domingo, 30 de junho de 2024

CROMOS DE CAMPO MAIOR - V

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CROMOS DE CAMPO MAIOR


Elmar Carvalho


           V

 

O Monumento aos Heróis da Batalha do Jenipapo

recorte de concreto contra a seda azul do céu

em pleno e plano tabuleiro dos grandes campos

                                                           de Campo Maior

não obstante bonito é apenas um símbolo da

coragem dos filhos da Terra dos Carnaubais

            e de outras terras

porque ela já fora indelevelmente

(de)marcada a ferro e fogo

em nossa memória e na

p’alma de leque das carnaubeiras e na

p’alma de nossa mão e de nossa alma.

sábado, 29 de junho de 2024

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Sonhos de um Velho Escritor Abandonado

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Sonhos de um Velho Escritor Abandonado

*Fabrício Carvalho Amorim Leite

Ao entrar na grande sala do abrigo, um raio de sol tocava os corpos franzinos ao meu redor, como que lutando para trazer vitalidade. Senti os aromas baralhados de remédios, alfazema comum, xixi, vômito, detergentes caseiros e mingau, que dominavam o ar – num pacto de cheiros como os roncos, lapsos, sussurros, gemidos e gritos abafados.

Não foi nada fácil parar e ouvir com a pressa dos jovens de hoje. Sempre no ritmo do Instagram, e sendo o dono do único smartphone de última geração no local. Senti-me uma criatura superior e desfocada pela rapidez das telas. “Ah, uma “evolução darwinista” tão perfeita”.

Para mim, os anseios dos velhinhos pareciam quase banais: levantar e andar sem sentir dores; saborear mesmo a insossa comida; receber uma visita. Um aperto de mãos. Um abraço. Respirar sem resmungar...

Notei um de trajes simples pisar sem pressa, os lábios em movimento, como quem discursa consigo. “Devia estar delirando ou falando com algum morto, como todos fazem”, refleti como um jovenzinho da nova geração.

No início, julguei-os egoístas, teimosos e ranzinzas. Mas, ao voltar à razão, percebi que o peso era da repulsa familiar, das vidas quebradas pelas decisões alheias, consumidas em (des) enganos.

Prometi a mim mesmo não seguir com os julgamentos, mas a tentativa foi como remar ao lado de Caronte, entre o sentir sincero e o fingimento vulgar. Meu desprezo por um deles, Seu Hermínio, intenso, transparecia enquanto ele, aos seus noventa e sete anos, enrugado e pacato, recitava sem parar o bendito Salmo Vinte e Três em cada conversa ... Com o tempo, passei a não gostar dele.

Olhei para ele novamente e vi uma luz regando seu ombro e seu pomo- de-adão; no fundo, havia calma e vitalidade. Seu Hermínio apertou meu braço. Eu alarguei as passadas e ele, acelerando, riu. De repente, disse: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam! ”

Esse salmo, sua prece e norte irritava meu peito. “Será o Seu Hermínio um realista esperançoso? “ – Me perguntei, ao me confrontar com a agonia de ter alguém tão dócil perto da ideia do Vale da Sombra da Morte.

Que tolice a minha repreender alguém que apenas exercia sua forte fé! Afinal, conviver ao lado de alguém que dorme e acorda no Vale pode ser perturbador, até para o mais crente na eternidade.

E então, acordei. Outro sonho bizarro se foi. Recebi minha medicação diária e, ao voltar a mim, notei as cadeiras cobertas com fitas azuis, vermelhas e amarelas. Uma vez mais, senti o cheiro dos avós abandonados.

Sorri bastante sozinho – o riso ainda vive neste velho, um sinal da evolução da espécie – ao lembrar do meu delírio juvenil enquanto visitava meus colegas de abrigo. Anotei mais esse no meu caderno amarelado e retomei minha rotina de velho escritor abandonado.

Ah, esses moços com seus julgamentos evoluídos...

(*) contista e cronista.   

domingo, 23 de junho de 2024

CROMOS DE CAMPO MAIOR - IV

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CROMOS DE CAMPO MAIOR


Elmar Carvalho


           IV

 

O rio Surubim cheio de

outros peixes e de surubim

não se parece nem com

peixe nem com cobra prateados:

no inverno é uma corrente de água viva.

