Time do Caiçara, vendo-se à direita, de camisa preta, o goleiro Coló |
REMINISCÊNCIAS GOLEIRÍSTICAS E OUTRAS
Elmar Carvalho
No sábado passado foi comemorado o aniversário natalício do
amigo Zé Francisco Marques. Ele é filho do senhor Gerson, amigo de meu pai, e
que foi seu colega no velho DCT – Departamento de Correios e Telégrafos. De
forte inclinação musical, toca violão e teclado eletrônico, além de cantar. Seu
repertório é sofisticado, porém eclético, sem preconceitos elitistas. É ainda
radialista e professor de inglês.
Não pude comparecer a sua comemoração natalícia, em razão do
lançamento de meu livro PoeMitos da Parnaíba, ocorrido nessa cidade do litoral
piauiense, onde morei por muitos anos. Vi depois a notícia na internet, e sei
que foi concorrida, com a presença de vários amigos. Houve forte libação e
farto churrasco. De já advirto, não posso perder a próxima.
No início de minha adolescência, fui goleiro de um time do
qual faziam parte ele, seu primo João Bartolomeu e o nosso amigo comum Assis
Capucho, hoje médico de nomeada em São Paulo, com direito a proferir
conferências na área de neurologia pelo Brasil afora. Com a minha ida para
Parnaíba, em junho de 1975, não mais nos vimos por mais de duas décadas.
Voltamos a nos rever em 1996 ou 1997, na chácara Alto da
Olaria, no bairro Flores, de belo, florido e cheiroso nome. Esse local
aprazível, cheio de velhas e frondosas árvores, de onde se tem uma bela e
panorâmica vista da velha Bitorocara, pertence ao amigo João Alves Filho,
fundador e animador de várias associações, inclusive da Academia Campomaiorense
de Artes e Letras. No Alto da Olaria, disse certa vez (e se não disse deveria
ter dito), parafraseando Napoleão, a contemplar a torre da catedral de Santo
Antônio do Surubim: Velha Bitorocara, do alto desta colina quase três séculos
te contemplam!
Conversamos e logo nos identificamos, e restabelecemos
fraterna amizade. Na época, meus pais haviam retornado a Campo Maior, enquanto
quase todos os meus amigos tinham ido embora da cidade. Disse-lhe que quem me
dava assistência e me fazia companhia quando eu vinha a passeio era o Zé
Henrique, de quem minha irmã Maria José ficou viúva três anos atrás. Contei-lhe
que o Henrique me havia dito que quem fosse seu amigo não mais o procurasse,
pois pretendia entrar na lei seca, tornando-se radical abstêmio.
O Zé Francisco, com providencial presença de espírito,
respondeu-me que me pediria exatamente o contrário, e que eu não o deixasse de
procurar quando viesse a Campo Maior. Retomamos a amizade a partir de então.
Claro está que o saudoso Zé Henrique não cumpriu a promessa por muito tempo, e
muitas vezes estivemos juntos com o Zé Francisco. Sempre que vou a minha cidade
natal o procuro, e o faço quase mensalmente.
Numa dessas vezes, Zé Francisco contou-me um fato que eu já
esquecera completamente. Narrou-me que, numa das vezes em que eu havia
prometido defender a meta de seu time, eu fora a uma festa na noite anterior,
de modo que quando ele e o Assis Capucho chegaram à residência de meus pais eu
estava dormindo.
Acordado de um sono profundo misturado com ressaca, que me
puxava para a rede de dormir, e não para a das traves de um campo de futebol,
que sequer as tinha, honrei a palavra empenhada e fui cumprir a minha sina de
goleiro. Disse-me ele que eu era um bom goleiro. Creio que se eu não tivesse
algum valor ele e o Assis não me procurariam, pois ambos moravam, na época,
distante de minha casa.
Cultivo a sua amizade porque é ele um cidadão de forte
interesse cultural; mantém-se atualizado com o que acontece na chamada aldeia
global, cada vez mais aldeia e mais global; gosta de arte, sendo ele próprio um
artista musical; tem interesse literário, e além de bom de papo é bom de copo,
ou vice-versa, sendo certo que é um boêmio no bom sentido da palavra, porquanto
bebe com sabedoria socrática, é bom pai, bom marido, bom amigo e é ferrenho
cumpridor de seus devedores magisteriais, pelo que tem o respeito de sua
comunidade e de seus amigos.
2 de abril de 2010
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