continuou colaborando com o Almanaque da Parnaíba, diz Caio Passos que até a morte.

Em 21 de julho de 1969 o velho R. Petit foi poetar em lugares mais altos, perto de gente mais civilizada, lançando versos em outros salões mais calmos onde, é quase certo, não transitaria mais entre fardos de algodão nem precisaria procurar tempo entre um despacho de cera de carnaúba e outro.

Teria sido em Sorocaba. Ou teria sido em São João da Boa Vista.

Uns dizes isso, outros dizem aquilo. Mas tenha sido aqui, ali ou em qualquer lugar, o ruim é que foi em São Paulo, e Petit nunca mais voltou a Parnaíba, a terra que ele cantava e cantava outra vez por inúmeros motivos. Dentre estes, porque era a terra de seus filhos, como está em Parnaíba que transcrevemos pouco acima.

Parnaíba! Minh’alma te venera,

Áurea canção repleta de estribilhos,

Beijo o teu nome, como bem quisera,

Beijar teu chão que é o berço de meus filhos.

Dizem que era paraense.

Mas só a criança era paraense. O meninote, o estudante do grupo escolar, o ginasiano, o caixeiro do Marc Jacob, o poeta, o empresário, o inspetor, o secretário, todos esses R. Petit eram piauienses e do Pará talvez nem se lembrassem.

Cantou Parnaíba, o Piauí, cantou muita coisa.

Devia ser um cara legal.

Ninguém junta tanta gente, ninguém faz tantos amigos, ninguém continua tão querido tantos anos depois de ser convidado a ir embora, ninguém faz tanto de tudo sendo um chato.

Devia ser um cara legal.

 

Agosto de 2021.

130º ano do Advento.

3 comentários:

  1. Muito grande. Família Araújo ainda famosa em Luis Correia e tenho aum amigo do tempo do colegial da Família Petit de Parnaiba! Nesse início do século XX parecia Parnaiba mais promissora com seu "porto" do que a cidade de São Luis.

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