É nele que as lavadeiras ganham a vida,

que os afoitos perdem a vida,

que os meninos pobres brincam de ser

apenas meninos – nem ricos, nem pobres.

Rio Surubim

onde os pe(s)cadores pe(s)cam

peixes e sereias de coxas grossas

            e sem escamas

na doçura de suas margens

na maciez de suas moitas mornas.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Poeta Elmar Carvalho lança documentário em homenagem a Amarante

 


Poeta Elmar Carvalho lança documentário em homenagem a Amarante

 

Amarante, a charmosa cidade do Médio Parnaíba do piauiense, ganha os holofotes em um novo documentário do renomado poeta Elmar Carvalho. O artista — que também é contista, cronista, romancista, memorialista, diarista, juiz de direito aposentado e membro da Academia Piauiense de Letras — traz à tona memórias e homenagens que destacam a rica cultura e história da cidade, além de figuras ilustres que marcaram sua trajetória.

A obra foi apresentada durante a Jornada Cultural em Amarante realizada na Casa de Cultura, Odilon Nunes, no domingo (16), uma iniciativa da Academia Piauiense de Letras, com o apoio da Academia de Letras do Médio Parnaíba (ALMP) e da Academia de Letras, Artes e Cultura de Amarante (ALEAMA). A programação do projeto, segundo a APL, visa aproximar a comunidade dos intelectuais e escritores piauienses com promoção de literatura e artes na região.

 

Relembrando Amarante com poesia

No documentário que tem duração de aproximadamente 20 minutos e 40 segundos, Elmar Carvalho compartilha suas gratas recordações de Amarante. Ele pinta com palavras poéticas os aspectos que mais o comovem. Elmar evoca ainda os belos versos de Da Costa e Silva, um poeta que sempre o tocou profundamente, especialmente ao descrever a igreja branca, as casas na paisagem verde, os mugidos dos bois e os engenhos locais. A conexão de Elmar com Da Costa e Silva é tão intensa que ele liderou uma campanha, ainda que sem sucesso, para trazer os restos mortais do poeta de volta à sua terra natal.

 

Uma viagem no tempo

Em tão somente 20 minutos e 40 segundos, os espectadores são levados a uma viagem no tempo, com Elmar narrando sua primeira visita a Amarante nos anos 80. Na época, o escritor trabalhava como fiscal da extinta SUNAB. Ele revive a “cidade azul dos poetas”, cercada pelos rios Mulato, Canindé e Parnaíba, e detalha sua estadia em uma antiga pousada durante uma noite fria e chuvosa, cheia de lembranças assombradas.

 


Homenagens a amigos e colegas

O documentário também presta tributo a amigos e colegas que compartilham o amor de Elmar por Amarante. Ele destaca sua amizade com Cunha e Silva Filho, renomado professor universitário e crítico literário, com quem mantém uma relação de admiração mútua e colaboração literária. Durante sua gestão na União Brasileira de Escritores do Piauí, Elmar promoveu encontros culturais em Amarante, reforçando ainda mais os laços culturais com a cidade.

 

A beleza e cultura de Amarante

O documentário não só reflete a beleza e a cultura de Amarante, mas também a paixão de Elmar por sua terra e seus conterrâneos. É uma ode à cidade e aos poetas que a celebraram em seus versos, como Da Costa e Silva, Clóvis Moura, Carvalho Neto, Marcelino Barroso e Virgílio Queiroz. Com uma narrativa rica e detalhada, a produção promete emocionar e encantar os espectadores, oferecendo um olhar profundo e nostálgico sobre uma das joias do Piauí.

 

Mergulhe na essência de Amarante

Prepare-se para mergulhar na história e na cultura de Amarante através dos olhos do poeta que, com talento e sensibilidade, captura a essência de uma cidade quase paradisíaca, rodeada por rios e repleta de histórias a serem contadas. O documentário é uma celebração poética e visual de uma terra que inspira e encanta, revelando as camadas de uma cidade rica em tradições e memórias.

Através do documentário, Elmar Carvalho não só nos oferece um vislumbre de Amarante, mas também nos convida a refletir sobre a importância de preservar e celebrar nossas raízes culturais. É um testemunho do poder da poesia e da memória em manter vivas as histórias de lugares e pessoas que moldam nossa identidade.

