Um
Réquiem para João Almeida
Virgílio
Queiroz
João
Almeida é daquelas pessoas que não devem morrer, pois faz parte da
própria cidade: de suas ruas, de suas conversas, de sua história.
Eu gostava de acompanhar seus passos, aparentemente ágeis, porém,
bem próximos - que havia um compasso dos pés que pareciam
sincronizados. Ele levantava cedo, ia até a Praça Quincas Castro,
voltava e seguia para o “Aki Lanches” onde saboreava um café (às
vezes mais de um). Ouvia conversas, sorria e deixava o seu comentário
(inteligente, ele botava malícia, fazia fofoca, e esperava pelo
resultado). Uma memória invejável! Contava-me episódios do tempo
da ditadura militar e de ocorrências em Amarante que pouca gente
sabe. Falava-me dos governantes piauienses, gostava de política e,
às vezes, se mostrava irônico ao se referir a determinada figura
considerada ícone. De vez em quando ele me recitava “Orgulhosa”
(um cordel atribuído a Gonçalves Dias). Eu contava algumas anedotas
e ele sorria bastante. Apesar de partidário e de fiel em sua opção
política, João Almeida não gostava de esconder fatos – mesmo
àqueles que desfavoreciam o seu candidato. Sabido, ele dizia:
“conte, mas não diga que fui eu”. Orgulhava-se das estradas que
ele ajudara a construir e acreditava que Amarante não devia crescer
tanto a ponto de se tornar uma cidade grande. “Amarante deve ser
assim: uma cidade onde todos se conhecem”. Muitas histórias serão
contadas sobre o João Almeida. Algumas verdadeiras, outras não.
Afinal de contas, ele se tornará um mito e, com certeza, muitos anos
irão passar para que outro apareça para ocupar o seu lugar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário