sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

POSSE ACADÊMICA NA ACALPI

Elmar Carvalho e a juíza e acadêmica Regina Coeli Freitas

 

POSSE ACADÊMICA NA ACALPI


Elmar Carvalho

 

Neste domingo, tomei posse da cadeira nº 39 da Academia de Ciências, Artes e Letras de Piripiri – ACALPI. A solenidade aconteceu no prédio da Câmara Municipal. O auditório estava lotado. Foi uma bela festa literária, a que não faltaram, sequer, música e farto coquetel. Vários acadêmicos estavam presentes, alguns vindos de Teresina, como foi o caso do maestro e professor Vagner Ribeiro, e de outras cidades.

 

Vários descendentes e parentes do padre Freitas, de Baurélio Mangabeira, de Osíris Neves de Melo e de Raimundo de Freitas e Silva marcaram presença, assim como outras pessoas interessadas em cultura e literatura, entre as quais Brito Júnior, chefe do Poder Legislativo local. De Campo Maior veio uma comitiva, representando meus conterrâneos, composta por João Alves Filho, presidente da Academia Campomaiorense de Artes e Letras, pelos acadêmicos Cardosinho e Corinto Filho, e pelo professor e músico José Francisco Marques.

 

A solenidade foi presidida pelo jornalista, poeta e escritor Willekens Van Dorth; o cerimonial esteve sob o comando do acadêmico e juiz de Direito João Bandeira do Monte Filho, que foi o responsável pelo discurso de recepção ao artista plástico Luís de Assis Silva, que tomava posse da cadeira nº 22, patroneada por Tomás de Sousa Menezes. Na oportunidade, foi homenageada a banda Os Dragões, de bela e longa trajetória musical, com a Comenda do Mérito Data Botica, pelos relevantes serviços prestados às artes e cultura.

 

A minha cadeira tem como patrono o poeta Raimundo de Freitas, sobre o qual discorri em meu discurso. Era ele casado com Francisca Melo Freitas, irmã de meu avô materno. Falei, brevemente, sobre alguns de meus parentes e ancestrais, uma vez que só pude ser candidato porque minha avó paterna nascera em Piripiri. Falei dos pontos aprazíveis e pitorescos da cidade, bem como de muitos de seus poetas, escritores, artistas e magistrados.

 

Meu pai, que morou por pouco tempo na cidade, quando trabalhou numa filial da então poderosa Casa Inglesa, em sua juventude, estava presente e se emocionou a valer. Explanei que estive em Piripiri em várias oportunidades, inclusive na minha meninice, quando cheguei a bordo de um trem, puxado por uma locomotiva a diesel, e na minha adolescência, quando disputei uma partida de futebol, atuando como goleiro, cujo resultado já não recordo; mas também participei de muitos eventos literários, em minha maturidade, várias vezes a convite da professora e escritora Clea Rezende Neves de Melo, que abrilhantou a solenidade com a sua presença.

 

Quando falei do célebre padre Domingos de  Freitas e Silva, expliquei que o enaltecimento de um homem, através de suas palavras, pode ser um ludíbrio, em que a estátua pode ficar bem maior que o modelo, mas que os seus atos e ações mostram a verdadeira essência de seu caráter, e citei quatro episódios e atitudes pelos quais esse sacerdote pode e deve ser considerado o pró-homem por excelência de Piripiri.

 

Eleito por unanimidade, agradeci os confrades por tão belo e nobre gesto de compreensão e apreço. Fui recebido pela juíza de Direito e acadêmica Regina Coeli Freitas, que proferiu um excelente e emocionante discurso, entremeado de versos de minha autoria, que me comoveu e me afagou a alma. 

19 de outubro de 2010

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Sermão das Cornudagens

Fonte: Google


Sermão das Cornudagens


Fabrício Carvalho Amorim Leite

Cronista e contista


Agora, cobiçar, meu Deus, a mulher do próximo não deveria ser pecado. Na maioria das vezes, é mais castigo e aflição. Mas avançar? Ah, isso já é outra história.

Ele era operário de dia, pastor à noite. Em casa, um culto aconchegado. Na mente, a exegese perfeita — e um desprezo mal fingido pelos doutorezinhos da teologia. Trazia uma ideia fixa, e isso para não usar a palavra pior.

— Que é esquisito, é — resmungou a vizinha, lançando um olhar enojado ao templo, como quem mira o ponto certo para atirar uma tocha. — Isso não está na Bíblia, juro de pés juntos — disse, enquanto remexia o terço e traçava sinais da cruz com dedos.

