Pedro Costa, Elmar Carvalho e Zózimo Tavares |
Flagrante do Auditório Prof. Clementino Siqueira |
Os jovens acadêmicos na sala recém inaugurada |
30 de maio Diário Incontínuo
DEPOIMENTO LITERÁRIO NO PRO CAMPUS
Elmar Carvalho
Fui, no sábado, dar um depoimento sobre o início de
minha vida literária, conforme me havia sugerido a Régia,
professora de literatura do Colégio Pro Campus e coordenadora da
Academia Juvenil de Letras desse educandário. Quando cheguei, já
havia acontecido a solenidade de inauguração da sala que o
professor Clementino Siqueira, diretor e proprietário da unidade
escolar, havia destinado a essa agremiação literária, que segue o
modelo das Academias Brasileira e Piauiense de Letras, exceto quanto
à vitaliciedade e ao número de cadeiras.
Por motivos óbvios, os membros da AJULE não podem ser
vitalícios, porquanto a posse da vaga só dura o tempo em que forem
alunos do colégio, acompanhando a transitoriedade própria da vida
de estudante. E o número de cadeiras é trinta, e não quarenta,
como nos sodalícios que lhe servem de inspiração. Cada uma delas
tem como patrono uma figura ilustre do magistério piauiense. Conheci
quase todos. De alguns fui amigo e/ou aluno. Muitos são filhos de
Oeiras, terra natal do professor Clementino Siqueira, educador que
conheço faz mais de duas décadas.
Além deste cronista, fizeram parte da mesa de honra os
escritores e jornalistas Zózimo Tavares e Gregório de Moraes, os
poetas repentistas Pedro Costa e Antônio Raimundo, além da
representante da Fundação Quixote. Ao lado, em destaque, ficaram os
juvenis acadêmicos, garotos e garotas, envergando a farda e o manto
de sua Academia. Na oportunidade, foi apresentado por Rogério
Bezerra o site da AJULE, que evidentemente será noticioso e
literário.
Procurei ser breve em minha fala, porquanto haveria um
concurso literário, do qual fui um dos jurados. Disse que madruguei
em minha atividade e vocação literária. Falei que, quando eu tinha
de nove para dez anos, minha família foi morar na zona rural de
Campo Maior, por uma curta temporada. Expliquei que isso me causou
enorme tristeza, pois eu era acostumado com a movimentação, as
luzes, os carros, os divertimentos e a algazarra da cidade.
À falta de diversão e de outros afazeres próprios de
um garoto citadino, comecei a ler com sofreguidão, primeiro os
livros da pequena biblioteca de meu pai, depois os da biblioteca
infanto-juvenil do Grupo Escolar Valdivino Tito, que a professora
Mirozinha me enviava, quando meu pai ia à cidade. Ela era prima
legítima de minha mãe e minha madrinha. Devo-lhe muito. Devo-lhe,
em grande parte, a alegria de meus dias de criança e o meu interesse
precoce pelas letras.
Data dessa época, um livro manuscrito que escrevi sobre
a educação em Campo Maior, que Mirozinha chegou a mostrar ao
professor Raimundinho Andrade, que se mostrou entusiasmado com essa
afoiteza juvenil. Nesse período, influenciado pelos contos que eu
lia, cheguei a escrever algumas pequenas narrativas, que se perderam
nas sucessivas mudanças de minha família, do interior para a sede
do município, desta para a cidade de José de Freitas, e desta, o
retorno.
Quando concluí a leitura da biblioteca do Grupo Escolar
Valdivino Tito, minha madrinha passou a me enviar os livros e
revistas de sua própria biblioteca. Meu pai, conforme suas condições
financeiras permitiam, comprava alguns livros e revistas, entre as
quais alguns exemplares de Conhecer, verdadeira enciclopédia
fasciculada, que me atiçava a imaginação, mormente quando
estampava ilustrações das grandes aves jurássicas e das galáxias
e estrelas.
Contei aos acadêmicos e demais ouvintes, que meu
primeiro texto publicado foi uma crônica, quando eu tinha dezesseis
anos. Foi agasalhada, a pedido de meu pai, no jornal A Luta de Campo
Maior, que está a merecer que alguém lhe escreva uma monografia ou
mesmo uma tese de doutorado, pois eminentes conterrâneos foram seus
colaboradores, com a publicação de textos notáveis. Entre esses
luminares, destacaria, sem desdouro dos demais, o irmão Turuka e o
médico José Francisco Bona, cujas crônicas e “causos” ainda
hoje admiro, quando os vejo transcritos em alguma publicação. Meu
pai publicou alguns textos de sua autoria nesse valoroso periódico.
Fiz questão de salientar que minha, digamos, carreira
literária foi feita, sobretudo, através de colaborações em
jornais, revistas e obras coletivas, sem pressa em lançar um livro
individual, até porque eu não tinha dinheiro para tal. Confessei
que foi melhor assim, pois fui sentindo, aos poucos, a receptividade
que meus textos iam tendo. Fiz questão de enfatizar, que tenho lido
muito mais do que publicado, pois entendo que um homem de letras,
além de saber dizer, em linguagem adequada, tem que ter o que dizer,
e é através da leitura dos grandes mestres que ele se aprimora para
esse mister.
Quando eu tinha por volta de 28 anos de idade, alguns
amigos e leitores começaram a me “cobrar” a publicação de um
livro individual. Foi então que o professor A. Tito Filho,
presidente da Academia Piauiense de Letras, espontaneamente, sem a
menor insinuação de minha parte, pediu-me organizasse os meus
poemas, pois desejava enfeixá-los em livro. Não preciso dizer o
quanto fiquei contente e orgulhoso de ter recebido esse
convite/incentivo. Infelizmente, um pouco depois de eu lhe haver
entregue o volume com meus poemas, o mestre veio a falecer.
Após o professor Manoel Paulo Nunes assumir a
presidência da APL, contei-lhe esse caso. Ele, de forma firme e
educada, disse que manteria o convite de seu antecessor, desde que
meu livro passasse pelo crivo do Conselho Editorial da Academia.
Respondi-lhe que nada objetava quanto a isso. Para gáudio meu, o
conselheiro e acadêmico Wilson Andrade Brandão, homem rigoroso,
porém justo, na qualidade de relator manifestou-se pela publicação
da obra, cujo voto foi encampado pelos demais membros do Conselho
Editorial.
O fato é que a 1ª edição de A Rosa dos Ventos Gerais
veio a lume através de convênio entre a APL e a Universidade
Federal do Piauí. Portanto, quando meu primeiro livro foi publicado
já não era eu mais um bisonho neófito, pois percorrera lentamente,
sem ânsias, uma longa estrada, a publicar meus poemas e minhas
crônicas em jornais, revistas, páginas literárias, cartazes, obras
coletivas e antologias, auscultando a aprovação dos mestres e
leitores. Essa publicação me valeu muito mais do que uma coroa de
louros, cujas folhas murcham e morrem. Mesmo porque não tenho a
pretensão de ser algum poeta laureatus nem príncipe da
versificação.
Conheci Dona Mirozinha, amiga da minha Mãe, uma pessoa muito simpática, era frequentadora assídua da nossa Cascata, um singelo sítio ali no bairro de Flores. Sua história com os livros, daria um belo romance,um verdadeiro caso de amor.
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