A. Tito Filho – um breve depoimento (*)
Elmar Carvalho
Conheci o escritor e professor José de Arimathéa Tito Filho,
ou simplesmente A. Tito Filho, seu nome literário, desde meados de 1985.
Morando em Teresina desde agosto de 1982, quando assumi meu emprego na extinta
Sunab, costumava passar de motocicleta na frente da antiga sede da Academia
Piauiense de Letras, da qual ele era presidente. Porém, nunca adentrei esse
imóvel.
Em 1985 a APL adquiriu sua sede própria, situada na Avenida
Miguel Rosa, 3300 – Centro Sul, através de doação do Estado do Piauí, quando
eram governador do Estado e secretário estadual da Cultura, respectivamente,
Hugo Napoleão e Jesualdo Cavalcanti, que se tornaram mais tarde membros do
sodalício. A partir dessa época passei a frequentar o belo e sobranceiro
sobrado solarengo em que A. Tito Filho dava expediente todo dia.
Recebia-me com alegria. Entretínhamos animada conversa, de
conteúdo literário, mas recheada de “causos” ou episódios anedóticos, em que
figuravam importantes personalidades de nossa literatura. Nessa prática o
professor destilava seu humor, salpicado de finas ironias. Muitas vezes minha
visita foi registrada no Notícias Acadêmicas, boletim mensal que ele publicava
com regularidade.
Prefaciou inúmeros livros. Em sua coluna literária, em
jornais de Teresina, emitiu comentários sobre centenas de obras e autores, mas
sem ferir a suscetibilidade de quem quer que fosse. Comentava-se que quando a
obra não tinha mérito literário, ele falava sobre a personalidade e biografia
do autor, ou sobre os temas abordados no livro. De qualquer sorte, todos
ficavam felizes em merecer uma resenha ou comentário de A. Tito Filho.
No primeiro governo de Alberto Silva coordenou o ousado Plano
Editorial do Estado do Piauí, em que foram publicadas dezenas de obras
importantes e emblemáticas da literatura piauiense. Para várias dessas obras
ele elaborou abalizados comentários críticos, além de ricas notas esclarecedoras,
interpretativas ou de caráter elucidativo, filológico e biográfico.
Um dia em que eu conversava com ele, um velho intelectual
piauiense, de saudosa memória, já um tanto debilitado pela idade, lhe perguntou
se a pronúncia correta da palavra nascimento era “nacimento” ou “naiscimento”.
O mestre lhe respondeu com uma pergunta: “Entre o a e o s
existe um i?” O consulente lhe respondeu que não. Ele simplesmente acrescentou:
“Então, você já tem a resposta”. Isso demonstrava a vivacidade, a verve e a
suave ironia bem-humorada do grande mestre, erudito e filólogo.
Nasceu em Barras, em 14 de outubro de 1924, e faleceu em
Teresina, em 27 de junho de 1992. Portanto, aos 68 anos incompletos. Era filho
de Arimathéa Tito e Nize do Rego Tito. Órfão desde o nascimento, pois sua mãe
morreu em virtude de complicação no parto. Exerceu vários e importantes funções
e cargos públicos, entre os quais os de secretário estadual da Educação e da
Cultura, mas foi sobretudo professor de Português, escritor e filólogo. Escreveu
inúmeros livros, entre os quais Teresina,
meu amor, Gente & humor, Sermões aos peixes, Memorial da Cidade Verde,
Praça Aquidabã, sem número e Crônicas da cidade amada.
Contudo, a sua obra magna talvez tenha sido exercer a presidência
da APL, por mais de vinte e um anos, com invulgar competência e total dedicação;
nisso se esmerou. Segundo Wilson
Carvalho Gonçalves, ilustre escritor e historiador barrense, de quem tive a
honra de ser amigo e de lhe prefaciar e apresentar vários livros, ele foi “uma
das maiores culturas do seu tempo, liderou a vida cultural piauiense durante
três décadas. Era um animador e um incentivador da vida cultural piauiense”.
Eu mesmo posso dizer que fui estimulado por ele. Um dia,
perto de sua morte, numa de minhas visitas habituais, em seu gabinete na APL,
ele me disse que eu era um amigo da Academia, e que já estava me tornando um
“academiável”. Em seguida, me recomendou enfeixasse meus poemas em um volume,
porquanto desejava publicá-los. Fiz o que ele me recomendou. Meses depois, ele
morreu. Contei esse diálogo ao professor Paulo Nunes, seu sucessor, que me
disse manteria a promessa de A. Tito Filho, mas desde que meu livro fosse
submetido ao Conselho Editorial da entidade. Em 1995 esse livro, a que dei o
nome de Rosa dos Ventos Gerais, foi editado, através de parceria entre a APL e
a UFPI. Foi meu primeiro livro individual. Antes eu tivera participação em
várias coletâneas e antologias, mas nunca em um livro exclusivamente de minha
autoria. O seu aceno inicial de que “já estava me tornando academiável” ,
veio a se concretizar em 2008, quando me tornei membro efetivo da APL.
Sou muito grato ao notável intelectual, orador, erudito e
escritor A. Tito Filho, cronista e filólogo de escol, de quem tenho gratas e
felizes recordações. E dele sinto saudades; por isso o tenho sempre presente em
minha lembrança.
(*) Pronunciado em Barras, no dia 19/10/2024, no V SARAU COLETIVIZANDO CULTURA, promovido pelo grupo Coletivo de Leitura.
Grande cidadão ,cronista escritor,jornalista conseguiu uma sede própria da APL.Aqui no museu D.Avelar tem uma sala em homenagem a ele era muito amigo do padre Pedro Maione.
ResponderExcluirBom dia, Elmar, não conhecia a biografia desse escritor. Belo texto.
ResponderExcluirEverardo-Parnaíba
Obrigado pelos comentários, caros amigos.
ResponderExcluirParabéns Elmar por tantos trabalhos publicados fazendo história.
ResponderExcluirObrigado. Valeu!
ResponderExcluirRosa dos ventos gerais
ResponderExcluirElmar Carvalho Carvalho, fazendo seu comentário da passagem de A. Tito Filho, bem como seus feitos no campo literário por onde passou, deixando seu registro e sua marca, ele era um exímio escritor que muito contribuiu para nossa cultura no Piauí. Falar do renomado A. Tito Filho, homenagem mais do que justa para que muitos saibam da sua importância como educador e visionário por onde passou. Elmar conta um pouco de seus feitos, pois teve oportunidade de conviver alguns momentos ao lado do grande A. Tito Filho.
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