MINHA VOZ
Clóvis Moura
Minha mãe deu-me um cravo cristalino
quando nasci. Guardei-o na garganta.
Por isto a minha voz parece o eco
de todo sofrimento que não canta.
Com isto a minha voz se fez desejo
dos surdos-mudos, das mulheres mancas.
É o plenilúnio dos abortos tristes
e o gira-sol dos cegos que não andam.
Minha garganta já sentiu o travo
da palavra guardada e não ditada
por causa dos fonemas mutilados.
Há na voz desse cravo que não toca
um desfilar de mortos e de enterros
e gritos por silêncios soterrados.
Extraído de LB – Revista da Literatura Brasileira, nº 6
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