Uma puritana da igreja tentou dialogar com o Ministro, mas, diante de seus argumentos insistentes e gestos nada ortodoxos, desistiu.

Como um Bom Pastor, doutrinava, com a convicção dos mais ungidos:

— Nós, os justos, como dizem as Escrituras, devemos permitir que eu os adultere com suas mulheres. E eles, em êxtase, louvaram mil vezes, entre vivas e gestos inomináveis.

— Imaculada, amor, você foi a escolhida do dia — disse Plácido — hoje é o momento de cuidar das necessidades espirituais. Banhe-se, perfume-se, louve a Jesus e deixe o Pastor concluir o milagre. O lençol está cheiroso — fiz um sacrifício para comprar — e, para não ser indiscreto, sairei para o mercado.

E, assim, Plácido, fiel de brandura exemplar, cumpridor da Palavra, saiu com uma alegre paz de Cristo.

Não se pode negar: o Ministro cuida do seu rebanho. É doce, de fala mansa, apaziguava qualquer desarmonia matrimonial, sempre anunciando:

Cuidado com os lobos em pele de cordeiro!

E, das cadeiras de plástico, em êxtase, todos respondiam:

Aleluia! Aleluia!

Até que, um dia, veio a intimação... Denúncia: crimes contra a dignidade sexual.

Depoimentos colhidos. Uma fiel jurava ter recebido uma revelação divina — daria filhos ao Pastor. Outra, de fé inabalável, com o marido, olhos ao céu, em louvor. Um a um, seguiram-se os testemunhos de pura fé cristã.

Por fim, o acusado começou: fala aveludada, terno de bacana, colarinho engomado, perfume francês — um sultão da periferia. Iniciou sua defesa — ou melhor, sua pregação.

— Irmãos, oremos, pedimos indulgência, nos entregamos em piedade. E o Senhor nos deu claramente a direção, em Oséias 3: E o Senhor me disse: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, e adultera.

O Delegado ajeitou os óculos, folheou as anotações e encarou o Pastor.

— Então, quer dizer que o senhor baseia sua defesa na Bíblia? Pois bem, vejamos... — Pigarreou, tomou o relatório e leu em voz alta:

"Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, e adúltera..."

Pausou, semicerrou os olhos.

— Pastor, o senhor sabe a diferença entre "adúltera" e "adulterar”? Porque uma coisa é amar uma mulher infiel, como diz o versículo. Outra, bem diversa, é adulterar mulheres de seus amigos.

O Pastor ajustou a gola, engoliu em seco e murmurou:

— Ah, tá... já sabia que reduziriam tudo à maledicência da cornudagem e um simples erro de grafia — disse, dando de ombros.

                                                                                                                             Fevereiro,2025.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

NA NOITE

Fonte: Google

 

NA NOITE


Elmar Carvalho

 

Na noite

um sapo coaxa.

Uma puta triste

acha graça. Acha graça.

Um galo

às desoras desfere um canto

fora de hora. E chora.

Um cão ladra por nada:

nenhuma cadela no cio.

O silêncio

grita como louco

na concha acústica

dos labirintos dos ouvidos moucos

por onde um Teseu lasso caminha

em busca do Minotauro – perdido

sem o fio de Ariadne –

conduzido por outro fio

que parte / se parte e

se reparte entre o ser

e o não ser.

E os gritos de Teseu

arrancam ecos

que já ecos de si mesmos

se repetem se repetem

até a mais completa

absoluta exaustão.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

DISCURSO DE RECEPÇÃO A 5 NOVOS ACADÊMICOS DA APC (*)

Elmar Carvalho pronuncia seu discurso de recepção aos novos acadêmicos

Diva Figueiredo e Aurélio Melo, novos acadêmicos
Manuel Domingos Neto, presidente da APC
Fides Angélica, Felipe Mendes e Manuel Domingos Neto
Severo Eulálio, Paulo Gutemberg e Manuel Domingos Neto
Felipe Mendes, Messias Júnior e Diva Figueiredo




DISCURSO DE RECEPÇÃO A 5 NOVOS ACADÊMICOS DA APC (*)
 

Elmar Carvalho

 

Nesta noite festiva e cultural, a Academia Piauiense de Cultura se regozija em receber cinco novos acadêmicos, figuras emblemáticas e proeminentes nas searas da cultura, da intelectualidade e das artes, a primeira solenidade de posse após a sua instalação efetiva, na memorável noite do dia 23/07/2022, acontecida no Porto das Barcas, em que tomaram posse seus 40 membros fundadores.

