terça-feira, 4 de abril de 2023

CATÁLOGO DE LIVROS

Joseli Magalhães   Fonte: Google


CATÁLOGO DE LIVROS


Valério Chaves

Desembargador aposentado do TJPI

 

 

O jovem professor, escritor e jurista Joseli Lima Magalhães, acaba de me enviar com dedicatória de 30 de março de 2023, 4 publicações versando sobre assuntos jurídicos, teses de doutorado em Direito, artigos relacionados ao direito processual civil, e em especial, uma coleção de 50 contos de autoria de seu pai e também escritor José Magalhães da Costa (in memoriam).

Tais publicações organizadas em forma livro, como esclarece Joseli em nota, fazem parte de coleção comemorativa aos 100 anos da Academia Piauiense de Letras, da qual Magalhães era integrante. Integram ainda a coletânea oito contos inéditos: A Seca; Ata de uma Partida de Buraco; Auto de Interrogatório do acusado José Aniceto; Receita para um Suicida; Sombra da Noite; Velha Caneta; Entre Irmãos e Reportagem da Matança da Onça.

Nas notas de rodapé, Joseli integrou no livro algumas curiosidades a respeito dos contos, registro do jeito de falar e vocabulário do caboclo nordestino, frases de efeito ou expressões populares cunhadas por Magalhães da Costa e seus personagens.

Não resta dúvida de que a iniciativa  do escritor Joseli Lima Magalhães de publicar, em forma de livro, uma coletânea dos 50 contos escritos pelo seu pai, é digna de aplausos porque Magalhães da Costa, de cuja amizade fui seduzido quando nos aproximou o difícil e delicado setor da Justiça Criminal de Teresina na década de 90, foi e ainda é considerado pela crítica especializada, um dos mais fecundos nomes do conto regionalista do Brasil, de vez que em mais de vinte anos de ofício literário, levantou em suas obras um retrato do ambiente rural do Piauí, usando uma linguagem direta, crua, da boca do povo,  deixando cristalina a exposição das várias histórias onde as personagens são nascidas num mundo de mistérios e encantos.

Da leitura atenta de seus contos, especialmente TRAQUINAGEM, lançada na APL em 1999, verifica-se tratar de um grande contador de histórias, uma espécie de continuador do projeto político-literário que deu origem à chamada fase heroica de 1922.

A diferença é que enquanto os modernistas de 22 procuravam escrever errado reproduzindo as incorreções gramaticais da fala popular, Magalhães da Costa soube libertar-se das convenções da linguagem (muito comum nos romancistas), e escreveu com simplicidade, sem ousadias formais.

 No conto “BRIGA DE MENINOS” extraído do livro TRAQUINAGEM o autor em uma narrativa em terceira pessoa e tendo como palco sua Piracuruca, da qual se dizia eterno namorado, impõe-se por um coloquial filtrado e pitoresco o sentido agudo e vivo de uma época, parecendo funcionar tudo como carga de humorismo. Não um humor da chalaça lusitana, mas um humor puro, bebido, por certo, das leituras dos grandes autores, tudo refletido na imagem do que chamou de “menino danisco e buliçoso”.

Como afirma nosso Assis Brasil referindo-se à obra de Magalhães da Costa, ele levanta todo um contundente retrato social do interior do Piauí, variando entre a ingenuidade popular e a esperteza do cabloco de um Brasil perdido no oco do mundo.

Regioinalista, como demonstrou em seus contos, Magalhães da Costa, soube fazer de seus “casos” autênticos documentários de vida ao conferir universalidade psicológica e social às histórias hilariantes apresentadas com pleno domínio de sua habilidade literária.

Nestes tempos tão consumidos pelas incertezas da inteligência, a literatura piauiense existe na medida em que os nossos escritores se inserem na elaboração de um processo literário dentro do espaço geográfico do Estado.

O que me evidencia induvidoso é que no mundo moderno que privilegia a imagem e a rapidez das informações, parece quase não haver espaço para leitura de livros.

O que mais importa porém é que as novidades da tecnologia, das mídias eletrônicas e as vídeos-aulas, não são inimigas da literatura e da cultura. Ao lado do mundo das imagens e dos sinais eletrônicos, existe também o mundo das palavras, e nele, o das palavras usadas com arte, refletindo com inteligência nossa condição essencialmente humana.

O trabalho com a cultura é sempre um eterno começar.

Por isso é preciso, como vem fazendo o escritor e jurista Joseli Lima Magalhães, que nos dediquemos à arte da comunicação, dominemos os recursos da escrita e da palavra para transmitir claramente as ideias a serviço da cultura, da valorização, do que é verdadeiro, enfim, do que é belo e puro.   

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