Fonte: Portal Somos Notícia.

DISCURSO DO DES. ARNALDO BOSON (*)

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DISCURSO DO DES. ARNALDO BOSON (*)

 

 Arnaldo Boson Paes é desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região.

 

Senhoras e Senhores,

Início estas palavras compartilhando a imensa alegria que sinto ao receber a generosa e gratificante Cidadania Parnaibana, que me acalma a alma e me torna irmanado com todos aqui presentes.

É tão grande a minha identificação com esta terra, com esta gente, com estas tradições, que, antes mesmo de passar a ser parnaibano por decreto legislativo, confesso que eu já o era pelo coração.

Esta é a cidade que aprendi a amar, desde meados de 1985, quando aqui estive, pela primeira vez, para participar de evento acadêmico no campus da então Universidade Federal do Piauí.

Minha admiração pela invicta e gloriosa Parnaíba se intensificou entre 1990 e 1993, quando aqui atuei como magistrado e passei a conviver fraternalmente com figuras ilustres e anônimas da sociedade local.

Retornei em centenas de ocasiões, a lazer ou a trabalho, nesta última condição como presidente e corregedor do Tribunal do Trabalho, ao longo de seis anos de mandato.

A cada dia nesta terra, crescia meu encantamento com as histórias, as tradições, as imagens, os cheiros, os sabores, os sentimentos e as emoções que brotam desta altiva e centenária cidade.

Prezadas e Prezados,

Em Parnaíba, somos magnetizados por lindas paisagens naturais e humanas, que tocam o coração e fazem deste o lugar ideal para se viver, sonhar e amar.

Joia encravada no Atlântico, a cidade assume seu espírito de metrópole. Por seu pioneirismo na adesão à Independência do Brasil, Parnaíba foi agraciada por Dom Pedro I com o título de “A Metrópole das Províncias do Norte”.  Hoje articula amplas redes de influência sobre a planície litorânea.

Cortada por rios, encoberta pelo céu azul, acariciada pela brisa fresca do mar e emoldurada por coqueirais infinitos, cajueiros imensos e dunas de areia dourada, seu cenário é paradisíaco, imensa aquarela pintada por mãos divinas.

Para os que a amam, pouco importam os limites geográficos entre os municípios: do mar aos rios, dos portos às dunas, do Delta às praias, do casario colonial às cidades adjacentes, tudo é Parnaíba.

São paisagens que enchem os olhos e nos convidam a adotá-las como companhias permanentes.

Cito a Pedra do Sal, onde

A natureza ao pôr-do-sol parece

Grandiosa catedral, em cujo seio

O oceano verde reza a sua prece.

 

(Poema Pedra do Sal, de EDISON CUNHA)

Cito, na mesma praia, o soberbo farol,

Vigilante na noite temerosa,

Grave missão cumprindo, silenciosa,

A pupila crepita e o espaço sonda...

 

E, pelo mar em fora, aos seus acenos,

Deslizam barcos, rápidos, serenos

Baloiçando, tranquilos, dentro na onda!...

 

(Poema O Farol, de EDISON CUNHA)

Cito o esplêndido ritual da revoada dos guarás. No labirinto de ilhas, ao por do sol, lindas aves de plumagem vermelha vão chegando aos bandos, em festa, em bela coreografia, decorando a floresta. Ao final do balé, pousam nos galhos das árvores e aninham-se em suas casas noturnas.

Cito ainda o Delta do Parnaíba, o Rio Parnaíba, o Rio Igaraçu, a Lagoa do Bebedouro, a Lagoa do Portinho e o Porto das Barcas, por onde ventos, remos e lemes moviam e continuam a mover barcos rumo ao progresso.

Na confluência de tantas belezas naturais, mulheres e homens, trabalhando de sol a sol, de lua a lua, vão tecendo o espírito empreendedor e cosmopolita do lugar e de sua gente. 

Parnaíba, no seu começo, era muito mais ligada à Europa do que a Oeiras ou a Teresina. Ergueu-se radiosa, soberana e elegante. Dos seus tempos áureos, permanecem os armazéns do cais, o casario colonial, as ruas alongadas, as praças arborizadas, as igrejas altas e bonitas, os palacetes modernos.

