quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Carly Silva: um inesquecivel e grande mestre universitário



Cunha e Silva Filho

Das minhas memórias – as boas – da universidade, do tempo da graduação, uma ficou inesquecível e, por isso me foi grata e me serviu tanto na formação acadêmica. Esta se configurou na alegria e prazer de ter conhecido o professor Carly Silva, da cadeira de língua e literatura inglesa. Carly Silva era professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, assim como da Universidade Federal Fluminense. Não era dos quadros da Faculdade de Letras da UFRJ, onde estudei e dele fui aluno.

Provavelmente viera lecionar na UFRJ como professor visitante de língua e literatura inglesa. Costumo dizer que ele foi uma espécie da salvação minha, no bom sentido do termo, já que havia sido reprovado com a professora anterior da disciplina que ele iria ministrar, Fundamentos da Cultura Literária Inglesa (Funding, era a sigla). Disciplina importante por todos os aspectos, pelas mãos de Carly Silva descobri o quanto sua abordagem, sua didática e sua figura de scholar infundiram em mim uma saudável e nova visão do conhecimento do início da  formação da literatura inglesa, cujo tema mais relevante foi o estudo analítico do famoso poema “Beowulf”, escrito no final do século IX, considerado o poema mais antigo da literatura inglesa

Diferente da professora anterior, nas aulas de Carly Silva – muitas vez elevadas a quase conferências, graças à ampla visão e aos recursos intelectuais do professor, - pude plenamente compreender a natureza desse poema guerreiro que narra as lutas sangrentas entre o guerreiro Beowulf, que dá título ao nome do poema, e o monstro desprezível chamado Grendel – criatura “meio diabo, meio homem”, na expressão de John Burguess Wilson, monstro que há muito tempo vinha aterrorizando o rei Hrothgar de Jutland. Grendel, atacava a Sala de Festas do Palácio e arrastava os guerreiros de Hrothgar, devorando-os cada vez que invadia o Palácio do rei. Neste ponto, entra em cena o herói e guerreiro Beowlf , vindo da Suécia para ajudar Hrothgar contra as incursões sangrentas de Grendel e da horrenda mãe deste. A vitória ficou com Beowulf.

O professor Carly tinha o hábito de realizar exames orais previamente marcados, nos quais os alunos eram submetidos da posição de suas carteiras a responder a questões propostas pelo grande mestre.

Tanto me animei com ele que ainda aproveitei a sua passagem pela Faculdade para com ele fazer mais dois cursos, um de gramática inglesa, com estudos da orações substantiva, adjetivas e adverbais, uso do infinitivo, do gerúndio e do particípio terminando com um estudo avançado sobre indirect speeech, ou como outros querem,reported speech, e outro, de literatura, desta vez o curso versando sobre a poesia romântica inglesa.

Não preciso afirmar que o curso de poesia romântica foi de excelente nível, reafirmando as qualidade de Carly Silva como conhecedor exímio de literatura inglesa. Aliás, ele combinava duas coisas que nem sempre vêm juntas num mesmo docente: era um mestre de alta qualificação tanto regendo língua inglesa quanto literatura inglesa.

Foram ótimos os momentos das aulas em que  ele analisava , com maestria e clareza ímpar, poemas de Wordsworth, Coleridge, Shelley, Keats e Byron. Na Faculdade de Letras, situada na época na Avenida Chile, Centro do Rio, Carly Silva foi meu professor nos idos de 1969 e 1970. Das suas aulas  eu tinha muitas anotações valiosas sobre essas análises, porqanto  ele falava pausado e,  com  bom esforço e habilidade,  pude copiar comentários  para futuras   pesquisas. Infelizmente,  essas anotações, assim como  as provas  escritas que ele nos devolvia com a nota  respectiva,  não pude  guardar, tendo sido  provavelmente  perdidas  nas muitas  mudanças de residências que  fiz.

Era era tão estimado por alunos que um colega meu, o Paulo Frederico, aluno brilhante, uma vez, em sala com outra professora do departamento de inglês e literatura, pôs-se a defendê-lo a respeito de um assunto que veio à baila sobre pronúncia de professores de inglês da nossa Faculdade. Uma professora, talvez por vaidade ou mesmo inveja, afirmara alguma coisa sobre a pronúncia do professor Carly Silva que absolutamente não se coadunava com a verdade dos fatos. Meu citado colega, sem papas na língua, lhe retrucou com firmeza: “O professor Carly é modelo de pronúncia britânica, professora, além de ser abalizado mestre.” Eu, da minha parte, com orgulho partilhava da opinião do meu colega de sala.

Terminados os meus cursos de bacharel e licenciado, jamais perdi de vista o interesse pelo professor Carly Silva que, por sinal, tinha sido igualmente professor, na UERJ, de um velho amigo meu, o professor Walter Alves Pinto, professor aposentado de língua inglesa, estadual e municipal, e também um grande admirador do mestre da UERJ.

Durante  um bom  tempo, Carly Silva  escreveu sobre questões gramaticais da língua inglesa para a excelente revista Contato, editada pela CESGRANRIO, revista hoje extinta, da qual li vários trabalhos do ilustre mestre, que guardo nos meus arquivo, infelizmente sem ter a coleção completa.


Sei que publicou, entre outros trabalhos, Gramática transformacional: uma visão global. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1978, uma bem elaborada gramática inglesa, para nível adiantado, de título English Grammar: Essentials of English grammatical structure. Rio de Janeiro: Sistema CLC, 1982; A basic reference Grammar of English, 199, 298 p. Desta ultima não consegui dados editoriais.

Sobre a produção  intelectual do mestre,, convém ressaltar que é membro da Academia Brasileira de Filologia (Membro Honorário do Quadro Especial). Foi professor Titular da Universidade Estadual do Rio e Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense.Hoje está aposentado.

Anos atrás, segundo me informaram, foi vencedor de um concurso sobre estudos de literatura inglesa, com isso ganhando um bolsa de estudos na Inglaterra concedida pelo governo britânico.

Carly Silva é um professor com experiência completa, an accomplished teacher/professor  no rigor do termo, visto que lecionou nos vários níveis de ensino até atingir a privilegiada posição de Professor Titular. Por todos estes títulos, ele se coloca, assim, numa posição de alto nível de docência universitária, ao lado de outros professores brasileiros que deram tudo de si para melhorar e orientar o ensino brasileiro de língua estrangeira, prestando uma proeminente contribuição à educação nacional.

Sua passagem na Faculdade de Letras da UFRJ muito honrou essa universidade e a todos nós que tivemos a sorte e o privilégio de termos sido aluno dele.

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