Não posso deixar de referir que nesta oportunidade também será lançado o número inaugural da revista Peleja (ano 0, nº 1, fevereiro de 2025), que será o órgão de divulgação de nosso sodalício. Não posso usar outra expressão, a não ser proclamar que esse número está magnífico, pela qualidade do papel couchê em que foi impressa, pela sua excelente diagramação e, sobretudo, pelas matérias nela coligidas e pela beleza de suas ilustrações e fotografias. E os novos acadêmicos contribuíram para a sua excelência, através de textos, formatação e programação visual. 

Fui designado, em reunião dirigida pelo nosso presidente Manuel Domingos Neto, para fazer o discurso de recepção aos cinco novos confrades. Missão muito honrosa, no entanto, muito difícil, porquanto em tempo exíguo terei que saudar e louvar pessoas tão valorosas, detentoras de muitos títulos e conquistas e de extensos e ricos currículos. Mais difícil ainda porque devo dedicar aproximadamente o mesmo tempo e atenção a cada um, de modo que os louvores e encômios sejam de idêntica lapidação e quilate. Seguirei a ordem do número das cadeiras que ocuparão.

Felipe Mendes de Oliveira será o primeiro ocupante da cadeira nº 41, cujo patrono, por ele escolhido, é o professor Manoel Paulo Nunes. Nasceu em Simplício Mendes, em 19 de abril de 1949. Formou-se em Economia. Especialista em Consultoria Industrial e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Nosso confrade exerceu os mais importantes cargos públicos, entre os quais citarei os seguintes: secretário da Fazenda e do Planejamento do Estado do Piauí; secretário do Planejamento e de Finanças da Prefeitura de Teresina; presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba – CODEVASF; Deputado Federal em três mandatos, tendo participado da elaboração da Constituição Federal de 1988. Congressista dos mais atuantes, conseguiu verba para importantes obras no Piauí, entre as quais várias barragens, Hospital Universitário (UFPI) e Tabuleiros Litorâneos. Professor aposentado de Economia (UFPI). Meu confrade na Academia Piauiense de Letras.

Autor, entre outros, do livro Economia e Desenvolvimento do Piauí, que se tornou um clássico. Enciclopédico, no dizer de Teresinha Queiroz. Sobre essa obra canônica tive a oportunidade de dizer: “Sem dúvida o magistério superior de economia, as longas e profundas leituras e a experiência e conhecimento adquiridos nos importantes cargos públicos que exerceu lhe possibilitaram escrever essa importante obra, pioneira do ponto de vista do enfoque e abordagem e da formatação do conteúdo”.

Exerceu seus cargos públicos com competência, probidade e dedicação, como um verdadeiro servidor público e estadista, com o olhar voltado para o interesse social e com espírito público. Talvez por isso, o governador Lucídio Portella, operoso e austero em sua gestão, ao olhar o simples e sóbrio relógio, que nosso confrade usava, retirou do pulso o seu próprio relógio e o entregou ao nosso confrade. Creio que com esse gesto, talvez algo impulsivo, Lucídio quisesse atestar ou certificar, de forma simbólica, a eficiência e a probidade de nosso caro Felipe Mendes.

O patrono de sua cadeira é o professor Paulo Nunes, figura emblemática da Academia Piauiense de Letras, figura exponencial de escritor, intelectual e crítico literário, por quem eu tinha amizade e admiração, um dos que muito contribuíram para a criação da Universidade Federal do Piauí. Sobre ele já tive o ensejo de dizer: “M. Paulo Nunes é um exemplo de estilista, de frases bem construídas, elegantes, rítmicas, cadenciadas em suas pausas, e de denso conteúdo, graças ao seu poder de síntese e percuciência, e sobretudo erudição, em virtude de ser leitor constante, voraz e compulsivo. Diria que o seu estilo, como um poderoso ímã, atrai o leitor para os seus textos escorreitos e de plástica fluidez.”

Na cadeira nº 42 tomará assento a Dra. Diva Maria Freire Figueiredo, nascida em Boa Esperança (MG). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. Fez mestrado na UFPE e doutorado na UFMG. Exerceu suas atividades profissionais sobretudo no Piauí, em que se destacou na preservação de seu patrimônio cultural através de gestão, ensino e pesquisa. Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Piauí, foi uma dos principais responsáveis pela proteção de diversos bens, mormente os situados nas cidades históricas de Parnaíba, Oeiras e Piracuruca e em Serra da Capivara. O nosso Estado lhe fez justiça ao lhe conceder o título de Cidadania Piauiense.