Monumentos e personalidades continuam vivos na memória afetiva da cidade, como testemunhos de seu passado glorioso e inspiração para novos ciclos de prosperidade, como pilares de um futuro promissor, descortinando horizontes.

Cito o velho solar dos Dias da Silva, a Casa Inglesa, os sobrados da Alfândega e do Arsenal de Marinha, o palacete da União Caixeiral, a Catedral da Divina Graça, a Igreja do Rosário, o prédio da Santa Casa de Misericórdia, as praças da Graça e de Santo Antônio, o colégio Nossa Senhora das Graças e o ginásio São Luiz Gonzaga.

A brisa que sopra sobre a Parnaíba secular, me traz à memória figuras históricas que deram projeção à terra, tornando-a excelsa e formosa. Entre tantos, sobressaem DOMINGOS DIAS DA SILVA, SIMPLÍCIO DIAS e JAMES FREDERICK CLARK.

Parnaibanos ilustres, de passado mais recente, contribuíram para o seu florescimento: EVANDRO LINS E SILVA, JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO, CHAGAS RODRIGUES, ALBERTO SILVA e MÃO SANTA.

Evoco, sobretudo, a memória de marinheiros, pescadores, canoeiros, vareiros, estivadores, barqueiros, vaqueiros, lavradores, prostitutas, trabalhadores em geral, gente simples e gente humilde, gente sem eira nem beira, cujo trabalho fez a riqueza de poucos e a pobreza de muitos.

Entre esses heróis anônimos, está MANDU LADINO: ao longo do tempo, seus algozes tentaram varrer seu nome da história gloriosa da terra que viria a ser Parnaíba, sede de tantos atos de bravura em busca da justiça. Esta, tantas vezes negada por aqueles que se julgavam senhores do destino de uma maioria entregue à própria sorte.

Robusto e astuto, MANDU LADINO comandou legiões de guerreiros com o intuito de conquistar para o seu povo o direito de existir. Tombou em combate, golpeado por caçadores de índios, ao tentar atravessar a nado o Rio Iguaraçu, em frente à então vila de Nossa Senhora de Monserrathe da Parnahyba.

Durante longo tempo, a saga desse herói ficou esquecida sob camadas de lodo impostas por seus opressores. Contudo, a sua bravura rompeu essas barreiras insidiosas, e hoje seus feitos heroicos ecoam por todos os rincões, a mostrar que nada é impossível quando se tem coragem e determinação.

Queridas e Queridos,

A história de um lugar e de seu povo é em boa parte a história contada por seus literatos: historiadores, romancistas, contistas, cronistas, poetas. O universo cultural, a atmosfera poética local, gerou escritores e obras de grande valor literário.

OVÍDIO SARAIVA DE CARVALHO E SILVA escreveu Poemas, marco inicial da Literatura Piauiense. LUÍZA AMÉLIA DE QUEIROZ, autora de As Parnaibanas, é a primeira poeta do Piauí. HUMBERTO DE CAMPOS evocou Parnaíba para perenizar seu cajueiro no célebre conto Um amigo de infância. RENATO CASTELO BRANCO produziu vasta obra literária ambientada em Parnaíba, a exemplo dos romances O Rio Mágico e Teodoro Bianca.

ASSIS BRASIL, um dos mais fecundos romancistas brasileiros, publicou mais de uma centena de livros, com destaque para os romances da Tetralogia Piauiense, em especial Beira Rio Beira Vida, marcado por forte denúncia social. Ambientado no bairro Tucuns, hoje São José, às margens do Rio Igaraçu, o romance ganhou o prêmio Walmap de 1965.

A poesia parnaibana é extensa e virtuosa. Sobressaem, entre antigos e novos poetas, JONAS DA SILVA, ALARICO JOSÉ DA CUNHA, EDISON CUNHA, R. PETIT, JEANETE DE MORAES SOUSA, ALCENOR CANDEIRA FILHO, ELMAR CARVALHO, V. DE ARAÚJO, ISRAEL CORREIA, DIEGO MENDES SOUSA e PÁDUA SANTOS.

