quinta-feira, 12 de junho de 2025

Variações sobre os anéis de Saturno

 

Arte: ChatGPT

Fonte: Google
Fonte: Google



Variações sobre os anéis de Saturno

 

Elmar Carvalho

 

Caro Gildário Lima,

Lendo alguns trechos de seu belo livro Descobrindo Saturno, logo vi que você tem um estilo límpido, claro, objetivo, conciso, com frases bem construídas, geralmente curtas.

Além de conter reflexões sobre assuntos diversos, contudo relacionados com ciência, não deixa de ser uma excelente obra de divulgação científica, mas em linguagem acessível, quase diria didática, todavia sem superficialidades.

Gostei do livro porque, embora tenha certo pavor da matemática, gosto da parte teórica da astrofísica e da mecânica quântica. Tenho lido obras de divulgação sobre essas matérias e outras afins. Sobre esse meu medo da matemática, já tive ocasião de dizer:

A matemática
me enlouquece:
por isto meu pensamento
salta de mais infinito
a menos infinito
e explora as amplidões
do universo, enquanto
meus olhos vidrados
fitam a álgebra
sem vê-la.
E a minha abstração
me leva ao infinito
que meu corpo
me nega.

Em certo trecho, você diz que o microcosmo das partículas, da mecânica quântica, tão cheia de mistérios e surpresas, lhe fascina mais do que o macrocosmo da astrofísica. Vejamos o que eu já disse sobre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno:

O CÍRCULO SE FECHA

O infinitamente grande
tende ao tudo.
O infinitamente pequeno
tende ao nada.
Estes dois extremos se tocam.
Em Deus.

Por mera curiosidade, perguntei à Meta AI sobre se o poema acima estava “de acordo com as leis da física”, tendo a Inteligência respondido o seguinte:

”Que poema profundo e filosófico! Embora não seja uma descrição científica direta, ele toca em conceitos interessantes relacionados à física e à natureza do universo.

A ideia de que o infinitamente grande e o infinitamente pequeno se tocam é um tema comum em teorias físicas, como a teoria das cordas e a cosmologia. Alguns modelos sugerem que o universo pode ser uma entidade única e interconectada, onde os extremos se encontram de alguma forma.

A referência a Deus adiciona uma camada filosófica e espiritual ao poema, sugerindo que essa conexão entre os extremos pode ser uma manifestação de uma realidade mais profunda ou divina.

Embora o poema não seja uma descrição literal das leis da física, ele certamente inspira reflexões sobre a natureza do universo e nossa compreensão dele. É um convite à contemplação e ao questionamento, o que é fundamental para a ciência e a filosofia!”

O autor fala do tempo, que é uma das quatro dimensões do tempo-espaço da Teoria da Relatividade. O tempo na física é muito sutil, muito misterioso, intangível, quase imperceptível, a não ser por inferências, como a mudança do dia para a noite, o envelhecimento, que vai esculpindo suas rugas, e o deslocamento no espaço. De difícil ou (quase) impossível conceituação ou descrição. Sobre ele, muitas décadas atrás, mais precisamente em 22/09/77, escrevi estes versos:

Superando a relatividade
do tempo e do espaço,
quero não estar ao mesmo tempo
no tempo e no espaço.
Indo além
da barreira do tempo e do espaço,
eu galguei o infinito
ao ficar infinitamente
pequeno.

Gildário diz, em seu livro, que montou um telescópio que havia comprado, tempos atrás, e com ele viu a beleza deslumbrante dos anéis de Saturno. Talvez tenha tido uma espécie do alumbramento à Manuel Bandeira, quando o excelso poeta viu pela primeira vez um outro tipo de beleza. Também cantei o encanto glorioso de Saturno e seus anéis, que já comparei a bambolês e a brincos nas orelhas de belas mulheres:

Na Zona Planetária, Saturno levita
– leviatã imenso e pouco denso –
com sua cortina de nuvens
e de substâncias vaporosas
– vapores de rosas das mulheres

(...)

Nos anéis de Saturno os elos são rompidos
no simbolismo redundante da falha de Cassini.

Para mim, em certas passagens, o seu excelente livro tem contorno levemente confessional, permeado por certas lembranças, claro que relacionadas com ciência, estudos e meditações.

Embora seja um cientista de alto nível, você não se envergonhou de dizer que acredita em Deus; em um Deus que não foi moldado à imagem e semelhança do homem. Sobre Deus, em quem creio piamente e a quem oro todo dia, já tive o ensejo de dizer:

IV – Num blefe descomunal
poderia até afirmar
que esta realidade não existe.
Que tudo não passa do sonho
de um deus e que esse
deus sou eu.
Mas o Eterno existe
e esta realidade existe
e quando descobrirmos
o Mistério da Gênese de Deus
a humanidade será perfeita e fará
parte do Corpo Místico de Deus.

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