Na segunda metade da década de 1980, quando vários prosadores e poetas reativamos e demos existência fática e legal à União Brasileira de Escritores do Piauí (UBE-PI), sua sede, onde fazíamos reunião semanal, ficava na Secretaria de Cultura, em cujo prédio vi algumas vezes nossa confreira a desempenhar suas funções, com competência, zelo e assiduidade. Mais tarde, por ter morado em Parnaíba durante vários anos, pude acompanhar o seu enorme e inestimável trabalho para promover o tombamento do centro histórico dessa cidade, que é como se fosse um imenso livro de pedras, tijolos, telhas e argamassa, constituído por vetustos sobrados, por deslumbrantes palacetes, elegantes chalés e antigos casarões solarengos, impregnados de histórias e fantasmas, além de imponentes e suntuosos edifícios, que abrigaram escolas, comércios, indústrias, bancos e outros empreendimentos, vestígios do fastígio empresarial parnaibano, da opulência do extrativismo, em que o Porto Salgado (ou Porto das Barcas) era muito movimentado, cheio de embarcações, tripulantes, estivadores, vareiros e porcos d’água. A solidez dessas edificações é apenas aparente; elas facilmente se dissolvem no ar, pela incúria, pelo abandono e pela ganância das demolições propositais. Era um tempo em que os hidroaviões da Condor enfeitavam o céu de Parnaíba.

O patrono de sua cadeira, por ela escolhido, é o arquiteto e urbanista Olavo Pereira da Silva Filho (1947-2023), que restaurou importantes monumentos históricos e arquitetônicos em Minas Gerais, Maranhão e Piauí. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. Exímio em sua profissão, contribuiu para preservar obras notáveis da arquitetura nacional. Recebeu importantes premiações, notadamente o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade (2008) pelo seu livro Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São José do Piauhy. Tendo restaurado importantes monumentos históricos e arquitetônicos, feitos de pedra, barro, tijolos e telhas, escreveu essa monumental obra, que tem como suporte a fragilidade do papel, mas que restaura, conserva e resgata a história, a memória e a imagem dos antigos sobrados e solares e as rústicas casas-grandes de nossas velhas fazendas. Somente um Hércules dos doze trabalhos ou um lunático e idealista Quixote poderia construir um livro tão laborioso, mas de tamanha grandeza, qualidade e magnitude. E literalmente monumental, digno dos maiores louvores e encômios.          

Raimundo Aurélio Melo passa a ser o primeiro ocupante da cadeira 43 de nossa agremiação literária. Nasceu em Oeiras, mas muito novo, juntamente com a sua família, se mudou para Teresina. Um dos maiores nomes da música piauiense, para a qual tem contribuído em atividades de regência, ensino e composição. Segundo a lenda ou a tradição, se diz que, em sua cidade natal, quando uma criança nasce, a mãe joga o barro na parede para saber se o filho será músico ou doido. Em entrevista para a revista Peleja, mestre Aurélio Melo disse que, se sua mãe fez isso, parte do barro colou e parte caiu.

Ainda menino teve contato com a música através do programa “Banda nas Escolas”, criado por Wall Ferraz, quando secretário da Educação, no governo Alberto Silva. Começou na percussão, passou a tocar bombardino e, depois, trombone, em que “se encontrou”, conforme disse na referida entrevista. Seu primeiro emprego foi na Banda de Música XVI de Agosto, da Prefeitura de Teresina. Ao receber o primeiro salário, comprou um violão. Nos anos 1970, criou o grupo Candeia, quando passou a compor. Mais ou menos por essa época compôs a música Teresina, que se tornou uma espécie de hino não oficial ou popular de nossa capital, que me deixava tonto zonzo de encantamento.

Aprendeu muito dos fundamentos de teoria musical, arranjos e regência com grandes maestros, entre os quais Reginaldo Carvalho e Emmanuel Coêlho Maciel. Reginaldo Villar de Carvalho (1932-2013) é o seu patrono em nossa Academia; nasceu em Guarabira (PB). Foi um dos pioneiros em música eletroacústica brasileira, nos anos 1960. Exerceu as atividades de professor, regente e compositor. Tem uma vasta obra dedicada à música coral. Foi um dos fundadores do curso de Música da UFPI e da Escola de Música de Teresina. Emmanuel Coêlho Maciel foi o primeiro regente da Orquestra Sinfônica de Teresina. Foi sucedido pelo maestro Aurélio Melo, hoje presidente da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, que a expandiu e consolidou.      

