Cunha e Silva Filho
Durante
boa parte do meu tempo de magistério lecionando no ensino
fundamental e médio particular e no nestes mesmos níveis por
concurso de provas e títulos no ensino público municipal e
estadual, quase estou firmando a convicção de que os professores
brasileiros lutam em vão. Uma vez, uma diretora de uma escola
municipal, no meu início de carreira, me alertou para que não
continuasse no magistério, uma vez que ele só me traria dissabores,
o que se traduzia em baixos salários, falta de perspectivas e
promessas por parte dos governantes de que as coisas melhorariam.
E
assim foi. Entravam governos e saíam governos, e a situação
angustiante continuava. Parecia um castigo dos deuses profanos ou das
mensagens dos oráculos. contra a nobre carreira do professor. Os
salários eram tão baixos que um professor nem mesmo poderia
financiar uma casa própria, alugar um modesto apartamento,
sobretudo se o professor tinha família e todos dependiam de seus
minguados salários. Longos anos se passaram, e nada melhorou
substancialmente. E sabem por quê? Porque os governantes não
respeitam a classe dos professores, com exceção do nível superior
e mesmo assim apenas nas universidades púbicas (e algumas
particulares) que, da mesma forma, já passaram por péssimos
períodos nos quais os professores tinham vencimentos incompatíveis
com a relevância da cátedra superior e a manutenção dos trabalhos
de pesquisas. Programas humoristas, novelas de televisão, passaram a
caricaturar a situação dos professores. A escola do professor
Raimundo do Chico Anísio (1931-2012) foi um deles..
.Ora,
essa dessacralização dos docentes, na consciência de uma sociedade
que valoriza o fetiche do status econômico, sofre a influência
negativa da caricatura e, por sua vez, passa a desvalorizar a
vítima carnavalizada. Na época, escrevi artigo criticando o
citado programa de humor. Ou seja, o humor ali teve efeito negativo e
não de castigar os responsáveis pelas péssimas condições sociais
do docente.
Não
sou prosélito do governo do Presidente Lula, mas estou convencido de
que, no seu segundo mandato, ele foi o único mandatário que
valorizou os professores universitários e os professores federais
dos níveis fundamental e médio. Daí o respeito que as
universidades têm tido por ele, daí os títulos de Doutor Honoris
Causa que lhe têm sido outorgados.
Ao
contrário, governadores e prefeitos, e vejo pela perspectiva de
minha experiência como cidadão que mora no Rio, tanto no tempo da
ditadura, quanto na fase democrática, pouca atenção deram aos
professores públicos. Os movimentos de grades e demoradas
greves deflagradas contra o governo do estado do Rio de Janeiro
e a prefeitura do município do Rio se tornaram homéricas até que
houve um período de exaustão por parte dos professores. Lideranças
de professores se reuniam com representantes dos governos, às vezes
chegavam a um acordo razoável de reajustes e de planos de carreira
que prometiam seriam implementados. Algum tempo passava. A
inflação ia corroendo o que se conquistou e, dentro em pouco tempo,
a situação angustiosa do arrocho salarial voltava ao despenhadeiro
de Sísifo. Este teria que rolar novamente a pedra para cima do
rochedo.
Foram
inúmeras essas experiências malogradas. Governadores(inclusive
Brizola), cariocas e prefeitos cariocas não
cuidaram bem do ensino. Um prefeito do Rio, o Saturnino Braga chegou
mesmo a falir as finanças da prefeitura, levando os professores
municipais a um estado de penúria, falência administrativa -
diga-se a bem da verdade – só sanada pelo prefeito Marcelo
Alencar. Nos meus longos anos de magistério, rigorosamente nunca
houve um bom governante que privilegiasse a educação. A expressão
plano de carreira se esvaziou do seu sentido concreto, virou retórica
vazia de promessas mentirosas de candidatos a governos estaduais e a
prefeituras. Lembrava uma afirmação triste e desanimadora de um
ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, segundo
a qual professores nunca teriam bons vencimentos. Era o castigo de
Sísifo que parece permanecer até os dias atuais.
Agora
mesmo, os professores municipais do Rio de Janeiro estão se
mobilizando para uma assembleia a ser realizada na UERJ e ao mesmo
tempo levando proposta salariais que seja mais digna do exercício do
magistério. A atual situação dos professores
é vergonhosa para o povo carioca, ao passo que as
reivindicações justas da parte dos docentes, se atendidas,
melhorariam as aflições do professorado. Desanimados, tendo perdido
o prestígio da sociedade que os vê como pobres citados, sem status
social e sem dignidade e respeito da população, os professores
cariocas estão empunhando uma bandeira que há tantas décadas tem
enlameado os valores da saber, do estudo tão essenciais ao
desenvolvimento de um nação que se quer enfileirar-se entre as
sociedades desenvolvidas tecnológica e cientificamente,como a China,
o Japão, os Estados Unidos, a França, a Alemanha, a Suécia,, entre
outros.
O
Brasil não vingará em sua expansão industrial e tecnológica
se não preparar seus filhos das camadas mais pobres ou paupérrimas
em escolas com professores bem formados, atualizados, bem
remunerados, com um sistema de educação sintonizado com o mundo
moderno. Não é somente distribuindo aparelhos da área da
informática, através de processos de inclusão digital, que as
nossas criança e jovens sairão do buraco da ignorância e e de uma
educação deformada. Não adiantam prédios bem equipados se lá
dentro não existem professores bem pagos e desejosos de levar a
educação brasileira a uma patamar de níveis das melhores escolas
públicas do mundo.
Investir
em verbas para a educação que não sejam desviadas para outros
objetivos desconhecidos e inconfessáveis é imperativo de um
governador ou de um prefeito bem intencionado e que respeita a
formação cultural dos alunos. Reciclar professores é importante,
mais importante ainda é dotar os mestres de uma vida condigna
para desenvolver suas aulas, estudar, aperfeiçoar-se e, assim,
devolver aos alunos toda a sua experiência e resultados de estudos.
Na
luta entre campanha salarial e melhoria do nível de ensino de nossas
escolas municipais e estaduais devem estar envolvidos constantemente,
além dos professores, mães e pais dos educandos, sempre
juntos, de mãos dadas, cobrando eficazmente das autoridades
educacionais medidas concretas e não paliativos ou promessas que,
até hoje, não têm sido cumpridas. Nomear também para secretários
de educação professore, pedagogos ou educadores de reconhecido
valor moral e intelectual e não apaniguados políticos é outra
exigência imediata e fecunda. Eliminando esses obstáculos
altamente nocivos à educação seria um grande passo de um
governante que respeita seus eleitores e o dinheiro do contribuinte.
Do contrário, a luta dos docentes será um trabalho de Sísifo..
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