segunda-feira, 13 de junho de 2022

UNIVERSALIZANDO OS SACRAMENTOS

 

Fonte: Google

UNIVERSALIZANDO OS SACRAMENTOS


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)


                Antes que alguma outra lançasse mão da ideia, ela se anteciparia. Faria uma grande campanha nas principais mídias de comunicação – falada, escrita, audiovisual – convidando proprietários – opa! Politicamente incorreto! -, donos – que é isso? Ninguém é de ninguém! –, tutores, curadores, cuidadores; mesmo pais, mães, como assim se consideram muitos em relação a eles -, para levarem seus pets, animais de estimação, companheiros, filhos adotivos, a fim de receberem alguns dos sacramentos dogmáticos que a igreja, antes, oferecia apenas aos indivíduos racionais, seres humanos.

                Poderiam começar com o sacramento do batismo e, a depender da idade do animal e de sua experiência existencial, agregariam o da confirmação, a crisma, e, a seguir, quem sabe alguns outros.

                Obviamente, nem todos os pets poderiam ser atendidos no recinto paroquial, apenas os mais dóceis e pequenos. Animais peçonhentos, muito grandes ou, sabidamente perigosos, requereriam o agendamento de horário e local onde o pároco, sem submeter a qualquer risco, tanto a si mesmo, quanto os sacramentados, faria a ministração dos sacramentos. 

                Os responsáveis pelos animais, se assim o desejassem, contratariam empresas ou pessoas credenciadas pela instituição religiosa para, se não inconveniente ou inadequado, realizarem as reuniões festivas de congraçamento entre os convidados, parentes, padrinhos e amigos dos sacramentados, em recinto específico do próprio templo religioso; o que não seria de modo algum estranho ou inconcebível, uma vez que, aqueles que se enquadram em determinados perfis: sanitário, tamanho, grau ou nível de higiene e limpeza “pessoal”; volume de barulho que produzem; enfim, sem nada que torne inadequada a presença deles ali, já são bem recebidos em restaurantes, shoppings centers, hotéis, e lugares diversos.

                Segundo a igreja, como ocorre na preparação de indivíduos humanos para recebimento da maioria dos sacramentos por ela dispensados, seria exigido dos interessados – tutores, protetores e animais - participação em cursos ou experiências religiosas especificamente destinadas à compreensão dos mesmos; claro que, nem todos os pets – também assim ocorre com certas pessoas -, teriam discernimento suficiente para compreender e avaliar a extensão religiosa dos sacramentos que iriam receber; sem problema, os responsáveis por eles também se responsabilizariam por, de algum modo – certamente, muito mais fácil do que fazê-lo a uns humanos componentes de suas famílias naturais -, incutir na memória ou qualquer centro de compreensão e/ou arquivamento mental deles, treiná-los, como já fazem para outros fins, formas de induzi-los a respeitar decisões,  ensinamentos, princípios religiosos, as exegeses de observação necessária e indispensável.

                Passando daquela fase em que alguns afirmavam que animais somente entram nos templos religiosos porque encontrariam abertas as portas, para a de que, doravante, sempre seriam bem recebidos, a mesma igreja – condição que estenderia a todas praticantes e ministrantes do mesmo credo e às que aceitassem as novas sugestões incitadas por ela e havidas como proveitosas e cabíveis – criaria, nos templos que dispusessem de espaço suficiente, recintos especiais e exclusivos, destinados à ministração e acompanhamento do sagrado sacramento da eucaristia, pelos fiéis que decidissem assisti-la juntamente com seus pets.

                No momento em que a fé – pelo menos, no que tange a dos que criam bem mais antes que agora – passa por duras provas, e que, não por acaso – talvez, providência divina -, coincide com o de valorização, dir-se-ia, não apenas individual, mas social e política, dos animais de estimação – há casos, hoje, em que maus-tratos feitos a eles e, em condição semelhante, a seres humanos, recebem punição muito mais dura do que a aplicável a estes -, a igreja entendia como exigência imediata, visando mesmo, trazer de volta ou recuperar fiéis em via de cisma iminente, permitir, na verdade, incentivá-los a ir até ela todos aqueles que, agora, sim, quisessem vir acompanhados de seus animais mais queridos; não tinha dúvida de que, assim fazendo, reconduziria a ela parte do rebanho perdido. Isso tinha, pois, que ser tratado como decisão urgente e inadiável.

                Um novo tempo se anunciava, sacramentos religiosos, originariamente, atribuíveis somente aos seres racionais, inteligentes, dotados de espírito, alma, sendo, então, universalizados, eis que dispensáveis a indivíduos do mundo irracional, animais de estimação. Todos, eles e seus tutores, defensores, protetores, no mesmo lugar sagrado onde poderiam ficar pertinho, em comunhão divina e humana. 

Claro que, certamente, haveria resistência religiosa ou eclesiástica, ante tão grande evolução dos sacramentos, mas que poderia ser superada; afinal, o mundo já convive com seres humanos gastando fortunas para ficarem o mais parecido possível com animais que adora ou venera, ou tentando fazer com que esses se humanizem; não se tem registro confiável do sagrado sacramento do matrimônio envolvendo pets e ocorrendo em recintos religiosos, mas alguns deles, geralmente, sem o consentimento do ministro celebrante, já adentram templos na condição de pajens de nubentes humanos. Alea jacta est!              

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