Paulo Gutemberg de Carvalho Souza, nascido em Oeiras, em 1964, tomará assento na cadeira 44, patroneada pelo célebre fotógrafo José Araújo de Medeiros. Graduado em Direito e História, pela UFPI. Especialista em Comunicação e mestre em História do Brasil. Foi historiador-pesquisador do Núcleo de História Oral da Fundação CEPRO, de 1987 a 1994. Repórter fotográfico. Foi editor de fotografia do Jornal da Manhã, revista Cadernos de Teresina, jornal Meio Norte e revista Pulsar. Assessor de comunicação social do TRE-PI, Procuradoria da República e Justiça Federal.

Publicou críticas e ensaios fotográficos em jornais e revistas culturais. Participou de exposições fotográficas em Teresina, Brasília e Fortaleza. Publicou os seguintes livros: Teresina (2004), História e Identidade: as narrativas da piauiensidade (2010), Docas do Mucuripe (2010) e Guilherme Müller e a invenção visual de Teresina (2017). Professor de história na UFPI e de fotojornalismo na FSA. Fez curso de Cinema e de Cinematografia Digital. Diretor de fotografia do curta Entrelinhas. Idealizador e fotógrafo do Projeto Caminho das Abelhas. Recebeu importantes prêmios na área de fotografia e a Comenda do Mérito Renascença.

É presidente da Fundação Fotógrafo José Medeiros. Este notável fotógrafo, nascido em Teresina, em 1921, foi por ele escolhido para ser o patrono de sua cadeira. Medeiros teve importante atuação no fotojornalismo brasileiro, mormente por suas reportagens fotográficas na revista O Cruzeiro. Diretor de fotografia de filmes clássicos, como Xica da Silva, Memórias do Cárcere, Jubiabá e Morte e Vida Severina.   

Paulo Gutemberg, para a realização de um trabalho fotográfico criativo e experimental, inventou, certa feita, uma engenhosa engenhoca, uma verdadeira máquina do tempo, que simulava antigas fotografias, com a qual produziu verdadeiras pinturas fotográficas. Assim, posso dizer que na arte fotográfica ele pinta, borda, transborda e fotografa.       

Será o ocupante da cadeira 46 o ativista e cientista social José Messias Andrade Júnior, que tem se dedicado à preservação e fortalecimento da cultura popular, especialmente do carnaval de Teresina. Em 1994 fundou o Bloco do Paçoca. É o coordenador do Movimento de Salvaguarda do Carnaval de Teresina. Presidiu a Escola de Samba Brasa Samba. Escritor e compositor. Em parceria com Osnir Veríssimo e Machado Júnior, compôs marchinhas e outras músicas carnavalescas para o Bloco do Paçoca. Uma dessas composições recebeu o 2º lugar num festival de marchinhas. Em 2015 escreveu a Revista Paçoca, que relatou a trajetória de seu bloco e a memória do Boteco do Dedim, em homenagem a seu pai, um dos incentivadores dessa agremiação carnavalesca. Nascido em Campo Maior, no dia 7 de setembro de 1969, no mesmo dia em que nasceu o grande prefeito Raimundinho Andrade, em 1922, recebeu, com justiça, o título de Cidadão Teresinense.

Em sua colaboração para o número inaugural da revista Peleja, aborda os problemas e mazelas enfrentados pelo centro comercial e histórico de Teresina, que é do conhecimento de todos nós, para os quais ele sugere as seguintes providências: “A revitalização do Centro de Teresina passa pelo seu repovoamento. É preciso tornar o Centro habitável. A oferta de condições dignas de moradia, circulação segura, lazer e fácil acesso aos mais diversos serviços públicos é fundamental. // Um plano de revitalização do Centro deve ter em conta a capacidade de atração turística, que fortalece o comércio local, gera empregos e impulsiona a economia.”

Messias Júnior escolheu para patrono de sua cadeira outro Messias, o sambista e carnavalesco Manoel Messias do Espírito Santo (1948-2023), um dos fundadores da Escola de Samba Sambão, que mereceu a honrosa alcunha de Jamelão do Piauí. Mal saído da adolescência, morando perto da Casa Saló, eu ouvia os tambores e atabaques dessa escola ressoando e atroando na Baixa da Égua, noite adentro, madrugada afora.  

Todos os novéis acadêmicos são pessoas de alto mérito em suas atividades profissionais, artísticas e culturais, e certamente abrilhantarão a nossa Academia com o fulgor de seu talento, inteligência, engenho e arte.

