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OS BICHANOS
Elmar Carvalho
Dias atrás, a Francisca Maria
descobriu três gatinhos, que o dono abandonou, covarde e sorrateiramente, na
frente de minha casa. Os meninos do colégio defronte, principalmente as
garotas, olhavam os bichanos com simpatia, mas ninguém se dispunha a levá-los
para criar. Mas terminaram sendo acolhidos, um a um, através de incentivos
recíprocos de colegiais.
Isso me fez lembrar a grande
quantidade de gatos abandonados, que vagam por entre os túmulos e alamedas do
cemitério São José, uma das mais antigas construções de Teresina. Não sei de
que sobrevivem os bichanos do campo santo. Por associação de ideias, recordei-me
de uma reportagem televisiva, que narrava o episódio de um gato extremamente
apegado ao dono; quando este faleceu, o bichano passou a residir em seu
mausoléu.
Não se sabe como, entre as
centenas de sepulturas da imensa necrópole, o animal conseguiu localizar a de
seu dono. Entre as hipóteses aventadas, falou-se de que o gato se guiara pelo
olfato, através do qual rastreara o cheiro do falecido. De minha parte, não
descarto a possibilidade de que esse animal possa ter outros sentidos, que
desconhecemos, algo como uma intuição afinada, uma espécie de sintonia fina ou
mesmo um sexto ou sétimo sentido. Sempre se falou que gatos são meios
misteriosos e que teriam sete vidas.
Soube, tempos atrás, que um fato
interessante aconteceu no velório de um primo de meu pai, chamado Gonçalo
Furtado de Carvalho. Esse parente nascera em Piripiri, mas se radicara em
Esperantina, onde se tornara uma pessoa estimada, graças ao seu bom caráter e
serviços prestados. Deixou um livro de poemas.
Tinha ele um gato, de raça
afamada pela beleza. O bichano lhe tinha verdadeira veneração, e era
correspondido na mesma intensidade. Quando Gonçalo faleceu, o bichano como que
participou do velório. De tardezinha, na hora da saída do cortejo fúnebre, o gato
inesperadamente saltou para cima da urna funerária, e começou a beijar com
sofreguidão o tórax de Gonçalo, como se estivesse se despedindo. Ou como se
pretendesse acordá-lo.
Parecia saber que não mais o
veria, e quisesse, dessa maneira, externar, da forma mais carinhosa e sentida
que podia, a sua homenagem, gratidão e amor. Creio que quem mereceu tão
enfática e comovente homenagem de um ser, que muitos chamam de bruto, só pode
ter sido um homem verdadeiramente bom.
1º de setembro de 2010
Os bichanos não fala pra não dar recado mas amam e sentem até quando o seu dono adoece Eu adoro gato.Aqui tenho três o totó e a nina castrados atendem pelo nome o pepeto
ResponderExcluirNa minha rua há 13, aparentemente sem dono. Vivem da bondade de uma moradora que, com carinho e atenção, cuida deles, lhes água, comida. Sempre ao cair da tarde, quando ela chega do trabalho, cumpre esta "obrigação" e eles vão dobrevivendo.
ResponderExcluirUma bela crônica ou um conto, estimado poeta e confrade Elmar, não sei identificar, tal a perspicácia social relativa aos bichanos, tal as circunstâncias da vida relatadas com exímios discernimento e eloquência. Na verdade, mais uma poesia maravilhosa. Obrigado, mei Irmão, por compartilhar essa linda mensagem!!!
ResponderExcluirSonho com o dia em que toda a humanidade tenha uma relação mais harmônica com os animais. Eu, particularmente, amo os felinos (e outras espécies). Belo texto, meu amigo.
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