Em defesa do Almanaque da
Parnaíba!
Claucio Ciarlini
A noite de 02 de maio de 2024
ficará marcada na história por conta do lançamento da 75° edição do Almanaque
da Parnaíba, referente ao ano de 2023, celebrando os 100 anos do primeiro
Almanaque, os 40 anos da Academia Parnaibana de Letras e os 30 anos em que a
APAL está à frente do periódico.
Dentre os membros da APAL que se
fizeram presentes na mesa de honra, estava Claucio Ciarlini (membro da cadeira
de número 23) que proferiu um discurso marcante sobre a história do Almanaque
da Parnaíba, com enfoque nos que foram produzidos pela APAL nos últimos 30
anos. Segue abaixo e na integra:
“Boa noite a todos…
Cumprimento a todos os confrades
e autoridades presentes nesta mesa de honra, assim como o público presente!
Gostaria de iniciar minha breve e
humilde fala, através de duas perguntas:
Parnaíba é a “terra do já teve”?
Ou se trata de uma cidade, como
muitas neste país (e até no mundo), onde alguns aspectos e locais não mais
existem, porém existem outros, igualmente importantes?
Acredito que os amigos, confrades
e esta plateia, deveras informada e acolhedora, irá concordar, que a segunda
questão é a correta.
Parnaíba deixou de ter inúmeros
espaços, tradições e grupos, porém, hoje possui novas opções, como por exemplo,
os inúmeros cursos de ensino superior, fazendo com que os “filhos da cidade”
não sejam obrigados a mudar para a capital ou até mesmo para outros estados na
busca de prosseguir em suas formações. No que lhes deixo mais uma provocação:
Parnaíba, por ter mudado em
vários aspectos, ainda deveria ser chamada de Parnaíba?
Deixo esta pergunta para que
vocês possam ir refletindo, enquanto começo a falar do meu objetivo principal.
No ano de 2021, participei de uma
palestra online, onde o tema era a História do Almanaque da Parnaíba, proferida
por um professor de história, que me reservo aqui, por motivos éticos, a não
mencionar o nome, além do fato de se tratar de um excelente educador e um
grande ser humano. Porém, no decorrer de sua fala, que se iniciou com a origem
do Almanaque, pelas mãos de Benedicto dos Santos Lima, passando pela
organização de Ranulpho Torres Raposo e alcançando os anos 80, com Manoel
Domingos Neto… Notei, para a minha surpresa, que o referido professor não
mencionou os almanaques lançados nos idos de 1994 a 2020, editados pela
Academia Parnaibana de Letras. Livros muito bem capitaneados por nomes como
Lauro Correia (de 1994 a 1999); Iweltiman Mendes (edição de 2004); Pádua Santos
(de 2006 a 2017); e José Luiz de Carvalho (de 2018 até aquele instante). Obras
estas, que tiveram, dentre seus organizadores ou como parte do conselho
editorial, nomes como os de: Alcenor Candeira Filho, Danilo Melo Souza, Israel
Nunes Correia, Fernando Basto Ferraz, Pádua Santos, Maria Dilma Ponte de Brito,
Maria do Amparo Coelho, Antonio Gallas Pimentel, Wilton Porto, Diego Mendes
Sousa, além deste ser que vos profere estas palavras.
Daí, quando do encerramento da
fala do professor e abertura para comentários e perguntas, aproveitei para
falar, de forma muito rápida e resumida, deste período que ficou de fora. Até
porque, achei que o professor não havia falado por conta do tempo avançado ou
até mesmo esquecimento diante de tanta história, em detalhes e aprofundada,
pois assim foi a sua fala, rica em detalhes, no que condiz ao período de 1923
a1985. E para a minha surpresa, até mesmo perplexidade, o professor respondeu
que, propositalmente, havia deixado de fora os 11 almanaques lançados nas
últimas décadas, por considerar que houve certa descaracterização, se comparado
aos almanaques que os antecederam, ou seja, os que vieram antes dos cuidados da
APAL.
Diante disso, e de fôlego
recuperado, utilizei-me de uma fala do próprio professor durante a palestra,
quando ele mencionou a expressão de “terra do já teve”, termo esse que ele
criticou, afirmando que Parnaíba perdeu em alguns aspectos, mas ganhou em outros.
Fiz então a pergunta a ele, a
mesma que fiz a todos há alguns minutos, se Parnaíba deveria mudar de nome… Ao
mesmo tempo que logo respondi: Claro que não! E continuei, afirmando que o
mesmo podemos dizer do Almanaque da Parnaíba, que é sim, continua a ser, embora
com algumas mudanças e adaptações, o Almanaque da Parnaíba!
Tudo na vida evolui. O ser humano
também. Tenho a convicção de que não sou mais a mesma pessoa que iniciou no
mundo da escrita há 30 anos. Embora eu tenha mantido uma base de caráter e de
valores, em diversos pontos eu mudei, evoluí. O meu nome, então deve ser, por
isso, alterado? Eu devo ser desconsiderado ou desrespeitado?