Estimadas e Estimados,

Parnaíba não se releva apenas no seu passado de glórias. Há também um presente de prosperidade e um futuro radioso que se avizinha, cenário que se abre para uma realidade venturosa.

Para as glórias da Luz e da Prosperidade, como prenuncia a poesia Parnaíba, de JESUS MARTINS DE CARVALHO, a cidade já vive um novo ciclo de desenvolvimento.

A cidade experimenta uma explosão imobiliária, expande seu perímetro urbano, multiplica seus condomínios residenciais de alto padrão e bairros sofisticados vão se somando aos mais antigos e aos mais populares.

O seu mosaico econômico ganha amplitude e diversidade ao reunir variados polos de desenvolvimento, como são exemplos os polos comercial, de serviços, de turismo, do agronegócio, universitário e tecnológico.

Com a estruturação da ZPE - Zona de Processamento de Exportações e do Distrito Irrigado dos Tabuleiros Litorâneos, Parnaíba habilita-se para se integrar às cadeias globais de valor, com potencial para atrair novos negócios e conquistar novos mercados.

O Piauí passa por grandes transformações em sua matriz econômica e energética, sob a liderança do governador RAFAEL FONTELES. O Estado lança-se ao mundo para atrair investimentos e estruturar na planície litorânea um HUB de produção de energias renováveis, à base de hidrogênio verde, destinadas à exportação.

Parnaíba está no centro destas transformações. Com a conclusão das obras do Porto de Luís Correia e de seu sistema intermodal, que vai conectar ferrovias, hidrovias e rodovias, a região sediará dois dos maiores projetos de produção de hidrogênio verde do mundo, com investimentos estimados em U$ 200 bilhões.

Amigas e Amigos,

As cidades são como as pessoas, com o tempo mudam de fisionomia. Na paisagem social e urbanística de nosso tempo, a nossa gloriosa Parnaíba, hoje, são várias Parnaíbas, que convivem em um mesmo espaço geográfico.

A Parnaíba das mansões de luxo e a dos casebres. A Parnaíba rica e a dos bolsões de pobreza. A Parnaíba pacífica e a tomada pelas facções. A Parnaíba das oportunidades, com milhares de universitários, e a Parnaíba que busca um lugar ao sol no mercado de trabalho. A Parnaíba moderna e a Parnaíba antiga.

A qual destas Parnaíbas pertencemos? De qual destas Parnaíbas somos cidadãos? Pertencemos a todas essas Parnaíbas. Somos cidadãos de todas elas. Por todas elas temos grandes responsabilidades sociais, políticas e culturais.

Senhoras e Senhores,

Neste instante, abre-se para mim uma janela do tempo. Rememoro os momentos de vivência profissional e afetiva que construí no território parnaibano.

No exercício da magistratura, convivi com autoridades locais, empresários, trabalhadores, líderes de classe, advogados e servidores públicos. Com espírito cooperativo e trato cordial, com eles criei laços afetivos que os conservo até hoje.

Cito o juiz classista JOSÉ WILSON FERREIRA, com quem mantenho longa amizade. Frequentava sua casa na Rua Duque de Caxias, hospedava-me no seu sítio às margens da Lagoa do Portinho e por meio dele conheci e me tornei amigo de muitos parnaibanos. Aprendi com JOSÉ WILSON que amigo é para sempre.

Esta homenagem enche meu coração de graça e afeto. Duas razões mais recentes, porém, reforçam meus vínculos com esta terra. Ambas conectadas por laços de família.

Pesquisei recentemente sobre MONSENHOR BOSON, meu tio-trisavô, a quem dediquei uma biografia. Aqui estive escarafunchando arquivos para reconstituir a época, a vida e a obra do parente. Após 40 anos dedicados à Igreja e à educação, ele escolheu Parnaíba para continuar sua obra sacerdotal e educacional.

Aqui viveu por 16 anos, entre 1929 e 1945. Aqui instalou e foi capelão da Capela da Santa Casa de Misericórdia. Aqui foi inspetor federal de ensino e contribuiu na gestão do Ginásio Parnaibano, na criação de colégios, no aperfeiçoamento da educação local e na formação da juventude.

