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A outra face
Rogério Newton (1959)
quando nasci
meu pai e minha mãe
untaram algodão de palavras
passaram no meu peito
e na minha fronte
sopraram búzios nos ouvidos
na rua de pedra
meninos lenhadores tangiam
jumentos
chocalhos soavam como a flauta de
khrishna
o riacho borbulhava entre as
pedras
um anjo barroco sertanejo sorria
os passos
do meu pai e da minha mãe
ressoam nesta casa
por isso choro
de alegria
tenho o coração em chamas
as mãos vazias
toda manhã
bebo gotas de orvalho
não sei por que teimas
em lembrar a cozinha
da casa da infância
o céu estrelado
acima das paredes ocre
das carnaúbas
a cinza fria recolhida
por mãos negras
sia domingas, baziliza
sancha, luzia
maria do ôi cego, das dores
impossível esquecer essa
lembrança
quente como os doces
de minha mãe no fogão de lenha
o pote de barro
apara água da chuva
Muito bom! Parabéns!
ResponderExcluirExcelente poema, do Rogério Newton.
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