segunda-feira, 26 de abril de 2010

UNIDOS POR AMARANTE

Cunha e Silva Filho


Incluindo o primeiro artigo meu, “Crime de lesa-pátria”, contamos agora, ao todo, com quatro artigos em defesa da integridade física e espiritual de Amarante. Dos outros dois, um é do embaixador, poeta, historiador e acadêmico Alberto da Costa e Silva, “Em defesa de Amarante” e o outro, “SOS Amarante”, do escritor e bancário amarantino radicado em Brasília, Armando Gomes da Silva,” todos publicados em jornais ou em sites da Internet.
Cada um dos artigos tem um objetivo único: servir como um alerta para as autoridades envolvidas com um suposto plano destinado a construir uma usina hidrelétrica que, se levado a efeito, iria submergir a histórica cidade de Amarante – patrimônio arquitetônico e cultural inseparável da formação histórica do Estado do Piauí. Quaisquer tentativas de levar a cabo essa ideia absurda e abominável seria interpretada como um exemplo inédito de obscurantismo cultural contra os piauienses. Não há argumento de ordem técnica ou econômica que resista à força da realidade histórico-cultural de um bem inestimável e intransferível, que é Amarante, a qual foi transformada em cidade através da Resolução provincial nº 734, de 4 de agosto de 1871, levando o nome de Amarante como homenagem à cidade portuguesa homônima.
Para reforçar a nossa defesa incondicional, por coincidência ou não, foram recentemente estampadas na respeitada revista Presença, nº 43, Ano XXIV, duas magníficas matérias, a primeira, “Cultura, Memória e Identidade da Cidade de Amarante”, da autoria conjunta de Olavo Pereira da Silva e Claudina Cruz dos Anjos, ambos arquitetos e urbanistas. Claudia Cruz dos Anjos é, por sinal, chefe do IPHAN PI. A segunda, de título “Amarante”, é assinada pela jornalista Natacha Maranhão.
Antes que qualquer tentativa se faça por parte dos planejadores dos governos federal e estadual, conviria alertar os idealizadores dessa equivocada ideia de construção de usina hidrelétrica num município do porte de Amarante, que leiam primeiro alguns estudos e pesquisas sobre este município escritos por autores da terra a fim de que fique bem explícita a temeridade da iniciativa. São trabalhos que nos ensinam a conhecer a memória da cidade, as suas tradições centenárias, o seu folclore, os seus costumes, o seu sistema escolar, o seu povo e sua vida social e literária, esta últimas das mais fecundas por reunir um número de figuras notáveis de escritores, historiadores, poetas, filólogos, sociólogos, artistas, inventores, magistrados, músicos, jornalistas, educadores, figuras políticas de projeção nacional, enfim, nomes que se notabilizaram em diversos campos da atividade humana. Não resisto à tentação de mencionar algumas obras que tematizam especificamente a cidade de Amarante em seus múltiplos aspectos, nas suas dimensões históricas e/ou literárias

SILVA, Da Costa e. Zodíaco (1917) na seção “Minha Terra”; Verhaeren (1917), na seção “Sob outros céus”.Na sua generalidade, a obra toda quase do poeta metaforiza a cidade de Amarante.
MOURA, Clóvis. Argila da memória. São Paulo: Ed. Fulgor, 1963. Nesta obra, o poeta centraliza seu tema nos motivos suscitados pela cidade de Amarante
........... Flauta de argila.- memória revisitada. Teresina:Gráfica Editora Júnior Ltda., 1992. Nesta obra, o autor, mais uma vez revisita, pela memória, a velha Amarante, o Piauí como um todo. Apresentação de M. Paulo Nunes.
CASTRO, Nasi. Amarante – um pouco da história e da vida da cidade. Teresina: Projeto Petrônio Portella, 1986, 64 p. Introdução de M. Paulo Nunes.
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-------. Amarante folclore e memória. Teresina: Projeto Petrônio Portella, 1994, 226 p. Introdução de Dagoberto Carvalho Jr. Prefácio de Virgílio Queiroz.
.......... Amarante folclore e memória. 3 ed. Teresina; COMEPI, 2001. Reproduz Introdução de Dagoberto Carvalho Jr. e prefácio de Virgílio Queiroz. .
MOURA, Eleazar . Amarante antigo: alguns nomes e fatos. Gráfica Santa Maria, s. d.177p, s. l. Com fotografias.
SOUSA CASTRO, Olemar de. Minhas duas pátrias. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2009 Ver o capítulo “Voltando a Amarante”, p. 53-64.
CASTELOÇ BRANCO, Homero. Ecos de Amarante. Rio de Janeiro: Litteris Editora, 2001, 423 p.

Estes subsídios, bem como outros, devem ser lidos e meditados pelos responsáveis por decisão que venha pôr em risco um município-patrimônio do Estado do Piauí. Ou seja, que de imediato Amarante seja incluída no grupo de cidades piauienses que devem ser preservadas e protegidas como patrimônio inalienável física e culturalmente. Dessa premissa não podemos abrir mão sob hipótese alguma e, por todos os modos e instâncias, devemos lutar incansavelmente para que Amarante permaneça como parte necessária, integral e irredutível no conjunto dos municípios do Piauí.
Não só os amarantinos natos ou ali radicados, mas todos os piauienses de bem, representados por todos os setores da sociedade local devem, sem tergirversações, cerrar fileiras a fim de que o plano insano de varrer Amarante do mapa do Piauí seja abortado definitivamente.É de apoio e incentivo do IPHAN PI que Amarante precisa, assim como de outras instâncias estaduais unidas a outros órgãos subordinados ao Ministério da Cultura de modo que o município amarantino seja dotado - isso sim – de verbas que venham restaurar seu espólio cultural-arquitetônico-paisagístico. Amarante carece de cuidados, não de destruição. O Estado brasileiro não tem o direito de praticar uma ação inominável dessas.
Creio, portanto, que a autonomia física e arquitetônica de Amarante, a incolumidade de seu povo, suas residências, seu espaço urbano, suas memórias, seu rico acervo cultural, seu lugar de direito e de fato na história do povo piauiense não hão de sofrer qualquer ação governamental que venha constituir motivo de repúdio da parte dos seus filhos no presente e no futuro, os quais preservarão com orgulho a memória dos seus antepassados. Espero que todos os piauienses e brasileiros de bem hão de unir forças em torno dessa questão. Não podemos baixar a guarda.

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