Aqui vive um parente querido, o parnaibano ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO DOS SANTOS, ex-promotor de justiça e defensor público aposentado, neto do maestro JOSÉ BOSON RIBEIRO, que imortalizou o bombardino da saudade. PÁDUA é um legítimo Boson, mas, na curta e sinuosa travessia do Buriti dos Lopes a Parnaíba, seus antepassados deixaram para trás o sobrenome da família.

O honroso título de Cidadão Parnaibano que agora recebo é filho da bondade do parente PÁDUA SANTOS. Como vice-prefeito e vereador desta cidade, ele foi tecendo uma teia de amizades. Como poeta, contista e cronista, ele conserva um coração sensível e uma alma generosa.  Ao parente, fica a minha gratidão e a minha amizade.

Prezadas e Prezados,

É hora de agradecer e finalizar.

Então, ao ser-me concedido o honroso título de Cidadão Parnaibano, pela Augusta Câmara Municipal, expresso meus agradecimentos à terra e à gente parnaibana, na pessoa do vereador DANIEL JACKSON, por todos os seus ilustres pares.

Agradeço aos conselheiros OLAVO REBELO DE CARVALHO FILHO e JAYLSON FABIANH LOPES CAMPELO pela alegria e honra desta acolhida conjunta, fruto da conspiração do acaso e de nossas amizades.

Agradeço aos ilustres convidados que me honram com a sua presença fraterna, em especial aos que vieram de Teresina para celebrar comigo este momento especial.

Agradeço aos meus diletos amigos e queridos familiares e a todos estendo a homenagem que recebo da Câmara Municipal de Parnaíba, na certeza de que eles também se sentem homenageados comigo, nesta noite memorável.

Para concluir, evoco trechos do poema O centenário de Parnaíba, de ALARICO JOSÉ DA CUNHA, que nos conclama a cultivar as tradições e a acreditar no futuro luminoso desta terra e de sua gente:

A invicta Parnaíba, erguendo-se radiosa,

Excelsa, soberana, elegante e formosa,

[...]

Ó Parnaíba invulgar! És tu que tens a dita

De ser, neste nordeste, a mais cosmopolita,

A mais empreendedora, a mais hospitaleira;

[...]

Bendita, gloriosa, altiva e centenária!

Sagrada pelo povo, que em preces te bendiz

Assegurando-te a Paz de um século mais feliz.

 

Muito obrigado!

(*) Pronunciado pelo Des. Arnaldo Boson, por ocasião do recebimento do Título de Cidadão Parnaibano, que lhe foi outorgado pela Câmara Municipal de Parnaíba, no dia 14/06/2024.   

domingo, 16 de junho de 2024

CROMOS DE CAMPO MAIOR - III

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CROMOS DE CAMPO MAIOR 


Elmar Carvalho


           III

 

A catedral de

Santo Antônio do Surubim

é bonita e imponente.

Sua torre faz

cócegas nas nuvens:

dir-se-ia uma espada de

Santo Antônio a brincar

com as nuvens e com as estrelas

ou uma escada em demanda do céu.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

DOIDO POR CARROS



DOIDO POR CARROS  


Elmar Carvalho                    

 

Sempre o vejo, perto do semáforo do cruzamento das avenidas Petrônio Portella e Duque de Caxias. Vem de longe ou vai para longe, a descer ou a subir a ladeira do Parque da Cidade. Caminha puxando o seu minúsculo carro de brinquedo. Mas não é nenhuma criança. Deve ter mais de trinta anos. É o que o vulgo convencionou chamar de doidinho.

 

Todos os dias fica, pontualmente, no semáforo, como se estivesse a cumprir uma jornada de trabalho, a passar sua esfarrapada flanela nos carros, que esperam a abertura do sinal verde. É como se fosse um ritual; contorna o veículo a lhe esfregar o velho trapo vermelho. Parece estar cumprindo uma obrigação. Não espera receber moedas, pois nunca as solicita. Se algum motorista lhe oferta alguma, não lhe dá a mínima importância, e a guarda displicentemente no bolso, quase como se estivesse a fazer um favor a quem a deu.

 

Soube que uma pessoa bondosa lhe deu um carrinho novo de presente. Parece não ter dado importância ao mimo, uma vez que continuou a puxar o seu diminuto e velho brinquedo. Talvez tenha ficado com pena de deixá-lo esquecido, no canto, como se costumava dizer antigamente, por causa de um novo amor.

