José
Maria Vasconcelos
Chega
br-o-bró, chega de chororô. Não suporto alarmistas, especialmente
repórteres, assombrados com o calor de Teresina e de outras cidades
batendo 38 a 40 graus. Assemelham-se a profetas apocalípticos.
Deveriam difundir os benefícios que a bendita estação nos
proporciona. Muita gente de regiões frias, residentes aqui, ressalta
as virtudes de nosso calor.
“Frio
é bom para turistas, mas, para quem reside no Sul prefere o clima do
Nordeste, particularmente do litoral” - afirma o gaúcho
e pastor evangélico, Sérgio Campanelli. “Vocês precisam explorar
os benefícios do calor”- costumava estimular Padre Luciano: “Na
Itália, há picos de 45 graus, todo mundo se banha mais, ao
contrário do que ocorre em rigoroso inverno.” Gerente de
importante empresa paranaense, também, defende nossa: “Tempo
gelado incomoda até quem se senta no sifão. Não há agasalho que
resista. Aqui, vocês enfrentam estiagem; lá, as geadas queimam a
pele e as plantações.” Ucraniano, residente em Teresina, senta-se
na calçada, tablet nas mãos, envia imagens das tardes ensolaradas
aos colegas da geladíssima terra natal: “Vejam quanto é bom morar
aqui!”
Aproveitar
o calor, a estação sazonal da manga, caju (cajuína), abacaxi,
mamão... Beber mais água, a fim de eliminar radicais livres,
toxinas, excessos de sais e açúcares, além de prevenir cálculos.
Hábitos que prometem longevidade.
Em
tempo de estiagem, consegue-se produção agrícola com moderna
tecnologia de gotejamento. Cadê minhas favas? Estou colhendo-as em
pleno br-o-bró, por rudimentar processo de irrigação. Poucas
plantações, abundante suor e prazer que não encontro em academia.
Deliciosas favas, caras e disputadas como picanha; cozidas (prefiro
as verdes) com arroz, cheiro verde e azeite de coco. Seduzido pela
cultura do grão e pelo fácil manejo, sem pragas e predadores, o
agrônomo Bartolomeu resolveu seguir-me a lição, além de outros,
cumprindo a parábola do bom semeador.
Piauí,
solo fértil, aquíferos e mananciais; mais abundante, só o chororô,
a cuia na mão, a avidez de verbas públicas, sabe Deus com que
intenções.
Todas
as manhãs, generosos ventos frescos invadem a cidade. À tarde, a
canícula dispara até primeiras horas da noite. Mas aquele ventinho
das dez... Antigamente, sem televisão e malandragem, sentava-se à
porta das casas, esticava-se o papo, aguardando-se a brisa relaxante,
sob o brilho do luar. Na zona rural, ainda se conserva saudável
hábito. Na capital, porém, muita gente se deleita na cerveja mais
estupidamente gelada do Brasil.
Edênica
Cidade Verde, quente como a terra de Jesus, que bateu o mais longo e
divino papo com uma samaritana, à beira do poço, sedento e fatigado
pelo calor do meio-dia (João, 4). Dois milênios antes, Abraão e
três mensageiros, à sombra dos carvalhos de Mambré, “no maior
calor do dia”, confraternizavam-se com carne de cordeiro. Os
mensageiros anunciariam que a mulher de Abraão geraria um filho,
Isaac (Gênesis, 18). Teresinenses apreciam sombra das árvores de
restaurantes e bares.
Lamentar
b-r-o-bró, eu, hein?! Sem calor, faltaria suculenta manga, caju,
cajuína, mil frutas, de dar água na boca de quem não se adapta aos
ciclos e mistérios da natureza.
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