*Francisco
Miguel de Moura – escritor
Não
há pretexto melhor para uma crônica do que a morte de um homem
simples e genial, que tinha suas próprias convicções, mas nunca
foi político nem escreveu livros, exceto “Minha experiência em
Brasília”, depois de ter colocado na prancheta o projeto da cidade
mais original e mais moderna que existe no mundo. A corrupção
política não chegará ao cúmulo de corromper ou fazer ficar
esquecida essa obra gigantesca da arte, no mundo contemporâneo.
Editores, estão dormindo? Sonhando com vampiros? Acordem.
Brincando
comigo mesmo, digo que minha meta de vida é a do Niemeyer: viver
muito e produzir mais e melhor. Bem que eu gostaria de escrever algo
daqui para frente muito melhor do que já escrevi. Também fazer como
o Oscar Niemeyer: Não misturar ideologia com arte. Pouca coisa se
escreveu sobre ele, salvo as entrevistas, uma ou outra notícia que
se tornaram manchetes de jornais e revistas. Mas o suficiente para
ter uma ideia de sua biografia pode ser encontrado na
internet/wikipedia. Neste país se escreve tanto sobre políticos e
políticas que dá nojo. Até sobre uma Sra. Zélia de Tal (que não
pode ser a escritora Zélia Gatai), e sim aquela que foi ministra do
Color, rechassado do poder por causa da prepotência e da corrupção.
Já escreveram livros até sobre o Lula, repetindo tolices publicadas
na imprensa. Tem gente querendo que ele seja intocável, um ídolo,
um santo, com uma estátua na praça, só porque ele disse “nunca
ninguém antes, neste país...” como se o Brasil tivesse começado
com ele e os petistas. A frase, eu completaria apenas assim:
“Nunca antes, neste país, um governante eleito conseguiu juntar
tanta gente ruim na cúpula e na formação do governo como ele fez.
Quem não assistiu e está assistindo até o último momento ao
“julgamento do mensalão”? Graças ao Poder Judiciário, que,
apesar de ter seus membros nomeados pelo Executivo, não se
corrompeu”. Foram só alguns que deixaram rastros, outros ou muito
mais poderiam ser enquadrados. E o próprio Lula, ficou de fora (até
agora), porque “não sabia de nada, não viu nada”... Quem
acredita nisto?
Fala-se
mal de Fernando Henrique, que não foi tão ruim e não precisa ser
“demonizado”. Mas ninguém fala em Juscelino Kubtschek, o
construtor de estradas, o desbravador do Planalto Central, criador de
Brasília para ser a nova Capital do Brasil, com a grande, imensa
ajuda artística de Niemeyer. Foi assim: - Oscar Niemeyer e Juscelino
tornaram-se amigos desde quando este era Prefeito de Belo Horizonte.
Daí, praticamente começou a parceria artístico/política. Nosso
Oscar Niemeyer já havia realizado o prédio do Ministério da
Educação, no Rio, concluído em 1945, a primeira obra inovadora da
arquitetura contemporânea. Nos anos 1940, sendo prefeito de Belo
Horizonte o Dr. Juscelino Kubtschek de Oliveira (este que se
tornaria, mais tarde, o melhor Presidente do Brasil), encomendou a
Niemeyer o desenho do conjunto arquitetônico da Pampulha.
Começara ali a bela parceria cujo alto momento foi Brasília, nos
anos 1960. “Niemeyer foi o arquiteto que inventou o Brasil na ponta
dos dedos”, até mesmo alguns severos críticos admitem esta
verdade, registra a revista VEJA (ed. de 12-12-2012). Desde o
início suas obras foram influenciadas por seu mestre franco-suíço
Le Corbusier. A essa influência, o mestre Oscar Niemeyer acrescentou
sabiamente a linha curva, em cuja direção fez milagres.
“A
vida pode mudar a arquitetura. No dia em que o mundo for mais justo
ela será mais simples.” Esta frase representa bem sua ideologia
política: o humanismo, justiça e liberdade. No fundo,
Kubitschek também queria a mesma a coisa, tinha os mesmos princípios
aos quais aliava, à fé, a força e a ousadia. Queriam justiça, não
por cima, nem por baixo, mas para todos, pelo meio. Basta olhar-se a
igualdade dos prédios de apartamento do Plano Piloto, para que
tenhamos a prova. Para fazer o país mudar, em apenas CINCO
anos, construiu estradas, rompeu com o FMI e levantou Brasília no
barro vermelho do solitário Planalto Central. Empregou muita gente.
Não deu esmolas. Era um homem simples, perdoava os seus
perseguidores (e teve alguns): Mandava prendê-los hoje e amanhã já
os soltava, perdoando a todos. Nunca mais tivemos um Presidente como
ele. E talvez demore muito, por causa dos desmandos da era “petê”.
Como também ninguém sabe quando virá um artista inventivo, genial,
como Oscar Niemeyer, com suas linhas curvas. E aqui, eu, como um
simples observador da natureza, não acredito que haja linha reta,
todas são curvas no universo. O que chamam de linha reta são apenas
pontos iguais, na mesma direção, como se fossem soldados em fila,
de prontidão, ou mendigos em busca de alguma esmola. Todos os
grandes artistas são curvos, tortos como o anjo de Drummond, também
nosso maior poeta do século XX.
Eis
a obra de Oscar Niemeyer, o mestre de toda uma geração: “Todos os
mais de 600 prédios, palácios, residências, templos e monumentos
assinados por ele, em 15 países. Ficarão como marcas indeléveis do
que houve de belo no séc. XX, um tempo sangrento de duas guerras
mundiais, do embate de morte entre duas concepções de mundo, o
capitalismo e o comunismo defendidos ferozmente por arsenais
nucleares de lado a lado que, combinados poderiam destruir o planeta
Terra milhares de vezes. Niemeyer nunca teve dúvida qual era o seu
lado. Sempre foi comunista” (Gabriela Carelli, VEJA, 12-12-2012).
Ora, naquele tempo, quem não era comunista, sobrava a pecha de ser
fascista, estar do lado de Hitler. O homem é sua vida, seu tempo e
sua obra. Revolucionário na obra - na vida foi um cidadão pacato,
comum, sem marcas que desmintam o homem direito que foi. Sabia
distinguir as teorias, a política e a arte. Normalmente aqueles que
assim não agem terminam por arrepender-se. Niemeyer não se
perturbava com a rotineira pergunta da imprensa: “Você é
comunista?” Desde os anos 1960 até a morte, respondia “sim” e
acrescentava: “Estou velho demais para mudar”.
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*Francisco
Miguel de Moura – escritor, membro da Academia Piauiense de Letras,
reside em Teresina, PI, e é também membro da IWA -International
Writers and Artists Association - Estados Unidos.
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