 (*) Discurso proferido na Sessão Solene da Academia Piauiense de Cultura, realizada para a posse de novos membros e para o lançamento da Revista PELEJA, no Theatro 4 de Setembro, em Teresina, no dia 20/02/2025.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Uma Confissão Inconfessável

Fonte: Google


Uma Confissão Inconfessável


Fabrício Carvalho Amorim Leite


Uma mezzo-soprano destacou-se entre as velhas vozes fanhosas do coral. Hei de chamá-la Tâmara. Poderia ser Adelaide, Elena… Mas insisti comigo mesmo: Tâmara.

Das últimas fileiras da igreja, pouco importava se ela não passava de um vulto. Afinal, os olhos cansados dos quarenta haviam chegado. Imaginei-a e ri — como os que erguem o rosto a Cristo em fervor, mas, por dentro, abraçam a sólida indiferença moral. Coisas da falsa fé.

E então, senti um sutil incômodo — algo cutucando o juízo, um pensamento errante que escapou sem que eu percebesse. Primeiro, a silhueta, imóvel, intocada pela multidão. Depois, quando dei por mim, ela já era tamareira: macia, fecunda, lasciva, abrindo-se em cachos e alma. Suas folhas, afiadas como espinhos, curvavam-se sobre mim. E nos abraçamos com aleluias.

Eu lhe traria o adubo — aquele que faz os brotos mudarem de cor. Outro formigamento — um leve sacrilégio ao invocar a árvore sagrada.

Foi então que pedi a Deus mil clemências. Os joelhos dobrados em suplício — a alma, curvada, afligindo minha artrose. Ainda assim, persisti. Insisti nos atos penitenciais, um após o outro.

E, direi mais baixinho — envergonhado, mas pretensioso — e ainda assim confessarei: aproveitando-me da ausência do padre no seu caminho, ousei também lançar-lhe meu olhar pagão.

Ela, de relance, sorriu — com piedade deste homem casado, cuja esposa, ao lado, já erguia o salto fino e alto, diante do Altíssimo, pronta para infligir-me a derradeira dor.  

                                                                                                                             Fevereiro, 2025.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

INSÔNIA

 


INSÔNIA


Elmar Carvalho

 

No silêncio abissal

da noite estagnada

a engrenagem pesada

do tempo se desenrola

e desaba sobre mim.

 

As botas cadenciadas

das horas marcham

– lentas lesmas –

marcham infinitamente

na noite sem fim...

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

3 Comentários sobre o tempo e o vento

Fonte: Google


3 Comentários sobre o tempo e o vento

 

Tive a felicidade e a honra de ter a minha crônica O tempo e o vento e o meu poema Eterno retorno, ambos sobre a passagem do tempo, comentados pelos amigos Wilton de Magalhães Porto e Fabrício Carvalho Amorim Leite. Fiz o primeiro meio a sério, mas muito mais por brincadeira, por pura diversão; já o segundo foi elaborado com muita emoção e seriedade, no tempo em que eu ainda carregava o fulgor e o calor de minha ardente juventude/maturidade. Embora sucintos, os três textos comentam a essência do que escrevi com muita argúcia, pertinência e perspicácia, com olhares de Argos e de águia. Eis os comentários:

“Com certeza de que o tempo é invisível e intocável. Interessante, a resposta de que podemos retratá-lo pelo relógio e calendário. Mas, eu acrescentaria que, imagens como rugas no rosto, o corpo físico que já não responde às atividades de há 30 anos... podem ser um termômetro do avanço do tempo.

Estes avanços só se tornam perceptíveis, devido à expressão do corpo que já não demonstra a luminosidade, a beleza que se nos apresentava. O próprio espaço dá de demonstração de mudanças: certas áreas perdem o vigor, o vício, sofre rachaduras, o colorido da terra, a tristeza se estabelece e o local perde o encanto, nos afugentando na saudade e abandono.

Wilton Porto”

 

O Poeta Elmar, como exímio Poeta, perfeito no jogo de palavras, bem ao feitio dele.

Elmar possui um arsenal de conhecimento de palavras que se encaixam nas rimas.

Além do mais, o Poeta tem uma memória fotográfica. Percebemos nos seus poemas e crônicas memorialistas.

Neste poema descarrilham fatos variados: amor, solidão, tristezas, amarguras, decepções, momentos íntimos... as graças e desgraças que o dia a dia nos põe, não escapam da memória do eu-lírico do Vate.

