sexta-feira, 1 de julho de 2022

REMINISCÊNCIAS GOLEIRÍSTICAS E OUTRAS

 

Time do Caiçara, vendo-se à direita, de camisa preta, o goleiro Coló

Time do Comercial, vendo-se à esquerda o goleiro Beroso, de camisa preta.
Goleiro Zé Olímpio, quando garoto. Foto gentilmente enviada pelo grande artista plástico campomaiorense João de Deus Netto. As duas outras (acima), foram publicadas originalmente em seu blog Bitorocara



REMINISCÊNCIAS GOLEIRÍSTICAS E OUTRAS


Elmar Carvalho


No sábado passado foi comemorado o aniversário natalício do amigo Zé Francisco Marques. Ele é filho do senhor Gerson, amigo de meu pai, e que foi seu colega no velho DCT – Departamento de Correios e Telégrafos. De forte inclinação musical, toca violão e teclado eletrônico, além de cantar. Seu repertório é sofisticado, porém eclético, sem preconceitos elitistas. É ainda radialista e professor de inglês.

Não pude comparecer a sua comemoração natalícia, em razão do lançamento de meu livro PoeMitos da Parnaíba, ocorrido nessa cidade do litoral piauiense, onde morei por muitos anos. Vi depois a notícia na internet, e sei que foi concorrida, com a presença de vários amigos. Houve forte libação e farto churrasco. De já advirto, não posso perder a próxima.

No início de minha adolescência, fui goleiro de um time do qual faziam parte ele, seu primo João Bartolomeu e o nosso amigo comum Assis Capucho, hoje médico de nomeada em São Paulo, com direito a proferir conferências na área de neurologia pelo Brasil afora. Com a minha ida para Parnaíba, em junho de 1975, não mais nos vimos por mais de duas décadas.

Voltamos a nos rever em 1996 ou 1997, na chácara Alto da Olaria, no bairro Flores, de belo, florido e cheiroso nome. Esse local aprazível, cheio de velhas e frondosas árvores, de onde se tem uma bela e panorâmica vista da velha Bitorocara, pertence ao amigo João Alves Filho, fundador e animador de várias associações, inclusive da Academia Campomaiorense de Artes e Letras. No Alto da Olaria, disse certa vez (e se não disse deveria ter dito), parafraseando Napoleão, a contemplar a torre da catedral de Santo Antônio do Surubim: Velha Bitorocara, do alto desta colina quase três séculos te contemplam!

Conversamos e logo nos identificamos, e restabelecemos fraterna amizade. Na época, meus pais haviam retornado a Campo Maior, enquanto quase todos os meus amigos tinham ido embora da cidade. Disse-lhe que quem me dava assistência e me fazia companhia quando eu vinha a passeio era o Zé Henrique, de quem minha irmã Maria José ficou viúva três anos atrás. Contei-lhe que o Henrique me havia dito que quem fosse seu amigo não mais o procurasse, pois pretendia entrar na lei seca, tornando-se radical abstêmio.

O Zé Francisco, com providencial presença de espírito, respondeu-me que me pediria exatamente o contrário, e que eu não o deixasse de procurar quando viesse a Campo Maior. Retomamos a amizade a partir de então. Claro está que o saudoso Zé Henrique não cumpriu a promessa por muito tempo, e muitas vezes estivemos juntos com o Zé Francisco. Sempre que vou a minha cidade natal o procuro, e o faço quase mensalmente.

Numa dessas vezes, Zé Francisco contou-me um fato que eu já esquecera completamente. Narrou-me que, numa das vezes em que eu havia prometido defender a meta de seu time, eu fora a uma festa na noite anterior, de modo que quando ele e o Assis Capucho chegaram à residência de meus pais eu estava dormindo.

Acordado de um sono profundo misturado com ressaca, que me puxava para a rede de dormir, e não para a das traves de um campo de futebol, que sequer as tinha, honrei a palavra empenhada e fui cumprir a minha sina de goleiro. Disse-me ele que eu era um bom goleiro. Creio que se eu não tivesse algum valor ele e o Assis não me procurariam, pois ambos moravam, na época, distante de minha casa.

Cultivo a sua amizade porque é ele um cidadão de forte interesse cultural; mantém-se atualizado com o que acontece na chamada aldeia global, cada vez mais aldeia e mais global; gosta de arte, sendo ele próprio um artista musical; tem interesse literário, e além de bom de papo é bom de copo, ou vice-versa, sendo certo que é um boêmio no bom sentido da palavra, porquanto bebe com sabedoria socrática, é bom pai, bom marido, bom amigo e é ferrenho cumpridor de seus devedores magisteriais, pelo que tem o respeito de sua comunidade e de seus amigos.

2 de abril de 2010

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