Cunha e Silva Filho
Das
minhas memórias – as boas – da universidade, do tempo da
graduação, uma ficou inesquecível e, por isso me foi grata e me
serviu tanto na formação acadêmica. Esta se configurou na alegria
e prazer de ter conhecido o professor Carly Silva, da cadeira de
língua e literatura inglesa. Carly Silva era professor da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, assim como da Universidade
Federal Fluminense. Não era dos quadros da Faculdade de Letras da
UFRJ, onde estudei e dele fui aluno.
Provavelmente
viera lecionar na UFRJ como professor visitante de língua e
literatura inglesa. Costumo dizer que ele foi uma espécie da
salvação minha, no bom sentido do termo, já que havia sido
reprovado com a professora anterior da disciplina que ele iria
ministrar, Fundamentos da Cultura Literária Inglesa (Funding, era a
sigla). Disciplina importante por todos os aspectos, pelas mãos de
Carly Silva descobri o quanto sua abordagem, sua didática e sua
figura de scholar infundiram
em mim uma saudável e nova visão do conhecimento do início da
formação da literatura inglesa, cujo tema mais relevante foi
o estudo analítico do famoso poema “Beowulf”, escrito no final
do século IX, considerado o poema mais antigo da literatura inglesa
Diferente
da professora anterior, nas aulas de Carly Silva – muitas vez
elevadas a quase conferências, graças à ampla visão e aos
recursos intelectuais do professor, - pude plenamente compreender a
natureza desse poema guerreiro que narra as lutas sangrentas entre o
guerreiro Beowulf, que dá título ao nome do poema, e o monstro
desprezível chamado Grendel – criatura “meio diabo, meio homem”,
na expressão de John Burguess Wilson, monstro que há muito
tempo vinha aterrorizando o rei Hrothgar de Jutland. Grendel, atacava
a Sala de Festas do Palácio e arrastava os guerreiros de Hrothgar,
devorando-os cada vez que invadia o Palácio do rei. Neste ponto,
entra em cena o herói e guerreiro Beowlf , vindo da Suécia para
ajudar Hrothgar contra as incursões sangrentas de Grendel e da
horrenda mãe deste. A vitória ficou com Beowulf.
O
professor Carly tinha o hábito de realizar exames orais previamente
marcados, nos quais os alunos eram submetidos da posição de suas
carteiras a responder a questões propostas pelo grande mestre.
Tanto
me animei com ele que ainda aproveitei a sua passagem pela Faculdade
para com ele fazer mais dois cursos, um de gramática inglesa, com
estudos da orações substantiva, adjetivas e adverbais, uso do
infinitivo, do gerúndio e do particípio terminando com um estudo
avançado sobre indirect
speeech,
ou como outros querem,reported
speech,
e outro, de literatura, desta vez o curso versando sobre a poesia
romântica inglesa.
Não
preciso afirmar que o curso de poesia romântica foi de excelente
nível, reafirmando as qualidade de Carly Silva como conhecedor
exímio de literatura inglesa. Aliás, ele combinava duas coisas que
nem sempre vêm juntas num mesmo docente: era um mestre de alta
qualificação tanto regendo língua inglesa quanto literatura
inglesa.
Foram
ótimos os momentos das aulas em que ele analisava , com
maestria e clareza ímpar, poemas de Wordsworth, Coleridge, Shelley,
Keats e Byron. Na Faculdade de Letras, situada na época na Avenida
Chile, Centro do Rio, Carly Silva foi meu professor nos idos de 1969
e 1970. Das suas aulas eu tinha muitas anotações valiosas
sobre essas análises, porqanto ele falava pausado e,
com bom esforço e habilidade, pude copiar comentários
para futuras pesquisas. Infelizmente, essas
anotações, assim como as provas escritas que ele nos
devolvia com a nota respectiva, não pude guardar,
tendo sido provavelmente perdidas nas muitas
mudanças de residências que fiz.
Era
era tão estimado por alunos que um colega meu, o Paulo Frederico,
aluno brilhante, uma vez, em sala com outra professora do
departamento de inglês e literatura, pôs-se a defendê-lo a
respeito de um assunto que veio à baila sobre pronúncia de
professores de inglês da nossa Faculdade. Uma professora, talvez por
vaidade ou mesmo inveja, afirmara alguma coisa sobre a pronúncia do
professor Carly Silva que absolutamente não se coadunava com a
verdade dos fatos. Meu citado colega, sem papas na língua, lhe
retrucou com firmeza: “O professor Carly é modelo de pronúncia
britânica, professora, além de ser abalizado mestre.” Eu, da
minha parte, com orgulho partilhava da opinião do meu colega de
sala.
Terminados
os meus cursos de bacharel e licenciado, jamais perdi de vista o
interesse pelo professor Carly Silva que, por sinal, tinha sido
igualmente professor, na UERJ, de um velho amigo meu, o professor
Walter Alves Pinto, professor aposentado de língua inglesa, estadual
e municipal, e também um grande admirador do mestre da
UERJ.
Durante um bom tempo, Carly Silva
escreveu sobre questões gramaticais da língua inglesa para a
excelente revista Contato,
editada pela CESGRANRIO, revista hoje extinta, da qual li vários
trabalhos do ilustre mestre, que guardo nos meus arquivo,
infelizmente sem ter a coleção completa.
Sei
que publicou, entre outros trabalhos, Gramática
transformacional:
uma visão global. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1978, uma bem
elaborada gramática inglesa, para nível adiantado, de
título English
Grammar:
Essentials of English grammatical structure. Rio de Janeiro: Sistema
CLC, 1982; A
basic reference Grammar of English,
199, 298 p. Desta ultima não consegui dados editoriais.
Sobre
a produção intelectual do mestre,, convém ressaltar que é
membro da Academia Brasileira de Filologia (Membro Honorário do
Quadro Especial). Foi professor Titular da Universidade Estadual
do Rio e Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense.Hoje
está aposentado.
Anos
atrás, segundo me informaram, foi vencedor de um concurso sobre
estudos de literatura inglesa, com isso ganhando um bolsa de estudos
na Inglaterra concedida pelo governo britânico.
Carly
Silva é um professor com experiência completa, an
accomplished teacher/professor
no rigor do termo, visto que lecionou nos vários níveis de ensino
até atingir a privilegiada posição de Professor Titular. Por todos
estes títulos, ele se coloca, assim, numa posição de alto nível
de docência universitária, ao lado de outros professores
brasileiros que deram tudo de si para melhorar e orientar o ensino
brasileiro de língua estrangeira, prestando uma proeminente
contribuição à educação nacional.
Sua
passagem na Faculdade de Letras da UFRJ muito honrou essa
universidade e a todos nós que tivemos a sorte e o privilégio de
termos sido aluno dele.
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