 

Poucos dias atrás, o vi a puxar por um cordão um de seus velhos carrinhos. Era um caminhão, com duas desproporcionalmente grandes rodas dianteiras, sem nenhuma na parte de trás, que lhe faziam empinar a frente, como um avião sem asas e sem voo. Vi quando ele fez o brinquedo dar o chamado “cavalo de pau”, a rodopiar sobre si mesmo.

 

Admirei-me dessa sua atitude, pois ele é muito circunspecto, e até mesmo a usar um brinquedo não gosta de brincadeira, e não sorri. Aparenta viver hermeticamente fechado em seu mundo de silêncio e demência, porquanto não liga a mínima para os passageiros, mas apenas cumpre religiosamente a sua autoimposta tarefa de “abanar” os carros com a sua escassa tira de flanela. Tudo indica que vive num mundo só dele.

 

Em sua mansa loucura, nunca o vi furioso ou revoltado, mas apenas a cumprir, como um autômato, o mister que impôs a si mesmo. Mas me contaram que outro dia ele se revoltou contra uma ambulância. Ficou bastante agitado, e em lugar de seus afagos flanelísticos, quis espancar o carro.

 

Embora sem nenhuma vocação detetivesca a la Sherlock Holmes, e sem o adjutório do bom e elementar caro Watson, deduzi que, numa de suas crises, pois até os chamados sãos têm as suas, alguma ambulância deve tê-lo levado para longe de seu rebanho de carros, para confiná-lo em algum hospício, onde lhe devem ter aplicado alguma dolorosa injeção medicamentosa, ou onde lhe podem ter ministrado alguma dosagem/voltagem de choque elétrico, que, segundo ouvi um psiquiatra dizer, ainda tem a sua eficácia, não se tornando, ainda, de todo obsoleto e banido do mundo da medicina.

 

Oxalá, tenha sido excluído das práticas de tortura, que não mais deveriam existir; que, aliás, nunca deveriam ter existido.

11 de agosto de 2010

domingo, 9 de junho de 2024

CROMOS DE CAMPO MAIOR - II

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CROMOS DE CAMPO MAIOR


Elmar Carvalho


           II

 

Serra Grande

de Campo Maior.

De longe parece

uma dobra do céu.

Nela eu menino fui

buscar uma pedra azul.

Ledo engano, triste decepção:

minha serra era da cor da terra.

Dizem que nela vagam os

fantasmas de uns padres que em

suas entranhas enterraram ouro.

É por isso que nas noites negras em

suas encostas acendem-se fogueiras:

é meu povo pobre procurando

o (tes)ouro vigiado pelos

fantasmas dos padres.   

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Invisíveis

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Invisíveis

*Fabrício Carvalho Amorim Leite

Casa grande, família à maneira colonial, lá seguia a patroa Leopoldina, com uma pequena escanchada no pescoço e outra prestes a nascer. Chegava e ia direto encontrar Isaura, minha amiga educada e econômica nas palavras, sempre em seu porão.

Na infância, enquanto descobríamos o mundo da cozinha e da despensa, acompanhados de cafunés, afagos e beijos, Isaura já vivia em esgotamento. Mesmo com as juntas ainda jovens, lavava e enxaguava muitas roupas por dia. Agora, anos depois, Isaura estava avoada, ofegante, e puída — a velha ampulheta lembrava seu cansaço.

Carteira assinada? Folgas? Nem pensar. E diziam que jamais foi bulida nesta vida do Nosso Senhor. Sobrevivia num quase-certo regime monástico, sem documentos e praticamente inexistente para o mundo real.

“Leopoldina, alivia o trabalho da velha criada, o mundo já foi muito exigente com ela. Há outras bem mais preparadas para isso,” dizia o Dr. Bustamante, seu rico marido e cúmplice, tentando soar compreensivo. Homem prático e direto, com uma dramaturgia oportunista. Sua voz era baixa e mansa, como querendo disfarçar a invisibilidade imposta a Isaura.

Observei Dr. Bustamante pegar uma pilha de roupas e começar a lavar como minha mãe fazia e como vovó ainda faz, aos seus oitenta anos. Meus pensamentos dúbios surgiram; era difícil não ver hipocrisia. Enquanto isso, Dona Leopoldina, alheia à cena, começou a olhar os anúncios da internet, como sempre fazia, consentindo silenciosamente a hipocrisia.