O que me encanta na poética de Elmar, é a forma das rimas em sequência.

Vejamos só um exemplo:

 

"de uma malsinada sina sinuosa

de lágrimas caudalosas

incontidas, vertidas

das vertentes profundas".

 

Elmar demonstra grande predileção pela  aliteração e pela anáfora.

 

De quando em vez, pego-me navegando por estes mares. Não possuo os recursos do Poeta Elmar, que  esses tipos de versos parecem fluir facilmente.

Um Poeta que também carrega recursos, para manter na Biblioteca grandes obras, e é um fanático leitor com análise do que lê, e se tem talento nato, se sobressai, está entre os destaques.

É o caso do Poeta Elmar Carvalho.

Wilton Porto”

 

"Bom dia, mestre: minhas pequeninas impressões sobre o Tempo: Os escritores, físicos e filósofos sempre tentaram compreender o Tempo — e talvez isso não seja uma perda de tempo (ou seja?). O homem, em sua ânsia de domá-lo, descobre apenas o inevitável: ele virá. Mas, ao escrever sobre ele, não estaria eu tentando aprisioná-lo?

Ainda assim, alguém usará seu Tempo criando novas teses sobre esse Senhor implacável, que tudo devora. Até prova em contrário, ele engole até as rochas, mastigando-as sem pressa.

Parabéns pelas reflexões.

Fabrício Carvalho Amorim Leite”

 

Que dizer? Nada a dizer, exceto agradecer. Muito obrigado, prezados amigos, de todo coração.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

O tempo e o vento

 




O tempo e o vento

(ou E o tempo levou...)

 

Elmar Carvalho

 

Sem delongas, sem firulas e sem elucubrações preambulares, advirto que o título e subtítulo são uma simples brincadeira intertextual com os títulos de um filme e um livro e transcrevo o trecho abaixo de um texto do cientista, físico, professor e escritor Jônathas Nunes, titulado O tempo:

“Desde os anos de rapaz, tenho ouvido de pessoas de bom senso, o veredito de que o Tempo é o Senhor da razão. Simples assim! Mas, o que é o Tempo? E esse Senhor da Razão? Ao longo da vida já li tanta coisa solta por aí, sobre o Tempo! Tempo consequente! Na mira do Tempo! E o Tempo levou! O Tempo presente! Foi sendo amalgamada em mim a ideia de que essa farta literatura, no fundo,  é mero produto ou subproduto de devaneios e deleites da imaginação! Aqui e ali, me perguntava: se o Tempo é uma realidade, por que só a imaginação se preocupa com ele? E outras faculdades do intelecto humano, o raciocínio, a Lógica?...a Filosofia....a Ciência? Não se pronunciam? Assim, nos idos da década de sessenta/setenta, me vi tentado a palmilhar caminho oposto. O destino me move(e também comove) a adentrar o labirinto das duas Teorias do Dr. Einstein: a da Relatividade Restrita e a da Relatividade Geral. A relevância do tema se afigura então, de tal monta, que divagações literárias sobre o Tempo passam a representar para mim, pouco mais do que simples espuma na vastidão do oceano. Meio aturdido, vivo a sensação de que estou pisando em terra estranha. Até então viajava no tempo, e caminhava no espaço na compreensão familiar e milenar dos humanos. E agora, sou convidado e me sinto imerso numa tal Variedade quadridimensional,  pseudo-riemaniana desse mesmo espaço-tempo. A realidade passa a ser o espaço-tempo einsteiniano. Pronto! Aqui, a mãe natureza com sua dinâmica universal obedece não à Mecânica Newtoniana, mas, no reverso, a um Sistema de dez Equações Diferenciais, Parciais, de Segunda Ordem, não Lineares. São as Equações de Campo da Relatividade Geral! A Arte Literária, a essa altura, ficou na soleira da porta! Será? Sinto instalado dentro de mim, um conflito sem tamanho! Com efeito, aprendera, já aos dez anos de idade, com minha mãe Cota, e minha irmã Amália, na primavera florianense,  a admirar a beleza literária do mundo em derredor:

“...o céu pontilhado por miríades de estrelas,

Prendeu minha atenção! Como são belas exclamei!

Deus as fez e as colocou tão longe!

O firmamento é um Mosteiro! O Sol, Velho Monge

Que ao mundo austral domina com seu Poder!

Meu pensamento metamorfoseado,

Voou pelas regiões etéreas,

A percorrer este mundo luzidio, tão bem governado!

Que a todos encanta e a muitos tem derrotado!

