Joseli Magalhães Fonte: Google |
CATÁLOGO DE LIVROS
Valério Chaves
Desembargador aposentado do TJPI
O jovem professor, escritor e
jurista Joseli Lima Magalhães, acaba de me enviar com dedicatória de 30 de
março de 2023, 4 publicações versando sobre assuntos jurídicos, teses de doutorado
em Direito, artigos relacionados ao direito processual civil, e em especial,
uma coleção de 50 contos de autoria de seu pai e também escritor José Magalhães
da Costa (in memoriam).
Tais publicações organizadas em
forma livro, como esclarece Joseli em nota, fazem parte de coleção comemorativa
aos 100 anos da Academia Piauiense de Letras, da qual Magalhães era integrante.
Integram ainda a coletânea oito contos inéditos: A Seca; Ata de uma Partida de
Buraco; Auto de Interrogatório do acusado José Aniceto; Receita para um
Suicida; Sombra da Noite; Velha Caneta; Entre Irmãos e Reportagem da Matança da
Onça.
Nas notas de rodapé, Joseli
integrou no livro algumas curiosidades a respeito dos contos, registro do jeito
de falar e vocabulário do caboclo nordestino, frases de efeito ou expressões
populares cunhadas por Magalhães da Costa e seus personagens.
Não resta dúvida de que a
iniciativa do escritor Joseli Lima
Magalhães de publicar, em forma de livro, uma coletânea dos 50 contos escritos
pelo seu pai, é digna de aplausos porque Magalhães da Costa, de cuja amizade
fui seduzido quando nos aproximou o difícil e delicado setor da Justiça
Criminal de Teresina na década de 90, foi e ainda é considerado pela crítica
especializada, um dos mais fecundos nomes do conto regionalista do Brasil, de
vez que em mais de vinte anos de ofício literário, levantou em suas obras um
retrato do ambiente rural do Piauí, usando uma linguagem direta, crua, da boca
do povo, deixando cristalina a exposição
das várias histórias onde as personagens são nascidas num mundo de mistérios e
encantos.
Da leitura atenta de seus contos,
especialmente TRAQUINAGEM, lançada na APL em 1999, verifica-se tratar de um
grande contador de histórias, uma espécie de continuador do projeto
político-literário que deu origem à chamada fase heroica de 1922.
A diferença é que enquanto os
modernistas de 22 procuravam escrever errado reproduzindo as incorreções
gramaticais da fala popular, Magalhães da Costa soube libertar-se das
convenções da linguagem (muito comum nos romancistas), e escreveu com
simplicidade, sem ousadias formais.
No conto “BRIGA DE MENINOS” extraído do livro
TRAQUINAGEM o autor em uma narrativa em terceira pessoa e tendo como palco sua
Piracuruca, da qual se dizia eterno namorado, impõe-se por um coloquial
filtrado e pitoresco o sentido agudo e vivo de uma época, parecendo funcionar
tudo como carga de humorismo. Não um humor da chalaça lusitana, mas um humor
puro, bebido, por certo, das leituras dos grandes autores, tudo refletido na
imagem do que chamou de “menino danisco e buliçoso”.
Como afirma nosso Assis Brasil
referindo-se à obra de Magalhães da Costa, ele levanta todo um contundente
retrato social do interior do Piauí, variando entre a ingenuidade popular e a
esperteza do cabloco de um Brasil perdido no oco do mundo.
Regioinalista, como demonstrou em
seus contos, Magalhães da Costa, soube fazer de seus “casos” autênticos
documentários de vida ao conferir universalidade psicológica e social às
histórias hilariantes apresentadas com pleno domínio de sua habilidade
literária.
Nestes tempos tão consumidos
pelas incertezas da inteligência, a literatura piauiense existe na medida em
que os nossos escritores se inserem na elaboração de um processo literário
dentro do espaço geográfico do Estado.
O que me evidencia induvidoso é
que no mundo moderno que privilegia a imagem e a rapidez das informações,
parece quase não haver espaço para leitura de livros.
O que mais importa porém é que as
novidades da tecnologia, das mídias eletrônicas e as vídeos-aulas, não são
inimigas da literatura e da cultura. Ao lado do mundo das imagens e dos sinais
eletrônicos, existe também o mundo das palavras, e nele, o das palavras usadas
com arte, refletindo com inteligência nossa condição essencialmente humana.
O trabalho com a cultura é sempre
um eterno começar.
Por isso é preciso, como vem fazendo o escritor e jurista Joseli Lima Magalhães, que nos dediquemos à arte da comunicação, dominemos os recursos da escrita e da palavra para transmitir claramente as ideias a serviço da cultura, da valorização, do que é verdadeiro, enfim, do que é belo e puro.
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