Voltei para casa refletindo como, na invisibilidade, uma certa ordem parecia ser trazida ao curso natural das coisas.

Na última visita, corri para ter com a amiga de infância. Olhei ao redor, mas só vi uma estranha. Ela aparentava ser contemporânea e autônoma, sem noção das penúrias da serva anterior. Seus direitos trabalhistas estavam estampados no rosto — que ironia! Será que Isaura havia sido trocada por alguém mais visível?

Descobri então que Isaura tinha sido despedida sem aviso. Ao ver o seu porão vazio, padeci de um sentimento de culpa. Porque não defendi Isaura, que sempre esteve visível para mim, mas parecia invisível para o resto mundo?

E, assim, inspirado por Graciliano Ramos sobre a arte das lavadeiras “Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja, torcem o pano, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes”, através da escrita, prometi tornar visíveis os invisíveis.

(*) cronista e contista.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

UMA NOITE GURGUEANA

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Uma noite gurgueana


Elmar Carvalho

 

Na sexta-feira ocorreu a solenidade de posse de Jesualdo Cavalcanti Barros, que passou a ocupar uma das cadeiras da Academia Piauiense de Letras. Foi uma verdadeira noite gurgueana. Estavam presentes vários de seus parentes e amigos, além de muitos de seus conterrâneos. O presidente do sodalício, Reginaldo Miranda, é também das ribas gurgueanas, mais precisamente de Bertolínia.

 

Durante quase quatro anos, semanalmente,  eu passava por essa cidade, quando era alta madrugada, a bordo de um velho e empoeirado ônibus da Princesa do Sul, quando ia para a longínqua Comarca de Ribeiro Gonçalves. Reginaldo em sua breve, porém entusiasmada palavra, exaltou a cultura dessa região e enalteceu os seus principais representantes. O novel acadêmico, que escreveu o notável livro Memória dos Confins, falou sobre os primórdios históricos dessa plaga dos cerrados piauienses.

 

No seu entendimento, a colonização do Piauí começou por lá, usando como fundamento o fato de que as primeiras sesmarias estavam ali encravadas, bem como a circunstância de que parte dessa região se limita com a Bahia, e consequentemente era o local mais próximo da famosa Casa da Torre, de onde teriam saído os primeiros desbravadores de nosso território.

 

Falou dos homens ilustres do Gurgueia, sobretudo aqueles que pontificaram na cultura e ocuparam cadeira de nossa academia. Elogiou, com muita ênfase o seu antecessor, João Gabriel Baptista, em suas várias atividades, mormente como administrador público competente e probo, como professor talhado para o mister e como historiador e geógrafo de nosso estado, que muito contribuiu com seus livros para a elucidação de fatos e aspectos dessas duas matérias, trazendo novidades, e não repisando fatos já sabidos e já escritos.

 

O escritor Oton Lustosa, que lhe fez a saudação, fez o seu justo elogio, lhe louvando as qualidades de homem público e de historiador. Também enalteceu a história dos confins gurgueanos, exaltando seus filhos ilustres, mormente os que palmilharam os caminhos da arte e da literatura.

 

Foram dois excelentes discursos, que bem merecem ser recolhidos em livro. Não posso deixar de dizer, sob pena de esta nota ficar incompleta, que o coquetel foi farto, variado e delicioso.  

10 de agosto de 2010

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Açude Grande de Campo Maior

 



Texto: Francisco Carlos Araújo ( Chico Acoram)
Foto: Gilson Leonardo de Sousa   

domingo, 2 de junho de 2024

CROMOS DE CAMPO MAIOR - I

Fonte: Google

 

Cromos de Campo Maior


Elmar Carvalho

 

           I

 

Açude Grande

apenas no nome, mas pequeno

na paisagem ampla dos descampados.

Tuas águas cinzentas

azularam-se em minha saudade.

Tuas águas barrentas

são tingidas de azul pelo

azul do céu que se espelha

em tuas águas de chumbo.

Em ti os pobres lavam

coisas e se lavam,

apesar das placas, dos guardas

e da postura municipal.