Cunha e Silva Filho
Se
a parte está no todo, o todo está na parte. Apesar desta formulação
que nos lembra um sermão de Vieira, basta um exemplo de mais uma
tragédia no cenário interno de uma república de estudante no
Jardim Botânico para que reitere o fato de que o atual momento do
país evidencia uma das fases mais violentas por que está
atravessando a sociedade brasileira. Não é só no Rio, é em São
Paulo, nas cidades do interior, nas capitais dos estados.Trágica
pandemia de crimes de todas as espécies, de todos os níveis, de
todas as crueldades.
Um
jovem e promissor estudante cearense, José Leandro Pinheiro, é mais
uma vítima de assassínio no Rio de Janeiro. Foi encontrado morto
com golpes de facada no seu quarto que dividia com um outro
estudante.Vem, agora, uma reflexão, morei aqui no Rio em república
de estudante na tempo de preparação para o vestibular e a com
vivência que tive com meus colegas de quartos era a melhor possível,
com muita amizade e camaradagem, distante, pois, dos perigos de hoje
enfrentados pela juventude e pelo próprio clima de hostilidade
vivido por nossa juventude. Tão bons foram aqueles tempos que me
deixaram lembranças gratas e perenes!
José
Leandro, conforme informações da imprensa, foi aluno exemplar da
Universidade Federal do Ceará. Transferiu-se paro Rio a fim de
cursar o mestrado na área de matemática no respeitado IMPA
(Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada). Segundo
ainda depoimentos tanto da família quanto de colegas, o jovem
mestrando era pessoa inteiramente devotada aos estudos. Não tinha
vício, era bem estimado por seus colegas que lhe elogiavam a
inteligência e as atitudes. Sua morte, ainda sob investigação,
aponta para um mistério, não obstante um colega com quem
compartilhava moradia, já tenha sido apontado como um suposto autor
do crime.
Filho
de uma professora do interior do Ceará e de um trabalhador rural, o
brilhante estudante teve precoce cortadas e abruptamente cortas
todas as esperanças que nele depositavam os país, os amigos e
por certo também os professores e colegas de mestrado. Naturalmente,
tudo indicava que faria o doutorado na mesma grande instituição.
Todo esse futuro lhe foi negado pela assustadora agressividade. Não,
não foram mãos humanas que perpetraram tal homicídio hediondo. Não
posso crer que tanta insânia possa vir de um suposto companheiro de
quarto do estudante. Queira Deus que não tenha sido ele, porque
seria mais do que abominável.
Assim
como fizeram com José Leandro, outras tantos crimes macabros têm
vitimado jovens de ambos os sexos promissores, com a vida toda pela
frente.
Novamente,
não posso deixar de falar no componente da impunidade que grassa no
país, nas leis brandas, nas chamadas penas progressivas, nos
indultos imerecidos, nas liberdades concedidas a celerados de alta
periculosidade. Não se está fazendo justiça no país.
Nossos
jovens estão morrendo, sem proteção, sem socorro, sem a aplicação
da Lei com maiúscula. Como anda o Código Penal ainda em vigor e já
caduco para a complexidade dos tempos modernos? Quando iremos
resgatar a confiança em nossos legisladores e aplicadores de penas?
Quando iremos tomar medidas severas e justas para adolescentes que
matam outros adolescentes, crianças, adultos e idosos, às vezes até os próprios pais?
Quando
iremos atualizar o Estatuto da Criança e do Adolescente? Como irão
dosar as sentenças de adolescentes que usam de armas de fogo para
matar inocentes em todos os lugares, em casa, na rua, nas estradas,
nas lojas, nas farmácias, nos shoppings e outros lugares?
Quem irá efetivamente para a cadeia, cumprir a pena na sua inteireza
para os casos de crimes bárbaros e horripilantes? Que tipo de pena
capital deveríamos ter em nosso país?
Obviamente,
não estou pensando apenas naquela velha ideia que já virou uma
espécie de consenso segundo o qual só pobres, pardos e negros irão
para o xadrez. Estou pensando, sim, na prisão para o criminoso
independente de raça, credo religioso e condição social. A
segregação dos facínoras de todos os naipes do convívio da
sociedade brasileira deve ser igual e universal.
Não
deve haver complacência, sob hipótese alguma, para os infratores de
quaisquer delitos e sobretudo para os criminosos cruéis.
Tudo na legislação criminal deve ser atualizado e endurecido, tais
como “habeas corpus”, liminares e quejandos.
Os
órfãos, os pais que perderam filhos por mãos assassinas, as
esposas que perderam os maridos, os avós que perderam os netos, os
noivos que perderam as noivas, os namorados que perderam as
namoradas, os amigos que perderam os amigos. Enfim, as famílias
brasileiras estão chorando e as suas lágrimas não
secam por serem brotadas de crimes recorrentes neste vasto país
ainda vivendo a plena impunidade.
A
tragédia de José Leandro soma-se, assim, aos milhares de famílias
de vítimas de crimes nefandos que clamam por justiça
imediata e à altura do desenvolvimento alcançado pelo país em
tantas áreas.Pouco adianta progresso material se desacompanhado de
avanços no campo da segurança individual e coletiva. Desta coluna
quero levar à família do jovem matemático os meus sentimentos de
pesar, que, como no sermão de Vieira, não são tão-somente meus,
mas de todo o povo brasileiro.
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