Podem até não gostar da pessoa
que me tornei… Assim como não aceitarem a Parnaíba atual, todas as mudanças que
houve, pode-se até não aprovar ou não curtir o que o Almanaque se tornou… Mas
não é por isso que se deixa de ser o que é! Não é por isso que deixo de ser o
Claucio; não é por essa razão que teremos que mudar o nome de Parnaíba e nem
tão pouco dizer que o Almanaque só será considerado até a década de 80.
Em conversa com o amigo e
confrade Elmar Carvalho sobre esta questão e ocorrido, Elmar comentou:
“Como visto, a partir de 1994,
edição nº 61, o Almanaque da Parnaíba, na qualidade de sua revista, passou a
ser editado pela Academia Parnaibana de Letras. O número anterior data de 1985,
quando o periódico completara 62 anos de sua existência. Com exceção das
charadas, dos quadros estatísticos e das propagandas comerciais, praticamente
sua nova linha editorial manteve, em sua essência, o projeto anterior, senão
vejamos: continuou a publicar textos literários, tais como poemas, contos,
crônicas, ensaios e artigos, além de textos de caráter historiográfico ou sobre
cultura e arte.
Muitos desses trabalhos são de
alta qualidade e diria imprescindíveis para quem queira analisar a produção
literária parnaibana de 1994 a esta parte. Vários dos colaboradores dessa
época, escreveram em números anteriores do Almanaque. Cabe ainda salientar que
nos primeiros números editados pela APAL ainda foram publicados dados
estatísticos. Contudo, sendo essa publicação voltada preferencialmente para a
produção dos seus membros, esse viés, por não ter interesse literário, não foi
mantido por muito tempo. Com relação às charadas, nos dias apressados e
cibernéticos de hoje, já praticamente não há quem as faça, e, tampouco, quem as
leia; não vai nisso nenhuma crítica, mas uma simples constatação.
Entre os colaboradores desse
notável periódico piauiense, ao longo dessas três décadas, além dos acadêmicos,
podemos citar: Paulo Nunes, Renato Castelo Branco, Benjamim Santos, José Camilo
da Silveira Filho, Orfila Lima dos Santos, Vítor Athayde Couto, João
Evangelista Mendes da Rocha, João Maria Madeira Basto, Marc Jacob, Jorge
Carvalho, Norma Couto, Sólima Genuína dos Santos, Flamarion Mesquita, Cláudio
de Albuquerque Bastos, James Kelso Clark Nunes, Antero Cardoso Filho, Magalhães
da Costa etc.
A edição nº 67, de 2004, foi
comemorativa dos 80 anos do Almanaque; trazia em sua capa as imagens das capas
de números antigos e estampou em suas páginas as propagandas históricas e
interessantes de velhas edições. Durante várias edições, graças ao esforço de
Alcenor Candeira Filho, a nossa revista publicou uma coluna das “parnárias”,
com textos de poetas falecidos e vivos.
E a capa desta edição de 2023 (nº 75), por sinal muito esmerada (com
“efeitos visuais” modernos), utiliza em sua montagem a capa da edição inaugural
do Almanaque da Parnaíba. Comemora o Centenário do Almanaque, em plena
circulação, e os 40 anos da Academia Parnaibana de Letras, sua editora há 3
décadas.”
Enfim, Academia Parnaibana de
Letras, que é um forte exemplo de coisas importantes que, hoje, Parnaíba tem,
vem desempenhando um excelente trabalho, no que condiz à manutenção do
Almanaque. Digo porque, desde o primeiro número que a APAL assumiu, ou seja, o
61º, de 1994, quando eu ainda era um estudante da sétima série do ensino
fundamental, mas já apreciador da literatura, até chegar nas cinco últimas
edições lançadas, onde acompanhei de perto a produção, sendo um dos
organizadores das quatro mais recentes. Posso atestar o zelo para com que estas
páginas são construídas. O esmero que todos os presidentes tiveram, a citar o
mais recente, José Luiz de Carvalho, um batalhador da literatura e da cultura
em Parnaíba; assim como os meus confrades e parceiros de organização nestes
últimos: Antônio Gallas Pimentel, Diego Mendes Sousa, Maria Dilma Ponte de
Brito e Wilton Porto. Assim como não poderia deixar de destacar a pessoa que é
responsável por este periódico continuar vivo, o nosso Mecenas, o amigo e
confrade Valdeci Cavalcante. Além de todos os acadêmicos e escritores
convidados ou que participaram dos concursos literários realizados, com seus
inspirados textos, ao longo desses 30 anos! Sim, três décadas! Muito
provavelmente, se não fosse a APAL, o Almanaque até estaria completando 100
anos, mas apenas de aniversário de sua primeira edição, em se tratando de
publicações frequentes, só teria pouco mais de 60 anos…
Então pergunto:
Como alguém pode ignorar todo
esse rico trabalho desenvolvido ao longo de três décadas?
É o último questionamento que vos
deixo, ao mesmo tempo que afirmo, que certamente o tempo, este grande sábio,
cuidará de fazer justiça e eternizar essas memórias!
Muito Obrigado!”
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