O
Solitário
Oliveira
Neto (1907 - 1983)
Tristonho
e desolado, um homem solitário,
imitava,
no aspecto, o Cristo no Calvário.
Em
chagas tinha os pés, as mãos e o peito abertos,
e
andava a mendigar o pão pelos desertos.
Na
voz tinha a ternura e o amor do Nazareno,
prendendo
todo mundo em doce olhar sereno.
Solícito
e discreto a todos atendia.
Pregava
o amor de Deus – nosso Pai e Guia.
Tratava
com carinho e amor as criancinhas,
em
cuja voz ouvia a voz das andorinhas.
Cantava
de manhã, “rezava a Ave-Maria”,
um
hino ao sol tecia ao fim de cada dia.
Sem
ódio e sem rancor, na trilha da verdade,
pregava
sem temor – Justiça e Liberdade!
Chicoteado
e preso ao tronco de madeiro,
sincera
a voz soltou no verso derradeiro:
Não
sou Nero, nem Judas, nem Caim,
tenho
a chaga do amor dentro de mim!
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