sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

A VERVE DO VELHO PREDADOR

Criação da imagem: IA Gemini

 

A VERVE DO VELHO PREDADOR


Elmar Carvalho

 

O velho amigo, em seu estilo mineirinho, é um grande conquistador, embora não seja considerado nenhum galã, o que, aliás, o torna ainda mais digno de admiração. No entanto, o que lhe falta no físico sobra-lhe em lábia e paciência no processo de uma conquista amorosa. Também possui a ousadia comedida, a coragem discreta e cautelosa na abordagem, sempre respeitosa e delicada, sempre a elogiar além do merecimento da presa ou prenda.

 

Contou-me ele que, estando um dia a bebericar uns goles de cerveja, à porta de um bar, viu aproximar-se, passando quase a desfilar na calçada, uma bela mulher, dotada de bem traçadas e sinuosas linhas, muito elegante em seu requebrado faceiro e atraente. O velho fauno apurou o olhar, e o fixou enfaticamente na diva que passava. Ela, que poderia ter fingido não o ter visto, e mesmo não o ter percebido, caso não tivesse olhado em direção ao predador, deu-se por incomodada e um tanto ofendida, razão pela qual perguntou a esse meu amigo se ele nunca tinha visto uma mulher.

 

O velho fauno lhe respondeu que já vira muitas, mas nenhuma tão bonita quanto ela. A mulher, então, lhe disse que iria contar o caso ao  marido, e queria saber o que ele iria dizer. O nosso dom Juan foi no outro mundo e voltou, mas não se deu por achado, e exclamou candidamente que ele iria lhe dar razão. Ante o inesperado da resposta, a ninfa abriu um sorriso, e foi embora, sem, literalmente, perder o rebolado; antes, redobrou em sua rebundolante faceirice.

12 de janeiro de 2011

5 comentários:

  1. Uma cena de novela carioca !

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  2. Muito bom, ilustre.

    Os botecos ainda abrigam essas figuras — resistentes, quase teimosas. Mas estão em franca extinção, atropeladas pelos aplicativos de encontros e pelas “conquistas” de vitrine, com prazo de validade curto e filtro demais.
    Quem sou eu para julgar tais modernidades? Nunca fui exatamente um predador social. Sempre fui, confesso, um fiasco nas artes da conquista.
    Ainda assim, e aqui vai a ironia que salva o texto, minha única conquista valeu. E não vale pouco: vale por décadas. 😉

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  3. Todo (bom) galanteador tem seu discurso pronto para os "fora". Esse aí se excedeu, merecendo, por isso, uma bela crônica. Marcelino Barroso (para não ficar "anônimo")

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