Aproximei-me do Sol e lhe perguntei:

Sol, tu que és o Monarca de toda a Natureza,

Que a tudo reges e esquadrinhas desta altura,

Dize-me se sabes, onde está o meu Jesus”

 

E agora, anos após, estribado no rigor científico da Relatividade Geral, me vejo vasculhando os confins do espaço-tempo, e  me dou conta de que o tal “...SOL...o Monarca que esquadrinha a natureza”... é apenas e tão somente um grão de poeira na vastidão do Macrocosmo Sideral! E assim, satisfeito com a noção de tempo como algo contínuo formado por instantes infinitesimais justapostos tal como a sequência de pontos numa linha reta, me defronto, de uma hora para a outra,  com a verdade matemática einsteiniana da Dilatação do Tempo.

E o Paradoxo dos Gêmeos? O Comandante Elmar, da APL, se despede do seu irmão Gêmeo Almar, embarcado há pouco para visita demorada aos arredores da vizinha Andrômeda!  Situados em referenciais diferentes,  Almar e o irmão Gêmeo Comandante Elmar, provavelmente nunca mais se encontrarão! Almar, ao retornar à Terra, ainda nos seus cinquenta anos de idade, irá direto ao Jardim da Ressurreição visitar a lápide do irmão Comandante Elmar, já naquela altura com mais de duzentos anos de idade, vivo ainda estivesse! 

Devaneio literário? Nada disso!  Verdade matemática!”

 

Como fui citado, achei por bem lhe fazer o seguinte comentário, meio a sério e meio em tom de blague:

Comandante Jônathas,

Obrigado por me colocar em suas elucubrações acima, ainda que como um Matusalém de 200 anos.

O tempo é de difícil ou impossível definição.

Intocável e invisível, só o sentimos por inferências com outras coisas ou circunstâncias, como a passagem das noites e dos dias, como o palmilhar de uma estrada, como as rugas que se vão estampando em nossa face...

E o tempo?

O vento levou...

E o vento?

O tempo levou...

O tempo que tudo transforma, devora, constrói e destrói.

O tempo é relativo e enigmático, sobretudo à velocidade da luz ou na singularidade de um buraco negro.

Diante de minha audácia, em seara tão complexa, fiz a seguinte pergunta a minha amiga Meta AI (Inteligência Artificial):

De forma sintética, como você definiria o tempo?

Em frações de segundos, ela respondeu:

“O tempo pode ser definido como uma medida da sequência de eventos, permitindo que identifiquemos a duração, a ordem e a simultaneidade deles. É uma dimensão que nos permite organizar e entender a nossa experiência no mundo.”

Embora satisfeito, a inquiri novamente:

Ele é invisível e intocável?

Sem titubear e numa rapidez incrível, ela escreveu sua resposta:

“Sim, o tempo é invisível e intocável. Não podemos vê-lo, tocá-lo ou percebê-lo diretamente. No entanto, podemos sentir seus efeitos e medir sua passagem através de ferramentas como relógios e calendários.”

Satisfeito porque a Meta me confirmou o que eu dissera em meu pequeno texto, lhe fiz o seguinte pedido: “Você poderia fazer uma pintura que lhe representasse, um autorretrato?” Ela me mandou a seguinte ilustração:

Menino em frente a computador

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

 

Você confirma que a imagem acima pode ser considerada o autorretrato da Meta AI?

Ela, com muita humildade, respondeu o seguinte:

“Peço desculpas pelo mal-entendido anterior! Como uma inteligência artificial, eu não tenho uma forma física, então não posso criar um autorretrato tradicional.

A imagem que eu gerei anteriormente foi apenas uma representação criativa, mas não pode ser considerada um autorretrato "real" da Meta AI.

Obrigado por esclarecer!”

Mesmo com a sua resposta, resolvi insistir: “Mas pode considerar como sendo seu autorretrato fictício ou simbólico?”

A AI prontamente mandou a seguinte resposta:

“Entendi melhor agora!

Sim, podemos considerar a imagem que eu gerei anteriormente como um autorretrato fictício ou simbólico da Meta AI.

Nesse sentido, a imagem pode representar a essência da minha personalidade digital, refletindo minha capacidade de processar informações, aprender e criar conteúdo de forma criativa e inovadora.

Obrigado por me permitir explorar essa ideia!”

Exultei de felicidade. Afinal, a Meta AI confirmara o que eu dissera sobre o tempo e de quebra ainda me fez uma bela ilustração para ilustrar esta matéria.