José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Produto raro, produto caro. O
princípio vale para compra de banana, maçã, ouro, barro. Também
para contratação de profissionais. Em toda esquina, encontra-se
professor, quase sempre despreparado, desmotivado, biqueiro. Está
provado porque ganha mal. Pior, sob o jugo perverso de gestores mais
interessados nos salários obesos da parentela ociosa ou na defesa
das empresas do ramo.
Criou-se a cultura de se
elegerem diretores das escolas públicas pela votação democrática
da comunidade, porém, na ponta da hierarquia, prevalecem caprichos
pessoais e partidários. É como convidar enfermeira para
contabilizar despesas públicas. Faltam especialistas e inundam a
administração de peixes políticos.
Acompanho, desencantado, há
décadas, a luta inglória do magistério por salários condizentes à
nobre profissão. A sina dos profissionais da Educação é aguentar
o inferno da ingratidão e desvalorização. Alimentam sonhos
sublimes e heroicos, erguendo bandeiras do idealismo, sob a vergasta
de merrecas até para o básico da sobrevivência.
Proporia uma atitude covarde,
mas realista, ao desestimulado professor: desista da profissão,
especialmente da rede pública. Nem sempre heroi é quem se manda por
último. Desista, professor. Quanto antes. Estudantes não merecem
permanecer sem aulas ou assistir a náuseas, barricadas e muxoxos de
infeliz profissional.
Gestores dão bananas ao
idealismo patriótico de construir uma sociedade pela educação de
vergonha. Investem mais na pança das ambições pessoais, roubam.
Fazem que fazem, banqueteando-se com a volúpia de construtoras e
afilhados. No frigir dos ovos, escondem a omelete, dão cascas a
otários barnabés e à opinião pública.
No
início da minha profissão de professor, na rede estadual, amarguei
a experiência de navegar em barca furada aguardando socorro de
navio. Apaixonava-me a tarefa de convivência com os jovens.
Ex-alunos são-me testemunhas do enorme interesse de lhes abrir as
mentes. Quando regressava para casa, 11 da noite, esgotado, sentia-me
um bolor. O contracheque magro não me amenizava o esforço. À hora
do recreio, ouvia dos companheiros rosário de lamúrias, salários
atrasados e mixurucas promessas. Tomei uma decisão: buscar novos
horizontes, onde me satisfizesse, pelo menos, ganho mais razoável no
magistério, ministrando cursos, lecionando em cursinhos e escolas
privadas, apesar das fragilidades encontradas. Ainda há uma guerra
de concorrência saudável, em vez da autoestima mofada na escola
pública.
Quando surgem heroicos
professores para classificar seus alunos, em nível nacional,
políticos soltam rojões, até no Congresso, como autores dos
méritos. Como se inaugurassem obras inacabadas para engabelar a
própria consciência.
Só
aumento salarial não qualifica competência profissional. Há que se
selecionarem gestores especializados na área que administra
(repito: enfermeira não pode exercer contabilidade pública).
Cobrança de qualidade e dedicação.
Infelizmente, professor e
médico plantonista do setor público, se não se habilitarem para
voos mais altos em atividades competitivas, sempre amargarão
raquíticos salários no faz de conta dos gestores públicos.
Porque, neste país, só servem os que não servem. Só servem os
malabaristas da malandragem estatal. Se eles quiserem, até motorista
do palácio pode eleger-se prefeito de interior. Aí, meu irmão,
minha irmã, o barato é que sai caro.
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