quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Um Réquiem para João Almeida



Um Réquiem para João Almeida

Virgílio Queiroz

João Almeida é daquelas pessoas que não devem morrer, pois faz parte da própria cidade: de suas ruas, de suas conversas, de sua história. Eu gostava de acompanhar seus passos, aparentemente ágeis, porém, bem próximos - que havia um compasso dos pés que pareciam sincronizados. Ele levantava cedo, ia até a Praça Quincas Castro, voltava e seguia para o “Aki Lanches” onde saboreava um café (às vezes mais de um). Ouvia conversas, sorria e deixava o seu comentário (inteligente, ele botava malícia, fazia fofoca, e esperava pelo resultado). Uma memória invejável! Contava-me episódios do tempo da ditadura militar e de ocorrências em Amarante que pouca gente sabe. Falava-me dos governantes piauienses, gostava de política e, às vezes, se mostrava irônico ao se referir a determinada figura considerada ícone. De vez em quando ele me recitava “Orgulhosa” (um cordel atribuído a Gonçalves Dias). Eu contava algumas anedotas e ele sorria bastante. Apesar de partidário e de fiel em sua opção política, João Almeida não gostava de esconder fatos – mesmo àqueles que desfavoreciam o seu candidato. Sabido, ele dizia: “conte, mas não diga que fui eu”. Orgulhava-se das estradas que ele ajudara a construir e acreditava que Amarante não devia crescer tanto a ponto de se tornar uma cidade grande. “Amarante deve ser assim: uma cidade onde todos se conhecem”. Muitas histórias serão contadas sobre o João Almeida. Algumas verdadeiras, outras não. Afinal de contas, ele se tornará um mito e, com certeza, muitos anos irão passar para que outro apareça para ocupar o seu lugar.

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