Fonte: Google |
UNIVERSALIZANDO OS SACRAMENTOS
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Antes que alguma outra lançasse mão da ideia, ela se anteciparia. Faria uma grande campanha nas principais mídias de comunicação – falada, escrita, audiovisual – convidando proprietários – opa! Politicamente incorreto! -, donos – que é isso? Ninguém é de ninguém! –, tutores, curadores, cuidadores; mesmo pais, mães, como assim se consideram muitos em relação a eles -, para levarem seus pets, animais de estimação, companheiros, filhos adotivos, a fim de receberem alguns dos sacramentos dogmáticos que a igreja, antes, oferecia apenas aos indivíduos racionais, seres humanos.
Poderiam
começar com o sacramento do batismo e, a depender da idade do animal e de sua
experiência existencial, agregariam o da confirmação, a crisma, e, a seguir,
quem sabe alguns outros.
Obviamente,
nem todos os pets poderiam ser atendidos no recinto paroquial, apenas os mais
dóceis e pequenos. Animais peçonhentos, muito grandes ou, sabidamente
perigosos, requereriam o agendamento de horário e local onde o pároco, sem
submeter a qualquer risco, tanto a si mesmo, quanto os sacramentados, faria a
ministração dos sacramentos.
Os
responsáveis pelos animais, se assim o desejassem, contratariam empresas ou
pessoas credenciadas pela instituição religiosa para, se não inconveniente ou
inadequado, realizarem as reuniões festivas de congraçamento entre os convidados,
parentes, padrinhos e amigos dos sacramentados, em recinto específico do
próprio templo religioso; o que não seria de modo algum estranho ou
inconcebível, uma vez que, aqueles que se enquadram em determinados perfis:
sanitário, tamanho, grau ou nível de higiene e limpeza “pessoal”; volume de
barulho que produzem; enfim, sem nada que torne inadequada a presença deles
ali, já são bem recebidos em restaurantes, shoppings centers, hotéis, e lugares
diversos.
Segundo
a igreja, como ocorre na preparação de indivíduos humanos para recebimento da
maioria dos sacramentos por ela dispensados, seria exigido dos interessados –
tutores, protetores e animais - participação em cursos ou experiências
religiosas especificamente destinadas à compreensão dos mesmos; claro que, nem
todos os pets – também assim ocorre com certas pessoas -, teriam discernimento
suficiente para compreender e avaliar a extensão religiosa dos sacramentos que
iriam receber; sem problema, os responsáveis por eles também se
responsabilizariam por, de algum modo – certamente, muito mais fácil do que
fazê-lo a uns humanos componentes de suas famílias naturais -, incutir na
memória ou qualquer centro de compreensão e/ou arquivamento mental deles,
treiná-los, como já fazem para outros fins, formas de induzi-los a respeitar
decisões, ensinamentos, princípios
religiosos, as exegeses de observação necessária e indispensável.
Passando
daquela fase em que alguns afirmavam que animais somente entram nos templos
religiosos porque encontrariam abertas as portas, para a de que, doravante,
sempre seriam bem recebidos, a mesma igreja – condição que estenderia a todas
praticantes e ministrantes do mesmo credo e às que aceitassem as novas
sugestões incitadas por ela e havidas como proveitosas e cabíveis – criaria,
nos templos que dispusessem de espaço suficiente, recintos especiais e
exclusivos, destinados à ministração e acompanhamento do sagrado sacramento da
eucaristia, pelos fiéis que decidissem assisti-la juntamente com seus pets.
No
momento em que a fé – pelo menos, no que tange a dos que criam bem mais antes
que agora – passa por duras provas, e que, não por acaso – talvez, providência
divina -, coincide com o de valorização, dir-se-ia, não apenas individual, mas
social e política, dos animais de estimação – há casos, hoje, em que
maus-tratos feitos a eles e, em condição semelhante, a seres humanos, recebem
punição muito mais dura do que a aplicável a estes -, a igreja entendia como
exigência imediata, visando mesmo, trazer de volta ou recuperar fiéis em via de
cisma iminente, permitir, na verdade, incentivá-los a ir até ela todos aqueles
que, agora, sim, quisessem vir acompanhados de seus animais mais queridos; não
tinha dúvida de que, assim fazendo, reconduziria a ela parte do rebanho
perdido. Isso tinha, pois, que ser tratado como decisão urgente e inadiável.
Um
novo tempo se anunciava, sacramentos religiosos, originariamente, atribuíveis
somente aos seres racionais, inteligentes, dotados de espírito, alma, sendo,
então, universalizados, eis que dispensáveis a indivíduos do mundo irracional,
animais de estimação. Todos, eles e seus tutores, defensores, protetores, no
mesmo lugar sagrado onde poderiam ficar pertinho, em comunhão divina e
humana.
Claro que, certamente, haveria resistência religiosa ou eclesiástica, ante tão grande evolução dos sacramentos, mas que poderia ser superada; afinal, o mundo já convive com seres humanos gastando fortunas para ficarem o mais parecido possível com animais que adora ou venera, ou tentando fazer com que esses se humanizem; não se tem registro confiável do sagrado sacramento do matrimônio envolvendo pets e ocorrendo em recintos religiosos, mas alguns deles, geralmente, sem o consentimento do ministro celebrante, já adentram templos na condição de pajens de nubentes humanos. Alea jacta est!
Nenhum comentário:
Postar um comentário