Batista Rios (centro) e família, vendo-se: Eduarda (filha); Vera Lúcia (esposa); Batista Filho e Saulus (filhos), e em primeiro plano (sentado) seu pai, o saudoso vicentino Nestor Rios |
NO REINO DO SOBRENATURAL
Elmar Carvalho
Fui à casa de meu colega e amigo João Batista Rios. Pedi-lhe
que me contasse uma história que ele me havia contado há mais de seis anos,
quando ele era juiz de Bertolínia, e eu,
de Ribeiro Gonçalves. Muitas vezes viajamos, à noite, no mesmo velho e
desconfortável ônibus, para as nossas longínquas Comarcas. De madrugada ele
descia na sua cidade e eu continuava em minha desgastante odisseia madrugada
friorenta adentro.
Repetiu a história da mesma forma como eu a guardara em minha
memória. Certo dia do início da década de 1990, quando ele era servidor federal
da Previdência Social e advogado, por volta de 13:30 horas, estacionou seu
carro na frente do Colégio das Irmãs, onde deixou sua filha, e seguiu a pé em
direção a seu escritório, situado no Palácio do Comércio. Na calçada da antiga
Escola Técnica Federal, na frente da EMBRATEL, avistou o padre Geraldo Vale,
que fora capelão da Polícia Militar do Piauí e fora seu diretor espiritual no
grupo da Renovação Carismática da Escola Dom Barreto.
Quando o padre o avistou, em gesto largo e de muita
expansividade, abriu os braços, como se estivesse se preparando para um grande
abraço, e sorrindo o chamou de “meu advogado Dr. Batista Rios”, como costumava
saudá-lo. Conversaram no máximo dois minutos. Despediram-se e Batista seguiu
para o seu escritório.
Um pouco adiante, voltou-se e viu o padre afastar-se no
ensolarado início de tarde teresinense. O meu colega admirava esse capelão,
pelo que ele tinha de ungido, de santidade, de homem efetivamente de Deus.
Fazia tempos que não o via, mas sempre pensava nele, sempre desejando revê-lo,
uma vez que passara a integrar o grupo da Renovação Carismática do Cristo Rei,
deixando o que era dirigido pelo padre Geraldo.
No caminho, foi pensando em como o achara rejuvenescido,
quase transfigurado em sua expressão de alegria, de paz, de beatitude, com
feição e expressões angelicais. De tarde, ao deixar o seu escritório, foi pegar
uma revista na banca do Solon, na praça Pedro II. Nessa banca, encontrou Célia,
que fora sua colega do antigo INAMPS e do grupo carismático do Dom Barreto.
Com muita alegria a informou de que havia encontrado, antes
das duas horas da tarde, o padre Geraldo. Célia, incrédula e sorrindo,
disse-lhe que ele estava a fazer mais uma de suas brincadeiras, pois tal fato jamais poderia ter acontecido,
posto que o capelão havia falecido há mais de um ano. Batista retrucou-lhe que
ela é quem estava a fazer gracejo, e foi embora.
No dia seguinte, quando o magistrado Batista Rios, como
costumeiramente fazia, foi assistir a uma missa na igreja de São Benedito,
encontrou, logo na entrada do templo, a senhora Ivani, pessoa de muita devoção
e de sua estima. Disse-lhe da alegria de haver encontrado, no dia anterior, o
padre Geraldo Vale.
Dona Ivani, algo perplexa, com as pupilas um tanto dilatadas,
respondeu-lhe:
– Meu filho, padre Geraldo já
faleceu, faz mais de ano...
Batista Rios, católico da mais lídima devoção, homem íntegro,
magistrado honrado, não sabe a explicação definitiva para o fato, mas somente
que ele aconteceu, da maneira que me narrou.
Talvez o seu desejo em rever o sacerdote tenha sido tão
forte, que materializou a imagem dele, que estava incrustada indelevelmente em
sua mente; talvez o padre tenha obtido permissão para lhe aparecer uma última
vez, para que Batista pudesse dar o seu testemunho de que há mais coisas no céu
do que apenas aviões de carreira, como asseverou célebre ironista.
11 de abril de 2010
Linda História! Acredito que realmente tenha acontecido! O carinho era tão grande, que o padre se materializou
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